quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

CAPÍTULO VIII

NATAL E PRÉ-RÈVEILLON
Mais uma véspera de natal começa a ser festejada no SOLAR CASTELLI, onde a maior comemoração está em render graças ao "deus dinheiro". Comes e bebes, mesa farta. Igual como a todos os anos anteriores, porém, Suzana demonstrava maior insatisfação e Sandra, preocupava-se percebendo o estado estranho de seu irmão. Sônia, apesar de solidária aos sentimentos das primas, curtia a presença do pai e de seus avós. No grande salão de festas, Suzana está numa mesa no canto entre suas primas e fala consigo mesma:
- É impressionante. Tanto dinheiro gasto pra isto: bebedeira, comilança, conversa fiada, piadas de baixo nível...Natal nesta família é isso. Nenhuma união, nenhum clima de amor. Festa de comércio.Deprimente...
Enquanto isto se encerra o culto especial de véspera de natal na igreja onde congrega Vitor. O pastor ora e dá a benção apostólica:
- Senhor, te agradecemos por estarmos celebrando o nascimento de teu filho amado Jesus. Não importa a data exata, mas que podemos nesta data falar de quem veio ao mundo pela nossa salvação. Porque tu amaste o mundo de tal maneira, que deste teu filho unigênito para que todo aquele que n´Ele crer tenha a vida eterna e por isso, somos teus filhos e co-herdeiros com Cristo. Senhor, agradeço-te por todas as vidas que aqui estão, leva todos às suas casas em segurança. Que a graça de Deus pai, o amor de Jesus Cristo e a doce consolação do Espírito Santo sejam com todos, em nome de Jesus e todos digam: Amém. – fala em coro toda a igreja.
- Todos aplaudem, depois se cumprimentam e seguem para suas casas. Vitor sai com sua família, inclusive os genros e netas, para continuar as comemorações de véspera de natal em casa. Bertinha,
que vai ao lado do pai, indaga-lhe:
- Pai estou pensando, como estará sendo o natal dos meus tios?
- Querida...Você já pode imaginar, mas eu afirmo, que em nome de Jesus, não será assim por muito tempo. Crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e tua casa (Atos, 16:31).
- Mas pai, eles não são mais tua casa. – retruca Bertinha
- Quem foi que aceitou Jesus primeiramente na família? – relembra Vitor.
- A minha avó.
- Por quê?
- Por causa de uma cura
- Pois bem; ela não estava tão firme ainda, mas Deus enviou uma serva d’Ele e quem aceitou Jesus no seu leito de morte?
- Segundo você já me contou, o meu avô.
- Por quem a mãe orava para libertar-se da bebida e além disto aceitou Jesus e hoje tem ministérios na obra de Deus?
- Você.
- Quem viu milagres acontecerem, nem teria organicamente um corpo preparado para ter tido tantos filhos, ganhou uma filha quando a medicina afirmava que não poderia mais ter filhos?
- Minha mãe.
- Então, como você vê: Deus nunca faz menos do que promete, mas freqüentemente mais do que prometeu. Eu não morava mais com sua avó, era casado já há anos e ela orava por mim, porque no coração dela, alimentava aquela semente de fé, que como o grão de mostarda ia crescendo e florescendo e esta fé, foi tão grande que ela alcançou a graça muito maior do que esperava ter.Ela pedia de joelhos: “Senhor, liberta meu filho da bebida” e eu não só me libertei, como poucos anos depois, aceitava Jesus e entrava de cabeça na obra de Deus. Por isto, eu creio: o Genaro, o Paulo e o Sérgio vão ter uma experiência com este Deus que eu conheço, transformou minha vida e transformará as deles também. Eles hão de conhecê-Lo. Todo o joelho se dobrará e muito antes disto, os joelhos deles se dobrarão.
- Isto é que é fé! – apóia Helena.
- Lelê, o que Deus fez por mim, fará por eles, eu creio, quem viver, verá! Tenho certeza de que a mamãe também está orando por eles agora.
Na casa de Marisa, estão além dela Antonia, sua filha Amanda, seus netos André e Valéria e Angelina. Todos oram juntos. Ao final, Marisa convida:
- Vamos à nossa ceia, pessoal? - convida Marisa.
- “S`imbora!” – alegra-se André.
Todos se dirigem à mesa.
- Ai, menina...Quantos natais a gente já passou, hein? – relembra Tonha.
- É...Muitos deles sem nem viver plenamente o verdadeiro sentido da festa.
