quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

CAPÍTULO IX

EXPLOSÃO DE FIM DE ANO
Na igreja em que congrega Vitor, ora em conjunto com sua família e os irmãos em Cristo. Marisa também finda o ano em sua igreja, acompanhada de Angelina, Antonia e sua filha e netos.
No SOLAR CASTELLI, inicia-se a maratona empresarial do Reveillon. Tudo pronto para a espera dos convidados, os salões de festas arrumados. As meninas, usando seus modelitos brancos, descem para a festa. Suzana para dar um realce em seus longos cabelos negros, envolve-os num laço de fita branco e usa uma sandália, com salto baixinho para que sua estatura não ofusque o brilho das primas. Soraya prepara-se emocionalmente para receber os convidados prestes a chegar e Genaro antes vai ao seu escritório com Paulo. Suzana, tentando aproveitar a oportunidade para chegar-se ao pai, procura-o, deixando as primas à sua espera. Entra em casa, deduz que ele deve estar no escritório. encontra a porta fechada, não entra. Percebe que está conversando com alguém e escuta:
- Sabe Paulo, é muito difícil ser pai de uma menina. Eu nunca me senti preparado pra isto.
- Acho que você quer dizer uma menina como a Suzana, né?
- É, ela dá muito trabalho.
- A Sandra não dá nenhum trabalho, sou muito tranqüilo em relação a ela.
- É, você tem sorte. Suzana arranja muita confusão, muitas vezes age como uma verdadeira moleca. Soraya passa demais a mão na cabeça dela, isto atrapalha na educação. Minha relação com ela é de total obrigação. Não vejo a hora dela crescer e casar logo. Quando este dia chegar, dou a maior festa, fico livre para sempre! Até que eu tive uma esperança que ela se interessasse por aquele ruivo que esteve aqui outro dia, pois ele é de boa família, mas ela é muito infantil e um menino fino igual a ele, vai se cansar dela. Eu a achei muito atirada pro garoto. A Sandra e a Sônia já são mais recatadas. Eu sou rude com ela e acho melhor ser, pra que seja educada, senão, ela ainda cai na vida. Não me arrependo nem um pouco do tabefe que dei e do castigo por um mês. Só não bati mais, porque Soraya deixou-a correr de mim, se pondo na minha frente. Eu tive que ceder, porque apesar de tudo, amo minha mulher. Essa menina atrapalha meu casamento! Soraya quase morreu no parto, depois perdeu dois filhos e o último era menino. Suzana ainda teve bronquite, disritmia, foi um desgaste!
- Não pense nisto agora. Vamos aproveitar a festa pra comemorar as aberturas de grandes negócios!
- É isso aí! –Genaro anima-se, apertando forte a mão do irmão num gesto de queda de braço.
Suzana, que ao início ouvia por curiosidade, sem dar muita importância, vai aos poucos ficando estática, paralisada, como que tivesse levado uma surra. Pensa que alguém pode vê-la e retira-se apressadamente.
Lá fora, vão chegando os convidados. Soraya, Lúcia e Heloísa dividem-se nos salões e na entrada para recebê-los. Sandra e Sônia esperam Suzana e encontram o simpático “Trio em R”, que acabara de chegar. Rodrigo é o primeiro a perguntar sobre sua musa:
- Cadê a Suzana?
- Ela ficou de nos encontrar aqui e até agora não apareceu – observa Sônia.
- É...Daqui a pouco dá meia noite e ela não está aqui. – concorda Sandra.
- Liga pro celular dela, ela tá sempre com ele. – Sônia sugere.
- Nem lembrei. – Sandra liga e só dá caixa postal. Após insistir e não conseguir Rodrigo resolve:
- Então, vamos procurá-la.
- É, vamos. – concorda Ricardo.
- Vamos nessa! – finaliza Renato.
Entrando na casa de Genaro, pensam onde procurar primeiro. Sandra opina:
- Ela desceu com a gente, será que está na cozinha?
- Pode ter subido outra vez – deduz Sônia.
- Vamos fazer o seguinte: - coordena Sandra – a Sônia, procura aqui embaixo e eu dou uma subida e procuro no quarto. Com certeza, se ela não estiver lá, não estará em mais nenhum lugar lá em cima.
- Combinado! – respondem todos.
Sandra sobe apressadamente e Sônia e os meninos vão à cozinha, onde Odete está atarefada, coordenando o serviço. Sônia pergunta:
- Vó Dete?
- Oi, querida?
- Você viu a Suzana?
- Olha, ela passou aqui muito rápido e eu nem reparei quando saiu.
- É que ela marcou com a gente lá fora, mas está demorando. Daqui a pouco dá meia noite, queremos romper juntas.
- Claro. Já viram no quarto dela?
- A Sandra subiu e ainda não voltou.
- Ela deve ter subido – deduz Odete.
- É. – concorda Sônia – Eu vou ver se ela não está em algum outro lugar aqui embaixo.
- Tá querida. – responde Odete.- Se eu vê-la, falo que a estão procurando.
- Obrigada – agradece Sônia, retirando-se e fechando a porta.
- Em qual outro lugar ela pode estar aqui embaixo? – pergunta Rodrigo
- Bem, tem a biblioteca. – lembra Sônia.
- Vamos lá! – lidera Ricardo
Entrando juntos abrem a porta e também não a encontram. Logo desce Sandra e todos perguntam:
- E aí?
- Nada. – responde Sandra desanimada.
- É estranho, ela combinou de encontrar a gente. Não deve estar lá fora. – deduz Sônia.
- Gente...Estou ficando preocupada.Terá acontecido alguma coisa?- questiona Sandra.
- Mas o que poderia acontecer aqui dentro com tanta vigilância, Sandra? – indaga Sônia.
- Não estou pensando em nenhum acidente, mas sabe como a Suzana é inconstante. De repente se chateou com alguma coisa e ficou em algum lugar em que pudesse estar sozinha. – conclui Sandra.
- Ela não ia fazer isto. Será que não ia querer romper o ano com a gente? – indaga Sônia.
- Ah, gente, vamos continuar procurando. – Lidera Sandra.
- E se a gente olhasse pelo circuito interno de TV? – sugere Sônia.
- Acho que é um último recurso. Chamaria atenção demais pra aqueles seguranças puxa-sacos e o tio Genaro brigaria com ela.- responde Sandra – Não vamos nos precipitar. Ela pode se sentir controlada.
- A vó Dete disse que ela passou de raspão pela cozinha. Será que não está lá pelos fundos, perto da casinha do Lalau? – pergunta Sônia.
- Vamos olhar lá. – chama Sandra.
Todos vão para fora dando a volta pelos fundos, porém, sem encontrar Suzana.
- Onde será que ela está? – pergunta intrigado Rodrigo.
- É estranho. Ela que é tão cuidadosa com o Lalau...parece que nem passou por aqui. Não estou nem vendo a comida dele, nem um osso. – estranha Sônia.
- Gente é melhor nós procurarmos separados. – lidera Sandra. - Eu procuro com a Sônia, perto da minha casa, da casa dela e olhamos nos salões; vocês se dividem entre a piscina, a churrasqueira, a sauna, a quadra de tênis. O primeiro que achar liga pro celular do outro dizendo onde achou.
- Tá – concorda imediatamente Rodrigo - Vamos lá, galera!
Procurando apressadas, Sandra e Sônia vão primeiro à casa de Sandra.Vendo Daniel, Sandra pergunta:
- Mano, viu a Suzana por aqui?
- Não... – Daniel responde quase apático, divagando como se não estivesse ouvindo.
- Nem perto do salão menor? –Sandra insiste. Ele balança a cabeça negativamente
- Tá...Vamos procurar perto da sua casa, Sônia. - Sandra, estranha o irmão, mas continua a procurar a prima.
Indo à casa de Sônia, vêem os pais desta com Ivan e os avós maternos indo para o salão maior. Sônia indaga a todos:
- Vocês viram a Suzana?
- Não. – respondem os pais e os avós ao mesmo tempo.
- Por quê? – pergunta Lúcia.
- Desde que os meninos chegaram, estamos procurando e não achamos. – responde Sônia.
- Boa hora pra brincar de esconder, hein? - brinca o Sr. Antônio Carlos. – Não “esquentem”, gente. Ela deve é estar rindo muito, escondida de vocês. Quando der meia noite, ela aparece de surpresa!
- É...Pode ser. – tranqüiliza-se Sandra.
- Mesmo assim, é melhor continuar procurando. – pondera Sônia.
- Tem razão. – apóia Sandra.
- Será que ela não está no salão? – indaga Sérgio.
- A gente perguntou pro Dani se a viu perto do salão menor e olhamos de longe pro maior e não a vimos.
- É melhor procurar de novo – aconselha Dona Luiza.
- Vamos primeiro olhar por aqui. – sugere Sandra.
As duas continuam a procurar e ao longe, perto do salão menor a vêem, andando cambaleante, com os olhos vermelhos. Chegam perto da prima que as saúda, na hora em que os fogos estouram:
- Feliz ano novo, primas!
- Suzana! – exclama Sandra assustada
- Que foi? – pergunta Suzana rindo.
- Você não está bem! – observa Sandra
- Tô feliz!
- Você tá bêbada! – repreende Sandra.
- Eu tô ótima, maravilhosa! Vou fazer igual ao Daniel, olha só: UUUUUUUUUUUHHHHHHHHHHHH! – Suzana dá uma pirueta, totalmente desengonçada e quase cai, sendo apoiada pelas primas e fica rindo compulsivamente. Uma senhora que está por perto comenta:
- Que desgosto deve ser pros pais dela, mais uma alcoólatra na família, como aquele tio Vitor, que felizmente eu nunca mais vi por aqui!
Sandra e Sônia ouvem indignadas, porém, preocupam-se mais com Suzana.
- Suzana, já pensou se seu pai vê você assim? – pergunta Sônia, em tom repreensivo.
- Estou mais é querendo que ele veja mesmo! – responde agressivamente.
- Ah, mas não vai ver mesmo, isto eu garanto! – afirma Sandra decididamente, agarrando a prima, ajudada por Sônia.
- Ih, qual é?, Vão me controlar? Me solta! – grita Suzana, tentando se desvencilhar. As duas seguram-na e ela mesmo tonta, tenta reagir. No caminho para a casa de Suzana, encontram os meninos. Rodrigo alegra-se ao vê-la, mas logo se entristece ao ver seu estado. Preocupado, pergunta:
- O que houve?
- Nada, Rodrigo, não fica preocupado, deixa que nós cuidamos dela. – responde ternamente Sandra.
- Que foi, nunca me viu? Vai ficar aí me olhando, me controlando também? – Suzana pergunta agressiva, a Rodrigo.
- Suzana! – repreendem as primas
- Não preciso de babás, porque não cuidam da vida de vocês? – retruca novamente, raivosa.
De longe, Heloísa junto a Paulo, percebe que algo está havendo. Paulo comenta com malícia:
- Esta guria só faz besteira! Genaro precisa ver isto.
- Não se atreva a falar nada para ele, eu sou capaz de jogar você nesta piscina! Você vai servir de palhaço pros seus amiguinhos, seu puxa-saco de irmão! – adverte Heloísa.
- Ah, tá bem, eu não quero me aborrecer! É dar muita confiança pra esta pirralha, deixar que ela estrague o meu reveillon.
- Eu vou cuidar disto! – Heloísa vai até elas e impõe sua autoridade:
- Suzana venha comigo e com a Sandra. Sônia vá chamar a Soraya.
Entrando em casa, Heloísa vê Odete e fala baixo ao seu ouvido:
- Traga um café bem preto e amargo.
- Que saco! – reclama Suzana.
- Fique quietinha aí! – ordena Heloísa.
Chegando à suíte, Heloísa abre o chuveiro e ajudada por Sandra, joga Suzana dentro do Box que fica aos gritos:
- Nãaaaao! Esta água tá friaaaa!
- Para de gritar e tira logo esta roupa pra tomar banho! – ordena Heloísa.
Em seguida, as duas a ajudam a se enxugar e vestem-na com o roupão. Heloísa dá-lhe café numa caneca
- Ai, que é isto? – Suzana pergunta
- Café! Beba! – responde Heloísa, com autoridade.
- Eu não gosto de café! –Suzana retruca.
- Não é pra gostar, é pra beber! – Heloísa impõe.
Como Suzana não atende, dá-lhe à força, enquanto Sandra a segura, tampando-lhe o nariz.
- Ai, que horror! – reclama Suzana, cheia de raiva. – Ai, meu estômago está doendo, ai, - tapa a boca, com ânsia de vomito – Dá licença!
Suzana corre para o banheiro. Suzana vomita até cair no chão. Heloísa e Sandra a levantam.
- Escova estes dentes, pra tirar este bafo de onça da boca! – Heloísa ajuda Suzana escovando-lhe os dentes enquanto esta faz expressões de raiva.:
- Não adianta rosnar, que eu sei domesticar feras! - Heloísa não se intimida
Voltando ao quarto, Suzana grita de raiva:
- Me solta! Primeiro me jogam na água gelada, depois me enfiam café goela abaixo e eu quase estrebucho naquele banheiro, depois me escovam os dentes como se estivessem escovando dentes de cavalo! Eu sou gente, de carne e osso!- grita tocando-se- Gente!
De repente para, percebendo que Soraya está no quarto. Heloísa e Sandra a viram antes. Suzana fica sem jeito diante da mãe.
- Acabou? – pergunta Soraya
- Acabei... – Suzana responde de cabeça baixa.
- Mais nada a declarar?
- Não...
- Bem, agora nós vamos sair e sua mãe vai conversar com você – avisa Heloísa.
- Obrigada, gente. – agradece Soraya, enquanto as duas saem.
- Agora, que você já falou, vai ouvir; você acha que está certo fazer o que você fez? Sumir deixando suas primas aflitas, achando que aconteceu alguma coisa com você e depois dar este trabalho a elas e à sua tia, pra que seu pai não a visse naquele estado? Responda! Isto está certo?
- Não, eu sei que não. – Suzana responde de cabeça baixa.
- A Sônia me contou que você estava pagando o maior mico, inclusive que uma destas dondocas que eu sou obrigada a aturar por causa do seu pai ainda comparou você com seu tio Vitor quando bebia. Foi muito duro pra mim como mãe saber que minha filha foi ridicularizada. Suzana, nós fazemos parte de uma sociedade. Quando falo sociedade, não quero dizer alta sociedade! Quero dizer com isto é que somos seres inevitavelmente sociais e que quando saímos dos padrões aceitáveis no convívio social, somos marginalizados. Seu tio Vitor sofreu esta discriminação, porque há muitos anos, fazia coisa muito pior do que você fez e não foi só uma vez! A grande sorte dele foi ter se casado com a tia Helena, porque sei que nem eu agüentaria. Filha, porque você fez isto? É uma ilusão pensar que beber vai fazer esquecer. Seu tio Vitor diz que tentava afogar as mágoas na bebida, mas que era o mesmo que matar alguém afogado. O corpo vai ao fundo e depois bóia. As mágoas “afogadas” depois aparecem. O que foi que aconteceu pra você agir desta maneira? Você não ia fazer isto a troco de nada.
