terça-feira, 22 de dezembro de 2009

CAPÍTULO V

CHEGOU O ANIVERSARIANTE
A casa já está toda ornamentada para a festa: faixas e cartazes comemorativos com o nº 50 em letras douradas, bolas douradas e brancas e máquinas de vídeo para gravar a festa! Por volta das 20 horaso aniversariante chega em seu Fiat cor de prata. Apesar dos poucos cabelos, mesclando castanho e branco, estatura mediana homem (1,73m), um pouco gordinho (82 kg), ainda é uma figura simpática e atraente.Vitor deixa o carro na garagem e repara que a casa está escura. Logo, ele pensa: “O que será que estão aprontando?” – pois já desconfiava de alguma surpresa. Ao abrir a porta de casa, tudo continua escuro e de repente ouve os primeiros acordes da música “CANÇÃO DE ANIVERSÁRIO”:
“Hoje é o dia do teu aniversário,
Parabéns, parabéns.
Fazem votos que vás ao centenário,
Os amigos sinceros que tens.”.
Após este verso, as luzes se acendem e com emoção Vitor vê todos os parentes e amigos que o aguardavam para felicitá-lo e cumprimenta-os.
A emoção é total. Bertinha como a primogênita, cobra do pai:
- Faz um discurso pai!
- Discurso! Discurso! Discurso! - Todos batem palmas e gritam juntos
Vitor ri e levanta os braços fazendo um sinal para pararem, pois vai falar:
- Eu...Nem sei como falar...Obrigado Senhor, por esta família! Por você Lelê, minha fiel companheira, pelos nossos filhos, por essas meninas maravilhosas, pelos meus irmãos, pois sem eles não existiriam vocês e pelas minhas queridas cunhadas, mais que cunhadas, verdadeiras irmãs! Aleluia! Glória a Deus por eu estar aqui rodeado por vocês! Eu te agradeço Senhor, em nome de Jesus!
Todos aplaudem. Suzana, a mais “bagunceira”, assobia. Vitor apaga as velas com os números 5 e 0 após o “Parabéns pra Você”. Depois dos aplausos, Miguel se dirige ao pai e fala emocionado:
- Pai...Eu queria aproveitar o momento para... – faz uma pausa devido à emoção – agradecer por um dia você e a mamãe terem me escolhido pra ser seu filho. Obrigado pai...Eu te amo! - Miguel abraça o pai chorando de emoção.
- Que lindo! – Soraya admira, derramando lágrimas.
As sobrinhas, aproveitam a gravação da festa para entrevistar o tio. Suzana pega o microfone e inicia:
- Estamos aqui no “SOLAR VITOR CASTELLI”, Tio Vitor, o aniversariante, a palavra é sua!
- Bem, neste meu “Jubileu de Ouro em vida”, eu tenho o prazer de estar com a maravilhosa família que constitui, minhas queridas cunhadas e quero agradecer a Deus pelas suas vidas e das dos meus amados irmãos, pois por causa deles, existem estas três bênçãos. Mando aqui o meu abraço a eles, a você, mamãe, a você Tonha, que é fiel companheira de minha mãe e muito colaborou para o meu nascimento, pois fez o parto, à prima Angelina que também ligou e quero que saibam que sempre oro por todos vocês. Meu abraço também à Odete, que é esta outra avó adotiva das minhas meninas e que serviu meus sogros na doença até o fim dos seus dias e que hoje é fiel servidora de Genaro e Soraya.
- No momento ela está de férias, mas volta antes do ano novo. - Suzana acrescenta
Enquanto outras pessoas gravam suas mensagens de feliz aniversário, Vitor conversa com as sobrinhas:
- Tio, outro dia estava lendo aquele seu livro de poesias, LUZ DA POESIA. – comenta Sônia.
- É linda tio. – Suzana elogia.
- A poesia título é a mais linda que eu já li. – concorda Sandra.
Vocês são suspeitas – brinca Vitor – É interessante...Como o Espírito Santo falou comigo quando escrevi esta poesia, principalmente no trecho: “Bem tão divino quanto a glória do céu...” Uma experiência com Deus é algo tão indescritível, que só pode entender quem tiver a sua. É algo muito pessoal. É como está escrito em Jó: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó 42 : 5).
- Você tava muito inspirado quando escreveu estes versos. – Sônia elogia
- A Sônia foi até premiada no concurso literário que houve no colégio. – conta Suzana
- Meus parabéns, bonequinha! – felicita Vitor
- Obrigada tio. – Sônia agradece sorridente
- Eu gostaria de mais tempo pra assistir a estes eventos. – Vitor lamenta
- Você faz o que pode. Foi à nossa formatura. –Suzana lembra.
