quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

CAPÍTULO VII

UMA AGRADÁVEL SURPRESA
Amanhece mais um belo dia de sol no SOLAR CASTELLI. O inseparável “Trio em S”, acorda cedo e se encontra aos primeiros raios de sol para curtir seus corpos de maneira mais saudável. As três dormiram em suas respectivas casas, mas Suzana e Sônia, solidárias à preocupação de Sandra, vão buscá-la para espairecer à beira da piscina. Sandra procura relaxar na espreguiçadeira entre Suzana e Sônia que a ouvem:
- Gente, onde estará meu irmão?
- Se ele resolver ligar, seu celular tá aí. Relaxa. – Suzana a tranqüiliza.
- Mas já são mais de oito horas e ele nem deu sinal de vida! –Sandra retruca tensa.
- Se alguma coisa tivesse acontecido, você já saberia. Notícias ruins correm. – diz Sônia impulsivamente.
- Nem sempre – discorda Sandra.
- Sônia!! –Suzana reprova – A Sandra já está tão nervosa e você ainda fala isto?! Ai, falei só por falar, desculpa! – Sônia tenta consertar.
- Tá tudo bem, Sônia – Sandra a alivia – Ai, gente, porque o Dani está agindo assim, hein?
- Sandra, “no stress, O.K" - brinca Suzana.
- Ai, gente... – Sandra acha graça – Se vocês vissem a “fera” que a minha mãe estava ontem à noite...
- Deve ter ficado um clima horrível – deduz Suzana – Você não quis ir lá pra casa por quê?
- Eu não ia ficar bem, não ia sossegar na expectativa dele chegar e pensar que minha mãe poderia “estourar” com ele.
- Imagino... – concorda Sônia.
- Felizmente não houve “barulho no chatô” esta noite. – brinca Suzana.
- É...Mas o barulho ainda vai acontecer, com certeza! – prevê Sandra.
- Ai, Sandra, desliga! – aconselha Suzana.
- Tudo indica que ele tá fazendo alguma besteira. Cê mesma viu anteontem a euforia dele Sú! – Sandra.lembra
- Eu acho que você tá se preocupando a toa! – analisa Sônia.
- Sônia, você não reparou porque tava com raiva dele e saiu logo! – recorda Sandra – Ele tava muito agitado, chegou correndo, quase derrubou a gente!
- Ah, Sandra, mas ele sempre gostou de implicar comigo e com a Sônia e também sempre “zoou” o tio Vitor! – argumenta Suzana.
- Tá gente... – suspira Sandra – Mas ele tava numa euforia, estranho, eu conheço meu irmão e você mesma comentou comigo que ele estava agitado, Sú!
- Sandra...Vamos curtir o sol, não vamos pensar muito. Ele está de férias da faculdade, deve voltar ainda hoje porque é véspera de natal. – deduz Suzana – Vamos aproveitar o que temos pra curtir agora, já que à noite não vai dar pra escapar da reunião familiar!
- Por que sua cisma com o natal, Sú? - questiona Sandra.
- Ai prima, você sabe como é; sempre aparece alguém estranho, que mais parece fila-bóia, algum chato que meu pai ou o seu convidam, todos só querem saber de encher a cara e a pança. Quem tá certo é o tio Vitor e a nossa avó que passam em casa, agradecendo a Deus por um dia que lembram de Jesus.
- Tenho que concordar com você, Sú. – apóia Sônia. – Este ano só vai ser melhor porque meus avós estão aqui e eu tava com tantas saudades do meu pai que já foi um presente a chegada dele ontem.
- Pois pra mim, com este problema do Dani sei que não vou curtir nada. – lamenta-se Sandra.
- Bem gente, pelo menos vamos nos dourar ao sol pra usar aqueles macacões brancos no Reveillon. – consola Suzana – Ainda bem que não vai ser uma festa formal com traje a rigor. Gosto de usar calça, blusa mais decotada. Eu me acho velha com roupas de festas de gala.
- Vamos ver como será em 2002... – Sandra demonstra pouca esperança.
- Que seja melhor que 2001! – Suzana fala com um tom mais esperançoso.
- Meninas! Bom dia! – Soraya chega
- Bom dia! – respondem as três.
- Acordaram mais cedo que eu hoje, hein?
- Quisemos pegar o sol mais leve, mãe – explica Suzana.
- Que bom! – aprecia Soraya - Mas o melhor disto é que vocês vão poder aproveitar uma surpresa que vão amar!
- Que surpresa?! – perguntam as três ansiosas de curiosidade.
