quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

CAPÍTULO IX

EXPLOSÃO DE FIM DE ANO
Na igreja em que congrega Vitor, ora em conjunto com sua família e os irmãos em Cristo. Marisa também finda o ano em sua igreja, acompanhada de Angelina, Antonia e sua filha e netos.
No SOLAR CASTELLI, inicia-se a maratona empresarial do Reveillon. Tudo pronto para a espera dos convidados, os salões de festas arrumados. As meninas, usando seus modelitos brancos, descem para a festa. Suzana para dar um realce em seus longos cabelos negros, envolve-os num laço de fita branco e usa uma sandália, com salto baixinho para que sua estatura não ofusque o brilho das primas. Soraya prepara-se emocionalmente para receber os convidados prestes a chegar e Genaro antes vai ao seu escritório com Paulo. Suzana, tentando aproveitar a oportunidade para chegar-se ao pai, procura-o, deixando as primas à sua espera. Entra em casa, deduz que ele deve estar no escritório. encontra a porta fechada, não entra. Percebe que está conversando com alguém e escuta:
- Sabe Paulo, é muito difícil ser pai de uma menina. Eu nunca me senti preparado pra isto.
- Acho que você quer dizer uma menina como a Suzana, né?
- É, ela dá muito trabalho.
- A Sandra não dá nenhum trabalho, sou muito tranqüilo em relação a ela.
- É, você tem sorte. Suzana arranja muita confusão, muitas vezes age como uma verdadeira moleca. Soraya passa demais a mão na cabeça dela, isto atrapalha na educação. Minha relação com ela é de total obrigação. Não vejo a hora dela crescer e casar logo. Quando este dia chegar, dou a maior festa, fico livre para sempre! Até que eu tive uma esperança que ela se interessasse por aquele ruivo que esteve aqui outro dia, pois ele é de boa família, mas ela é muito infantil e um menino fino igual a ele, vai se cansar dela. Eu a achei muito atirada pro garoto. A Sandra e a Sônia já são mais recatadas. Eu sou rude com ela e acho melhor ser, pra que seja educada, senão, ela ainda cai na vida. Não me arrependo nem um pouco do tabefe que dei e do castigo por um mês. Só não bati mais, porque Soraya deixou-a correr de mim, se pondo na minha frente. Eu tive que ceder, porque apesar de tudo, amo minha mulher. Essa menina atrapalha meu casamento! Soraya quase morreu no parto, depois perdeu dois filhos e o último era menino. Suzana ainda teve bronquite, disritmia, foi um desgaste!
- Não pense nisto agora. Vamos aproveitar a festa pra comemorar as aberturas de grandes negócios!
- É isso aí! –Genaro anima-se, apertando forte a mão do irmão num gesto de queda de braço.
Suzana, que ao início ouvia por curiosidade, sem dar muita importância, vai aos poucos ficando estática, paralisada, como que tivesse levado uma surra. Pensa que alguém pode vê-la e retira-se apressadamente.
Lá fora, vão chegando os convidados. Soraya, Lúcia e Heloísa dividem-se nos salões e na entrada para recebê-los. Sandra e Sônia esperam Suzana e encontram o simpático “Trio em R”, que acabara de chegar. Rodrigo é o primeiro a perguntar sobre sua musa:
- Cadê a Suzana?
- Ela ficou de nos encontrar aqui e até agora não apareceu – observa Sônia.
- É...Daqui a pouco dá meia noite e ela não está aqui. – concorda Sandra.
- Liga pro celular dela, ela tá sempre com ele. – Sônia sugere.
- Nem lembrei. – Sandra liga e só dá caixa postal. Após insistir e não conseguir Rodrigo resolve:
- Então, vamos procurá-la.
- É, vamos. – concorda Ricardo.
- Vamos nessa! – finaliza Renato.
Entrando na casa de Genaro, pensam onde procurar primeiro. Sandra opina:
- Ela desceu com a gente, será que está na cozinha?
- Pode ter subido outra vez – deduz Sônia.
- Vamos fazer o seguinte: - coordena Sandra – a Sônia, procura aqui embaixo e eu dou uma subida e procuro no quarto. Com certeza, se ela não estiver lá, não estará em mais nenhum lugar lá em cima.
- Combinado! – respondem todos.