- Estarei presente sempre que puder. É engraçado... É como se eu tivesse mais três filhas!Vocês são três bênçãos na minha vida, três presentes de Deus!
- Você é nosso presente tio! Quem não gostaria de ter um tio assim, legal como você! – completa Sandra.
- Estou feliz que sua mãe esteja aqui. – Vitor dirige-se à Sandra - Seu pai vem?
- Deve vir mais tarde. – responde Sandra com receio que o pai não venha
- Você fez uma expressão meio triste. Alguma coisa errada entre ele e sua mãe?
- Ele e a mamãe ultimamente brigam muito.
- É? – Vitor se surpreende - Mas por quê?
- Por causa do Dani. Tio. Eu não tenho do que me queixar. Ele é maravilhoso comigo. Minha mãe conta que ele sempre gostou de cuidar de mim, ajudava muito. Ultimamente ele tá mais afastado não só de mim, mas de todos.
- Bem, ele deve ter a turma dele, os amigos. – deduz Vitor
- Amigos misteriosos. A minha mãe o vê falar no celular e sair. Já falou isto com meu pai, mas ele acha que ela tá imaginando coisas, que ele só vai se divertir. Meu pai é descansado demais, só não é pros negócios. A minha mãe tá cansada dos compromissos sociais dele. Acha tudo uma grande frescura. Eu também acho uma “encheção de saco” aqueles “socialites”.
- Eu entendo a Lolô. O General passou para as filhas a simplicidade dele e você também absorveu isto. – Vitor observa.
- Em termos, né tio?! A tia Hélida tem hoje uma vida de rainha por causa do casamento que fez com um “ricaço”!
- Toda regra tem sua exceção, querida! Aliás, ela já tá no quarto casamento, hein? Mas...Falem-me um pouco de vocês. Fora esta questão do Daniel, como você está, Sandra?
- Ah, tio, comigo tá tudo bem. Eu só fico meio triste de ver meus pais se desentendendo.
- Sandra, não fique preocupada. Eu vou ajudar no que puder. Sabe, eu acho você tão ajuizada, tão madura para a sua idade.
- Ah, tio, você é suspeito pra falar, meu pai também diz isto.
- E do Daniel, o que ele diz?
- Para ser franca, eu não ouço ele comentar nada sobre o Daniel.
- É isto que deve ressentir o Daniel, e embora ele não fale diretamente, expressa com atitudes.
- É engraçado. Ele não demonstra ter ciúmes de mim. Ele tem mais broncas do meu pai, da minha mãe.
- Sandra, mesmo tendo uma maturidade para não descontar em você, ele gostaria de ter melhor relacionamento com seus pais. Apesar da pouca convivência que tive com ele, sempre o senti isolado, buscando alguma coisa, mas nunca soube o que. Sua mãe comentava quando ele era um pouco mais novo, entre os 13, 14 anos que se isolava ouvindo Rock, músicas do Kurt Cobain.
- É... Ele criou um mundo particular. – Sandra reconhece.
- É. Ele buscou os próprios interesses e foi se desligando aos poucos do ambiente familiar. – Vitor analisa. Aproveitando um momento em que Suzana está conversando com os outros primos, Sandra fala com Vitor:
- Tio, eu queria falar da Suzana com você.
- O que houve? – Vitor fica preocupado.
- O tio Genaro é muito intolerante com ela. –Sandra lamenta.
- Tio... Ele não gosta dela! – Sônia fala revoltada.
- Será, Sônia? – Vitor pondera
- O que aconteceu no colégio foi só a gota d’água, pra que ele despejasse toda a raiva que sente dela! – Sônia afirma.
- Por que você diz isto? –Vitor questiona.
- Tio, pouco antes de ficar de castigo, a Suzana foi falar com ele no escritório. Eu nem sei o que foi que ela pediu, mas eu o ouvi gritar: “Suzana! Eu estou aqui ocupado e você vem me atrapalhar?! Quer sair e me deixar em paz?!” – Ela respondeu, quase chorando: “Tá, pai...desculpa...” – e subiu correndo e chorando e se trancou no quarto. Eu fiquei muito triste. Chorei também.
- Ela tá muito inconstante. Ora muito alegre, ora muito triste. – analisa Sandra.
- É uma oscilação – explica Vitor – euforia X depressão. Pela minha experiência no A A., eu aprendi que há dois estágios na pessoa emocionalmente perturbada, mesmo que esteja sóbria: quando as coisas vão bem, sempre vê tudo perfeito, como se não pudesse acontecer nada de errado; quando há um problema, parece que não tem jeito, não existe uma solução. São dois extremos. Pode reparar uma coisa: assim como o alcoólatra tem a fase em que bêbado fica eufórico, vendo tudo maravilhoso, logo depois, quando passa o estágio da euforia, vem a depressão, lembra-se dos problemas, todas as mágoas vem à tona e tudo parece péssimo, muito pior do que realmente é. É diferente de alegria e tristeza, que são sentimentos normais. A euforia e a depressão são sentimentos exacerbados.