- Você quer mesmo saber? – Suzana responde quase chorando – É o meu pai!
- Que tem seu pai?
Suzana senta-se na cama começando a chorar e depois se deita encolhendo-se toda, sem conseguir falar. Soraya chega-se até ela, percebendo o quanto está mal e deita a cabeça da filha no seu colo, confortando-a.
- Calma filha...fala pra mamãe, o que está havendo?
- Ele...Ele não gosta de mim, mãe...Ele me odeia! – Suzana chora mais ainda
- Que é isso, minha filha? Odeia?! Ele é seu pai! Como pode um pai odiar uma filha?
- O meu, me odeia e você sabe disto! – fala irritada levantando a cabeça do colo da mãe
- Ele fez alguma coisa com você? – Soraya pergunta ternamente.
- Ele faz sempre!
- Estou perguntando se fez agora há pouco.
- Ele...Ele... – Suzana não consegue falar com a voz embargada pelo choro.
- Calma filha. – Soraya consola a filha abraçando-a
- Ele tava com o tio Paulo no escritório dele, falando mal de mim, reclamando de mim.
- O que foi que ele disse, filha?
- Mãe, o meu pai nunca quis ter uma filha, eu ouvi isto e acho que sempre senti, mas não queria aceitar. Eu sou a frustração dele! Ele reclamou que eu dei trabalho, que eu tive bronquite, disritmia... Ele disse que o meu nascimento fez você quase morrer! Porque eu nasci?! Porque eu não morro?!
- Não diga isto, filha! – Soraya assusta-se - Você é meu orgulho, é a filha que sempre sonhei. Eu estou viva, cheia de saúde. Te amo profundamente. Agradeço a Deus sua existência. Você é boa, justa, é linda por dentro e por fora. Você superou estes problemas. Sem você, meu casamento não seria completo. Sua tia Helô diz com orgulho que quando eu fiquei sem leite, ela deu o dela para você e que é uma satisfação saber que colaborou pra que você ficasse esta moça linda que está ficando, que tantos rapazes devem admirar.
- Admirar?! Eu não suporto a maioria dos que vem aqui! Eles têm um papo bobo, são ridículos!
- Você se esqueceu das exceções?
- Ah, mãe... – Suzana chora mais ainda - Eu fui tão grossa lá embaixo com o Rodrigo...
- Filha, você não estava com a noção exata do que estava fazendo. Mas já que sabe que errou, desculpe-se.
- Com que cara?
- Com a cara que você tem.
- Que vergonha...
- Filha, vai nascer um novo dia, está nascendo um novo ano. Eu me lembrei de uma frase bíblica que sua avó e seus tios Helena e Vitor já comentaram muito: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã....” Então, querida, pare de pensar no que seu pai disse. Se ele falou que não queria uma filha, não leve em consideração...
- Mas mãe – Suzana a interrompe – Não foi só isto! Ele falou daquela briga no colégio, até quando vou pagar por isto? Eu fiz o que fiz por raiva de alguém que maltratou minha prima!
- Filha, eu já conversei sobre isto com você. Você sabe onde errou. Agora vai se torturar por causa do seu pai? Não dê importância a isto. Ele tem outros mil empresários pra fazer negócios com ele. Você tem uma vida pela frente pra resolver os problemas com seu pai. Eu, nem sei quem é ou foi o meu. Você é criada com amor.
- Só por você, o meu pai vive vendo defeitos em mim, ele falou que quando eu casar acaba a obrigação dele comigo, disse que eu ainda caio na vida, e que me achou atirada demais pro Rodrigo! Pode?! Sempre me criticando! Manda eu ser educada, eu sou e ainda sou chamada de atirada por que fui simpática!
- Filha, não dê importância! Ele parou no tempo, é machista, implicante mesmo. Você disse que é a frustração do seu pai. Sabe qual é a frustração dele? Eu. Sabe por quê? Porque a mim, ele não pode controlar e ele se sente no direito de controlar você. Ele está transferindo pra você, o que não pode fazer comigo, porque sabe que me atinge assim. Não faz de caso pensado, faz sem perceber, porque a minha personalidade é forte e você está ficando assim também.
- Mãe...Eu nunca pensei nisto
- Você não é a primeira, nem será a última a viver esta situação. Mas tem todo o apoio de sua mãe para ajudá-la a lidar com isto. Eu sei lidar com seu pai. Tem sido até mais difícil ultimamente, mas vou conseguir. Posso discordar de atitudes erradas suas, mas nunca estarei contra você. Agora coloca sua roupinha de dormir, deita, descansa e esquece tudo isto. Eu fico com você até você dormir.
No jardim, Heloísa e Sandra encontram Paulo que pergunta irônico:
- Como é, deram um jeito na rebelde sem causa?.
- Paulo! Eu não estou com paciência pras suas piadinhas sarcásticas! – irrita-se Heloísa
- Mas é isto mesmo, esta menina precisa é de um corretivo! – persiste Paulo.
- Pai, por favor! – interfere Sandra
- Eu gosto dessa menina como uma filha, pare de implicar com ela!
- Eu hein? – despreza Paulo – Nossa filha jamais faria o que aquela maluca fez! Podia ter exposto o pai a uma humilhação!
- Ele nem está se lembrando que ela existe! Assim como você, só se lembra para rebaixá-la! Eu não vou nem perder meu tempo ouvindo suas asneiras! Some da minha frente! Vai fazer companhia pros seus amiguinhos empresários puxa-sacos!
Paulo lança um olhar de desprezo e sai.
- Mãe, já começou o ano novo com briga! – reclama Sandra
- Ah, minha filha, já começou chato mesmo!
Enquanto isto, Suzana já deitada com a cabeça no colo da mãe, ainda chora muito. Soraya acaricia seus longos cabelos negros e fala carinhosamente:
- Filhinha, fico triste de ver você assim. Você não está só. Suas primas devem estar muito tristes. Não faça mais o que fez, filha. Você se machuca e às pessoas que a amam. Conte comigo, sempre que você precisar.
Embaixo, no jardim, sentadas no banco esperam por uma notícia de Suzana, em companhia do “trio em R”:
- Por que a Suzana fez isto? – Sandra questiona
- Pra mim, ela se aborreceu com alguém – deduz Sônia.
- Pô...Pra mim este começo de ano já tá triste. – desabafa Rodrigo.
- Rodrigo, não fica magoado com a Suzana, ela não sabia o que tava falando. – consola Sandra.
- Eu não tô com raiva, só preocupado. Quero tanto falar com ela.
- Liga pra ela depois. – sugere Sandra.
- É. – concorda Sônia.
- Sabe, eu gostei da Suzana assim que a vi. Fico muito triste com isso. Tô com vontade de ir embora.
- Segura um pouco, Rodrigo, não fica pensando nisto, nem deixe transparecer pro seu tio que está havendo algum problema. Ele pode comentar com o tio Genaro. Eu sei que é chata uma situação como esta, mas procura curtir, ela vai ficar bem. Tia Soraya ficou com ela. Ela é uma mãe espetacular.
- É...Assim como a minha. Minha mãe é muito especial também. Estou sentindo a falta dela, ela nem sabe exatamente quando volta. – comenta Rodrigo.
Suzana adormece com a cabeça no colo da mãe que a acomoda na cama. Ajoelha-se próximo à filha, olha ternamente para ela dormindo e fala baixinho acariciando-a:
- Minha filha, você é tão linda. Parece a Bela Adormecida. Como eu te amo, filha. Como você é importante pra mamãe. – Soraya beija a testa, o rosto de Suzana, carinhosamente, afagando-lhe.
Soraya desce e lá fora encontra Sandra e Sônia que ao verem a tia, procuram saber notícias da prima.
- Tia, como é que a Suzana está? –Sandra pergunta
- Está bem, já dormiu.
- Ai, eu estou tão triste... - Sônia desabafa
- Não fique assim, Sônia – Soraya a consola – Isso passa.
- Ela nunca fez isto. –Sandra observa.
- Todos nós temos momentos de fraqueza – Soraya se mostra compreensiva
- Ela ficou bem? – Sandra se preocupa.
- Ela chorou, desabafou comigo e eu ouvi. Ficou com muita vergonha, porque foi grossa com o Rodrigo.
- Ele não ficou com raiva dela. Está ansioso pra saber como ela está. – informa Sandra
- Ele ainda está aí?
- Ainda agora estava. – procura Sônia - Olha ele lá.
Rodrigo, acompanhado dos primos, as vê e se aproxima.
- Como é que ela tá?
- Está bem, obrigada. –Soaraya. responde
- Eu vou ligar pra ela
- Liga sim. Peço desculpas por este início de ano tumultuado. - Soraya acena para Heloísa que a vê de longe - Eu vou falar com a Helô, com licença.
Soraya vai até a cunhada.
- Oi, e aí? – Heloísa pergunta
- Ai, eu estou me sentindo um trapo!
- Imagino...felizmente o Genaro não viu nada.
- Graças a Deus! Teria sido uma catástrofe!
- Eu não vou perguntar, mas eu sei que foi para agredi-lo que ela fez isto.
- Helô, eu já nem sei o que faço.
- Fiquei muito chateada, eu quero muito bem à Suzana.
- Você ajudou muito.
- Ela ficou envergonhada não ficou?
- Ela chorou muito, mas eu consegui acalmá-la. Eu tive vontade de colocá-la dentro de mim outra vez.
- Conte comigo, no que eu puder ajudar.
- Helô, eu estou louca pra que acabe o Reveillon logo!
- O Vitor disse que ia fazer um churrasco lá. Vamos?
- Vou ter que esperar a Suzana acordar, ver como vai ficar, aí talvez eu vá.
- Acho que ela vai querer ir. Depois de um porre deste, ela vai ficar em depressão e vai ficar melhor lá .

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

CAPÍTULO VIII

NATAL E PRÉ-RÈVEILLON
Mais uma véspera de natal começa a ser festejada no SOLAR CASTELLI, onde a maior comemoração está em render graças ao "deus dinheiro". Comes e bebes, mesa farta. Igual como a todos os anos anteriores, porém, Suzana demonstrava maior insatisfação e Sandra, preocupava-se percebendo o estado estranho de seu irmão. Sônia, apesar de solidária aos sentimentos das primas, curtia a presença do pai e de seus avós. No grande salão de festas, Suzana está numa mesa no canto entre suas primas e fala consigo mesma:
- É impressionante. Tanto dinheiro gasto pra isto: bebedeira, comilança, conversa fiada, piadas de baixo nível...Natal nesta família é isso. Nenhuma união, nenhum clima de amor. Festa de comércio.Deprimente...
Enquanto isto se encerra o culto especial de véspera de natal na igreja onde congrega Vitor. O pastor ora e dá a benção apostólica:
- Senhor, te agradecemos por estarmos celebrando o nascimento de teu filho amado Jesus. Não importa a data exata, mas que podemos nesta data falar de quem veio ao mundo pela nossa salvação. Porque tu amaste o mundo de tal maneira, que deste teu filho unigênito para que todo aquele que n´Ele crer tenha a vida eterna e por isso, somos teus filhos e co-herdeiros com Cristo. Senhor, agradeço-te por todas as vidas que aqui estão, leva todos às suas casas em segurança. Que a graça de Deus pai, o amor de Jesus Cristo e a doce consolação do Espírito Santo sejam com todos, em nome de Jesus e todos digam: Amém. – fala em coro toda a igreja.
- Todos aplaudem, depois se cumprimentam e seguem para suas casas. Vitor sai com sua família, inclusive os genros e netas, para continuar as comemorações de véspera de natal em casa. Bertinha,
que vai ao lado do pai, indaga-lhe:
- Pai estou pensando, como estará sendo o natal dos meus tios?
- Querida...Você já pode imaginar, mas eu afirmo, que em nome de Jesus, não será assim por muito tempo. Crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e tua casa (Atos, 16:31).
- Mas pai, eles não são mais tua casa. – retruca Bertinha
- Quem foi que aceitou Jesus primeiramente na família? – relembra Vitor.
- A minha avó.
- Por quê?
- Por causa de uma cura
- Pois bem; ela não estava tão firme ainda, mas Deus enviou uma serva d’Ele e quem aceitou Jesus no seu leito de morte?
- Segundo você já me contou, o meu avô.
- Por quem a mãe orava para libertar-se da bebida e além disto aceitou Jesus e hoje tem ministérios na obra de Deus?
- Você.
- Quem viu milagres acontecerem, nem teria organicamente um corpo preparado para ter tido tantos filhos, ganhou uma filha quando a medicina afirmava que não poderia mais ter filhos?
- Minha mãe.
- Então, como você vê: Deus nunca faz menos do que promete, mas freqüentemente mais do que prometeu. Eu não morava mais com sua avó, era casado já há anos e ela orava por mim, porque no coração dela, alimentava aquela semente de fé, que como o grão de mostarda ia crescendo e florescendo e esta fé, foi tão grande que ela alcançou a graça muito maior do que esperava ter.Ela pedia de joelhos: “Senhor, liberta meu filho da bebida” e eu não só me libertei, como poucos anos depois, aceitava Jesus e entrava de cabeça na obra de Deus. Por isto, eu creio: o Genaro, o Paulo e o Sérgio vão ter uma experiência com este Deus que eu conheço, transformou minha vida e transformará as deles também. Eles hão de conhecê-Lo. Todo o joelho se dobrará e muito antes disto, os joelhos deles se dobrarão.
- Isto é que é fé! – apóia Helena.
- Lelê, o que Deus fez por mim, fará por eles, eu creio, quem viver, verá! Tenho certeza de que a mamãe também está orando por eles agora.
Na casa de Marisa, estão além dela Antonia, sua filha Amanda, seus netos André e Valéria e Angelina. Todos oram juntos. Ao final, Marisa convida:
- Vamos à nossa ceia, pessoal? - convida Marisa.
- “S`imbora!” – alegra-se André.
Todos se dirigem à mesa.
- Ai, menina...Quantos natais a gente já passou, hein? – relembra Tonha.
- É...Muitos deles sem nem viver plenamente o verdadeiro sentido da festa.
- É...Mas como é bom celebrar Jesus neste dia e saber que todo dia é dia d’Ele!
- É verdade. Eu lembro dos natais quando era criança. Eu ainda era menina, fomos para um apartamento. Quando era adolescente, o papai e a mamãe compraram aquela casa enorme com quintal, lembra? Poucos anos antes de eu conhecer o Vitório.