Sandra sobe apressadamente e Sônia e os meninos vão à cozinha, onde Odete está atarefada, coordenando o serviço. Sônia pergunta:
- Vó Dete?
- Oi, querida?
- Você viu a Suzana?
- Olha, ela passou aqui muito rápido e eu nem reparei quando saiu.
- É que ela marcou com a gente lá fora, mas está demorando. Daqui a pouco dá meia noite, queremos romper juntas.
- Claro. Já viram no quarto dela?
- A Sandra subiu e ainda não voltou.
- Ela deve ter subido – deduz Odete.
- É. – concorda Sônia – Eu vou ver se ela não está em algum outro lugar aqui embaixo.
- Tá querida. – responde Odete.- Se eu vê-la, falo que a estão procurando.
- Obrigada – agradece Sônia, retirando-se e fechando a porta.
- Em qual outro lugar ela pode estar aqui embaixo? – pergunta Rodrigo
- Bem, tem a biblioteca. – lembra Sônia.
- Vamos lá! – lidera Ricardo
Entrando juntos abrem a porta e também não a encontram. Logo desce Sandra e todos perguntam:
- E aí?
- Nada. – responde Sandra desanimada.
- É estranho, ela combinou de encontrar a gente. Não deve estar lá fora. – deduz Sônia.
- Gente...Estou ficando preocupada.Terá acontecido alguma coisa?- questiona Sandra.
- Mas o que poderia acontecer aqui dentro com tanta vigilância, Sandra? – indaga Sônia.
- Não estou pensando em nenhum acidente, mas sabe como a Suzana é inconstante. De repente se chateou com alguma coisa e ficou em algum lugar em que pudesse estar sozinha. – conclui Sandra.
- Ela não ia fazer isto. Será que não ia querer romper o ano com a gente? – indaga Sônia.
- Ah, gente, vamos continuar procurando. – Lidera Sandra.
- E se a gente olhasse pelo circuito interno de TV? – sugere Sônia.
- Acho que é um último recurso. Chamaria atenção demais pra aqueles seguranças puxa-sacos e o tio Genaro brigaria com ela.- responde Sandra – Não vamos nos precipitar. Ela pode se sentir controlada.
- A vó Dete disse que ela passou de raspão pela cozinha. Será que não está lá pelos fundos, perto da casinha do Lalau? – pergunta Sônia.
- Vamos olhar lá. – chama Sandra.
Todos vão para fora dando a volta pelos fundos, porém, sem encontrar Suzana.
- Onde será que ela está? – pergunta intrigado Rodrigo.
- É estranho. Ela que é tão cuidadosa com o Lalau...parece que nem passou por aqui. Não estou nem vendo a comida dele, nem um osso. – estranha Sônia.
- Gente é melhor nós procurarmos separados. – lidera Sandra. - Eu procuro com a Sônia, perto da minha casa, da casa dela e olhamos nos salões; vocês se dividem entre a piscina, a churrasqueira, a sauna, a quadra de tênis. O primeiro que achar liga pro celular do outro dizendo onde achou.
- Tá – concorda imediatamente Rodrigo - Vamos lá, galera!
Procurando apressadas, Sandra e Sônia vão primeiro à casa de Sandra.Vendo Daniel, Sandra pergunta:
- Mano, viu a Suzana por aqui?
- Não... – Daniel responde quase apático, divagando como se não estivesse ouvindo.
- Nem perto do salão menor? –Sandra insiste. Ele balança a cabeça negativamente
- Tá...Vamos procurar perto da sua casa, Sônia. - Sandra, estranha o irmão, mas continua a procurar a prima.
Indo à casa de Sônia, vêem os pais desta com Ivan e os avós maternos indo para o salão maior. Sônia indaga a todos:
- Vocês viram a Suzana?
- Não. – respondem os pais e os avós ao mesmo tempo.
- Por quê? – pergunta Lúcia.
- Desde que os meninos chegaram, estamos procurando e não achamos. – responde Sônia.
- Boa hora pra brincar de esconder, hein? - brinca o Sr. Antônio Carlos. – Não “esquentem”, gente. Ela deve é estar rindo muito, escondida de vocês. Quando der meia noite, ela aparece de surpresa!
- É...Pode ser. – tranqüiliza-se Sandra.
- Mesmo assim, é melhor continuar procurando. – pondera Sônia.
- Tem razão. – apóia Sandra.