- Bem, vou pedir que fechem os olhos e só abram quando eu disser.
Todas fecham os olhos.Enquanto isto, Soraya faz um sinal olhando para baixo, sussurrando:
- Podem vir.
- Podemos abrir? – perguntam.
- Ainda não, esperem mais um pouquinho – pouco depois, anuncia: Agora!
As três abrem os olhos e gritam alvoroçadas:
- Vó! Vó Tonha!
A doce avó Marisa chega acompanhada da fiel Tonha, a outra avó postiça das meninas. As três correm para abraçá-las.
- Calma minhas netinhas! Eu tenho abraços para todas!
- Ai, vó...Que saudade – Suzana deixa rolar uma lágrima de emoção.
- “Oh, Suzana, não chore por mim!” – cantarola Marisa de brincadeira – Tão sensível a minha morena!
- Vó, eu agora estou feliz em dose quádrupla – festeja Sônia.
- É? Por quê? - pergunta Marisa achando graça da expressão.
- Você tá aqui, meu pai voltou ontem de viagem e meus avós também chegaram para passar o natal e o fim do ano.
- Que bom! Seu pai continua viajando muito?
- Demais, vó, quase não para em casa.
- Mas o que importa é que está aqui. – acrescenta alegremente Marisa. Bem, hoje é véspera de natal e eu trouxe um presente para cada uma. – Marisa pega na sacola que trouxe e tira três embrulhos. As meninas ansiosas abrem e agradecem aos beijos, cheias de contentamento, pois ganham três diários.
- Vó, que máximo! – exclama Suzana
- Eu sei o quanto vocês amam diários. – comenta satisfeita Marisa.
- Mas estes são especiais, vó. – Sandra observa – Com nossos retratos na capa e nossas assinaturas.
- É uma irmãzinha da igreja que faz. – informa Marisa. – Todas as páginas têm trechos bíblicos.
- Dê os parabéns a ela. –Suzana recomenda
- Amei, vó! –Sônia agradece.
- Que bom! Eu sabia que vocês gostariam! – Marisa sori para as três.
- Vó, você vai ficar para o natal? – pergunta Suzana, ansiosa.
- Não dá, querida – responde Marisa acariciando a cabeleira negra da neta.
- Mas vó, o natal é tão chato! – Suzana lamenta - Sua presença é o presente.
- Que amor... – Marisa fica sensibilizada – Mas, não dá pra ficar, queridas, porque lá em casa vamos passar eu e a vó Tonha com o pessoal dela hoje à noite e o tio Ciro e tia Mary também devem vir, a prima Angelina disse que iria também. Amanhã vou à casa do tio Vitor.
- Tá, vó. Nós perdoamos você por não ficar hoje aqui, mas nos meus quinze anos, eu a intimo a vir. – cobra Suzana.
- Tá, eu prometo!
- No meu aniversário também! – lembra Sandra.
- E no meu idem! – reivindica finalmente Sônia.
- Tá bem, tá bem... O que vocês não me pedem chorando que eu não faço sorrindo – responde ternamente Marisa. Cadê o Daniel e o Ivan?
- Bem, o Daniel...Mano! – Sandra avista Daniel chegando e vai correndo até ele.
- Que amor de irmã! – aprecia Marisa – Eu e o Ciro nunca fomos unidos assim.
Sandra vê Daniel guardar a moto e corre até a garagem. Quando este se vira de frente, Sandra abre-lhe os braços e grita:
- Mano! – Daniel corresponde à irmã abraçando-a ternamente.
- Tá vendo, maninha? Tô ótimo!
- Você me assustou tanto! – Sandra aproxima-se do irmão e o abraça quase chorando.
- Que é isso maninha? Seu mano sabe se cuidar, “não esquenta!”
- É?! Quente, ainda mais, fervendo, deve estar à mamãe! “Te cuida”, que o papai já ouviu e quem vai ouvir agora é você!
- Eu tiro a coroa de letra!
- É o que você pensa! Ela ficou furiosa quando eu dei seu recado. Disse que você ligou pra mim porque tava com medo dela.
- Ah, maninha...Eu sei que você segurou pra mim!
- Olha, Dani, se você estiver fazendo coisa errada, eu não vou segurar, não! Não me mete nos seus rolos!
- Fica fria, maninha! Não pensa... “Relax, baby!” Olha só o verde, as árvores, o céu azul “da cor do mar” – imitando Tim Maia
- Dani, você tá tão estranho...
Daniel chega perto da irmã ri, abraçando-a e beijando-a eufórico.
- Tô feliz, maninha!
Daniel levanta a irmã no alto e rodopia, gritando:
- UUUUUUUUUUUUUUHHHHHHHHHHH!
- Dani! Me põe no chão! Assim eu fico tonta! – grita Sandra assustada.