- É...Mas como é bom celebrar Jesus neste dia e saber que todo dia é dia d’Ele!
- É verdade. Eu lembro dos natais quando era criança. Eu ainda era menina, fomos para um apartamento. Quando era adolescente, o papai e a mamãe compraram aquela casa enorme com quintal, lembra? Poucos anos antes de eu conhecer o Vitório.
- Se me lembro! Quanto trabalho!
- Mas valeu, porque depois ficou pra nós e eu criei meus filhos lá, fui tão feliz...
Neste momento, chegam Ciro e Mary. Ciro toca a campainha várias vezes e Mary o repreende:
- Ciro! Ninguém é surdo!
- Ó de casa! – grita Ciro.
- Ciro! Atrasado como sempre, mas que bom que veio, mano! – recebe-o Marisa dando-lhe um beijo.
- Eu o apressei, mas você já sabe como é! – desculpa-se Mary olhando para o marido com reprovação.
- O importante é que vieram! – Marisa fala com satisfação – E os filhos, como estão?
- Estão bem. – responde Mary – Vão lá em casa amanhã. Que saudade me dá dos natais passados, na casa dos seus pais, lembra?
- Eu estava falando sobre isto com a Tonha agora. Hoje estive durante o dia com o Genaro, o Paulo e o Sérgio. O natal, mesmo, vou passar com o Vitor.
- Como está tudo lá com o Genaro e os outros? – pergunta Mary.
- Tudo bem. Dia 28, as meninas vão participar de um desfile em benefício da uma obra que a Helô ajuda.
- Como ela está? Mais ou menos neurastênica? – pergunta Ciro irônico.
- Ciro! – reprova Mary.
- Não esquenta, Mary. A Helô tem aquele gênio, mas é boa pessoa.
- E os seus netos, os meninos? – pergunta Mary.
- O Ivan veio falar comigo, porque o pai tirou-o do computador. Aliás, até conseguiu mandá-lo para a piscina; o Daniel é que estava estranho, aéreo. Está dando pra sair muito, parecia cansado.
- Esta garotada troca dia pela noite. –Mary critica.
- Bem, vamos cear? –Marisa convida.
- “Bóia macacada!” - brinca Ciro.
- Ciro! – Mary repreende.
- Deixa, Mary. –Marisa ri.
As horas passam.Na casa de Genaro, Suzana está à porta e se despede das primas:
- Tchau Sú... Feliz natal –Sandra ironiza.
- Dentro do possível... – concorda Suzana.
- Você tá tão triste, prima. –Sônia observa.
- Desculpa, Sônia. – Suzana acarinha a prima na cabeça. – De qualquer maneira, eu tô feliz por você, os seus avós alegraram o ambiente.
- Não quer que eu fique aqui com você? – pergunta Sandra.
- Não, obrigada, prima. – agradece Suzana – Eu não vou ser uma boa companhia. Prefiro ficar sozinha.
- Tá, Sú. – responde Sandra abraçando-a - Sonhe conosco e não caia da cama.
As três riem.
- Mais uma do tio Vitor! – Sônia observa.
- Tchau, gente – Suzana despede-se.
As duas vão embora e Suzana entra e sobe tristonha para o quarto. Entrando, telefona para Vitor.
- Alô? – atende Vitor.
- Tio...
- Morena Grau Dez! Feliz natal, querida!
- Obrigada, tio...
- Que vozinha triste, o que foi?
- Tio... – com a voz embargada pelo choro.
- Que foi, filhinha?
- Porque todo o natal é isto? Todos comendo, enchendo a pança, rindo de besteiras, contando piadas de baixo nível! É horrível! Não agüento mais isto! Eu só não estou mais triste, porque hoje a vovó esteve aqui.
- Está vendo como Deus ama você? Mandou alguém que você ama muito ir vê-la.
- É, tio, mas ela vem pouco e tudo que é bom acaba logo!
- Filhinha, não fique assim. Isto vai mudar, eu sei que vai. Eu afirmo em nome de Jesus, que seu próximo natal já será diferente. Eu creio nisto.
- Ai, tio, só você me entende. Se não fosse você, eu não ia suportar este dia!
- Meu bem, eu vou orar por você, você vai dormir tranqüila. Um novo dia está nascendo.
Vitor ora e Suzana fica mais tranquila
- Obrigada, tio – agradece Suzana, parando de chorar. - Dá um beijo na tia Helena e nos meus primos. Pro Marcos, pro Rey e pras suas netinhas.