- Será que ela não está no salão? – indaga Sérgio.
- A gente perguntou pro Dani se a viu perto do salão menor e olhamos de longe pro maior e não a vimos.
- É melhor procurar de novo – aconselha Dona Luiza.
- Vamos primeiro olhar por aqui. – sugere Sandra.
As duas continuam a procurar e ao longe, perto do salão menor a vêem, andando cambaleante, com os olhos vermelhos. Chegam perto da prima que as saúda, na hora em que os fogos estouram:
- Feliz ano novo, primas!
- Suzana! – exclama Sandra assustada
- Que foi? – pergunta Suzana rindo.
- Você não está bem! – observa Sandra
- Tô feliz!
- Você tá bêbada! – repreende Sandra.
- Eu tô ótima, maravilhosa! Vou fazer igual ao Daniel, olha só: UUUUUUUUUUUHHHHHHHHHHHH! – Suzana dá uma pirueta, totalmente desengonçada e quase cai, sendo apoiada pelas primas e fica rindo compulsivamente. Uma senhora que está por perto comenta:
- Que desgosto deve ser pros pais dela, mais uma alcoólatra na família, como aquele tio Vitor, que felizmente eu nunca mais vi por aqui!
Sandra e Sônia ouvem indignadas, porém, preocupam-se mais com Suzana.
- Suzana, já pensou se seu pai vê você assim? – pergunta Sônia, em tom repreensivo.
- Estou mais é querendo que ele veja mesmo! – responde agressivamente.
- Ah, mas não vai ver mesmo, isto eu garanto! – afirma Sandra decididamente, agarrando a prima, ajudada por Sônia.
- Ih, qual é?, Vão me controlar? Me solta! – grita Suzana, tentando se desvencilhar. As duas seguram-na e ela mesmo tonta, tenta reagir. No caminho para a casa de Suzana, encontram os meninos. Rodrigo alegra-se ao vê-la, mas logo se entristece ao ver seu estado. Preocupado, pergunta:
- O que houve?
- Nada, Rodrigo, não fica preocupado, deixa que nós cuidamos dela. – responde ternamente Sandra.
- Que foi, nunca me viu? Vai ficar aí me olhando, me controlando também? – Suzana pergunta agressiva, a Rodrigo.
- Suzana! – repreendem as primas
- Não preciso de babás, porque não cuidam da vida de vocês? – retruca novamente, raivosa.
De longe, Heloísa junto a Paulo, percebe que algo está havendo. Paulo comenta com malícia:
- Esta guria só faz besteira! Genaro precisa ver isto.
- Não se atreva a falar nada para ele, eu sou capaz de jogar você nesta piscina! Você vai servir de palhaço pros seus amiguinhos, seu puxa-saco de irmão! – adverte Heloísa.
- Ah, tá bem, eu não quero me aborrecer! É dar muita confiança pra esta pirralha, deixar que ela estrague o meu reveillon.
- Eu vou cuidar disto! – Heloísa vai até elas e impõe sua autoridade:
- Suzana venha comigo e com a Sandra. Sônia vá chamar a Soraya.
Entrando em casa, Heloísa vê Odete e fala baixo ao seu ouvido:
- Traga um café bem preto e amargo.
- Que saco! – reclama Suzana.
- Fique quietinha aí! – ordena Heloísa.
Chegando à suíte, Heloísa abre o chuveiro e ajudada por Sandra, joga Suzana dentro do Box que fica aos gritos:
- Nãaaaao! Esta água tá friaaaa!
- Para de gritar e tira logo esta roupa pra tomar banho! – ordena Heloísa.
Em seguida, as duas a ajudam a se enxugar e vestem-na com o roupão. Heloísa dá-lhe café numa caneca
- Ai, que é isto? – Suzana pergunta
- Café! Beba! – responde Heloísa, com autoridade.
- Eu não gosto de café! –Suzana retruca.
- Não é pra gostar, é pra beber! – Heloísa impõe.
Como Suzana não atende, dá-lhe à força, enquanto Sandra a segura, tampando-lhe o nariz.
- Ai, que horror! – reclama Suzana, cheia de raiva. – Ai, meu estômago está doendo, ai, - tapa a boca, com ânsia de vomito – Dá licença!
Suzana corre para o banheiro. Suzana vomita até cair no chão. Heloísa e Sandra a levantam.