- Você passou uns tempos difíceis quando bebia, hein, tio? - pergunta Sandra.
- A minha sorte foi ter casado com a Lelê. Ela agüentou o que mulher nenhuma agüentaria.
- Eu acredito, tio. A minha mãe já teria dispensado meu pai há muito tempo se ele bebesse! –Sandra afirma.
- Por isso eu digo: só Jesus pra mudar minha vida!
- Amém – Sônia fala, mesmo sem sentir com que profundidade Vitor faz a afirmação.
- Tio, eu tô preocupada com a Suzana. – Sandra retoma o assunto
- Preocupada com o quê?
- A gente voltou a dormir com ela, agora que estamos de férias, como fazíamos antes dela estar de castigo. Nos últimos tempos, eu tenho reparado que o sono dela é muito agitado, por isso que eu prefiro dormir no sofá e não com ela na cama. A Sônia nem ouve, porque dorme como uma pedra. Eu é que acordo e ouço. Ela se revira na cama, fala dormindo, assim, como que delirando, com a voz presa, não dá pra entender bem, mas acho que ela tem muitos pesadelos e outras vezes, mesmo dormindo, começa a chupar o dedo, como se fosse um neném.
Vitor ouve e pensa: “Ela está oprimida”.
- Sandra.Vou continuar orando por todos vocês. Acho que a Suzana deve sentir-se carente. E você, bonequinha, o que me conta? – Vitor dirige-se à Sônia
- Não tenho muito pra contar, tio. Meu pai viaja cada vez mais e só volta amanhã.
- Está com saudades, né?
- Muitas saudades, tio. Não vejo a hora de abraçar meu pai!
- E ele de abraçar vocês – Vitor completa
- O Ivan tá um caso sério...- critica Sônia.
- Por quê?
- Fica com a cara grudada no computador, só olhando aqueles joguinhos chatos.
- Vamos mandá-lo para os “computadorólatras anônimos?”
- Uma boa idéia – ri Sandra
- É – concorda Sônia, também rindo.
- É a idade, meninas, isto passa.
Aproveitando a distração de todos conversando, Soraya vai até a cozinha e telefona para Genaro.
- Alô? - atende Genaro.
- Oi, Carcamano! - Soraya responde.
- Ah... É você!
- Está tudo bem? Esfriou?
- Eu não estava e nem estou quente. Você é que estava.
- Olha Genaro, eu não liguei para discutir. Só quero dizer que eu estou na casa do Vitor e gostaria que você tivesse a consideração de ligar para o seu irmão, pois sua mãe e sua prima Angelina que moram muito mais longe, almoçaram com ele hoje e tenho certeza que se pudessem viriam aqui.
- Ah...Está bem! Eu ligo! – responde aborrecido, querendo se livrar da obrigação.
- Muito agradecida Senhor meu marido. Só peço que você deixe passar uns vinte minutos para não parecer óbvio que eu tenha ligado.
- Tá. Tchau!
- Tchau.
Soraya desliga e faz careta para o telefone. Dirigindo-se para a sala, passa por Vitor conversando com as meninas e pede licença.
- Gatas eu posso roubar um pouco o tio de vocês?
- Claro que sim, tia! – respondem as duas, levantando-se e juntando-se aos demais.
- Oi, cunhadão!
- Oi, Soraya.
- Ai, cunhadão...Como eu fico feliz de estar nesta casa alegre, neste ambiente cheio de amor e ver minha filha com tanta vida! – fala olhando Suzana.
- A Morena Grau Dez faz jus ao cognome.
- Ela está linda, né Vitor?
- O que prova o bom gosto do meu irmão ao escolher a mãe dela
- Obrigada, Vitor. Você também têve muito bom gosto.
- Eu sei disto.
- Se não fosse você, eu acho que não estaria aqui, curtindo tanto esta festa.Você deu tanta força pra mim e pro Genaro...Lembra como ele era romântico? Aquela música que você ensinou pra ele cantar pra mim...Lembra?
- “Cabocla, seu olhar tá me dizendo, que você tá me querendo, que você gosta de mim...” - Os dois cantam juntos
- Ai...Que bom tempo! – exclama Soraya.
- Em termos...
- Ah, Vitor! Só por que você bebia?
- Naquele tempo eu não conhecia Jesus.
- É engraçado, Vitor. Eu vejo uma grande diferença em você, mas não entendo bem esta coisa de “conhecer Jesus”.
- Eu creio que você ainda terá uma experiência com Ele.
- Como assim?