- Obrigado, amor. Pra todos aí também. Dorme com Jesus. Sonhe comigo e não caia da cama, tá?
- Obrigada, tio, tchau. – Suzana responde esboçando um sorriso
- Tchau.
No dia 25 todos se reúnem para o almoço em família. Marisa chega à casa de Vitor.
- Oi, filho.
- Oi, mamãe, feliz natal.
- Pra você também, querido, na paz do Senhor Jesus.
- Oi, Marisa! – chega Helena e cumprimenta a sogra. – O pessoal não quis vir?
- Não, a Tonha ficou de ver o tio dela e a Angelina foi ver os primos do outro lado.
- É. Tem que fazer um social, é um bom testemunho. – observa Helena.- Já está tudo pronto, só falta as meninas chegarem. O Allan deve estar tomando o seu banho de beleza, o Guel está arrumando tudo, até brigou com o irmão, queixou-se de bagunça. Olha só a frase dramática, Marisa: “Este quarto está pequeno demais pra nós dois”. A Patty tem o quarto dela, quer dizer, só dela. O que é que eu vou fazer, não tem outro pra ele.
- Um deve ser mais arrumado e o outro menos exigente. – opina Marisa.
- Eu acho bom ser organizado, mas o Guel, bate o record.– critica Helena.
- Pelo menos, não é como os outros, querida. O Allan e as meninas, não são arrumados. As minhas netas aprenderam só quando ficaram mais velhas. A Bertinha, quando casou melhorou muito.
- O drama maior agora é a Patty. – observa Vitor.
- É, mais eu domo a fera. – vangloria-se Helena.
- E ela, cadê? – pergunta Marisa
- Aqui, vó! – chega Patty toda alegre.
- Arrumou o quarto? – inquire a mãe.
- Já, mãe. Pôxa! – responde queixando-se.
- Não é pôxa, é pra arrumar sempre! – adverte Vitor.
- Tá, pai. – responde de cabeça baixa.
- Vem cá, neném da vovó! – agrada Marisa
Patrícia abaixa-se para beijar a avó e depois se senta ao seu lado.
- Você foi ontem ver os manos, né mamãe?
- É, filho. As meninas ficaram muito felizes por me ver, eu dei um diário personalizado para elas.
- E pra mim, o que é que tem? – cobra Patty.
- Vá ver lá na sacola – responde a avó.
Vai correndo ver e entusiasma-se:
- Vó, um diário!
- É, eu sabia que você ia ficar enciumada se eu desse só pra elas. Tá vendo como conheço bem meus netos?
- Ai... Amei vó! – agradecendo-lhe com um beijo e um abraço.
- Que bom! É no mesmo estilo do que eu dei pra elas.
A campainha toca e chegam ao mesmo tempo Roberta com as meninas e Reynaldo e Marcela com Marcos.
- Oi, vó – saúdam as duas.
- Bisa! – gritam Rute e Isabel indo abraçar a bisavó.
- Que bom estar com todos! – vibra Marisa.
Helena chega perto da escada e grita:
- Guel! Allan! Desçam logo, meninos! Estão todos aqui, menos vocês!
- Deixem que eu acabe de arrumar a bagunça que alguém, fez! – Miguel enfatiza jogando indireta para Allan.
- Ah é? – a mesa não vai esperar, não! – responde Helena.
- E você, Allan, já terminou o banho real? – pergunta Vitor, chamando o filho.
- Estou me vestindo! – grita Allan, lá de cima.
Enquanto esperam, Marisa conta a Vitor as novidades sobre o “trio em S” inclusive sobre seus admiradores. Por fim, os atrasados descem e Vitor anuncia:
- Bem, vamos orar todos e almoçar.
Todos dão as mãos e Vitor encabeça a oração.
Enquanto isto, o restante da dinastia Castelli comemorava o seu feliz natal, reunidos no salão de festas no tradicional almoço. Soraya e Heloísa conversam:
- Eu recebi um telefonema da Lili. Milagres acontecem, principalmente no natal.
- Pelo menos ligou, né Helô? – Soraya observa.
- É...Você vê sempre o lado bom das coisas.
- Pois é, Helô. Do jeito que as coisas andam, a gente tem que pensar positivo. Como foi boa ontem a visita da Marisa! Assim como o Vitor e a Helena ela melhora o ambiente. Eles têm um amor, uma vontade de promover a paz, o bem, sem impor nada. É como quem executa um manual de vida diária com sucesso.