- Se me lembro! Quanto trabalho!
- Mas valeu, porque depois ficou pra nós e eu criei meus filhos lá, fui tão feliz...
Neste momento, chegam Ciro e Mary. Ciro toca a campainha várias vezes e Mary o repreende:
- Ciro! Ninguém é surdo!
- Ó de casa! – grita Ciro.
- Ciro! Atrasado como sempre, mas que bom que veio, mano! – recebe-o Marisa dando-lhe um beijo.
- Eu o apressei, mas você já sabe como é! – desculpa-se Mary olhando para o marido com reprovação.
- O importante é que vieram! – Marisa fala com satisfação – E os filhos, como estão?
- Estão bem. – responde Mary – Vão lá em casa amanhã. Que saudade me dá dos natais passados, na casa dos seus pais, lembra?
- Eu estava falando sobre isto com a Tonha agora. Hoje estive durante o dia com o Genaro, o Paulo e o Sérgio. O natal, mesmo, vou passar com o Vitor.
- Como está tudo lá com o Genaro e os outros? – pergunta Mary.
- Tudo bem. Dia 28, as meninas vão participar de um desfile em benefício da uma obra que a Helô ajuda.
- Como ela está? Mais ou menos neurastênica? – pergunta Ciro irônico.
- Ciro! – reprova Mary.
- Não esquenta, Mary. A Helô tem aquele gênio, mas é boa pessoa.
- E os seus netos, os meninos? – pergunta Mary.
- O Ivan veio falar comigo, porque o pai tirou-o do computador. Aliás, até conseguiu mandá-lo para a piscina; o Daniel é que estava estranho, aéreo. Está dando pra sair muito, parecia cansado.
- Esta garotada troca dia pela noite. –Mary critica.
- Bem, vamos cear? –Marisa convida.
- “Bóia macacada!” - brinca Ciro.
- Ciro! – Mary repreende.
- Deixa, Mary. –Marisa ri.
As horas passam.Na casa de Genaro, Suzana está à porta e se despede das primas:
- Tchau Sú... Feliz natal –Sandra ironiza.
- Dentro do possível... – concorda Suzana.
- Você tá tão triste, prima. –Sônia observa.
- Desculpa, Sônia. – Suzana acarinha a prima na cabeça. – De qualquer maneira, eu tô feliz por você, os seus avós alegraram o ambiente.
- Não quer que eu fique aqui com você? – pergunta Sandra.
- Não, obrigada, prima. – agradece Suzana – Eu não vou ser uma boa companhia. Prefiro ficar sozinha.
- Tá, Sú. – responde Sandra abraçando-a - Sonhe conosco e não caia da cama.
As três riem.
- Mais uma do tio Vitor! – Sônia observa.
- Tchau, gente – Suzana despede-se.
As duas vão embora e Suzana entra e sobe tristonha para o quarto. Entrando, telefona para Vitor.
- Alô? – atende Vitor.
- Tio...
- Morena Grau Dez! Feliz natal, querida!
- Obrigada, tio...
- Que vozinha triste, o que foi?
- Tio... – com a voz embargada pelo choro.
- Que foi, filhinha?
- Porque todo o natal é isto? Todos comendo, enchendo a pança, rindo de besteiras, contando piadas de baixo nível! É horrível! Não agüento mais isto! Eu só não estou mais triste, porque hoje a vovó esteve aqui.
- Está vendo como Deus ama você? Mandou alguém que você ama muito ir vê-la.
- É, tio, mas ela vem pouco e tudo que é bom acaba logo!
- Filhinha, não fique assim. Isto vai mudar, eu sei que vai. Eu afirmo em nome de Jesus, que seu próximo natal já será diferente. Eu creio nisto.
- Ai, tio, só você me entende. Se não fosse você, eu não ia suportar este dia!
- Meu bem, eu vou orar por você, você vai dormir tranqüila. Um novo dia está nascendo.
Vitor ora e Suzana fica mais tranquila
- Obrigada, tio – agradece Suzana, parando de chorar. - Dá um beijo na tia Helena e nos meus primos. Pro Marcos, pro Rey e pras suas netinhas.
- Obrigado, amor. Pra todos aí também. Dorme com Jesus. Sonhe comigo e não caia da cama, tá?
- Obrigada, tio, tchau. – Suzana responde esboçando um sorriso
- Tchau.
No dia 25 todos se reúnem para o almoço em família. Marisa chega à casa de Vitor.
- Oi, filho.
- Oi, mamãe, feliz natal.
- Pra você também, querido, na paz do Senhor Jesus.
- Oi, Marisa! – chega Helena e cumprimenta a sogra. – O pessoal não quis vir?
- Não, a Tonha ficou de ver o tio dela e a Angelina foi ver os primos do outro lado.
- É. Tem que fazer um social, é um bom testemunho. – observa Helena.- Já está tudo pronto, só falta as meninas chegarem. O Allan deve estar tomando o seu banho de beleza, o Guel está arrumando tudo, até brigou com o irmão, queixou-se de bagunça. Olha só a frase dramática, Marisa: “Este quarto está pequeno demais pra nós dois”. A Patty tem o quarto dela, quer dizer, só dela. O que é que eu vou fazer, não tem outro pra ele.
- Um deve ser mais arrumado e o outro menos exigente. – opina Marisa.
- Eu acho bom ser organizado, mas o Guel, bate o record.– critica Helena.
- Pelo menos, não é como os outros, querida. O Allan e as meninas, não são arrumados. As minhas netas aprenderam só quando ficaram mais velhas. A Bertinha, quando casou melhorou muito.
- O drama maior agora é a Patty. – observa Vitor.
- É, mais eu domo a fera. – vangloria-se Helena.
- E ela, cadê? – pergunta Marisa
- Aqui, vó! – chega Patty toda alegre.
- Arrumou o quarto? – inquire a mãe.
- Já, mãe. Pôxa! – responde queixando-se.
- Não é pôxa, é pra arrumar sempre! – adverte Vitor.
- Tá, pai. – responde de cabeça baixa.
- Vem cá, neném da vovó! – agrada Marisa
Patrícia abaixa-se para beijar a avó e depois se senta ao seu lado.
- Você foi ontem ver os manos, né mamãe?
- É, filho. As meninas ficaram muito felizes por me ver, eu dei um diário personalizado para elas.
- E pra mim, o que é que tem? – cobra Patty.
- Vá ver lá na sacola – responde a avó.
Vai correndo ver e entusiasma-se:
- Vó, um diário!
- É, eu sabia que você ia ficar enciumada se eu desse só pra elas. Tá vendo como conheço bem meus netos?
- Ai... Amei vó! – agradecendo-lhe com um beijo e um abraço.
- Que bom! É no mesmo estilo do que eu dei pra elas.
A campainha toca e chegam ao mesmo tempo Roberta com as meninas e Reynaldo e Marcela com Marcos.
- Oi, vó – saúdam as duas.
- Bisa! – gritam Rute e Isabel indo abraçar a bisavó.
- Que bom estar com todos! – vibra Marisa.
Helena chega perto da escada e grita:
- Guel! Allan! Desçam logo, meninos! Estão todos aqui, menos vocês!
- Deixem que eu acabe de arrumar a bagunça que alguém, fez! – Miguel enfatiza jogando indireta para Allan.
- Ah é? – a mesa não vai esperar, não! – responde Helena.
- E você, Allan, já terminou o banho real? – pergunta Vitor, chamando o filho.
- Estou me vestindo! – grita Allan, lá de cima.
Enquanto esperam, Marisa conta a Vitor as novidades sobre o “trio em S” inclusive sobre seus admiradores. Por fim, os atrasados descem e Vitor anuncia:
- Bem, vamos orar todos e almoçar.
Todos dão as mãos e Vitor encabeça a oração.
Enquanto isto, o restante da dinastia Castelli comemorava o seu feliz natal, reunidos no salão de festas no tradicional almoço. Soraya e Heloísa conversam:
- Eu recebi um telefonema da Lili. Milagres acontecem, principalmente no natal.
- Pelo menos ligou, né Helô? – Soraya observa.
- É...Você vê sempre o lado bom das coisas.
- Pois é, Helô. Do jeito que as coisas andam, a gente tem que pensar positivo. Como foi boa ontem a visita da Marisa! Assim como o Vitor e a Helena ela melhora o ambiente. Eles têm um amor, uma vontade de promover a paz, o bem, sem impor nada. É como quem executa um manual de vida diária com sucesso.
- É...Eles têm alguma fórmula que eu preciso descobrir qual é. Soraya, sabe qual é o ditado que melhor se aplica à minha vida?
- Qual é?
- “Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”.
- Ai, Helô, como você anda amarga!
- Mas é, Soraya. Você vê; eu escolhi duas profissões que me deram alegrias, me senti uma pessoa mais forte, útil, ajudando a salvar vidas, primeiro física, depois emocionalmente, ajudando-as a reintegrarem-se à sociedade, colaborei para adoções – inclusive a do Miguel – Conheci boas pessoas como a Odete e, no entanto...Eu não tenho uma família feliz, meu filho parece um perdido no mundo, meu marido só pensa em negócios...
- Com licença – interrompe Soraya – Você até tem razões para estar chateada com o Paulo, principalmente no que diz respeito ao Daniel. Mas, para pra pensar sobre as coisas que citou: a amizade da Odete, esse anjo bom que cuidou com zelo de seus pais e é como uma avó para as meninas, inclusive com sua filha que é maravilhosa, não dá nenhum trabalho, respeita profundamente você e tem uma maturidade excepcional para a idade dela. Ela tem o maior orgulho de você.
- Nisto você tem razão. Mas eu estou me sentindo sobrecarregada com a casa, estou no limite em relação à irresponsabilidade do Daniel.
- Helô, ele já tem 19 anos, já é quase maior! Por que você não deixa que ele quebre a cara?
- Não sei...Eu me cobro como mãe, acho que errei me dedicando mais ao trabalho, que fui negligente.
- Não, Helô, você fez uma opção como tantas outras mulheres que preferem ter filhos só depois da carreira estruturada. Você é boa mãe, não acho que seu horário de trabalho prejudique sua vida familiar. O que eu sinto é uma grande ansiedade sua em resolver o que vê de errado por uma acomodação do Paulo ao lar. É aí que você se atropela!
- Pois é...Ontem quando o Daniel chegou, eu estava furiosa. Ele me veio com um jeito tão cínico, que eu não agüentei. Aliás, este sarcasmo, ele puxou do pai. Eu dei o maior ataque, joguei o que vi longe. Ficou uma bagunça. Assustei a Alice, coitada.
- Você precisa se controlar mais, Helô. Está muito estressada. Olha, conselho nunca é bom, mas vou dar um a você: para de esquentar com o Daniel, ele deve estar querendo chamar a atenção. Deixa um pouco pra lá, que a coisa vai mudar.
- Mas eu tenho medo, Soraya. Ele não costuma trazer amigos aqui. Eu sei que ele tem a turma dele, mas não sei quem são. Podem ser más influências. Ele sai um dia de tarde e volta noutro à noite. Da última vez, ficou quase dois dias fora.
- Pode não ser nada demais. Nossos maridos também gostavam de ficar na farra na juventude.
- Mas avisavam.
- Ele ligou. Não deixou recado com a Alice, depois com a Sandra?
- Pra não ter que falar comigo, ele soube muito bem como fazer.
- Tá, Helô. Só acho que ficar em cima demais, não vai resolver, só reforçar a atitude errada.Você já tem exigido do Paulo que o coloque na firma, nisto eu concordo plenamente com você, porque ele precisa ter noções de responsabilidade e isto a gente tem a obrigação de ensinar e cobrar dos filhos. Agora, continue só cobrando do Paulo que é pai e deve fazer a sua parte. O resto é relaxar. Deixa as coisas se assentarem aos poucos, não deixe a ansiedade tomar conta de você.
- Bem, eu vou procurar ficar de olho sem que ele perceba.
- Eu não quero dizer que você deixe tudo correr frouxo, entenda bem. O que eu acho é que você deve estar calma para as atividades de fim de ano que ainda tem. O desfile é daqui a três dias, você tem encerramentos de ano em instituições. Esfria um pouco, mulher!.
- Vou tentar.
- Helô se serve de consolo, eu agradeço a você por estar me fazendo companhia. Até hoje que é natal, uma festa que se comemora em família, Genaro convidou os amiguinhos empresários, para eu ter o prazer de aturar.
- Por tabela eu aturo os do Paulo, já que eles têm tantos negócios em comum.
- É um saco! – concorda Soraya.
Neste momento, chega Lúcia também um pouco entediada e comenta chegando-se à mesa das duas.
- Ai, gente, se não fosse os meus pais estarem aqui, isto estaria muito mais chato.
- Console-se com a gente, porque pra nós está muito mais chato – afirma Soraya.
- Você, pelo menos, está com seus pais, nós nem temos os nossos mais. – lamenta Heloísa.
Mal as três iniciam a conversa, o Trio em S, entra no salão cheio de entusiasmo e as mães, percebendo o jeito eufórico das três, perguntam quase ao mesmo tempo:
- O que houve?
- Ai, mãe, o Rodrigo me ligou! – anuncia Suzana aos suspiros.
- Pelas expressões de todas, já concluo que o Ricardo e Renato também ligaram para suas respectivas musas! – observa Heloísa.
- É! – Sandra e Sônia respondem eufóricas ao mesmo tempo.
- Que bom, acho que estes meninos são muito educados, gentis. É tão difícil ver isto hoje em dia - comenta Soraya.
- Eu tive pouco contato com os três, mas também percebi isso – Lúcia concorda.
Os dias passam e as meninas relatam nos seus diários, suas emoções:
Rio, 27 de dezembro de 2001.
Meu querido diário
Hoje estou muito feliz. Chegou ontem quase ao fim da tarde, a nossa outra avó adotiva, a avó Dete. Ela é maravilhosa. Uma senhora doce e meiga, muito elegante e bonita, sempre muito bem vestida e penteada com seus cabelos louros. Ela cuidou dos pais da tia Helena e tia Helô e depois que os dois faleceram, passou a ser governanta da minha mãe. Conhece tia Helô e tia Helena há quase trinta anos. Foi enfermeira, depois se aposentou. Ficou viúva ainda cedo e seus filhos casaram, por isto, resolveu se dedicar a pessoas que precisassem para ter uma razão de viver. Minha mãe gosta muito dela, as duas se tratam sem cerimônia, com intimidade. Meu pai que é mais fechado é para ela o Doutor Genaro.
