segunda-feira, 15 de março de 2010

CAPÍTULO XV

SOFRIMENTOS MATERNOS
Suzana e Luciana bebem além da conta.
- Aquele gatinho da 2002, arrasta uma asa pra você, hein, Sú?
- Acho ele ridículo!
- Lindão é aquele ruivão da 3002, de olhos verdes! – Luciana referia-se a Rodrigo, o que irrita Suzana.
- Aquele idiota! Tá a fim de uma perua!
- Ih... Você tá a fim dele!
- Não enche! Vamos mudar de assunto!
- E aquele moreno de cabelo encaracolado que eu vi buscar você na escola?
- Ah.... O Bruno? Ele tem me ligado, tem ido lá em casa também. Ele é primo da Joana, aquela lourinha da 2001.
- Sú, dá um ponto maior pra ele. Ele deve estar a “finzão” de você, aproveita!
- Ah... Eu... Eu... – Suzana começa a chorar e Luciana fica com pena.
- Que foi Sú?
- Eu... Eu sou uma infeliz!
- Ah, Sú... – Luciana a consola – Você tem tantas coisas boas, motorista que leva você pra todo canto, aquele palácio que você mora, tem roupas bonitas, você é linda! Tá cheio de cara naquele colégio que baba por você!
- Eles só vêem beleza física em mim! Quem eu sou, do que eu gosto, o que eu sinto, ninguém quer saber! Nada do que eu tenho quer dizer felicidade, porque o amor do meu pai eu não tenho! – Suzana desata a chorar e Luciana também chora abraçada com ela.
- Eu te entendo. Tô naquele colégio, por que meu pai paga. Ele quase não aparece. Minha mãe também não liga pra mim.... Ela sai sem hora pra voltar... Eu me sinto tão só...
A travessura das duas amigas tem um desfecho triste, pois só intensifica as mágoas de ambas.
Em sua casa, Sandra conversa com Sônia:
- Minha mãe tá preocupada com o Dani.
- Ele sumiu outra vez?
- É...eu até tenho evitado de perguntar alguma coisa. Tô tão tensa. Sinto falta da companhia dele. Antes saía comigo, me buscava nas festas. Eu sei que ele tem outros interesses, os amigos da mesma idade. Agora, eu é que fico preocupada com esses sumiços. Parece até que eu sou mais velha que ele.
Luciana e Suzana dormem profundamente depois do porre. Acordam de madrugada de ressaca.
- Ai, Sú....que dor de cabeça!
- Nem fala...eu tô estourando!
- Eu tenho comprimidos aqui, vamos tomar.
As duas acham os comprimidos e tomam.
- Você tá sabendo a matéria? – Luciana indaga
- Mais ou menos. Ai, Lu...eu tô tão envergonhada!
- Não esquenta, Sú. Se você disse alguma besteira, eu também disse.
- Nós não dissemos besteiras. Falamos a verdade. Queria que tudo fosse mentira, mas não é.
- É...não adianta nada beber. A gente pensa mais ainda nos problemas.
- E eles aumentam. – Suzana completa o pensamento.
- Pior que é. – Luciana concorda.
- Vamos estudar um pouquinho mais amanhã? – Suzana sugere
- Um pouquinho mais? A gente quase não pegou nos livros!
- Se você quiser, pode ir lá em casa estudar comigo, minha mãe ofereceu.
- Vamos ver. Você tá com a ressaca estampada no rosto.
- Eu vou tomar um banho. Trouxe a minha “nécessaire”, passo um pouco de pó, base, vou ficar outra.
- Suzana, não vamos fazer mais isso. Eu tô arrependida de ter bebido, você também tá né?
- Tô, né...? Mas já bebi. Eu vou tomar um banho, depois você liga pra sua mãe e avisa pra ela que vai lá pra casa. Luciana liga para o celular da mãe que a autoriza a passar o fim de semana com Suzana. Alfredo vai buscá-las e como Suzana chega sem procurar as primas, Luciana pondera:
- Sú, você não vai chamar suas primas pra piscina?
- A Sandra tá tensa por causa de uma coisa...ah, deixa pra lá!
- Sú, pelo menos vamos chamar. Vai parecer que tamos esnobando.
Suzana e Luciana procuram por Sandra.
- Sandra, quer ir à piscina com a gente?
- Não obrigada.
- Vamos lá Sandra! – Luciana a anima.
- Fica pra outra vez.
- Você não vem Sônia? – Suzana convida
- Não, vou fazer companhia pra Sandra. – Sônia expressa um olhar de quem diz: “É o que você deveria fazer também.”