- É...Eles têm alguma fórmula que eu preciso descobrir qual é. Soraya, sabe qual é o ditado que melhor se aplica à minha vida?
- Qual é?
- “Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”.
- Ai, Helô, como você anda amarga!
- Mas é, Soraya. Você vê; eu escolhi duas profissões que me deram alegrias, me senti uma pessoa mais forte, útil, ajudando a salvar vidas, primeiro física, depois emocionalmente, ajudando-as a reintegrarem-se à sociedade, colaborei para adoções – inclusive a do Miguel – Conheci boas pessoas como a Odete e, no entanto...Eu não tenho uma família feliz, meu filho parece um perdido no mundo, meu marido só pensa em negócios...
- Com licença – interrompe Soraya – Você até tem razões para estar chateada com o Paulo, principalmente no que diz respeito ao Daniel. Mas, para pra pensar sobre as coisas que citou: a amizade da Odete, esse anjo bom que cuidou com zelo de seus pais e é como uma avó para as meninas, inclusive com sua filha que é maravilhosa, não dá nenhum trabalho, respeita profundamente você e tem uma maturidade excepcional para a idade dela. Ela tem o maior orgulho de você.
- Nisto você tem razão. Mas eu estou me sentindo sobrecarregada com a casa, estou no limite em relação à irresponsabilidade do Daniel.
- Helô, ele já tem 19 anos, já é quase maior! Por que você não deixa que ele quebre a cara?
- Não sei...Eu me cobro como mãe, acho que errei me dedicando mais ao trabalho, que fui negligente.
- Não, Helô, você fez uma opção como tantas outras mulheres que preferem ter filhos só depois da carreira estruturada. Você é boa mãe, não acho que seu horário de trabalho prejudique sua vida familiar. O que eu sinto é uma grande ansiedade sua em resolver o que vê de errado por uma acomodação do Paulo ao lar. É aí que você se atropela!
- Pois é...Ontem quando o Daniel chegou, eu estava furiosa. Ele me veio com um jeito tão cínico, que eu não agüentei. Aliás, este sarcasmo, ele puxou do pai. Eu dei o maior ataque, joguei o que vi longe. Ficou uma bagunça. Assustei a Alice, coitada.
- Você precisa se controlar mais, Helô. Está muito estressada. Olha, conselho nunca é bom, mas vou dar um a você: para de esquentar com o Daniel, ele deve estar querendo chamar a atenção. Deixa um pouco pra lá, que a coisa vai mudar.
- Mas eu tenho medo, Soraya. Ele não costuma trazer amigos aqui. Eu sei que ele tem a turma dele, mas não sei quem são. Podem ser más influências. Ele sai um dia de tarde e volta noutro à noite. Da última vez, ficou quase dois dias fora.
- Pode não ser nada demais. Nossos maridos também gostavam de ficar na farra na juventude.
- Mas avisavam.
- Ele ligou. Não deixou recado com a Alice, depois com a Sandra?
- Pra não ter que falar comigo, ele soube muito bem como fazer.
- Tá, Helô. Só acho que ficar em cima demais, não vai resolver, só reforçar a atitude errada.Você já tem exigido do Paulo que o coloque na firma, nisto eu concordo plenamente com você, porque ele precisa ter noções de responsabilidade e isto a gente tem a obrigação de ensinar e cobrar dos filhos. Agora, continue só cobrando do Paulo que é pai e deve fazer a sua parte. O resto é relaxar. Deixa as coisas se assentarem aos poucos, não deixe a ansiedade tomar conta de você.
- Bem, eu vou procurar ficar de olho sem que ele perceba.
- Eu não quero dizer que você deixe tudo correr frouxo, entenda bem. O que eu acho é que você deve estar calma para as atividades de fim de ano que ainda tem. O desfile é daqui a três dias, você tem encerramentos de ano em instituições. Esfria um pouco, mulher!.
- Vou tentar.
- Helô se serve de consolo, eu agradeço a você por estar me fazendo companhia. Até hoje que é natal, uma festa que se comemora em família, Genaro convidou os amiguinhos empresários, para eu ter o prazer de aturar.
- Por tabela eu aturo os do Paulo, já que eles têm tantos negócios em comum.
- É um saco! – concorda Soraya.
Neste momento, chega Lúcia também um pouco entediada e comenta chegando-se à mesa das duas.
- Ai, gente, se não fosse os meus pais estarem aqui, isto estaria muito mais chato.
- Console-se com a gente, porque pra nós está muito mais chato – afirma Soraya.