Eu não conheci a minha avó, que morreu pouco menos de um ano antes de eu nascer. Em compensação, ganhei duas avós adotivas: a avó Dete e a avó Tonha, minha avó postiça que ajudou a fazer o parto do tio Vitor, junto com o meu avô paterno. Não deu tempo da vovó ir para o hospital. É engraçado, que quando o médico chegou para ver se estava tudo bem, contam que ele disse: “Doutor, o senhor me deve uma grana”. Por isto tio Vitor diz que ela é sua mãe preta.
Amanhã é dia do desfile. Estou tão ansiosa!
Tchau, diário, amanhã terei novidades!
Suzana
Também recolhida em seus aposentos, Sandra confidencia-se com seu amigo secreto:
Rio, 27 de dezembro de 2001.
Meu querido diário
As coisas parecem estar um pouco mais calmas, embora o Dani continue tentando driblar a minha mãe, aproveitando-se dos compromissos dela pra sumir. Ele se acha muito esperto e ela não é boba. Queria aconselhar meu irmão, mas sei que não vai me ouvir, não ouve nem nossos pais. Fico aflita querendo ajudá-lo e não sei o que fazer.
Amanhã será o desfile. Vou me controlar pra não preocupar minha mãe.
Até amanhã, diário.
Sandra.
Sônia, bem mais animada pela presença do pai e dos avós, relata os últimos acontecimentos:
Rio, 27 de dezembro de 2001.
Meu querido diário
Como estou feliz! Além de ter meus pais juntos, meus avós ainda estão aqui e chegou ontem a nossa avó adotiva, a vó Dete. Ela é uma senhora muito fina, bonita e alegre. Pensa sempre no próximo.
Ontem, eu, meus pais e meus avós saímos, fomos ao Barra Shopping. O Ivan passou por um lugar onde tem aqueles joguinhos de máquinas. Embora ele não saia do vício, foi bom ter a sua companhia. Eu reclamo do meu irmão, até brigo com ele, mas eu o amo. Por isso fico irritada com a mania dele. Gostaria de ser mais amiga dele como a Sandra é do Daniel. Este pode estar com raiva do mundo, mas nunca da irmã. Nunca o vi descontar nada nela. Será que não topo o Daniel porque tenho ciúme da Sandra? Se bem que ele sempre foi muito implicante,.
Penso também na Suzana, que tem a Sandra e a mim como irmãs, já que é filha única. Tia Soraya perdeu dois depois dela, uma menina e um menino, como seria? O importante é que sei que assim como eu, a Sandra a ama muito. Ela pode ser um pouco geniosa, mas é linda como pessoa.
Amanhã, será o desfile e minhas primas vão arrasar. Eu vou desfilar também, mas não me acho bonita como as duas, embora elas digam que sou. Quase todos estarão lá, até a vó Dete.
Vou sentir falta da minha avó Marisa, mas ela mora longe. Ela deu-me um diário novo, assim como também deu para a Sandra e para a Suzana. Em breve me despeço de você.
Até amanhã, diário!
Sônia
Após o desfile, as meninas registram os últimos acontecimentos e seus planos futuros:
Rio, 28 de dezembro de 2001.
Meu querido diário
Tenho tantas novidades! Apesar de nervosa, até que eu desfilei bem. Fiz uma homenagem à minha mãe, que foi modelo. Foi uma emoção chamá-la ao palco e ver como ainda é querida, como tinham antigas colegas dela aplaudindo, felizes por vê-la.
Acho que eu e minhas primas ganhamos nossos mais ardorosos fãs nº1. O Rodrigo me deixou sem graça, assobiando enquanto eu desfilava. Ainda bem que não errei nada do que ensaiei. Ele é tão diferente dos outros garotos e os primos dele também. Tio Vitor estava lá, foi apresentado aos três e gostou muito deles. Os três entregaram flores pra gente.Ficamos vermelhas de vergonha.
Está chegando o fim do ano, logo vou me despedir de você, diário...
No dia 31 vamos todas usar três macacões brancos, de frente única, lindos! Vamos arrasar.
Tchau, diário!
Suzana
Meu querido diário
Como é bom a gente fazer alguma coisa em benefício de alguém. Não tenho a mínima pretensão de me considerar modelo, mas me saí bem. Acho que dou mais para carreiras que ajudem aos meus semelhantes. Fiquei um pouco tensa, mas sabia que tudo ia correr bem. Pena que meu irmão não curtir estas coisas, senti falta dele. Tio Vitor ficou muito bem impressionado com o trio em R, disse que os achou muito educados e simpáticos. Espero que os próximos dias sejam tão bons como o de hoje. Estou nas suas últimas páginas. Até lá terei mais novidades.
Tchau,
Sandra.
Meu querido diário
Ai...Nem sei como começar. Tanta coisa boa ao mesmo tempo. Como é bom participar de um evento em prol de uma boa causa. Eu sou muito acanhada, mas só de pensar em ajudar, venci a timidez. Deveriam existir mais pessoas interessadas em coisas assim. Foi o máximo! Tia Helô e a amiga dela, que a ajudou - apresentando a sua coleção para o verão - estão de parabéns! Como foi bom ver tantas pessoas queridas no desfile! Meu pai exigiu que o Ivan fosse. Ele ficou emburrado o tempo todo. Meu avô percebeu e tentou animá-lo com seu jeito brincalhão. Minha avó Luiza “babou” me vendo desfilar e minha mãe ficou muito orgulhosa. Que pena que meus avós vão ao voltar pra São Paulo no dia 2 de janeiro.Tia Soraya reviveu os velhos tempos, foi até homenageada e comentou que se viu ontem na Suzana hoje. A avó Dete também estava lá, meus tios Vitor e Helena e todos os nossos primos.
Vamos dar adeus a 2001 e eu vou dar adeus a você, pois vou estrear com o ano novo o diário que minha avó deu. Em breve eu me despeço, diário.
Sônia.
Os dias passam e os preparativos para o fim do ano se intensificam . Soraya, ajudada por Lúcia e Odete trata das compras de fim de ano e Heloísa também participa, mesmo atarefada com os encerramentos de ano de obras sociais. As meninas curtem suas férias à beira da piscina, recebendo telefonemas de seus admiradores que confirmam suas presenças no Reveillon; Daniel consegue driblar a vigilância da mãe e dá seus sumiços esporádicos. Esta finge não ligar, esperando o momento oportuno para cobrar uma mudança do filho. Genaro, e Paulo fazem sua lista de convidados, aproveitando a ocasião para unir seus negócios aos do irmão e estabelecer novos contatos entre seus convidados e os dele; Ivan continua suas atividades de jogos computadorizados; Vitor e Helena, e todos os seus, terminam mais um ano de vitórias.

CAPÍTULO VII

UMA AGRADÁVEL SURPRESA
Amanhece mais um belo dia de sol no SOLAR CASTELLI. O inseparável “Trio em S”, acorda cedo e se encontra aos primeiros raios de sol para curtir seus corpos de maneira mais saudável. As três dormiram em suas respectivas casas, mas Suzana e Sônia, solidárias à preocupação de Sandra, vão buscá-la para espairecer à beira da piscina. Sandra procura relaxar na espreguiçadeira entre Suzana e Sônia que a ouvem:
- Gente, onde estará meu irmão?
- Se ele resolver ligar, seu celular tá aí. Relaxa. – Suzana a tranqüiliza.
- Mas já são mais de oito horas e ele nem deu sinal de vida! –Sandra retruca tensa.
- Se alguma coisa tivesse acontecido, você já saberia. Notícias ruins correm. – diz Sônia impulsivamente.
- Nem sempre – discorda Sandra.
- Sônia!! –Suzana reprova – A Sandra já está tão nervosa e você ainda fala isto?! Ai, falei só por falar, desculpa! – Sônia tenta consertar.
- Tá tudo bem, Sônia – Sandra a alivia – Ai, gente, porque o Dani está agindo assim, hein?
- Sandra, “no stress, O.K" - brinca Suzana.
- Ai, gente... – Sandra acha graça – Se vocês vissem a “fera” que a minha mãe estava ontem à noite...
- Deve ter ficado um clima horrível – deduz Suzana – Você não quis ir lá pra casa por quê?
- Eu não ia ficar bem, não ia sossegar na expectativa dele chegar e pensar que minha mãe poderia “estourar” com ele.
- Imagino... – concorda Sônia.
- Felizmente não houve “barulho no chatô” esta noite. – brinca Suzana.
- É...Mas o barulho ainda vai acontecer, com certeza! – prevê Sandra.
- Ai, Sandra, desliga! – aconselha Suzana.
- Tudo indica que ele tá fazendo alguma besteira. Cê mesma viu anteontem a euforia dele Sú! – Sandra.lembra
- Eu acho que você tá se preocupando a toa! – analisa Sônia.
- Sônia, você não reparou porque tava com raiva dele e saiu logo! – recorda Sandra – Ele tava muito agitado, chegou correndo, quase derrubou a gente!
- Ah, Sandra, mas ele sempre gostou de implicar comigo e com a Sônia e também sempre “zoou” o tio Vitor! – argumenta Suzana.
- Tá gente... – suspira Sandra – Mas ele tava numa euforia, estranho, eu conheço meu irmão e você mesma comentou comigo que ele estava agitado, Sú!
- Sandra...Vamos curtir o sol, não vamos pensar muito. Ele está de férias da faculdade, deve voltar ainda hoje porque é véspera de natal. – deduz Suzana – Vamos aproveitar o que temos pra curtir agora, já que à noite não vai dar pra escapar da reunião familiar!
- Por que sua cisma com o natal, Sú? - questiona Sandra.
- Ai prima, você sabe como é; sempre aparece alguém estranho, que mais parece fila-bóia, algum chato que meu pai ou o seu convidam, todos só querem saber de encher a cara e a pança. Quem tá certo é o tio Vitor e a nossa avó que passam em casa, agradecendo a Deus por um dia que lembram de Jesus.
- Tenho que concordar com você, Sú. – apóia Sônia. – Este ano só vai ser melhor porque meus avós estão aqui e eu tava com tantas saudades do meu pai que já foi um presente a chegada dele ontem.
- Pois pra mim, com este problema do Dani sei que não vou curtir nada. – lamenta-se Sandra.
- Bem gente, pelo menos vamos nos dourar ao sol pra usar aqueles macacões brancos no Reveillon. – consola Suzana – Ainda bem que não vai ser uma festa formal com traje a rigor. Gosto de usar calça, blusa mais decotada. Eu me acho velha com roupas de festas de gala.
- Vamos ver como será em 2002... – Sandra demonstra pouca esperança.
- Que seja melhor que 2001! – Suzana fala com um tom mais esperançoso.
- Meninas! Bom dia! – Soraya chega
- Bom dia! – respondem as três.
- Acordaram mais cedo que eu hoje, hein?
- Quisemos pegar o sol mais leve, mãe – explica Suzana.
- Que bom! – aprecia Soraya - Mas o melhor disto é que vocês vão poder aproveitar uma surpresa que vão amar!
- Que surpresa?! – perguntam as três ansiosas de curiosidade.
- Bem, vou pedir que fechem os olhos e só abram quando eu disser.
Todas fecham os olhos.Enquanto isto, Soraya faz um sinal olhando para baixo, sussurrando:
- Podem vir.
- Podemos abrir? – perguntam.
- Ainda não, esperem mais um pouquinho – pouco depois, anuncia: Agora!
As três abrem os olhos e gritam alvoroçadas:
- Vó! Vó Tonha!
A doce avó Marisa chega acompanhada da fiel Tonha, a outra avó postiça das meninas. As três correm para abraçá-las.
- Calma minhas netinhas! Eu tenho abraços para todas!
- Ai, vó...Que saudade – Suzana deixa rolar uma lágrima de emoção.
- “Oh, Suzana, não chore por mim!” – cantarola Marisa de brincadeira – Tão sensível a minha morena!
- Vó, eu agora estou feliz em dose quádrupla – festeja Sônia.
- É? Por quê? - pergunta Marisa achando graça da expressão.
- Você tá aqui, meu pai voltou ontem de viagem e meus avós também chegaram para passar o natal e o fim do ano.
- Que bom! Seu pai continua viajando muito?
- Demais, vó, quase não para em casa.
- Mas o que importa é que está aqui. – acrescenta alegremente Marisa. Bem, hoje é véspera de natal e eu trouxe um presente para cada uma. – Marisa pega na sacola que trouxe e tira três embrulhos. As meninas ansiosas abrem e agradecem aos beijos, cheias de contentamento, pois ganham três diários.
- Vó, que máximo! – exclama Suzana
- Eu sei o quanto vocês amam diários. – comenta satisfeita Marisa.
- Mas estes são especiais, vó. – Sandra observa – Com nossos retratos na capa e nossas assinaturas.
- É uma irmãzinha da igreja que faz. – informa Marisa. – Todas as páginas têm trechos bíblicos.
- Dê os parabéns a ela. –Suzana recomenda
- Amei, vó! –Sônia agradece.
- Que bom! Eu sabia que vocês gostariam! – Marisa sori para as três.
- Vó, você vai ficar para o natal? – pergunta Suzana, ansiosa.
- Não dá, querida – responde Marisa acariciando a cabeleira negra da neta.
- Mas vó, o natal é tão chato! – Suzana lamenta - Sua presença é o presente.
- Que amor... – Marisa fica sensibilizada – Mas, não dá pra ficar, queridas, porque lá em casa vamos passar eu e a vó Tonha com o pessoal dela hoje à noite e o tio Ciro e tia Mary também devem vir, a prima Angelina disse que iria também. Amanhã vou à casa do tio Vitor.
- Tá, vó. Nós perdoamos você por não ficar hoje aqui, mas nos meus quinze anos, eu a intimo a vir. – cobra Suzana.
- Tá, eu prometo!
- No meu aniversário também! – lembra Sandra.
- E no meu idem! – reivindica finalmente Sônia.
- Tá bem, tá bem... O que vocês não me pedem chorando que eu não faço sorrindo – responde ternamente Marisa. Cadê o Daniel e o Ivan?
- Bem, o Daniel...Mano! – Sandra avista Daniel chegando e vai correndo até ele.
- Que amor de irmã! – aprecia Marisa – Eu e o Ciro nunca fomos unidos assim.
Sandra vê Daniel guardar a moto e corre até a garagem. Quando este se vira de frente, Sandra abre-lhe os braços e grita:
- Mano! – Daniel corresponde à irmã abraçando-a ternamente.
- Tá vendo, maninha? Tô ótimo!
- Você me assustou tanto! – Sandra aproxima-se do irmão e o abraça quase chorando.
- Que é isso maninha? Seu mano sabe se cuidar, “não esquenta!”
- É?! Quente, ainda mais, fervendo, deve estar à mamãe! “Te cuida”, que o papai já ouviu e quem vai ouvir agora é você!
- Eu tiro a coroa de letra!