- Você ainda verá maravilhas acontecerem, milagres, coisas que você considerava impossíveis, não só na sua vida como na do Genaro, da Suzana. Não sei o que, nem quando, nem como, só sei que você verá!
- Estou precisando ver milagres mesmo.
- Se você crer, verá!
- É... “Há mais coisas entre o céu e a terra, do que pensa a nossa vã filosofia”.
- O que estou querendo dizer, é algo mais profundo do que isto.
- Como por exemplo?
- Você sabe que minha mãe foi curada de um aneurisma, não sabe?
- Eu já ouvi falar nesta história, mas os médicos não disseram que regrediu?
- Querida, Jesus curou!
- Bem, Vitor, eu não vi nada de perto. Também, na época eu nem sonhava em conhecer o Genaro.
- Um dia, com calma, a mamãe contará pessoalmente a você.
- Minha doce sogrinha-mãe. A Marisa me consolou muito quando perdi minha mãe, Vitor.
- Não fique triste, ela está na glória!
- Ela a viu dar o último suspiro.
- Ela aceitou Jesus, antes de morrer, assim como meu pai.
- Você voltou ao Brasil depois da morte dele. Foi difícil, né Vitor?
- Sim, mas já liberei o meu perdão. Meu pai achou que fez a coisa certa.
- O Genaro acha que está sempre certo, principalmente em relação à Suzana.
- Mas ele ainda entenderá que “não é por aí”.
- Parece tão difícil isto acontecer. Ele está tão irritadiço, tão mal humorado. O que mais me impressiona, é como a Suzana suporta o autoritarismo dele. Eu não acho normal uma adolescente tolerar tanto um pai tão rígido sem se revoltar.
- Ela é muito diferente das adolescentes que tem por aí. Aliás, as três são assim.
- Elas são excelentes! E como são unidas! Mas as suas filhas também são ótimas.
- Elas deram bastante trabalho nesta idade. a Bertinha até deu mais. A Patty dá mais ainda.
- Mas Vitor, qual o adolescente que não dá nem que seja um pouco de trabalho?
- Só que elas não deram “um pouco”, deram bastante. A Bertinha era pior, a Celinha, assim como a Patty, era mais bagunceira. Nós fomos aprendendo com o tempo a lidar com os filhos. Cada um ia ensinando como deveríamos ser com o próximo.
- Aí é que está. Você usou a expressão exata: ensinar. O Genaro nunca quis aprender, principalmente em se tratando de filhos. Ele é turrão e muito arrogante. Além do mais, nunca se preparou para ter uma filha. Ele sempre se fixou na idéia de ter um filho e sendo machista do jeito que é, se um filho não teria que ensinar nada a ele não haveria de ser uma filha que pudesse fazê-lo.
- Infelizmente neste aspecto ele puxou muito ao nosso pai.
- É...Eu não o conheci, mas pelo que conheço de vocês e da Marisa, você foi o filho que mais puxou a ela.
- Também acho. Talvez pela sensibilidade, gosto musical.
Neste exato momento, chega Paulo. Heloísa comenta:
- Ora viva! Até que enfim!
- Você insistiu pra ele vir, não foi? – pergunta Soraya.
- Tem alguma dúvida? – responde Heloísa – Soraya...A Suzana está tão feliz, tão expansiva! – comenta observando-a.
- Aqui, ela é ela mesma, Helô.
- Oi, mano. – cumprimenta Paulo.
- Oi, Paulo. – Vitor abraça calorosamente o irmão. – Demorou, hein?
- Pois é...Tenho trabalhado muito, estou muito cansado...Você entende, né?
- Claro Paulo.
- E a mamãe? Como está?
- Está bem, deve vir no Natal.
- Sei...Olha, mano, muita saúde e paz, que você chegue aos 100!
- Não precisa tanto. Se eu vir todos os meus netos – os que ainda estão pra vir - nascerem e os de vocês também, já me dou por feliz.
- É isso aí mano!
- Como está o Daniel?
- Vai bem... – responde Heloísa com um ar desconsolado.
- Dê um abraço nele por mim. Estou sentindo a falta dele aqui hoje.
- Ah, Vitor...Sabe como é...Garotão sai com a moto por aí...Coisas da idade! – justifica Paulo.
Lúcia vai até o telefone da cozinha e liga para Ivan. Espera e ao décimo toque este atende:
- Alô?
- Sou eu.
- Oi, mãe.
- Menino, o telefone fica ao seu lado e eu sei que você estava aí. Por que tanta demora?
- Eu estava terminando uma batalha.
- E eu perdi uma.
- Hein?
- É isto mesmo. Eu perdi a batalha pra você ser mais sociável e vir ao aniversário do seu tio. Você sumiu, nem deu tempo de procurar você, eu estava em cima da hora.
- Ah, mãe...
- Não é “ah, mãe”, não, garoto! Desde que você pegou esta mania de joguinhos de computador, está ficando cada vez pior! Olha, eu tenho uma ordem para lhe dar e se não cumpri-la, eu desligo esta geringonça assim que chegar em casa!