- Você, pelo menos, está com seus pais, nós nem temos os nossos mais. – lamenta Heloísa.
Mal as três iniciam a conversa, o Trio em S, entra no salão cheio de entusiasmo e as mães, percebendo o jeito eufórico das três, perguntam quase ao mesmo tempo:
- O que houve?
- Ai, mãe, o Rodrigo me ligou! – anuncia Suzana aos suspiros.
- Pelas expressões de todas, já concluo que o Ricardo e Renato também ligaram para suas respectivas musas! – observa Heloísa.
- É! – Sandra e Sônia respondem eufóricas ao mesmo tempo.
- Que bom, acho que estes meninos são muito educados, gentis. É tão difícil ver isto hoje em dia - comenta Soraya.
- Eu tive pouco contato com os três, mas também percebi isso – Lúcia concorda.
Os dias passam e as meninas relatam nos seus diários, suas emoções:
Rio, 27 de dezembro de 2001.
Meu querido diário
Hoje estou muito feliz. Chegou ontem quase ao fim da tarde, a nossa outra avó adotiva, a avó Dete. Ela é maravilhosa. Uma senhora doce e meiga, muito elegante e bonita, sempre muito bem vestida e penteada com seus cabelos louros. Ela cuidou dos pais da tia Helena e tia Helô e depois que os dois faleceram, passou a ser governanta da minha mãe. Conhece tia Helô e tia Helena há quase trinta anos. Foi enfermeira, depois se aposentou. Ficou viúva ainda cedo e seus filhos casaram, por isto, resolveu se dedicar a pessoas que precisassem para ter uma razão de viver. Minha mãe gosta muito dela, as duas se tratam sem cerimônia, com intimidade. Meu pai que é mais fechado é para ela o Doutor Genaro.
Eu não conheci a minha avó, que morreu pouco menos de um ano antes de eu nascer. Em compensação, ganhei duas avós adotivas: a avó Dete e a avó Tonha, minha avó postiça que ajudou a fazer o parto do tio Vitor, junto com o meu avô paterno. Não deu tempo da vovó ir para o hospital. É engraçado, que quando o médico chegou para ver se estava tudo bem, contam que ele disse: “Doutor, o senhor me deve uma grana”. Por isto tio Vitor diz que ela é sua mãe preta.
Amanhã é dia do desfile. Estou tão ansiosa!
Tchau, diário, amanhã terei novidades!
Suzana
Também recolhida em seus aposentos, Sandra confidencia-se com seu amigo secreto:
Rio, 27 de dezembro de 2001.
Meu querido diário
As coisas parecem estar um pouco mais calmas, embora o Dani continue tentando driblar a minha mãe, aproveitando-se dos compromissos dela pra sumir. Ele se acha muito esperto e ela não é boba. Queria aconselhar meu irmão, mas sei que não vai me ouvir, não ouve nem nossos pais. Fico aflita querendo ajudá-lo e não sei o que fazer.
Amanhã será o desfile. Vou me controlar pra não preocupar minha mãe.
Até amanhã, diário.
Sandra.
Sônia, bem mais animada pela presença do pai e dos avós, relata os últimos acontecimentos:
Rio, 27 de dezembro de 2001.
Meu querido diário
Como estou feliz! Além de ter meus pais juntos, meus avós ainda estão aqui e chegou ontem a nossa avó adotiva, a vó Dete. Ela é uma senhora muito fina, bonita e alegre. Pensa sempre no próximo.
Ontem, eu, meus pais e meus avós saímos, fomos ao Barra Shopping. O Ivan passou por um lugar onde tem aqueles joguinhos de máquinas. Embora ele não saia do vício, foi bom ter a sua companhia. Eu reclamo do meu irmão, até brigo com ele, mas eu o amo. Por isso fico irritada com a mania dele. Gostaria de ser mais amiga dele como a Sandra é do Daniel. Este pode estar com raiva do mundo, mas nunca da irmã. Nunca o vi descontar nada nela. Será que não topo o Daniel porque tenho ciúme da Sandra? Se bem que ele sempre foi muito implicante,.
Penso também na Suzana, que tem a Sandra e a mim como irmãs, já que é filha única. Tia Soraya perdeu dois depois dela, uma menina e um menino, como seria? O importante é que sei que assim como eu, a Sandra a ama muito. Ela pode ser um pouco geniosa, mas é linda como pessoa.
Amanhã, será o desfile e minhas primas vão arrasar. Eu vou desfilar também, mas não me acho bonita como as duas, embora elas digam que sou. Quase todos estarão lá, até a vó Dete.