- É o que você pensa! Ela ficou furiosa quando eu dei seu recado. Disse que você ligou pra mim porque tava com medo dela.
- Ah, maninha...Eu sei que você segurou pra mim!
- Olha, Dani, se você estiver fazendo coisa errada, eu não vou segurar, não! Não me mete nos seus rolos!
- Fica fria, maninha! Não pensa... “Relax, baby!” Olha só o verde, as árvores, o céu azul “da cor do mar” – imitando Tim Maia
- Dani, você tá tão estranho...
Daniel chega perto da irmã ri, abraçando-a e beijando-a eufórico.
- Tô feliz, maninha!
Daniel levanta a irmã no alto e rodopia, gritando:
- UUUUUUUUUUUUUUHHHHHHHHHHH!
- Dani! Me põe no chão! Assim eu fico tonta! – grita Sandra assustada.
- Calma, maninha. – Daniel coloca-a de volta ao chão, novamente abraçando-a.
- Dani vamos lá pra casa, a mamãe está aflita!
- Vamos, maninha, vamos enfrentar a “3ª Guerra Mundial!” – fala batendo uma continência e em tom de deboche comanda: - Sentido! Marche! Um, dois! Um dois!
- Ai, Dani, não brinca! Você não sabe o que o espera!
- Deixa comigo, maninha!
Da piscina, Soraya, Marisa e as meninas observam Daniel e Sandra indo para casa.
- Estão indo pra casa – comenta Soraya.
- Depois eu falo com ele. – diz Marisa, observando que o neto chegara depois de um período longo fora de casa. Chegando em casa, Sandra entra primeiro na sala, a fim de preparar a mãe para receber o irmão. Entra e encontra Heloísa andando de um lado para o outro e fala:
- Mãe...
- Oi. – Heloísa responde virando-se para a filha.
- Pode ficar calma, o Dani está aqui.
- Diga a ele para vir aqui imediatamente! – ordena Heloísa
- Sim. Ah, mãe...
- Que é?
- Minha avó está aí.
- Eu vi daqui. Ele foi salvo pelo gongo, mas vai ouvir!
Sandra vai chamar o irmão, tensa por um lado, mas por outro aliviada, pois sabe que a presença da avó vai amansar a mãe. Faz sinal para Daniel entrar e sai. Este entra e cinicamente cumprimenta a mãe:
- Bom dia, mãezinha!
- Não me venha com este seu mãezinha! Nem vem, que não tem! – fala dando-lhe um tapa no braço – Como é que me aparece aqui, depois de quase dois dias, com esta cara mais cínica?! Quem você pensa que é?!
- Calma mãe...
- Calma?!!Você pensa o que?! Que não tem mãe, que é filho de chocadeira?! – parte para cima dele, dando-lhe mais tapas nos braços e quando tenta segurá-la, esta dá um forte chute em suas pernas.
- Ai, mãe!
- Te mete comigo, garoto, pra você ver! Tem sorte que sua avó está aí e eu não quero me aborrecer mais! Já que eu tenho que aturar esta hipocrisia de véspera de natal e ver todos enchendo a pança e ainda agüentar pessoas que vem aqui só pra isso! Vou ter um pouco de controle pra receber minha sogra, que não tem nada com esta sujeira!
Daniel tenta sair e Heloísa o chama:
- Ainda não acabei, volte!
Daniel volta, vendo que não tem como escapar.
- Olha aqui, garoto: tão logo inicie o ano eu vou botar você pra trabalhar com seu pai. Eu vi suas notas na faculdade, você passou raspando! Se você quer seguir engenharia, vai ter que trabalhar, tirar do próprio couro!
- Ô mãe...
- Cala a boca!! Estou falando e você vai me ouvir, porque está debaixo do meu teto! Se quiser bancar o homem pra sumir, agora vai ter que assumir, vai ter que ser homem de fato! Ser homem é enfrentar a vida, não é ser irresponsável, desaparecer e voltar com a cara mais lavada do mundo, como se morasse sozinho e se sustentasse! O seu pai não coloca você nos eixos, mas comigo é diferente! Este seu 1,92 m, não me intimida! Se eu quiser, te jogo no chão com um só golpe! Agora, vê se tem pelo menos um pouco de consideração à sua avó, pois ela veio de longe pra ver filhos e netos. Tira estes óculos escuros ridículos de “bad boy”, toma um banho e desce com cara de gente!
- Sim senhora! – responde debochado, batendo-lhe continência.
- Suma da minha frente, garoto! – berra Heloísa quase o acertando com um livro. Este, corre subindo a escada. Heloísa ainda grita:
- Sobe, sobe mesmo, antes que a “favela-bairro” desça em você!
Subindo, Daniel esbarra no pai, que está saindo do quarto, tonto ainda de sono.
- Que e que há? – pergunta Paulo.
- Nada não, pai...A “coroa” está um pouco nervosa.
- Um pouco é? Parece que está botando a casa abaixo.
- Não esquenta não, pai. Deve ser a menopausa. Se eu fosse você, não desceria.
Embaixo, Heloísa está furiosa. Joga tudo o que encontra no chão e chora de raiva. Alice entra, olha assustada e fala:
- Meu Deus...Não quer que eu arrume, Dona Heloísa?
- Alice...Eu... – Heloísa tenta falar, arfando – Não estou muito bem hoje...Desculpe a bagunça...Eu ajudo você.
Lá fora, Soraya e Marisa conversam próximo ao jardim:
- E aí, norinha, tudo bem?
- Tudo...
- Se tudo está bem, que “carinha” é esta?
- Marisa...O Genaro está tão distante, tão obcecado por dinheiro, negócios...
- É... Nisto ele superou muito o pai. O Vitório dizia sempre que já tinha passado por uma guerra. Ele conquistou muitas coisas, cresceu e deixou um bom exemplo de como conseguir fazer dinheiro. Infelizmente, não soube ensinar que isto não é tudo na vida, pois não imaginaria que poderiam ultrapassá-lo tanto. Ele tinha muito tino comercial, fazia bons negócios, como pai era presente, apesar de todos os seus defeitos.
- Pois é, Marisa. O Genaro está cada vez pior e como pai, não é nada presente. Tudo na Suzana o irrita e eu não sei mais o que fazer.
- Eu acho que como esposa você faz a sua parte.
- Eu tento, né? O Vitor uma vez citou uma passagem da bíblia que eu gostei muito: “A mulher sábia edifica a sua casa”.
- ... “E a tola a destrói” (Provérbios, 14: 1) – completa Marisa – com certeza você está na primeira situação.
- Marisa...Eu acho que não tenho nem o direito de pedir isto, mas...Conversa com o Genaro?
- Meu bem, não é que você não tenha o direito; entenda o seguinte: vocês se casaram e são uma só carne. O que quero dizer com isto? Popularmente falando: “Em briga de marido e mulher, não se mete a colher”.
- Mas então...O que é que eu faço?
- Minha querida, você está muito ansiosa. Olhe, eu nunca deixo de orar por todos vocês, sempre pedindo a Deus para abençoar os seus casamentos, suas vidas, os meus netos.
- Eu sei, Marisa. Mas será que não ajudaria se você falasse com o Genaro? Será que ele não respeitaria se você argumentasse com ele sobre a indiferença alternada pela raiva que ele sente de mim, da Suzana.
- Minha norinha, eu não acho que ele tenha raiva de você, nem da minha neta. O que eu acho é que o meu filho está tão obcecado pelos negócios, que não vê mais nada na frente dele.
- Ele tem raiva de mim, sim, Marisa e transfere muito desta raiva pra Suzana. Ele sempre teve idéia fixa em perpetuar o nome Castelli.
- Soraya, isto é uma mania dos Castelli, porque a maioria sempre gerou homens. Eu tive quatro filhos homens. O Genaro estava certo de que só teria filhos homens!
- E na cabeça dele, foi traído em relação aos seus planos!
- Deixe de se martirizar com isto, você não tem culpa!
- Mas ele acha que eu tenho! Ele deve em pensamento continuar me culpando pelo único filho homem que eu perdi.
- Não receba isto no seu coração, senão você vai sofrer muito deixando esta mágoa crescer.
- Mas ele tem sido horrível com a Suzana e é muito duro para uma mãe ver a filha sendo hostilizada assim pelo pai.
- Você já tentou conversar com ele de cabeça fria?
- Isto tem sido muito difícil, pois sempre que tento, me irrito, porque ele diz que estou enchendo o saco dele, que eu não tenho mais o que fazer do que atrapalhá-lo no trabalho com conversa fiada e não sou de engolir desaforo!
- Você já pensou em propor umas férias a ele?
- Está difícil...Ele termina um negócio e inicia outro, ou até paralelamente faz dois, até três negócios! Tem época que é empresário aqui a semana inteira, jantares, etc. No fim do ano vai ter uma multidão deles aqui!
- Isto vai passar querida. Vamos até o escritório do Genaro?
- Vamos.
Marisa e Soraya vão para dentro da casa sendo. Soraya bate na porta do escritório dso marido:
- Genaro, Genaro, posso entrar?
- Pode.
- Está muito ocupado?
- Como sempre...
- Muito para uma surpresa?
- Que surpresa?
Soraya chama Marisa:
- Pode entrar.
Marisa entra e Genaro surpreso levanta-se para receber a mãe:
- Mamãe?
- Oi, filho – abre-lhe os braços, sorridente.
- Que surpresa, mamãe. – Genaro cumprimenta a mãe.- Sente-se.
- Obrigada, filho – senta-se enquanto Genaro ajeita a cadeira. - Resolvi fazer uma surpresa. Eu vim com a Tonha, ela está lá na piscina conversando com as meninas.
- Está tudo bem com você? – Genaro pergunta
- Agora então está tudo ótimo, pois eu estou com você e ainda verei meus filhos todos.Amanhã estarei na casa do Vitor.
- Poderia ficar aqui hoje.
- Não dá, a família da Tonha vai estar lá em casa esta noite. A Angelina também irá.
- Ela já prometeu que nas festas de 15 anos das meninas ela vai ficar, não é Marisa? – Soraya também cobra.
- É sim, filho. Quinze anos só se faz uma vez na vida e sei que todas estarão lindas, não quero perder as festas. Meus parabéns, querido, pela linda neta que você me deu!
- Você não sabe o trabalho que ela dá! – critica Genaro.
Soraya faz uma expressão de incômodo e Marisa argumenta:
- Querido, qual é a adolescente que não dá um pouco de trabalho? Todos dão um pouco, mas também dão alegrias, como todos vocês deram muitas alegrias para mim e para seu pai.
- O Vitor nem tanto, né, mamãe?
- O Vitor tinha outros ideais, Genaro, mas hoje pensa diferente. “Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus”.
- Ah, mamãe, me poupe de pregações, por favor!
- Não é pregação, filho. Tudo estava sendo preparado para ele. Eu não fui a favor da viagem para a Itália, como lamentaria se fosse imposta a qualquer um de vocês, mas hoje entendo que era Deus dando livramento ao seu irmão.
- Você protege demais o Vitor, assim como a Soraya protege a Suzana.
- Eu não protejo, Genaro – interfere Soraya – Eu disciplino com amor. Quando ela está errada, eu brigo, repreendo, mas deixo que ela se coloque, mesmo que não venha a concordar com ela.
- Ela não está em idade de se colocar! Não é responsável por si e além do mais nem se comporta como uma menina deve se comportar!
- Queridos – Marisa levanta-se – Se querem ficar discutindo, deixo os dois à vontade. Enquanto isto vou falar com meus outros filhos.
- Desculpe Marisa – Soraya toma a iniciativa, sinalizando pelo olhar a Genaro que faça o mesmo.
- Desculpe mamãe.
- Não se desentendam – apazigua Marisa – Eu amo vocês. Vou ficar para almoçar, e quero sair daqui feliz. Prometem não brigar mais?
- Está bem, mamãe.
- Vamos, queridos. Deixe um pouco o trabalho, meu filho. Quero apreciar tudo isto que você construiu. Você superou seu pai nos negócios, se ele estivesse vivo, teria muito orgulho de você.
- Eu...Tenho muito orgulho dele também, mamãe.
- Eu sei, filho. Eu gostaria, por isto mesmo de pedir a você: procure ver as qualidades da sua filha. Defeitos todos nós temos. Você não pode negar que ela não dá trabalho para estudar, não tem amizades que desencaminhem. Pense nisto.
- Está bem, mamãe. – responde, como que para se ver livre.
Saindo acompanhada de Soraya e Genaro, Marisa avista Sérgio ao longe e o chama:
- Sérgio! Serginho, filho!
Sérgio acena e vai ao encontro da mãe.
- Oi, mamãe, que saudade! – abraçando-a
- Filho...Como você está bem! Muito trabalho?
- Bastante, mamãe.
- Você ficou muito tempo fora?
- Uma semana.
- E resolveu tudo?
- Sabe como é... Obras são demoradas; materiais, instalações.
- É filho, mas agora não pensemos em trabalho. Você está aqui com sua família, vai curtir o natal o ano novo e eu também vou curtir mais um pouco até depois do almoço, pois tenho que ir cedo.
- Mas porque não fica até amanhã de manhã, mamãe?
- Tenho visitas ainda hoje, filho. Cadê o Ivan?
- Deve estar no computador.
- Já tão cedo?
Logo chega Lúcia.
- Marisa! Que surpresa maravilhosa!
- “Dá cá um abraço, norinha!”
- Enquanto matam as saudades, eu vou chamar o Ivan - avisa Sérgio.
- Está tudo bem, Lúcia?
- Tudo bem...
- Bem mesmo?
- Marisa...Eu ando meio preocupada com essa mania do Ivan com computador. Ele só demonstra uma atenção às outras coisas se o pai estiver mais presente e ultimamente isto não é muito freqüente.
- É... Ossos do ofício!
- Como as responsabilidades estão muito mais sobre mim, eu me acho culpada por ter feito vontades demais ao meu filho e sinto tê-lo prejudicado com isto. Ele passou raspando, vai pra 6ª série com pouca base.
- Mas você deve dar mais limites a ele e exigir que estude. Procure colocá-lo pra fazer esportes e cobre a ajuda do Sérgio também. Ele é o pai. Mesmo que não possa estar tão presente por causa do trabalho, deve se fazer presente. Se o menino continuar assim, ele vai se afastar das pessoas, ficar anti-sociável.
- É verdade.
- Não desanime, Lúcia. Olhe, eu estive dando uma idéia pra Soraya que acho boa pra vocês também: incentive-o a tirar umas férias, ir para fora, levando você e as crianças.
- Quem sabe depois do natal e do Reveillon. Meus pais estão aqui.
- Eu sei, querida. Aliás, também acho isto muito bom, pois seu pai é um homem muito alegre, vibrante, jovial. Eu percebo o quanto ele é querido pelos mais jovens.