- Calma, maninha. – Daniel coloca-a de volta ao chão, novamente abraçando-a.
- Dani vamos lá pra casa, a mamãe está aflita!
- Vamos, maninha, vamos enfrentar a “3ª Guerra Mundial!” – fala batendo uma continência e em tom de deboche comanda: - Sentido! Marche! Um, dois! Um dois!
- Ai, Dani, não brinca! Você não sabe o que o espera!
- Deixa comigo, maninha!
Da piscina, Soraya, Marisa e as meninas observam Daniel e Sandra indo para casa.
- Estão indo pra casa – comenta Soraya.
- Depois eu falo com ele. – diz Marisa, observando que o neto chegara depois de um período longo fora de casa. Chegando em casa, Sandra entra primeiro na sala, a fim de preparar a mãe para receber o irmão. Entra e encontra Heloísa andando de um lado para o outro e fala:
- Mãe...
- Oi. – Heloísa responde virando-se para a filha.
- Pode ficar calma, o Dani está aqui.
- Diga a ele para vir aqui imediatamente! – ordena Heloísa
- Sim. Ah, mãe...
- Que é?
- Minha avó está aí.
- Eu vi daqui. Ele foi salvo pelo gongo, mas vai ouvir!
Sandra vai chamar o irmão, tensa por um lado, mas por outro aliviada, pois sabe que a presença da avó vai amansar a mãe. Faz sinal para Daniel entrar e sai. Este entra e cinicamente cumprimenta a mãe:
- Bom dia, mãezinha!
- Não me venha com este seu mãezinha! Nem vem, que não tem! – fala dando-lhe um tapa no braço – Como é que me aparece aqui, depois de quase dois dias, com esta cara mais cínica?! Quem você pensa que é?!
- Calma mãe...
- Calma?!!Você pensa o que?! Que não tem mãe, que é filho de chocadeira?! – parte para cima dele, dando-lhe mais tapas nos braços e quando tenta segurá-la, esta dá um forte chute em suas pernas.
- Ai, mãe!
- Te mete comigo, garoto, pra você ver! Tem sorte que sua avó está aí e eu não quero me aborrecer mais! Já que eu tenho que aturar esta hipocrisia de véspera de natal e ver todos enchendo a pança e ainda agüentar pessoas que vem aqui só pra isso! Vou ter um pouco de controle pra receber minha sogra, que não tem nada com esta sujeira!
Daniel tenta sair e Heloísa o chama:
- Ainda não acabei, volte!
Daniel volta, vendo que não tem como escapar.
- Olha aqui, garoto: tão logo inicie o ano eu vou botar você pra trabalhar com seu pai. Eu vi suas notas na faculdade, você passou raspando! Se você quer seguir engenharia, vai ter que trabalhar, tirar do próprio couro!
- Ô mãe...
- Cala a boca!! Estou falando e você vai me ouvir, porque está debaixo do meu teto! Se quiser bancar o homem pra sumir, agora vai ter que assumir, vai ter que ser homem de fato! Ser homem é enfrentar a vida, não é ser irresponsável, desaparecer e voltar com a cara mais lavada do mundo, como se morasse sozinho e se sustentasse! O seu pai não coloca você nos eixos, mas comigo é diferente! Este seu 1,92 m, não me intimida! Se eu quiser, te jogo no chão com um só golpe! Agora, vê se tem pelo menos um pouco de consideração à sua avó, pois ela veio de longe pra ver filhos e netos. Tira estes óculos escuros ridículos de “bad boy”, toma um banho e desce com cara de gente!
- Sim senhora! – responde debochado, batendo-lhe continência.
- Suma da minha frente, garoto! – berra Heloísa quase o acertando com um livro. Este, corre subindo a escada. Heloísa ainda grita:
- Sobe, sobe mesmo, antes que a “favela-bairro” desça em você!
Subindo, Daniel esbarra no pai, que está saindo do quarto, tonto ainda de sono.
- Que e que há? – pergunta Paulo.
- Nada não, pai...A “coroa” está um pouco nervosa.
- Um pouco é? Parece que está botando a casa abaixo.
- Não esquenta não, pai. Deve ser a menopausa. Se eu fosse você, não desceria.
Embaixo, Heloísa está furiosa. Joga tudo o que encontra no chão e chora de raiva. Alice entra, olha assustada e fala:
- Meu Deus...Não quer que eu arrume, Dona Heloísa?
- Alice...Eu... – Heloísa tenta falar, arfando – Não estou muito bem hoje...Desculpe a bagunça...Eu ajudo você.