- O que é, mãe?
- Deixe passar um tempo depois que eu desligar e ligue pro seu tio, ouviu?
- Tá, mãe, eu ligo!
- Deixe passar uns vinte minutos e não se atreva a esquecer! Tchau!
- Tchau...
Logo após o telefonema de Lúcia, o telefone toca outra vez. Celinha atende e chama o pai.
- Pai!
- Oi?
- É o tio Genaro no telefone.
Vitor vai ao telefone da sala e atende.
- Alô?
- Oi, Vitor.
- Oi, Genaro.
- Parabéns, meu irmão, muita saúde e paz.
- Obrigado, mano. Pena que você não esteja aqui.
- Estou trabalhando muito, mas logo que puder estarei aí. Quando quiser, venha aqui também.
- Obrigado, mano. Olha, parabéns pela sua filha, está cada vez mais linda!
- Ah... Obrigado... – Genaro agradece sem jeito.
Desligando o telefone, Vitor vê as cunhadas conversando entre si e brinca:
- Posso ser um varão e destacar-me entre as belas varoas?
- Você é sempre bem vindo! – responde sorridente Lúcia
- Obrigado! – Vitor senta-se
- Vitor, não querendo monopolizar a conversa eu gostaria de prosseguir o que estava falando antes de você atender ao telefone, já que estamos em família e eu não tenho segredos nem pra Helô, nem pra Lúcia – diz Soraya.
- Vamos fazer uma terapia familiar. – Heloísa brinca
- Taí, Helô, sabe que ouvir é também uma forma de se ver no outro? –Lúcia opina
- É mesmo, Lúcia. – concorda Soraya – Você deve ter experiência nisto também por causa dos Alcoólatras Anônimos, né, Vitor?
- Não só nisto. Eu formei grupos de apoio, instituições ligadas à minha igreja e a outras também evangélicas e desenvolvi trabalhos de recuperação para adolescentes com diferentes problemas, tanto emocionais quanto de dependência química. Foi uma forma que encontrei de dar minha colaboração para pessoas que via sofrer e que com certeza estão bem melhor, porque estão com Jesus.
- Interessante... – reflete Soraya.
- Bem, Soraya, sou todo ouvidos.
- Vitor, aproveitando a presença da Helô que acompanhou a situação de perto e também da Lúcia que sempre foi muito amiga, eu queria desabafar uma coisa que há muito tempo me incomoda e quer vejo que esta vindo à tona: o Genaro não me perdoa por eu ter perdido um filho homem. Vocês devem lembrar que antes eu perdi uma menina, com cerca de quatro meses de gestação, um aborto expontâneo, porque eu corri risco de vida. Ele ficou preocupado comigo, mas talvez aliviado por ser uma menina. Mas quando eu perdi o menino, nas mesmas condições, ele ficou louco! Você lembra bem, né, Helô?
- Se me lembro?! Expulsei-o do quarto! Também foi o cúmulo: “Você não podia ter feito isso comigo!” – relembra Heloísa imitando Genaro.
- Pois, é... – prossegue Soraya – hoje ele desconta tudo na Suzana, como se ela tivesse culpa pelo parto dela ter sido difícil, por não poder perpetuar o nome “Castelli”. Mas há males que vem pra bem. Vocês já pensaram se fossem os três? Duas rejeitadas e um privilegiado. Se fosse a Suzana e o menino, ia ser uma competição, pois ela como mais velha, no caso seis anos e com o gênio que tem, ia querer mandar nele, que seria protegido pelo Genaro. Acho que foi melhor do jeito que foi, apesar de que, não nego, fiquei arrasada quando os perdi. Minha compensação é ter uma filha como a Suzana.
- Você já tentou conversar com o Genaro? – indaga Vitor
- E ele deixa alguém conversar com ele, Vitor? Ele tem muitas qualidades, mas quando se trata do que não concorda, ele encerra o assunto do jeito dele.
- Minha cunhada, você faz sua parte. –Vitor consola.
- Eu também acho, Soraya. Você é ponderada. – Lúcia apóia.
- Minha preocupação é a inconstância da Suzana. – expõe Soraya
- Todo adolescente é inconstante, Soraya.
O telefone toca novamente e Helena atende e chama Vitor.
- Alô?
- Oi, tio.
- Oi, Ivan! Estou sentindo sua falta!
- Ah, tio, quando eu puder vou aí. É que eu não sou muito de festas.
- Mas de vez em quando é bom estar em família. Eu sei que você tem interesses normais da sua idade, mas sempre é bom variar, sair, conhecer pessoas diferentes. É uma coisa para pensar, meu querido. Naturalmente você deve conhecer meninos que devam ter outros interesses, não?