- É...Ele conquista os jovens só com um sorriso.
Em casa, Paulo desce e Heloísa vendo-o em direção à porta o inquire:
- Aonde vai?
- Vou ver minha mãe, soube que ela está aí.
- Espere um pouco, preciso falar com você. Você viu a hora, aliás, o dia em que seu filho chegou?
- Sim. E daí?
- Ah... E daí?!
- É, Helô, ele é um homem, está de férias, qual é o problema?
- Se ele é um homem, é mais uma razão para ter responsabilidades. Ser homem com este bem bom é muito fácil!
- Eu já disse que vou dar um jeito de encaixá-lo na firma, Helô!
- Eu não quero que você simplesmente o encaixe na firma e sim completamente na realidade da vida aí fora, que não é a brincadeira que ele está pensando.
- Tá Helô! Agora me deixe ver minha mãe.
- Chame antes o Daniel pra ver a avó!
- Tá Helô!
Lá fora, chegam Ivan e Sérgio. Marisa abre os braços para o neto:
- Ivan! Meu neto querido! Minha benção!
- Oi, vó. – responde Ivan cumprimentando-a com um beijo.
- Como está querido?
- Tudo bem vó.
- Eu trouxe um presente pra você.
- É? O que é?
- Está aqui. – Marisa entrega um embrulho pra Ivan, que expressa um pouco de decepção ao perceber que deve ser uma camisa. Abre e fala:
- Obrigado, vó – dando-lhe um beijo.
- Eu sei que você gosta mais de joguinhos, mas em fase de crescimento é sempre bom ganhar roupas. Como é que está de férias?
- Bem...
- Não vão pra fora? Nenhum coleguinha convidou-o pra passear? Sai da toca, garoto! Você tem que aproveitar! Não vê sua irmã e suas primas? Todas estão tomando banho de piscina! Vai lá!
- Boa idéia, mamãe! – concorda Sérgio - Vá se trocar pra tomar um sol e se refrescar!
- Mas pai...
- É uma ordem.
- Tá bem – Ivan obedece, embora contrariado e vai para dentro se trocar. Marisa observa e comenta:
- Nada como um pai presente para orientar o filho a ter hábitos mais saudáveis!
- É! – concorda Lúcia olhando para Sérgio com certa ironia.
- Ele está branquelo, precisa pegar uma cor! – alega Marisa.
- Pois é, mamãe.
- Você está muito bem disposto, filho. Na sua próxima viagem, poderia levar a Lúcia e as crianças. Eles precisam mudar de ares. – sugere Marisa.
- Eles não gostariam, mamãe. – justifica Sérgio - Eu nunca fico num lugar só, tenho que ir a vários lugares.
- Não seria problema, eles iriam com você. – argumenta Marisa.
- É que eu não tenho nunca um horário certo.
- Entendo...Então, porque não tira umas férias?
- Por enquanto está um pouco difícil.
- Haverá uma oportunidade – incentiva Marisa.
Chegam Heloísa, Paulo e Daniel. Marisa abre os braços para os três:
- Queridos! Que bom vê-los!
Todos a cumprimentam. Marisa brinca com Daniel:
- Como vai o meu neto gigante?
- Tudo bem, vó.
- Você parece um pouco cansado, Daniel. –Marisa observa, preocupada.
- Também... De férias e sempre na farra! –Heloísa reprova.
- Isto faz mal, querido. Diversão não é para acabar com a saúde. –Marisa alerta.
- Eu me cuido, vó.
- E você, filho, o que conta?
- Nada de novo, mamãe.
- Você foi ao aniversário do seu irmão?
- Fui. Você veio pra ficar, mamãe?
- Não, você sabe que não gosto de dormir fora de casa e além do mais já tenho outros planos para a noite, por isto vim cedo. Mas vocês sabem meu endereço. Minha casa está às ordens.
Ao início da tarde, todos já estão dentro da casa de Genaro para almoçarem junto com a mãe. Durante o almoço, a empregada de Genaro e Soraya avisa:
- Com licença, Doutor Genaro. Viriato interfona avisando que tem encomendas para as meninas
- Pra nós? – perguntam as três surpresas.
- Devem ser presentes de natal – deduz Marisa.
- Mas quem mandaria presentes pra gente?
- Podem ser ou a prima Angelina ou o tio Vitor. – diz Marisa.
- Não faz o estilo do tio Vitor mandar pelo correio. –Sandra afirma.
- Bem, eu a autorizo a ir receber, Sônia – diz Sérgio.
- Embora eu não goste de interrupções nestas horas, também a autorizo, Sandra. –Paulo concorda.
- E você, filho, não dá licença à Suzana? –Marisa pergunta a Genaro.
- Claro, né, Genaro?- Soraya reforça.
- Está bem. –Genaro permite mesmo um pouco contrariado.
- Obrigada, pai. –Suzana agradece.
- Por nada, mas não acostuma.- Genaro responde seco
- Não esqueçam a gorjeta do rapaz. –Paulo adverte.
- É verdade –Genaro concorda metendo a mão no bolso do paletó.
- Está aqui –Sérgio entrega para Sônia.
- Estou curiosíssima para saber de quem são os presentes. –Marisa comenta depois que as meninas saem
- Eu também – confessa Soraya.
- Só podem ser de algum parente distante. –Paulo deduz.
- Nós não temos tantos assim na Itália.- diz Genaro.
- É...E dificilmente mandam presentes, quanto mais para as meninas. –Sérgio observa.
- Bem, vamos esperar pra ver.- sugere Lúcia.
- Eu até tenho um palpite, mas vou esperar pra ver se é o que estou pensando – diz Soraya.
As três voltam alvoroçadas anunciando:
- O meu é do Rodrigo! – Suzana fala primeiro
- O meu, do Ricardo! – depois Sandra.
- E o meu, do Renato –Sônia diz por último
- Palpite certo! –Soraya festeja.
- Agora só falta abrirem! –Marisa incentiva.
- É pra já! – Sandra se anima
Todas abrem simultaneamente, com ansiedade. Cada uma exclama satisfeita:
- Um ursinho de pelúcia! – Suzana agarra carinhosamente.
- O meu é um gatinho! – Sandra, também abraça o presente.
- O meu é um coelhinho! – Sônia enrosca-se no coelhinho como se o fizesse com Renato.
- Tá vendo, Genaro?! Arrasando o coração do ruivo!– Soraya comenta entusiasmada
- É...Viu como a disciplina paterna é boa? – retruca Genaro contando vantagem.
- Espero que as intenções do garoto sejam boas. – adverte Paulo.
- Ridículo! – fala Heloísa entre os dentes, dando-lhe um pontapé debaixo da mesa.
- E eu idem – reforça Sérgio à Sônia.
- Pai, até parece que a gente foi pedida em casamento! – Sandra ri.
- É, que exagero! – concorda Lúcia.
- Aprecio este romantismo, tão raro em adolescentes hoje em dia – observa Marisa.
- Estou com você, sogrinha, achei todos encantadores - complementa Soraya.- Não se esqueçam de ligar pra agradecer, hein?
- Estou curiosa para conhecê-los. – Marisa entusiasma-se.
- Com certeza – respondem as três.
- Eu também. – afirma Lúcia.
- Bem, eu não os vi, mas confio na sensibilidade de vocês. – Heloísa olha ternamente para as três.
- Veremos! – Sérgio fica um pouco desconfiado, como um pai zeloso.
- Gente, daqui a pouco eu tenho que ir. – Marisa lembra.
- Não antes de tocar piano pra gente, vó. – pede Suzana
- Tá bem, mas só um pouquinho. – cede Marisa.
Passa-se meia hora e Soraya adverte:
- Agora deixem que ela vá, e ela quer chegar ainda com o dia claro.
- Vó, quando é que você volta? – pergunta Suzana, abraçando a avó com tristeza pela sua partida.
- Assim que eu puder, querida. Senão for possível antes, com certeza no seu aniversário.
- A gente tava com tanta saudade, vó. – fala ternamente Sônia, também a abraçando.
- É...E passou tão rápido! – Sandra lamenta
- Ainda haverão muitas outras oportunidades! – Marisa a anima
Todas se despedem da avó que acena e joga beijos enquanto o carro sai.
- Como são chatas as despedidas! –Sandra lamenta
- É...Tchau pra vovó e oi, pra véspera natal – Suzana lembra desanimada.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

CAPÍTULO VI

O TRIO EM R
Na manhã seguinte ao aniversário de Vitor, o doce “Trio em S” encontra-se no quarto de Suzana, no qual esta e Sônia dormem profundamente na imensa cama. Apesar do espaço de sobra para as três, Sandra prefere dormir no confortável sofá, próximo à janela, devido ao sono agitado da prima. Com o sol forte por volta das nove horas, Sandra é a primeira a acordar e como é uma admiradora das manhãs, principalmente as do verão, observa o dia lindo e pensa: “É um absurdo ficar dormindo até tarde e perder um sol maravilhoso destes”. Entusiasmada, Sandra, a real líder do grupo, prepara o toque de levantar, de uma maneira suave, aproximando-se de Suzana:
- Sú,...Sú..., Acorda! – insiste cutucando-a de leve – Acorda pantera! Tá um sol maravilhoso! Vai dar uma de bela adormecida esperando o príncipe te acordar com um beijo? Acorda! – fala mais alto, sacudindo um pouco mais forte a prima, que se vira dando-lhe as costas, enquanto Sônia, dorme profundamente.
- Vamos lá, Sú!
- Hum...Hum... – Suzana geme, colocando o travesseiro em cima do rosto.
- Pôxa Sú! Vai ficar aí feito uma velha dormindo? Desperta pra vida!
Suzana impaciente tira o travesseiro do rosto e reclama com a voz rouca de sono:
- Pô! “Que saco”, Sandra! Além de ser férias, hoje é domingo!
- Você sabe que horas são?
- Não! Nem quero saber! Boa noite! – vira-se novamente dando as costas para Sandra.
- São mais de nove horas!
- Então? É madrugada. – fecha os olhos e acomoda-se agarrando o travesseiro.
Sandra não desiste de seu objetivo. Olhando para os pés da prima, tem uma idéia: “Ela não vai resistir às cócegas”. Inicia descobrindo-os e Suzana ao sentir os primeiros toques os recolhe.
- Ai, para! – Suzana reclama rindo e esperneando.
- Se você pensa que vai ficar aí deitada, tá muito enganada! – afirma Sandra, que faz mais cócegas na prima debaixo dos braços, na barriga, colocando-se em cima dela tentando prendê-la. Suzana se debate e, dando-se por vencida grita:
- Para!
- Peça arrego! – Sandra ordena.
- Arrego! – Suzana grita, tentando tomar fôlego – Você quando quer uma coisa, hein?
- Eu sei que consigo. – afirma Sandra erguendo a cabeça, cheia de si.
- Pôxa Sandra...A gente foi dormir tarde!
- Mas Sú, tá um sol lindo! Hoje vai ter visitas aqui e a piscina não vai ser só nossa.Vamos curtir.
- Tá, mas agora que você já me tirou da cama, temos outro “trabalho”: acordar a Sônia.
- Eu...Vou jogar um pouquinho de água nela – Sandra fala com um olhar malandro, querendo rir.
- Ah, malvada! –Suzana repreende.
- “Peraí”, pensando melhor, vou pegar uma toalhinha de mão no banheiro e passar úmida no rosto dela.
Sandra dirige-se ao banheiro da suíte e pega uma toalhinha, umedece-a e volta para passar no rosto de Sônia. Ao iniciar delicadamente, não tem êxito, pois Sônia funga e vira-se para o lado direito sem acordar.
- Nada...- Sandra desanima-se.
- Dá isto aqui que eu esfrego no rosto dela –Suzana decide.
- Devagar, hein? – previne Sandra
Suzana esfrega com mais força a toalhinha e fala ao ouvido de Sônia:
- Vamos lá, Sônia, acorda!
Sônia aperta os olhos vira a cabeça para os lados, agitando os braços, muito assustada e exclamando:
- Como...? Quando...? Onde...? O que...?
As outras riem com a reação da prima que senta-se na cama cruzando os braços:
- Muito bem, que história é esta de me acordarem assim a força e ainda rirem como duas palhaças?! Cretinas! Sem graça! - Sônia joga os travesseiros nas duas
- Ô Sônia, nós queremos a sua companhia pra ir à piscina – argumenta Suzana – A idéia foi dela. – Suzana aponta para Sandra.
- É...Mas você concordou. – Sandra contra-argumenta.
- Você foi privilegiada, Sônia. Ela me fez cócegas pra eu levantar.
- Gente...Por que tão cedo? - Sônia pergunta voltando ao seu habitual jeitinho meigo
- Não é tão cedo, Sônia.– responde Sandra.- São quase nove e meia e precisamos aproveitar enquanto o sol não estiver muito forte. Depois vão chegar visitas e a piscina não será só nossa.
- Tá,- concorda Sônia - mas primeiro vamos tomar o nosso “desjejum” como diz o tio Vitor.
- Lavar o rosto, escovar os dentes... – completa Sandra
- E arrumar a cama e guardar a roupa de cama que a Sandra usou no sofá – Sônia adverte.
Depois de executar as devidas tarefas, com seus respectivos trajes de banho e enroladas em suas cangas, as três descem para tomar o café da manhã e encontram Soraya.
- Bom dia, gatas!
- Bom dia, tia - respondem Sandra e Sônia.
- Bom dia, mãe – Suzana, dá um beijo na mãe.
- De pé tão cedo? Pelos trajes, vão direto pra piscina.
- Idéia deste sargento aqui. – Suzana aponta para Sandra.
- Ah... A líder do “trio em S?” – Soraya brinca
- Líder...- ironiza Suzana.
- É uma liderança positiva, filha – argumenta Soraya – Gente, cuidado com o sol. Estamos em horário de verão, mas depois das onze horas fiquem nas barracas e não vão mergulhar já, depois do café. Esperem um pouco pra fazer a digestão.
- Nos já trouxemos os filtros solares –Sandra mostra.
- Ótimo, querida! Assim eu não me preocupo.- diz Soraya
- Bem, vamos ao “breakfast” – Suzana brinca.
Antes que Soraya se retire, Suzana a chama e pergunta:
- Mãe, a vó Dete volta quando?
- Depois do Natal. Acho que lá pro dia 27.
- Ah, que bom! Então ela vai ao desfile, né?
- Claro! Ela vai deixar de paparicar as netinhas adotivas dela?
- Não esqueçam as minhas recomendações e comportem-se - como boas anfitriãs – que sei que são – quando chegarem as visitas. - reforça Soraya.