Lá fora, Soraya e Marisa conversam próximo ao jardim:
- E aí, norinha, tudo bem?
- Tudo...
- Se tudo está bem, que “carinha” é esta?
- Marisa...O Genaro está tão distante, tão obcecado por dinheiro, negócios...
- É... Nisto ele superou muito o pai. O Vitório dizia sempre que já tinha passado por uma guerra. Ele conquistou muitas coisas, cresceu e deixou um bom exemplo de como conseguir fazer dinheiro. Infelizmente, não soube ensinar que isto não é tudo na vida, pois não imaginaria que poderiam ultrapassá-lo tanto. Ele tinha muito tino comercial, fazia bons negócios, como pai era presente, apesar de todos os seus defeitos.
- Pois é, Marisa. O Genaro está cada vez pior e como pai, não é nada presente. Tudo na Suzana o irrita e eu não sei mais o que fazer.
- Eu acho que como esposa você faz a sua parte.
- Eu tento, né? O Vitor uma vez citou uma passagem da bíblia que eu gostei muito: “A mulher sábia edifica a sua casa”.
- ... “E a tola a destrói” (Provérbios, 14: 1) – completa Marisa – com certeza você está na primeira situação.
- Marisa...Eu acho que não tenho nem o direito de pedir isto, mas...Conversa com o Genaro?
- Meu bem, não é que você não tenha o direito; entenda o seguinte: vocês se casaram e são uma só carne. O que quero dizer com isto? Popularmente falando: “Em briga de marido e mulher, não se mete a colher”.
- Mas então...O que é que eu faço?
- Minha querida, você está muito ansiosa. Olhe, eu nunca deixo de orar por todos vocês, sempre pedindo a Deus para abençoar os seus casamentos, suas vidas, os meus netos.
- Eu sei, Marisa. Mas será que não ajudaria se você falasse com o Genaro? Será que ele não respeitaria se você argumentasse com ele sobre a indiferença alternada pela raiva que ele sente de mim, da Suzana.
- Minha norinha, eu não acho que ele tenha raiva de você, nem da minha neta. O que eu acho é que o meu filho está tão obcecado pelos negócios, que não vê mais nada na frente dele.
- Ele tem raiva de mim, sim, Marisa e transfere muito desta raiva pra Suzana. Ele sempre teve idéia fixa em perpetuar o nome Castelli.
- Soraya, isto é uma mania dos Castelli, porque a maioria sempre gerou homens. Eu tive quatro filhos homens. O Genaro estava certo de que só teria filhos homens!
- E na cabeça dele, foi traído em relação aos seus planos!
- Deixe de se martirizar com isto, você não tem culpa!
- Mas ele acha que eu tenho! Ele deve em pensamento continuar me culpando pelo único filho homem que eu perdi.
- Não receba isto no seu coração, senão você vai sofrer muito deixando esta mágoa crescer.
- Mas ele tem sido horrível com a Suzana e é muito duro para uma mãe ver a filha sendo hostilizada assim pelo pai.
- Você já tentou conversar com ele de cabeça fria?
- Isto tem sido muito difícil, pois sempre que tento, me irrito, porque ele diz que estou enchendo o saco dele, que eu não tenho mais o que fazer do que atrapalhá-lo no trabalho com conversa fiada e não sou de engolir desaforo!
- Você já pensou em propor umas férias a ele?
- Está difícil...Ele termina um negócio e inicia outro, ou até paralelamente faz dois, até três negócios! Tem época que é empresário aqui a semana inteira, jantares, etc. No fim do ano vai ter uma multidão deles aqui!
- Isto vai passar querida. Vamos até o escritório do Genaro?
- Vamos.
Marisa e Soraya vão para dentro da casa sendo. Soraya bate na porta do escritório dso marido:
- Genaro, Genaro, posso entrar?
- Pode.
- Está muito ocupado?
- Como sempre...
- Muito para uma surpresa?
- Que surpresa?
Soraya chama Marisa:
- Pode entrar.
Marisa entra e Genaro surpreso levanta-se para receber a mãe:
- Mamãe?
- Oi, filho – abre-lhe os braços, sorridente.
- Que surpresa, mamãe. – Genaro cumprimenta a mãe.- Sente-se.
- Obrigada, filho – senta-se enquanto Genaro ajeita a cadeira. - Resolvi fazer uma surpresa. Eu vim com a Tonha, ela está lá na piscina conversando com as meninas.
- Está tudo bem com você? – Genaro pergunta