- Bem, os colegas com que eu me dou mais são aqueles que gostam de vídeo game.
- Eu sei que você deve ter coisas em comum com estes, mas procure conhecer os outros.
- Tá, tio.
- Gostei muito que tenha ligado. Jesus te ama, querido.
- Tá, tio... Obrigado... Tchau.
- Tchau, querido.
Vitor volta para conversar com as cunhadas e Heloísa lembra:
- Vitor as meninas vão participar de um desfile em benefício de uma obra social. Vou mandar o convite impresso, mas já estou me adiantando, para que você não assuma nenhum compromisso. Sua presença é obrigatória.
- Muito obrigado. Eu não faltaria a um desfile com as minhas meninas. E o Daniel, como está, Lolô?
- Ele não para em casa, desaparece e o Paulo acha que não precisa se preocupar porque ele já é um homem.
- Você não acha que ele possa se sentir rejeitado? – indaga Vitor preocupado
- Ele se dá muito bem com a Sandra. A relação com o pai é que é de distância. Nem vejo os dois conversarem. Nem quando se vêem, coisa que é cada vez mais rara. Eu estou em cima do Paulo para dar um cargo para o Daniel na firma, mas ele sempre desconversa. Agora, a desculpa é o fim do ano.
- Você acha que seria bom? – questiona Vitor.
- Na atual situação, vendo que ele não é lá muito entusiasmado com a faculdade de engenharia, acho que deveria ter certeza se é isto que realmente quer. Já que o pai tem a sociedade com o irmão e já progrediu bastante, montou até uma filial da empresa, é hora de investir no filho.
- Eu vou continuar orando por vocês. – promete Vitor.
- Obrigada, querido. – agradece Heloísa.
- Lú, eu gostaria de saber mais do Sérgio. Aliás, o Ivan me ligou.
- É...Que bom! – Lúcia tenta disfarçar – O Sérgio está com umas construções mais longe, lá pra São Pedro da Aldeia, Região dos Lagos, por isso quase não para em casa.Volta amanhã.
- Vou ligar pra ele. –Vitor lembra-se.
- Os meus pais vêm passar o Natal e fim de ano com a gente. - conta Lúcia animada.
- Que ótimo! Gosto muito do seu pai! Que vitalidade! Incentive o Ivan a conversar mais com o avô e fique de olho nele quando começarem as aulas. O estudo é a maior herança para os filhos.
O tempo passa e chega a hora das despedidas. Suzana se dirige a Vitor e fala:
- Gente, nós precisamos ter mais festas como esta –Helena entusiasma-se.
- Tem razão, Lelê - Heloísa concorda.
- Agora temos que ir, queridas –Soraya chama – Amanhã teremos visitas.
- Ai...Quem serão? – indaga Suzana com um tom desanimado
- Vamos esperar pra ver. – argumenta Soraya – Seu pai disse que era um empresário amigo dele com o filho e os sobrinhos.
- É...Vamos esperar pra ver. – concorda Suzana conformando-se.
- Que Deus acampe os anjos em volta de todos e guarde a chegada à casa, em nome de Jesus, amém. – ora Vitor.
- Amém – respondem todos.
Todos se despedem e enquanto Bertinha e Celinha, com os respectivos maridos arrumam a sala, enquanto Vitor e Helena conversam na cozinha:
- Lelê.
- Oi, amor?
- Estou preocupado...Vejo as famílias de meus irmãos com tantos problemas.
- Querido, problemas, todos nós temos, o que seus irmãos não têm é Jesus.
- A Sandra demonstrou muita apreensão em relação à Suzana e ao Daniel. Disse que o irmão não para em casa desde que entrou em férias da faculdade e a Lolô disse que o acha muito desinteressado.
- Ela comentou. O Paulo é que se cuide!
- É o que mais me entristece. Os dois não se entendem mais. Não vejo mais carinho, união.
- É, amor. O inimigo veio pra matar, roubar e destruir e está atuando direto na vida dos seus irmãos.
- A Suzana tá com o sono muito agitado e tem sido muito inconstante.
- Isto a Lolô já havia comentado comigo.
- Ela tá oprimida. Temos que orar muito Lelê.
- Com certeza!
- Eu também me preocupo com o Ivan, precisaria ter um pai mais presente. Está cada vez mais viciado nos joguinhos de computador, vive num mundo à parte.
- Sei. Ah, não vamos esquecer do desfile, né?
- Ah, claro! Já pensou aquelas três gatas desfilando? – gaba-se Vitor.
- Como somos corujas né Vi?
- Não sobra um pouco pros filhos? Allan e os irmãos ouvem os comentários e perguntam
- E pros genros? Marcos e Reynaldo também reivindicam
- Mas é claro! – responde Vitor abrindo os braços. Todos se abraçam felizes.