Vinte minutos após o café, as três se encaminham para a piscina. Sandra e Sônia extremamente brancas ficam à mesa com barraca para se prevenirem de excesso de sol. Suzana, cuja pele curte mais rápido devido à herança cabocla da mãe, recosta-se na espreguiçadeira para dourar-se. Avistando as três, Genaro sobe até o local e as cumprimenta:
- Bom dia.
- Bom dia, pai – responde Suzana.
- Bom dia, tio Genaro – respondem Sandra e Sônia.
Muito sério começa a dar recomendações:
- Eu gostaria de lembrar que hoje virão para a piscina o filho e dois sobrinhos de um amigo meu, também empresário, com quem tenho excelentes negócios a resolver e solicito bom comportamento, coisa que em vocês duas não me preocupa, – fala dirigindo-se à Sandra e Sônia - mas em você, “moça!” - olha para Suzana com reprovação.
- Pai...Eu sempre tratei bem todos que vem aqui.
- É...Mas é sempre bom reforçar, já que na escola, você não demonstrou isto e me fez perder amigos e negócios, com seu jeitinho impulsivo! – Suzana ouve calada e de cabeça baixa e Genaro ainda recomenda com agressividade:
- E vê se não deixa aquele remelento solto por aí!
- Que remelento?! – pergunta Suzana espantada
- Aquela coisa preta que você chama de Lalau! – Genaro fala com um tom debochado.
- Pai... Não fala assim do meu filho!
- Filho?!! – Genaro fica estarrecido – Ô menina...Olha pra mim e vê se eu tenho cara de avô de cachorro?! Só mesmo uma “cabeça oca” como você pra chamar aquele pulguento de filho!
- Ele é muito limpo! – Suzana protesta
- Ah! – Genaro desdenha fazendo um gesto irritado com a mão como quem diz: não enche e prossegue:
- Bem, já está avisada; bom comportamento ouviu? – Genaro dá um puxão na orelha esquerda de Suzana.
- Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Tá...Tá, pai!
- Assim é melhor! – Genaro fala rispidamente, retirando-se. Suzana esfrega com a mão a orelha para se aliviar, dá um suspiro e depois, quando o pai já está descendo, faz uma saudação com deboche:
- Heil, Hitler!
- Suzana! – Sandra repreende dando-lhe uma tapinha no ombro esquerdo.
- Ué...Tava só saudando o meu líder! – Suzana responde cinicamente.
- Ele não é o seu líder, ele é seu pai! – Sandra reprova novamente.
- Ah! – exclama Suzana chateada, fazendo um muxoxo e encostando a mão esquerda fechada no rosto.
- Também não precisa ficar com esta cara! Você já sabe como ele é! – Sandra, tenta animá-la.
- Gente...Como serão os garotos que vem aqui hoje? –Sônia pergunta
- Talvez iguais a todos os que já vieram antes - Suzana imagina conformada
- Talvez sim, talvez não... – Sandra supõe - “Araruta tem seu dia de mingau”
- Eu fico meio sem jeito quando tem gente nova por aqui. – Sônia desabafa.
- Por quê? – Suzana pergunta intrigada
- É que...Eu não me acho atraente, sou tímida os garotos devem me achar boba.
- Ah, que é isto, Sônia.Você é tão lindinha! – Suzana elogia
- Ah, mas você é suspeita pra falar – Sônia retruca sorrindo.
- Não se deprecie –Sandra intervem
- Sônia...Você é um tipo raro, chama atenção. Seu cabelo ruivo é lindo, você tem olhos azuis. – avalia Suzana
- Quem chama atenção é você – Sônia responde – Você é bonita, tem um “corpão” que muita garota mais velha não tem.
- Olha gente, eu acho que cada uma de nós tem atrativos diferentes –Sandra conclui - Tem por aí garotos que gostam de meninas delicadinhas assim como a Sônia, “mulherão” como a Suzana e meio termo, assim como eu.
- Ah, mas eu não acho você meio termo, Sandra. – protesta Sônia.
- Nem eu. – reforça Suzana – Você é linda, Sandra!
- Sua boca carnuda, seus olhos verdes – admira Sônia.
- Você não diz sempre que sua mãe e tia Helena são lindas? Você é a “cara” delas!
De repente, as três avistam os três convidados que já vem com trajes de banho: o mais alto, um ruivo de olhos verdes, 1,82m; ao seu lado esquerdo um moreno de olhos azuis, 1,75m e um louro de olhos castanhos, 1,72m. Entusiasmadas, comentam:
- Que tigrão ruivo! – diz Suzana com olhar hipnotizado.
- Um gato moreno! – exclama Sandra com um sorriso.
- Ah... Um coelhinho louro! – derrete-se Sônia com seu jeitinho meigo.
- Ai... - As três suspiram
Os três também comentam:
- Que morenaça! –o ruivo entusiasma-se.
- Que loura! –o moreno exclama
- Que ruivinha! –o louro comenta ternamente
- Pôxa... –os três exclamam juntos
- Saradão! –Suzana enfatiza.
- Lindo! –Sandra elogia
- Gracinha... – Sônia derrete-se
Os três também primos, elogiam:
- Maravilhosa! – o ruivo derrete-se
- Linda! –o moreno vibra
- Fofinha... – o louro diz ternamente
Como boa líder, Sandra recomenda:
- Meninas, sejamos “ladies”, eles parecem ser “gentlemen”. Minha intuição feminina diz que esses são diferentes!
Os três se aproximam e saúdam suas musas
- Bom dia!
- Bom dia! – respondem as três
- Ótimo dia... –Suzana fala com olhar extasiado para o ruivo – Ai! – tenta disfarçar, ao receber um leve beliscão de Sandra, que lhe adverte, sussurrando entre os dentes:
- “Segura tua onda” – e logo esboça um sorriso também disfarçando – Estejam à vontade, a piscina tá aí, sejam bem vindos!
- Eu sou Suzana – apresenta-se estendendo a mão ao ruivo, que também com o olhar extasiado corresponde segurando-lhe delicadamente a mão.
- Eu sou Sandra.
- E eu sou a Sônia.
Os três também se apresentam:
- Eu sou o Rodrigo – apresenta-se o ruivo.
- Eu sou o Ricardo - igualmente o moreno.
- E eu sou o Renato – finaliza o louro.
- Que graça! - diverte-se Suzana – Vocês são o “Trio em R”
- Hein? – Rodrigo estranha a expressão, depois entendendo diz : Ah, é!
- “Aproxeguem-se” – convida Suzana com seu olhar magnético
Todos se acomodam, unindo as mesas com guarda-sóis. Suzana “puxa a conversa”:
- É a primeira vez que você vem aqui, né?
- É – responde Rodrigo - Nós três somos primos e os meus pais estão viajando. Eu estou um tempo na casa dele – aponta para Ricardo.
- O meu pai tem uns negócios com o Doutor Genaro. – diz Ricardo.
- Ele é meu pai – informa Suzana. – Nós três somos primas também. Seus pais estão onde?
- Eles foram passar um período com minha irmã que mora nos Estados Unidos. Ela está pra ganhar neném.
- E por que você não foi? – pergunta Suzana.
- Tá muito frio lá, Fica muito chato. Eu gosto daqui, do verão. Eu me comunico com eles pela Internet.
- Eles ainda vão demorar? – pergunta interessada Suzana
- Devem ficar mais um mês e meio. Meu pai deve até voltar antes. Minha mãe vai querer ficar um pouco mais para ajudar.
- A minha tia também mora nos Estados Unidos. – comenta Sandra - Onde é que sua irmã vive?
- Em São Francisco.
- A minha tia mora em Los Angeles. Lá o clima está melhor. É parecido com Petrópolis, Teresópolis nesta época do ano. Falando em Petrópolis, quem mora lá é nossa avó paterna.Você só tem esta irmã? – indaga Suzana.
- Que nada! –Rodrigo ri – Sou o caçula de quatro irmãos!
- Pôxa! –Suzana exclama – Eu sou filha única; quer dizer, minha mãe perdeu dois depois de mim.
- Sei... –Rodrigo lamenta.
- Gente... Não se “avexem” –Sandra brinca - A piscina está aí, é só mergulhar!
- Obrigado, eu vou depois – responde Rodrigo.
- Eu vou me refrescar – Sandra dirige-se à piscina – Sigam-me os bons.
- Também vou - Sônia aproveita o ensejo
- Ah, eu “vou nessa” também – Ricardo as acompanha
- E eu também – Renato anima-se
- Eu vou ficar mais um pouco – diz Suzana
- E eu também –Rodrigo motiva-se, olhando ternamente para ela.
Todos mergulham e Suzana conversa com Rodrigo.
- E aí, está gostando?
- De que, da casa ou da companhia? – devolve a pergunta com olhar maroto
- Das duas, meu caro... – ela, no mesmo tom.
- Totalmente! Com todo o respeito, você é uma gata!
- Obrigada. Você também, com todo o respeito, é um “gatão!” Estes teus olhos verdes, rasgados de “tigrão”, dizem muita coisa.
- Você parece muito sensível.
- Sou mesmo; “Olha bem nos meus olhos, quando eu falo contigo e vê quanta coisa eles dizem que eu não digo”. – Suzana cantarola
- Que voz “maneira!” – elogia Rodrigo.
- Obrigada. Soprano ligeiro – Suzana desmancha-se no seu orgulho de adolescente.
- Você parece prendada. Deve ter muita história pra contar...
- Como assim? – Suzana sorri intrigada.
- É que dentre as três, a gente percebe logo que você é a mais velha.
- Sei...Quantos anos você acha que eu tenho? – diverte-se, imaginando o que vai responder.
- Ah... 17?
- Não! – arregala os olhos, quase rindo.
- 18, 19?
Suzana bate as mãos nas pernas e depois as leva ao rosto unidas quase chorando de rir, mas depois controla-se.
- Desculpe, não se ofenda, eu não estou rindo de você. Quantos anos você acha que tem a minha prima, a ruivinha?
- Quatorze anos
- Sei...E a loura?
- Também, quatorze anos.
Suzana divertindo-se chama as duas:
- Meninas! Venham cá um instante!
As duas vêm acompanhadas de seus respectivos pares.
- Sônia, diz a sua idade pra ele.
- Quatorze. - responde Sônia
- Diz a tua, Sandra.
- Quatorze.
- Agora digam para ele a minha idade.
- Quatorze! – respondem as duas.
- Cês 'tão de caô! - Rodrigo levanta-se embasbacado - Esse mulherão, quatorze anos?!
- Gente...Olha como é que eu estou! – Suzana ajeita com a mão o cabelo, brincando.
- Encheu a bola da Senhorita sebo! – brinca Sandra.
- É pra quem pode! – Suzana diverte-se - E por falar nisto, quantos anos você tem? – Suzana a Rodrigo.
- Dezesseis.
- Eu achei que você tivesse dezoito.
- Garoto é mais fácil de dizer. Só que você, com este tamanho, toda “malhada”, aparenta realmente mais idade.
- E você, quantos anos tem? – Sandra pergunta para Ricardo
- Também tenho dezesseis.
- E eu também – Renato fala antes que alguém pergunte.
- Eu farei quinze anos dia 29 de janeiro. Naturalmente estarão todos convidados. – anuncia Suzana.
- Eu faço no dia 11 de abril – informa Sandra, olhando para Ricardo.
- E eu no dia 17 de maio – Sônia, olha para Renato.
Todas falam de seus pais, de Vitor. Sônia, saudosa do seu pai lamenta sua ausência.
- Ele passa uns dias fora. Vai à Região dos Lagos, São Pedro da Aldeia. Ele trata de construções obras de casas nestes lugares. Sinto muito a falta dele porque é difícil que fique uma semana inteira em casa, ou trabalhando mais perto.
- Você nunca foi com ele? – pergunta Renato.
- Não. – Sônia responde, perguntando-se: “Porque será que ele nunca me levou, nem minha mãe, nem o Ivan?”
- Eu fui uma vez com meu pai a São Paulo. Ele foi com minha mãe, então ela quis me levar também. – lembra-se Suzana.
- Você gostou? –Rodrigo pergunta.
- Eu achei muito frio – critica Suzana – Foi no inverno, férias de julho. Eu não gosto muito de viajar. Prefiro ficar aqui, curtindo o sol, a piscina, a natureza e o verde. Pra mim isto é o máximo!
- Nisto a gente se combina – concorda Rodrigo. - Eu também sou um amante da natureza. Gosto de acampar, de Surf, pesca.
- É bom viajar –Sandra comenta – Uma vez fui aos Alpes suíços com meus pais e meu irmão e gostei muito. Mas também gosto das coisas simples da vida. A verdadeira felicidade está nelas.
- Concordo com você. Vocês parecem dar muito valor à família. – Ricardo observa
- É...Os meus avós maternos, nos últimos anos de vida moraram conosco. Quem cuidou muito deles foi a nossa “avó adotiva”, a Vó Dete. – Sandra comenta
- Que agora é uma governanta dos meus pais – acrescenta Suzana
- Ela foi muito dedicada a eles. Já havia trabalhado com minha mãe, no tempo que ela era enfermeira e depois que ficou viúva já era aposentada, os filhos se casaram. Foram morar longe e ela quis se dedicar a algum serviço, pra ter uma razão pra viver, pra se realizar e ficou com os meus avós até o fim...Meu avô não agüentou muito tempo sem minha avó...Morreu um ano e meio depois dela.
- Pôxa... – Ricardo lamenta.
- Ai, gente! “Chô tristeza!” - interrompe Suzana - Vamos falar de coisas boas, de vida! Ontem nosso tio fez aniversário, vamos comemorar a vida!
- Eu estou com uma curiosidade imensa de conhecer este tio Vitor! - Rodrigo manifesta-se.
- Vai conhecer em breve, ele estará no desfile! –Suzana comenta animada.
- Onde ele mora? - pergunta Rodrigo.
- Em Sepetiba, numa casa muito boa de quatro quartos, terraço, piscina, churrasqueira. - descreve Suzana. -Gostamos muito de lá.
- Sinceramente, eu nunca me senti tão à vontade como aqui. As garotas de um modo geral, principalmente as da escola, não têm um papo tão bom como o de vocês. - compara Ricardo.
- Agradecemos. –Suzana pronuncia-se – Em que colégio vocês estudam?
- No “Rigel”. – responde Rodrigo.
- Que coincidência! – exclama Suzana – Nós também!
- Como é que a gente nunca se encontrou? – indaga Sandra.
- É que nós mudamos agora. Nós estávamos no Rigel do Leblon. – explica Rodrigo.
- Vamos nos ver todos os dias. – Renato olha para Sônia sorridente, sendo correspondido.
- Gente...A conversa está muito boa, mas está na hora do papá do meu filhinho. – Suzana lembra.
- Filhinho?! – Rodrigo estranha enquanto Sandra e Sônia riem.