- Agora então está tudo ótimo, pois eu estou com você e ainda verei meus filhos todos.Amanhã estarei na casa do Vitor.
- Poderia ficar aqui hoje.
- Não dá, a família da Tonha vai estar lá em casa esta noite. A Angelina também irá.
- Ela já prometeu que nas festas de 15 anos das meninas ela vai ficar, não é Marisa? – Soraya também cobra.
- É sim, filho. Quinze anos só se faz uma vez na vida e sei que todas estarão lindas, não quero perder as festas. Meus parabéns, querido, pela linda neta que você me deu!
- Você não sabe o trabalho que ela dá! – critica Genaro.
Soraya faz uma expressão de incômodo e Marisa argumenta:
- Querido, qual é a adolescente que não dá um pouco de trabalho? Todos dão um pouco, mas também dão alegrias, como todos vocês deram muitas alegrias para mim e para seu pai.
- O Vitor nem tanto, né, mamãe?
- O Vitor tinha outros ideais, Genaro, mas hoje pensa diferente. “Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus”.
- Ah, mamãe, me poupe de pregações, por favor!
- Não é pregação, filho. Tudo estava sendo preparado para ele. Eu não fui a favor da viagem para a Itália, como lamentaria se fosse imposta a qualquer um de vocês, mas hoje entendo que era Deus dando livramento ao seu irmão.
- Você protege demais o Vitor, assim como a Soraya protege a Suzana.
- Eu não protejo, Genaro – interfere Soraya – Eu disciplino com amor. Quando ela está errada, eu brigo, repreendo, mas deixo que ela se coloque, mesmo que não venha a concordar com ela.
- Ela não está em idade de se colocar! Não é responsável por si e além do mais nem se comporta como uma menina deve se comportar!
- Queridos – Marisa levanta-se – Se querem ficar discutindo, deixo os dois à vontade. Enquanto isto vou falar com meus outros filhos.
- Desculpe Marisa – Soraya toma a iniciativa, sinalizando pelo olhar a Genaro que faça o mesmo.
- Desculpe mamãe.
- Não se desentendam – apazigua Marisa – Eu amo vocês. Vou ficar para almoçar, e quero sair daqui feliz. Prometem não brigar mais?
- Está bem, mamãe.
- Vamos, queridos. Deixe um pouco o trabalho, meu filho. Quero apreciar tudo isto que você construiu. Você superou seu pai nos negócios, se ele estivesse vivo, teria muito orgulho de você.
- Eu...Tenho muito orgulho dele também, mamãe.
- Eu sei, filho. Eu gostaria, por isto mesmo de pedir a você: procure ver as qualidades da sua filha. Defeitos todos nós temos. Você não pode negar que ela não dá trabalho para estudar, não tem amizades que desencaminhem. Pense nisto.
- Está bem, mamãe. – responde, como que para se ver livre.
Saindo acompanhada de Soraya e Genaro, Marisa avista Sérgio ao longe e o chama:
- Sérgio! Serginho, filho!
Sérgio acena e vai ao encontro da mãe.
- Oi, mamãe, que saudade! – abraçando-a
- Filho...Como você está bem! Muito trabalho?
- Bastante, mamãe.
- Você ficou muito tempo fora?
- Uma semana.
- E resolveu tudo?
- Sabe como é... Obras são demoradas; materiais, instalações.
- É filho, mas agora não pensemos em trabalho. Você está aqui com sua família, vai curtir o natal o ano novo e eu também vou curtir mais um pouco até depois do almoço, pois tenho que ir cedo.
- Mas porque não fica até amanhã de manhã, mamãe?
- Tenho visitas ainda hoje, filho. Cadê o Ivan?
- Deve estar no computador.
- Já tão cedo?
Logo chega Lúcia.
- Marisa! Que surpresa maravilhosa!
- “Dá cá um abraço, norinha!”
- Enquanto matam as saudades, eu vou chamar o Ivan - avisa Sérgio.
- Está tudo bem, Lúcia?
- Tudo bem...
- Bem mesmo?
- Marisa...Eu ando meio preocupada com essa mania do Ivan com computador. Ele só demonstra uma atenção às outras coisas se o pai estiver mais presente e ultimamente isto não é muito freqüente.
- É... Ossos do ofício!
- Como as responsabilidades estão muito mais sobre mim, eu me acho culpada por ter feito vontades demais ao meu filho e sinto tê-lo prejudicado com isto. Ele passou raspando, vai pra 6ª série com pouca base.