- Escova estes dentes, pra tirar este bafo de onça da boca! – Heloísa ajuda Suzana escovando-lhe os dentes enquanto esta faz expressões de raiva.:
- Não adianta rosnar, que eu sei domesticar feras! - Heloísa não se intimida
Voltando ao quarto, Suzana grita de raiva:
- Me solta! Primeiro me jogam na água gelada, depois me enfiam café goela abaixo e eu quase estrebucho naquele banheiro, depois me escovam os dentes como se estivessem escovando dentes de cavalo! Eu sou gente, de carne e osso!- grita tocando-se- Gente!
De repente para, percebendo que Soraya está no quarto. Heloísa e Sandra a viram antes. Suzana fica sem jeito diante da mãe.
- Acabou? – pergunta Soraya
- Acabei... – Suzana responde de cabeça baixa.
- Mais nada a declarar?
- Não...
- Bem, agora nós vamos sair e sua mãe vai conversar com você – avisa Heloísa.
- Obrigada, gente. – agradece Soraya, enquanto as duas saem.
- Agora, que você já falou, vai ouvir; você acha que está certo fazer o que você fez? Sumir deixando suas primas aflitas, achando que aconteceu alguma coisa com você e depois dar este trabalho a elas e à sua tia, pra que seu pai não a visse naquele estado? Responda! Isto está certo?
- Não, eu sei que não. – Suzana responde de cabeça baixa.
- A Sônia me contou que você estava pagando o maior mico, inclusive que uma destas dondocas que eu sou obrigada a aturar por causa do seu pai ainda comparou você com seu tio Vitor quando bebia. Foi muito duro pra mim como mãe saber que minha filha foi ridicularizada. Suzana, nós fazemos parte de uma sociedade. Quando falo sociedade, não quero dizer alta sociedade! Quero dizer com isto é que somos seres inevitavelmente sociais e que quando saímos dos padrões aceitáveis no convívio social, somos marginalizados. Seu tio Vitor sofreu esta discriminação, porque há muitos anos, fazia coisa muito pior do que você fez e não foi só uma vez! A grande sorte dele foi ter se casado com a tia Helena, porque sei que nem eu agüentaria. Filha, porque você fez isto? É uma ilusão pensar que beber vai fazer esquecer. Seu tio Vitor diz que tentava afogar as mágoas na bebida, mas que era o mesmo que matar alguém afogado. O corpo vai ao fundo e depois bóia. As mágoas “afogadas” depois aparecem. O que foi que aconteceu pra você agir desta maneira? Você não ia fazer isto a troco de nada.
- Você quer mesmo saber? – Suzana responde quase chorando – É o meu pai!
- Que tem seu pai?
Suzana senta-se na cama começando a chorar e depois se deita encolhendo-se toda, sem conseguir falar. Soraya chega-se até ela, percebendo o quanto está mal e deita a cabeça da filha no seu colo, confortando-a.
- Calma filha...fala pra mamãe, o que está havendo?
- Ele...Ele não gosta de mim, mãe...Ele me odeia! – Suzana chora mais ainda
- Que é isso, minha filha? Odeia?! Ele é seu pai! Como pode um pai odiar uma filha?
- O meu, me odeia e você sabe disto! – fala irritada levantando a cabeça do colo da mãe
- Ele fez alguma coisa com você? – Soraya pergunta ternamente.
- Ele faz sempre!
- Estou perguntando se fez agora há pouco.
- Ele...Ele... – Suzana não consegue falar com a voz embargada pelo choro.
- Calma filha. – Soraya consola a filha abraçando-a
- Ele tava com o tio Paulo no escritório dele, falando mal de mim, reclamando de mim.
- O que foi que ele disse, filha?
- Mãe, o meu pai nunca quis ter uma filha, eu ouvi isto e acho que sempre senti, mas não queria aceitar. Eu sou a frustração dele! Ele reclamou que eu dei trabalho, que eu tive bronquite, disritmia... Ele disse que o meu nascimento fez você quase morrer! Porque eu nasci?! Porque eu não morro?!