- É, venha comigo que vou apresentá-lo a você.
Rodrigo continua com um ar de intrigado, mas acompanha Suzana, que enrola a canga na cintura e vai descendo na frente. Chegando à casinha de Lalau, apresenta-o a Rodrigo, que começa a rir.
- Lalau, este é o Rodrigo. Rodrigo, meu “filhinho”, Lalau.
- Ah, este é que é o seu “filhinho?” – Rodrigo ri.
- É. Não é lindo?
- Sim, mas a mãe é muito mais.
- Isto você diz pra todas! – Suzana olha para ele com malícia.
- Olha, eu confesso que já chamei outras garotas de lindas também. Mas em você, estou descobrindo uma beleza interior – Rodrigo chega-se mais à ela e encosta o dedo indicador em seu ombro direito, acariciando a ponta de sua longa cabeleira negra, olhando-a ternamente.
- Assim você me deixa encabulada. – responde, inclinando a cabeça para o lado esquerdo, enrubescendo.
- Não se “avexe”, gata.
- Bem, vamos lá pros fundos, que eu vou pegar a comidinha dele.
Enquanto isso, os outros quatro conversam à beira da piscina:
- Seu primo parece que parou na Suzana, hein? – observa Sandra com Ricardo.
- É...Mas... Fale mais sobre você. Você disse que tem um irmão mais velho?
- É. O Daniel.
- E cadê ele?
- Sabe, eu ainda nem o vi hoje. Como você vê, aqui tem três casas e a maior é a do tio Genaro. Esta noite eu e a Sônia dormimos lá e eu nem fui pra casa ainda. Eu o vi ontem de manhã, ele saiu, depois eu fui pra casa do tio Vitor e nem soube mais dele.
- E você, tem irmãos? – indaga Sandra.
- Tenho.Uma irmã seis anos mais velha.
- Ela é legal?
- É...Só que ela tem uma vida muito independente, já foi morar sozinha. Ela faz medicina, está se especializando em psiquiatria.
- Mais uma coisa que nós temos em comum. Minha mãe foi enfermeira.
- Eu acho a minha irmã um pouco fria. Ela é uma boa pessoa, mas muito distante, “na dela...”
- Talvez por isso tenha escolhido esta carreira. – deduz Sandra.
- Sua mãe é assim?
- Não acho. Minha mãe é uma pessoa muito dinâmica, expansiva, espontânea. Gosta mais de estar com pessoas que tenham haver com o trabalho dela, com a família. Dá-se muito bem com minha tia, gêmea dela.
- E a sua tia que mora nos Estados Unidos?
- A tia Hélida só liga ou manda um cartão em datas de aniversário, natal, fim de ano.
- Ela não aparece de vez em quando?
- A última vez que me lembro dela ter vindo, foi quando o meu avô morreu.
- Vocês três são unidas como nem irmãs são.
- É verdade – concorda Sandra - E o seu pai? Você já sabe que o meu é empresário, o seu também é né?
- É...Ele não para muito em casa tem sempre muitos compromissos sociais, mas é um bom pai. – Sandra tenta disfarçar um pouco do desejo de ter o pai mais presente.
- Todos os irmãos são empresários?
- Com exceção do tio Vitor, que é um microempresário, todos. Tio Vitor é pedagogo, escritor.
- Ele não costuma vir aqui?
- Não muito, porque o estilo de vida dele é mais tranqüilo, ele não é de festas, badalações.
- Vocês falam tanto nele que eu estou curioso para conhecê-lo.
- Bem, se não houver uma oportunidade anterior, ele estará no desfile.
- Será um prazer.
Enquanto isto, no outro canto, Sônia e Renato também conversam.
- Você tem irmãos? – pergunta Renato.
- Tenho um.
- E cadê ele?
- Deve estar com a cara no computador!
- Ele é programador?
- Que nada! – ri Sônia – Meu irmão é um pirralho de doze anos! Ele é viciado em joguinhos de computador!
- Existem alguns até interessantes, mas eu não me fixo, já passei desta fase!
- Ele respira esses joguinhos! – enfatiza Sônia
Suzana e Rodrigo voltam:
- Oi, gente! – cumprimenta Suzana.
- Oi - responde Sônia – A Suzana apresentou o “filhinho”, Rodrigo?
- Apresentou. – ri Rodrigo – Belo filho, mas a mãe é muito mais – Rodrigo elogia
- Ficou vermelha, hein? – brinca Sônia.
- Ai, para gente! – Suzana ri de nervoso.
Soraya chega e cumprimenta a todos:
- Boa tarde, pessoal! Vejo que estão todos muito bem enturmados, isso é muito bom.Vim avisar que o almoço de vocês será servido aqui, para que fiquem mais à vontade nesta ala adolescente! Meu “neto” almoçou? – pergunta para Suzana, em tom de brincadeira.
- Perfeitamente! – responde à mãe, batendo-lhe continência.
- É uma “mãe exemplar”, né? – pergunta brincando para Rodrigo, que responde rindo:
- É!
- Bem, queridos, divirtam-se – antes de sair, Soraya recomenda:
- Suzana, não esqueça do passeio do passeio do Lalau, tá?
- Deixa comigo! – responde fazendo sinal afirmativo com o polegar pra cima.
Passa-se algum tempo e Suzana, que conversava alegremente bate com a mão esquerda na testa, lembrando-se:
- Gente, quase que eu esqueço do passeio do Lalau!
- Posso ir junto? – pergunta Rodrigo
- Claro! – responde Suzana satisfeita.
Enquanto todos conversam na piscina, Suzana está com Lalau e Rodrigo no “pipi-dog”. Rodrigo se afasta um pouco, admirando o espaço e de repente, Suzana sente uma mão puxando sua orelha direita e grita:
- Ai!
- Eu não disse pra não deixar este bicho solto por aí? – Genaro a repreende ainda puxando-lhe fortemente a orelha.
- Mas pai... É hora do passeio dele!
- Você é teimosa, hein, menina?! – continua puxando-lhe a orelha e segurando-lhe com força o braço.
- Pai... – Suzana sinaliza com o olhar para a esquerda e aponta em direção para Rodrigo e ao vê-lo, Genaro assustado solta imediatamente a orelha e o braço da filha.
- Ah...Não repara, não...É que eu...tinha avisado que não queria ele solto. – Genaro explica-se para Rodrigo.
- Eu...Ouvi a Dona Soraya recomendar pra Suzana pra não esquecer do passeio dele. – Rodrigo, sem graça, procura defender Suzana.
- Ela briga comigo se eu esquecer, pai. – Suzana justifica.
- Está bem, - Genaro aceita – Mas tão logo acabe, deixe-o na casinha!
- Tá, pai...
- Com licença. – faz um cumprimento com a cabeça para Rodrigo e se retira.
- Seu pai é severo, hein?
- Bastante... – Suzana, abaixa a cabeça, sem jeito.
- Não fica triste, não, eu não reparo nestas coisas – consola-a Rodrigo, tocando levemente seu queixo, erguendo-lhe a cabeça. - Ele já acabou?
- Já... – responde ainda triste.
- Mesmo com esta carinha triste, você não consegue deixar de ser linda...
- Ai...Não fala assim que eu fico com vergonha... – Suzana sorri sem graça, enrubescendo e inclinando a cabeça para o lado oposto ao dele.
Os dois dirigem-se para a casinha de Lalau e logo após encaminham-se para a piscina. Neste ínterim, chegam os avós maternos de Sônia, Sr.Antônio Carlos e Dona Luiza. Muito animado, o pai de Lúcia, um senhor de espírito muito jovem apesar de seus 80 anos.
O três vão até a piscina e quase chegando vêem todos brincando, correndo em volta. O Sr. Antônio Carlos, assiste satisfeito e comenta:
- Que maravilha! Ainda chamam esta turma de “aborrecentes!” Eles são é “adocelentes!”
- Sônia! Seus avós chegaram! – chama Lúcia.
Todos param e olham. Sônia, imediatamente vai correndo até os avós, gritando feliz ao vê-los:
- Vô, vó! – e corre pra abraçá-los.
- Vai molhar seus avós, menina! – repreende Lúcia.
- Deixa filha! – os dois, felizes, correspondem.
- Minha “bonequinha ruiva” - Dona Luiza, acaricia a neta.
Sandra e Suzana aproximam-se para cumprimentar os dois e o Sr. Antonio Carlos, como um bom cavalheiro elogia:
- É como aquele foxtrote do Vinícius de Moraes. É difícil de escolher. Loura ou Morena? Qual a mais linda?
- São seus olhos! – respondem as duas encabuladas.
- Cada um já tem o seu par! – comenta com um jeito brincalhão o Sr. Antonio Carlos. – e o Ivan, Lúcia?
- Ah! Deve estar no computador, eu vou chamá-lo. – responde Lúcia, logo se dirigindo à sua casa.
Lúcia sobe e como de costume, encontra Ivan no computador, chamando-o baixo:
- Ivan... – Não obtendo resposta, chama mais alto:
- Ivan! – Continua sem resposta e berra:
- IVAN!!!:
- Ai, mãe, que susto! - Ivan dá um pulo da cadeira
- Estava onde, menino?!
- Numa batalha!
- Então, considere-se perdedor desta, porque você vai desligar isto agora e descer pra falar com seus avós que estão lá embaixo!
- Mas mãe, eu...
- Não tem “mas, nem meio, mas, nem um quarto de mas!” Vai desligar isto e descer agora!
- Tá... - contrariado, mas sentindo-se vencido, Ivan desliga o computador
Embaixo, todos estão animados com a presença do Sr.Antonio Carlos, que aprecia a alegria dos adolescentes:
- Eu ainda vou curtir esta piscina com todos vocês. Nado muito desde cedo. por isso tenho esta forma!
Todos se divertem com seu jeito jovial. Logo aparece Lúcia com Ivan e o avô abre-lhe os braços:
- Ivan, querido!
- Oi, vô. – chega-se ao avô, dando-lhe um beijo e cumprimenta também a avó, da mesma forma. – Oi, vô.
Naquele exato instante, chega de viagem Sérgio. Ivan, até então quase apático, recebe uma “injeção de ânimo”, ao ver o pai, exclamando contente:
- Pai! – e vai correndo ao seu encontro
Sônia, no mesmo momento vai também correndo de encontro ao pai para abraçá-lo:
- Pai!
Lúcia, caminha com menos pressa até o marido, dando-lhe um beijo “selinho” protocolar e pergunta-lhe:
- Como foi de viagem, querido?
- Tudo bem. – responde ele - Oi Dona Luiza, oi Sr. Antonio Carlos.
- Oi! – respondem os dois, sorrindo.
- Você...Está bem disposto, hein, Sérgio?! Corado também... – repara o Sr.Antonio Carlos meio desconfiado.
- É...Trabalhando direto debaixo do sol... – responde Sérgio, tentando se justificar.
- Deve estar cansado. – deduz Dona Luiza.
- Vamos lá pra casa. Está tudo arrumado pra você – chama Lúcia.
Ao alvorecer, o simpático “trio em R” vai embora. Os três entram no carro e acenam para as meninas, que correspondem.
Sandra, que estivera entretida com as visitas, de repente lembra-se:
- Pai, cadê o Dani?
- Não dormiu em casa.
- Mas não avisou nada, não disse onde estava? – aflige-se Sandra.
- Calma filha, ele é um homem!
- Mas ele avisou?
- Ele telefonou e falou com Alice que não iria dormir em casa.
- Mas você não sabe onde ele dormiu?
- Ai, Sandra! Até parece a sua mãe! Relaxa! Eu vou entrar, filhinha, estou cansado, quero tomar um banho e descansar. Você vem agora?
- Daqui a pouco eu vou.
- Tá filhinha fique tranqüila. – dá-lhe um beijo na testa e encaminha-se para casa.
- Não esquenta Sandra – consola-a Suzana abraçando-a.
- É, prima, ele deve estar bem – reforça Sônia.
De repente, toca o celular de Sandra:
- Alô?
- Oi, maninha...
- Dani! Onde você tá?
- Fica fria, maninha...Tá tudo bem, numa “nice!”
- Dani, a mamãe deve estar uma fera! Você vem pra casa?
- Não tenho hora pra voltar. Avisa pra “coroa”.
- Dani, não me deixa aflita, mano. Vem pra casa!– pede quase chorando.
- “Relax”, maninha! Tô bem! Te amo! Tchau! – desliga em seguida.
- Dani, Dani!
- O que ele disse, Sandra? – Suzana pergunta apreensiva.
- Só que tava bem e que não sabia se ainda voltaria hoje. Disse pra eu avisar à mamãe. Ele está fugindo dela!
- O número de onde ele ligou está no celular. Liga. – Suzana sugere
- É do celular dele. Se eu o conheço bem, deve ter desligado. – Sandra liga para o número que toca repetidas vezes e ouve a mesnagem de caixa postal - Nada. Minha mãe vai ter esta idéia também.
- Fica calma. – Sônia a consola – Não vá se desentender com a sua mãe.
- “Nem pensar!” – descarta Sandra. – Ela tem razões pra estar zangada. Eu vou dar o recado e ficar “na minha”. Vou ter que ir gente. Tchau!
- Tchau! Boa sorte! – respondem as duas.
Sandra segue para sua casa após despedir-se das primas e ao entrar, depara-se com sua mãe sentada no sofá de penhoar furiosa. Chega próximo a ela e a cumprimenta:
- Oi, mãe.
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo péssimo, pior não poderia estar! Este seu irmão está brincando comigo, mas ele vai ouvir, ah, se vai! – Heloísa irritada anda de um lado para o outro.
- Mãe, não fica assim, por favor.
- Como é que eu posso ficar?! Eu não tô mais agüentando! Minha vontade é de sumir!
- Então...Porque é que você não tira umas férias, mãe? Viaja com meu pai...
- Seu pai é o primeiro que eu quero longe!
- Mas mãe, não adianta ficar assim tão nervosa.
- Eu não vou conseguir sossegar enquanto não tiver uma conversa muito séria com o Daniel!
- Ele...Ele me ligou...
- Está vendo?! Pro seu celular, pra não falar comigo! O que ele disse?
- Ele...Ele disse que não sabia que horas voltaria amanhã.
- Me dá este celular, eu vou ligar pra ele! Só falta estar desligado ou fora de área.
Heloísa tenta e também não tem êxito.
- Mas que menino! Ele vai ouvir muito!
- Mãe, ele deve estar namorando, sabe como é.
- Vai se esquecer da vida, da casa por causa disto?! É melhor me deixar sozinha!
- Tá mãe. Boa noite.
- Boa noite.
Sandra sobe para o quarto e chora com pensamento se fixa em Daniel e pergunta-se:
- O que tá acontecendo com meu irmão?