Vou sentir falta da minha avó Marisa, mas ela mora longe. Ela deu-me um diário novo, assim como também deu para a Sandra e para a Suzana. Em breve me despeço de você.
Até amanhã, diário!
Sônia
Após o desfile, as meninas registram os últimos acontecimentos e seus planos futuros:
Rio, 28 de dezembro de 2001.
Meu querido diário
Tenho tantas novidades! Apesar de nervosa, até que eu desfilei bem. Fiz uma homenagem à minha mãe, que foi modelo. Foi uma emoção chamá-la ao palco e ver como ainda é querida, como tinham antigas colegas dela aplaudindo, felizes por vê-la.
Acho que eu e minhas primas ganhamos nossos mais ardorosos fãs nº1. O Rodrigo me deixou sem graça, assobiando enquanto eu desfilava. Ainda bem que não errei nada do que ensaiei. Ele é tão diferente dos outros garotos e os primos dele também. Tio Vitor estava lá, foi apresentado aos três e gostou muito deles. Os três entregaram flores pra gente.Ficamos vermelhas de vergonha.
Está chegando o fim do ano, logo vou me despedir de você, diário...
No dia 31 vamos todas usar três macacões brancos, de frente única, lindos! Vamos arrasar.
Tchau, diário!
Suzana
Meu querido diário
Como é bom a gente fazer alguma coisa em benefício de alguém. Não tenho a mínima pretensão de me considerar modelo, mas me saí bem. Acho que dou mais para carreiras que ajudem aos meus semelhantes. Fiquei um pouco tensa, mas sabia que tudo ia correr bem. Pena que meu irmão não curtir estas coisas, senti falta dele. Tio Vitor ficou muito bem impressionado com o trio em R, disse que os achou muito educados e simpáticos. Espero que os próximos dias sejam tão bons como o de hoje. Estou nas suas últimas páginas. Até lá terei mais novidades.
Tchau,
Sandra.
Meu querido diário
Ai...Nem sei como começar. Tanta coisa boa ao mesmo tempo. Como é bom participar de um evento em prol de uma boa causa. Eu sou muito acanhada, mas só de pensar em ajudar, venci a timidez. Deveriam existir mais pessoas interessadas em coisas assim. Foi o máximo! Tia Helô e a amiga dela, que a ajudou - apresentando a sua coleção para o verão - estão de parabéns! Como foi bom ver tantas pessoas queridas no desfile! Meu pai exigiu que o Ivan fosse. Ele ficou emburrado o tempo todo. Meu avô percebeu e tentou animá-lo com seu jeito brincalhão. Minha avó Luiza “babou” me vendo desfilar e minha mãe ficou muito orgulhosa. Que pena que meus avós vão ao voltar pra São Paulo no dia 2 de janeiro.Tia Soraya reviveu os velhos tempos, foi até homenageada e comentou que se viu ontem na Suzana hoje. A avó Dete também estava lá, meus tios Vitor e Helena e todos os nossos primos.
Vamos dar adeus a 2001 e eu vou dar adeus a você, pois vou estrear com o ano novo o diário que minha avó deu. Em breve eu me despeço, diário.
Sônia.
Os dias passam e os preparativos para o fim do ano se intensificam . Soraya, ajudada por Lúcia e Odete trata das compras de fim de ano e Heloísa também participa, mesmo atarefada com os encerramentos de ano de obras sociais. As meninas curtem suas férias à beira da piscina, recebendo telefonemas de seus admiradores que confirmam suas presenças no Reveillon; Daniel consegue driblar a vigilância da mãe e dá seus sumiços esporádicos. Esta finge não ligar, esperando o momento oportuno para cobrar uma mudança do filho. Genaro, e Paulo fazem sua lista de convidados, aproveitando a ocasião para unir seus negócios aos do irmão e estabelecer novos contatos entre seus convidados e os dele; Ivan continua suas atividades de jogos computadorizados; Vitor e Helena, e todos os seus, terminam mais um ano de vitórias.

3 comentários:

  1. Que contraste entre a comemoração de Natal dos cristãos e a dos incrédulos!

    ResponderExcluir
  2. Esse Daniel parece que vai dar trabalho.

    ResponderExcluir
  3. E pensar que vou passar o natal com uns parentes incrédulos. Mas, feliz pq a Família da pastora é da minha família também, então terei amigas cristãs que são filhas da minha pastora na festa.
    Gostei desse capitulo.

    ResponderExcluir