- Não diga isto, filha! – Soraya assusta-se - Você é meu orgulho, é a filha que sempre sonhei. Eu estou viva, cheia de saúde. Te amo profundamente. Agradeço a Deus sua existência. Você é boa, justa, é linda por dentro e por fora. Você superou estes problemas. Sem você, meu casamento não seria completo. Sua tia Helô diz com orgulho que quando eu fiquei sem leite, ela deu o dela para você e que é uma satisfação saber que colaborou pra que você ficasse esta moça linda que está ficando, que tantos rapazes devem admirar.
- Admirar?! Eu não suporto a maioria dos que vem aqui! Eles têm um papo bobo, são ridículos!
- Você se esqueceu das exceções?
- Ah, mãe... – Suzana chora mais ainda - Eu fui tão grossa lá embaixo com o Rodrigo...
- Filha, você não estava com a noção exata do que estava fazendo. Mas já que sabe que errou, desculpe-se.
- Com que cara?
- Com a cara que você tem.
- Que vergonha...
- Filha, vai nascer um novo dia, está nascendo um novo ano. Eu me lembrei de uma frase bíblica que sua avó e seus tios Helena e Vitor já comentaram muito: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã....” Então, querida, pare de pensar no que seu pai disse. Se ele falou que não queria uma filha, não leve em consideração...
- Mas mãe – Suzana a interrompe – Não foi só isto! Ele falou daquela briga no colégio, até quando vou pagar por isto? Eu fiz o que fiz por raiva de alguém que maltratou minha prima!
- Filha, eu já conversei sobre isto com você. Você sabe onde errou. Agora vai se torturar por causa do seu pai? Não dê importância a isto. Ele tem outros mil empresários pra fazer negócios com ele. Você tem uma vida pela frente pra resolver os problemas com seu pai. Eu, nem sei quem é ou foi o meu. Você é criada com amor.
- Só por você, o meu pai vive vendo defeitos em mim, ele falou que quando eu casar acaba a obrigação dele comigo, disse que eu ainda caio na vida, e que me achou atirada demais pro Rodrigo! Pode?! Sempre me criticando! Manda eu ser educada, eu sou e ainda sou chamada de atirada por que fui simpática!
- Filha, não dê importância! Ele parou no tempo, é machista, implicante mesmo. Você disse que é a frustração do seu pai. Sabe qual é a frustração dele? Eu. Sabe por quê? Porque a mim, ele não pode controlar e ele se sente no direito de controlar você. Ele está transferindo pra você, o que não pode fazer comigo, porque sabe que me atinge assim. Não faz de caso pensado, faz sem perceber, porque a minha personalidade é forte e você está ficando assim também.
- Mãe...Eu nunca pensei nisto
- Você não é a primeira, nem será a última a viver esta situação. Mas tem todo o apoio de sua mãe para ajudá-la a lidar com isto. Eu sei lidar com seu pai. Tem sido até mais difícil ultimamente, mas vou conseguir. Posso discordar de atitudes erradas suas, mas nunca estarei contra você. Agora coloca sua roupinha de dormir, deita, descansa e esquece tudo isto. Eu fico com você até você dormir.
No jardim, Heloísa e Sandra encontram Paulo que pergunta irônico:
- Como é, deram um jeito na rebelde sem causa?.
- Paulo! Eu não estou com paciência pras suas piadinhas sarcásticas! – irrita-se Heloísa
- Mas é isto mesmo, esta menina precisa é de um corretivo! – persiste Paulo.
- Pai, por favor! – interfere Sandra
- Eu gosto dessa menina como uma filha, pare de implicar com ela!
- Eu hein? – despreza Paulo – Nossa filha jamais faria o que aquela maluca fez! Podia ter exposto o pai a uma humilhação!
- Ele nem está se lembrando que ela existe! Assim como você, só se lembra para rebaixá-la! Eu não vou nem perder meu tempo ouvindo suas asneiras! Some da minha frente! Vai fazer companhia pros seus amiguinhos empresários puxa-sacos!
Paulo lança um olhar de desprezo e sai.
- Mãe, já começou o ano novo com briga! – reclama Sandra
- Ah, minha filha, já começou chato mesmo!
Enquanto isto, Suzana já deitada com a cabeça no colo da mãe, ainda chora muito. Soraya acaricia seus longos cabelos negros e fala carinhosamente:
- Filhinha, fico triste de ver você assim. Você não está só. Suas primas devem estar muito tristes. Não faça mais o que fez, filha. Você se machuca e às pessoas que a amam. Conte comigo, sempre que você precisar.