5 comentários:

  1. Muito bonito o carinho de Vitor pelas sobrinhas.
    Engraçado,no passado a família de Vitor era a problemática,e no presente a familia dele é a mais pacífica,enquanto a vida dos irmãos,que antes era melhor,ficaram conturbadas.Que reviravolta!

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  2. Ola Vinicius!

    Graça e Paz!

    Vim conhecer seu espaço digital. Bom posts! A internet é um espaço precioso onde podemos falar de Jesus e discutir diferentes pontos de vista!

    Aproveitando, faço uma apresentação do meu blog:

    Genizah é um blog cristão diferente. Hilário e divertido, mas que não dispensa a seriedade na defesa do Evangelho. Uma mistura bem balanceada de humor, denuncia e artigos devocionais. No Genizah, você fica sabendo da última novidade do absurdário "gospel", mas também não falta material para inspiração e ótimas mensagens dos melhores pregadores. Genizah é um blog não denominacional apologético, com um time é formado por escritores, pastores, humoristas e chargistas cristãos.

    Aguardo sua visita. Vamos nos seguir!

    Abraços em Cristo e Paz!

    Danilo Fernandes

    http://www.genizahvirtual.com/

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  3. O comentário da Erika foi perfeito para o capítulo!

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  4. Errata: Mais uma vez reparei um erro que pela pressa de postar não foi corrigido: "Suzana se dirige a Vitor e fala". Deve ter sido suprimido do texto, pois antes de postar encurtei muitas coisas. Desculpem a falha, embora não tenha sido percebida pelos seguidores mais frequentes.

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  5. Não tenho palavras.... Faço das palavras da Erika as minhas.

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