- Mas você deve dar mais limites a ele e exigir que estude. Procure colocá-lo pra fazer esportes e cobre a ajuda do Sérgio também. Ele é o pai. Mesmo que não possa estar tão presente por causa do trabalho, deve se fazer presente. Se o menino continuar assim, ele vai se afastar das pessoas, ficar anti-sociável.
- É verdade.
- Não desanime, Lúcia. Olhe, eu estive dando uma idéia pra Soraya que acho boa pra vocês também: incentive-o a tirar umas férias, ir para fora, levando você e as crianças.
- Quem sabe depois do natal e do Reveillon. Meus pais estão aqui.
- Eu sei, querida. Aliás, também acho isto muito bom, pois seu pai é um homem muito alegre, vibrante, jovial. Eu percebo o quanto ele é querido pelos mais jovens.
- É...Ele conquista os jovens só com um sorriso.
Em casa, Paulo desce e Heloísa vendo-o em direção à porta o inquire:
- Aonde vai?
- Vou ver minha mãe, soube que ela está aí.
- Espere um pouco, preciso falar com você. Você viu a hora, aliás, o dia em que seu filho chegou?
- Sim. E daí?
- Ah... E daí?!
- É, Helô, ele é um homem, está de férias, qual é o problema?
- Se ele é um homem, é mais uma razão para ter responsabilidades. Ser homem com este bem bom é muito fácil!
- Eu já disse que vou dar um jeito de encaixá-lo na firma, Helô!
- Eu não quero que você simplesmente o encaixe na firma e sim completamente na realidade da vida aí fora, que não é a brincadeira que ele está pensando.
- Tá Helô! Agora me deixe ver minha mãe.
- Chame antes o Daniel pra ver a avó!
- Tá Helô!
Lá fora, chegam Ivan e Sérgio. Marisa abre os braços para o neto:
- Ivan! Meu neto querido! Minha benção!
- Oi, vó. – responde Ivan cumprimentando-a com um beijo.
- Como está querido?
- Tudo bem vó.
- Eu trouxe um presente pra você.
- É? O que é?
- Está aqui. – Marisa entrega um embrulho pra Ivan, que expressa um pouco de decepção ao perceber que deve ser uma camisa. Abre e fala:
- Obrigado, vó – dando-lhe um beijo.
- Eu sei que você gosta mais de joguinhos, mas em fase de crescimento é sempre bom ganhar roupas. Como é que está de férias?
- Bem...
- Não vão pra fora? Nenhum coleguinha convidou-o pra passear? Sai da toca, garoto! Você tem que aproveitar! Não vê sua irmã e suas primas? Todas estão tomando banho de piscina! Vai lá!
- Boa idéia, mamãe! – concorda Sérgio - Vá se trocar pra tomar um sol e se refrescar!
- Mas pai...
- É uma ordem.
- Tá bem – Ivan obedece, embora contrariado e vai para dentro se trocar. Marisa observa e comenta:
- Nada como um pai presente para orientar o filho a ter hábitos mais saudáveis!
- É! – concorda Lúcia olhando para Sérgio com certa ironia.
- Ele está branquelo, precisa pegar uma cor! – alega Marisa.
- Pois é, mamãe.
- Você está muito bem disposto, filho. Na sua próxima viagem, poderia levar a Lúcia e as crianças. Eles precisam mudar de ares. – sugere Marisa.
- Eles não gostariam, mamãe. – justifica Sérgio - Eu nunca fico num lugar só, tenho que ir a vários lugares.
- Não seria problema, eles iriam com você. – argumenta Marisa.
- É que eu não tenho nunca um horário certo.
- Entendo...Então, porque não tira umas férias?
- Por enquanto está um pouco difícil.
- Haverá uma oportunidade – incentiva Marisa.
Chegam Heloísa, Paulo e Daniel. Marisa abre os braços para os três:
- Queridos! Que bom vê-los!
Todos a cumprimentam. Marisa brinca com Daniel:
- Como vai o meu neto gigante?
- Tudo bem, vó.
- Você parece um pouco cansado, Daniel. –Marisa observa, preocupada.
- Também... De férias e sempre na farra! –Heloísa reprova.
- Isto faz mal, querido. Diversão não é para acabar com a saúde. –Marisa alerta.
- Eu me cuido, vó.
- E você, filho, o que conta?
- Nada de novo, mamãe.
- Você foi ao aniversário do seu irmão?
- Fui. Você veio pra ficar, mamãe?
- Não, você sabe que não gosto de dormir fora de casa e além do mais já tenho outros planos para a noite, por isto vim cedo. Mas vocês sabem meu endereço. Minha casa está às ordens.