Embaixo, no jardim, sentadas no banco esperam por uma notícia de Suzana, em companhia do “trio em R”:
- Por que a Suzana fez isto? – Sandra questiona
- Pra mim, ela se aborreceu com alguém – deduz Sônia.
- Pô...Pra mim este começo de ano já tá triste. – desabafa Rodrigo.
- Rodrigo, não fica magoado com a Suzana, ela não sabia o que tava falando. – consola Sandra.
- Eu não tô com raiva, só preocupado. Quero tanto falar com ela.
- Liga pra ela depois. – sugere Sandra.
- É. – concorda Sônia.
- Sabe, eu gostei da Suzana assim que a vi. Fico muito triste com isso. Tô com vontade de ir embora.
- Segura um pouco, Rodrigo, não fica pensando nisto, nem deixe transparecer pro seu tio que está havendo algum problema. Ele pode comentar com o tio Genaro. Eu sei que é chata uma situação como esta, mas procura curtir, ela vai ficar bem. Tia Soraya ficou com ela. Ela é uma mãe espetacular.
- É...Assim como a minha. Minha mãe é muito especial também. Estou sentindo a falta dela, ela nem sabe exatamente quando volta. – comenta Rodrigo.
Suzana adormece com a cabeça no colo da mãe que a acomoda na cama. Ajoelha-se próximo à filha, olha ternamente para ela dormindo e fala baixinho acariciando-a:
- Minha filha, você é tão linda. Parece a Bela Adormecida. Como eu te amo, filha. Como você é importante pra mamãe. – Soraya beija a testa, o rosto de Suzana, carinhosamente, afagando-lhe.
Soraya desce e lá fora encontra Sandra e Sônia que ao verem a tia, procuram saber notícias da prima.
- Tia, como é que a Suzana está? –Sandra pergunta
- Está bem, já dormiu.
- Ai, eu estou tão triste... - Sônia desabafa
- Não fique assim, Sônia – Soraya a consola – Isso passa.
- Ela nunca fez isto. –Sandra observa.
- Todos nós temos momentos de fraqueza – Soraya se mostra compreensiva
- Ela ficou bem? – Sandra se preocupa.
- Ela chorou, desabafou comigo e eu ouvi. Ficou com muita vergonha, porque foi grossa com o Rodrigo.
- Ele não ficou com raiva dela. Está ansioso pra saber como ela está. – informa Sandra
- Ele ainda está aí?
- Ainda agora estava. – procura Sônia - Olha ele lá.
Rodrigo, acompanhado dos primos, as vê e se aproxima.
- Como é que ela tá?
- Está bem, obrigada. –Soaraya. responde
- Eu vou ligar pra ela
- Liga sim. Peço desculpas por este início de ano tumultuado. - Soraya acena para Heloísa que a vê de longe - Eu vou falar com a Helô, com licença.
Soraya vai até a cunhada.
- Oi, e aí? – Heloísa pergunta
- Ai, eu estou me sentindo um trapo!
- Imagino...felizmente o Genaro não viu nada.
- Graças a Deus! Teria sido uma catástrofe!
- Eu não vou perguntar, mas eu sei que foi para agredi-lo que ela fez isto.
- Helô, eu já nem sei o que faço.
- Fiquei muito chateada, eu quero muito bem à Suzana.
- Você ajudou muito.
- Ela ficou envergonhada não ficou?
- Ela chorou muito, mas eu consegui acalmá-la. Eu tive vontade de colocá-la dentro de mim outra vez.
- Conte comigo, no que eu puder ajudar.
- Helô, eu estou louca pra que acabe o Reveillon logo!
- O Vitor disse que ia fazer um churrasco lá. Vamos?
- Vou ter que esperar a Suzana acordar, ver como vai ficar, aí talvez eu vá.
- Acho que ela vai querer ir. Depois de um porre deste, ela vai ficar em depressão e vai ficar melhor lá .

4 comentários:

  1. Não digo que seja totalmente compreensivel a atitude da Suzana,mas numa situação dessas a revolta é normal.

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  2. Me solidarizo com a Suzana, não é correto o que ela fez, mas para uma garota de 14 anos ser desprezada pelo pai, deve ser horrível.

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  3. Ninguém merece um pai como o Genaro, hein?

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  4. coitada da Suzana!
    O Genaro é um homem desprezível! Espero que mude.

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