Ao início da tarde, todos já estão dentro da casa de Genaro para almoçarem junto com a mãe. Durante o almoço, a empregada de Genaro e Soraya avisa:
- Com licença, Doutor Genaro. Viriato interfona avisando que tem encomendas para as meninas
- Pra nós? – perguntam as três surpresas.
- Devem ser presentes de natal – deduz Marisa.
- Mas quem mandaria presentes pra gente?
- Podem ser ou a prima Angelina ou o tio Vitor. – diz Marisa.
- Não faz o estilo do tio Vitor mandar pelo correio. –Sandra afirma.
- Bem, eu a autorizo a ir receber, Sônia – diz Sérgio.
- Embora eu não goste de interrupções nestas horas, também a autorizo, Sandra. –Paulo concorda.
- E você, filho, não dá licença à Suzana? –Marisa pergunta a Genaro.
- Claro, né, Genaro?- Soraya reforça.
- Está bem. –Genaro permite mesmo um pouco contrariado.
- Obrigada, pai. –Suzana agradece.
- Por nada, mas não acostuma.- Genaro responde seco
- Não esqueçam a gorjeta do rapaz. –Paulo adverte.
- É verdade –Genaro concorda metendo a mão no bolso do paletó.
- Está aqui –Sérgio entrega para Sônia.
- Estou curiosíssima para saber de quem são os presentes. –Marisa comenta depois que as meninas saem
- Eu também – confessa Soraya.
- Só podem ser de algum parente distante. –Paulo deduz.
- Nós não temos tantos assim na Itália.- diz Genaro.
- É...E dificilmente mandam presentes, quanto mais para as meninas. –Sérgio observa.
- Bem, vamos esperar pra ver.- sugere Lúcia.
- Eu até tenho um palpite, mas vou esperar pra ver se é o que estou pensando – diz Soraya.
As três voltam alvoroçadas anunciando:
- O meu é do Rodrigo! – Suzana fala primeiro
- O meu, do Ricardo! – depois Sandra.
- E o meu, do Renato –Sônia diz por último
- Palpite certo! –Soraya festeja.
- Agora só falta abrirem! –Marisa incentiva.
- É pra já! – Sandra se anima
Todas abrem simultaneamente, com ansiedade. Cada uma exclama satisfeita:
- Um ursinho de pelúcia! – Suzana agarra carinhosamente.
- O meu é um gatinho! – Sandra, também abraça o presente.
- O meu é um coelhinho! – Sônia enrosca-se no coelhinho como se o fizesse com Renato.
- Tá vendo, Genaro?! Arrasando o coração do ruivo!– Soraya comenta entusiasmada
- É...Viu como a disciplina paterna é boa? – retruca Genaro contando vantagem.
- Espero que as intenções do garoto sejam boas. – adverte Paulo.
- Ridículo! – fala Heloísa entre os dentes, dando-lhe um pontapé debaixo da mesa.
- E eu idem – reforça Sérgio à Sônia.
- Pai, até parece que a gente foi pedida em casamento! – Sandra ri.
- É, que exagero! – concorda Lúcia.
- Aprecio este romantismo, tão raro em adolescentes hoje em dia – observa Marisa.
- Estou com você, sogrinha, achei todos encantadores - complementa Soraya.- Não se esqueçam de ligar pra agradecer, hein?
- Estou curiosa para conhecê-los. – Marisa entusiasma-se.
- Com certeza – respondem as três.
- Eu também. – afirma Lúcia.
- Bem, eu não os vi, mas confio na sensibilidade de vocês. – Heloísa olha ternamente para as três.
- Veremos! – Sérgio fica um pouco desconfiado, como um pai zeloso.
- Gente, daqui a pouco eu tenho que ir. – Marisa lembra.
- Não antes de tocar piano pra gente, vó. – pede Suzana
- Tá bem, mas só um pouquinho. – cede Marisa.
Passa-se meia hora e Soraya adverte:
- Agora deixem que ela vá, e ela quer chegar ainda com o dia claro.
- Vó, quando é que você volta? – pergunta Suzana, abraçando a avó com tristeza pela sua partida.
- Assim que eu puder, querida. Senão for possível antes, com certeza no seu aniversário.
- A gente tava com tanta saudade, vó. – fala ternamente Sônia, também a abraçando.
- É...E passou tão rápido! – Sandra lamenta
- Ainda haverão muitas outras oportunidades! – Marisa a anima
Todas se despedem da avó que acena e joga beijos enquanto o carro sai.
- Como são chatas as despedidas! –Sandra lamenta
- É...Tchau pra vovó e oi, pra véspera natal – Suzana lembra desanimada.

3 comentários:

  1. Eu tb amo os encontros que tenho com a minha avó, e pelo visto as meninas a apreciam bastante, isso é bom!
    E pelo visto na história quem dá trabalho são os filhos da D. Marisa.

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  2. Amei o presente dos meninos para o trio em s.
    O engraçado é que eu me identifiquei com a Sônia e ela ganha um coelho, que por acaso sou apaixonada por coelhos.
    rsrsrsrs

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  3. olha eu aqui o/ [espero q esse vá! *piada interna*]

    bem, tem tantas coisas q eu gostaria de ter comentado antes.. mas, resumindo.. estou adorando essa segunda parte da estória!! Bem q vc disse que eu gostar mesmo, Vinicius! e, pois é! vc acertou em cheio!!!

    O trio em S é maravilhoso.. são meninas incríveis.. a Sandra, a Sônia e a Suzana são umas florzinhas!! O Vitor está certíssimo quanto a suas sobrinhas.. a gente percebe o quanto ele gosta delas! e é sincero! e o quanto elas gostam dele, né? Não é à toa! O Vitor mudou muito.. é uma nova pessoa, graças a Deus!;)

    O Genaro é um pai muito negligente.. [eu tenho tanta raiva dele!! Cara.. rss que estória é essa de puxar a orelha da guria??.. ele é louco! perdão, Vinicius! Mas que cara detestável!! nossaa... toda vez q ele aparece eu fico louca de raiva.. cada palavra q ele diz.. só besteira!!! é um deslumbrado, vazio!! Gente, ele precisa de Jesus urgentemente! pq só Jesus pra transformar essa pessoa!! Enfim, eu não gosto do Genaro!! Fato. Espero que ele mude!!]

    sou fã da Suzana.. ele é tão legal, espirituosa, um doce! mesmo diante de tanta grosseria do pai, e maus tratos! apesar de não me identificar tanto com ela na personalidade.. não sei! é a q eu mais gosto das três! "Suzana Rocks!!!"

    Cara.. pq não aperece um desses do trio em R por aqui, heim? Puxaa!!! Eles parecem ser bem legais, e são lindos!!

    O q ta acontecendo com o Daniel!! acho q ele tá com problemas, viu? não sei não!!
    coitadas da mãe e da irmã, pq são as q mais se preocupam! O pai parece q tá em outra planetaa!! [é um palerma!] affs.. e esses "negócios" em São Pedro? Hmm.. sei não! isso tá me cheirando muiiito mal! mas não vou levantar nenhum julgamento, qualquer coisa seria precipitado!
    [aaa] abro um parênteses enorme aquiiiiii.. eu morei em São Pedro da Aldeia.. passei quase minha infância toda lá!! ehehe
    amo essa cidade de paixãao!! definitivamente, é a cidade do meu coração!.. dizem por lá q quem nasce em São Pedro é macegueiro!! huahuahua.. sempre ouvi a galera comentar isso nas rodinhas.. e nunca entendi!! descobri a pouco tempo, procurando no dicionário q "macega" é um tipo de erva .. rss kkk será q tem alguma coisa a ver com a etimologia da palavra?? Viagem aqui, viu?
    mas voltando..

    Eu sei, eu sei, q a Marisa tá certa! Em briga de marido e mulher não se mete a colher.. mas eu fiquei torcendo pra q, pelo menos, ela pudesse dar um jeito nesses filhos !! engraçado, eles falavam tanto do Vitor, e coisa e tal.. e agora!! tenho as piores impressões deles, me perdoem!

    nossa.. escrevi um texto . huahuahua

    parabéns, Vinicius!! seu texto é maravilhoso!

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