- Bem, tentei. – Suzana não dá muita importância.
Na piscina, Luciana observa Suzana, e pensa: “Ela é mais bonita do que eu, mais alta, mais “cadeiruda”. Os garotos correm atrás dela e ela ainda quer se manter pura. Tinha mais que aproveitar! Que otária!”
- Suzana... – Luciana a chama - Você tá como o “diabo gosta!”
- Ih, se o meu tio Vitor ouvisse você dizer isto....
- Ele diria o que?
- “Tá amarrado em nome de Jesus!”
- Ih, seu tio é crente, é?
- É.
- Sai fora! Ou melhor: tô fora!
- Ah, mas ele é muito legal!
- Ah, crente é tudo igual, com aquelas roupas fechadas, as mulheres com cabelo com coque, saias até o pé.
- Tá mal informada, querida. A minha tia Helena, mulher dele, usa o cabelo curto como a tia Helô que é irmã gêmea dela, usa calça comprida e até bermuda quando tá em casa.
- Então os crentes devem estar evoluindo!
Inesperadamente, aparece alguém na piscina que cumprimenta as garotas:
- Oi. – era Bruno.
- Oi! – Suzana exclama. – Que surprêsa!
- Ele é mesmo um “gataço!” – Luciana sussurra ainda dentro da piscina observando-o.
Suzana conversa com Bruno e Luciana observa seu interesse por ela. Quando Suzana se refresca na piscina, aproveita para falar com ele.
- Você conhece a Suzana há muito tempo? – Luciana pergunta
- Não muito. Ela passou o fim das férias em Angra. Eu também tenho uma casa lá.
- Eu nunca fui a Angra, gostaria de conhecer. – Luciana, insinua um convite.
- Se houver uma oportunidade, você pode ir lá com a Suzana.
- Ou até sozinha. – Luciana olha maliciosamente para Bruno.
- É... – Bruno entende e a olha com cumplicidade.
- A gente pode se conhecer melhor, vou deixar meu telefone. – Luciana oferece
- Tá, eu depois deixo o meu também.
Os dois conversam e Suzana, apesar de notar que se entrosaram muito rápido, não malicia.
Ao anoitecer, Bruno despede-se e Suzana, curiosa, pergunta à Luciana:
- O que vocês tavam conversando enquanto eu tava na piscina?
- Nada demais. Ele parece ser legal, Sú.
Apesar de desconfiar do verdadeiro teor da conversa, Suzana finge não se importar.
Durante a semana na escola, Suzana dá mais atenção à Luciana do que com suas primas, que sentem-se rejeitadas por ela.
Um dia, chegando da escola, Sandra pergunta à mãe:
- Mãe, será que é normal uma prima que se dá bem com outras primas, de repente se afastar?
- Já sei o que você tá pensando.
- Mas é normal, mãe?
- Sandra, a maioria dos adolescentes passa por fases. É auto-afirmação. Se a Suzana tá afastada de vocês, vai passar.
No decorrer das semanas, Daniel demonstra um comportamento cada vez mais agressivo, tanto em casa quanto no trabalho, chegando atrasado, saindo fora de hora. Heloísa continua observando à distância. Não pergunta mais nada ao filho, nem a Paulo, baseando-se nas informações de Telma. Depois de alguns dias, percebendo o controle, Daniel chega no horário. Um dia, Daniel pede à mãe:
- Mãe, eu não tô bem hoje, posso deixar de ir?
- Bem...claro, não precisa ir doente. O que você tem? – Heloísa percebe o filho febril, com o rosto muito rubro e fungando compulsivamente.
- Eu...eu...tô muito gripado.
- Tá, Dani. Olha, alimente-se direito, hein? Você tá muito magro.
- Tá...pode deixar.
Heloísa sai para trabalhar e Daniel fica em seu quarto fechado. Sente uma profunda angústia, chora deprimido e não quer ver ninguém. Ao chegar do colégio, Sandra sabe que o irmão está em casa e preocupa-se, batendo na porta de seu quarto:
- Dani...você tá bem?
- Eu tô bem, me deixa em paz!
- Dani, eu não queria incomodar, desculpa.
- Tá...eu só quero ficar sozinho.
Sandra vai até seu quarto e abre o diário, observando primeiramente os dizeres bíblicos: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos” (Lamentações, 3: 22); “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte.” (2 Coríntios, 12: 10).
Rio, 7 de março de 2002
Meu querido diário:
Mesmo não entendendo sempre o que estes versículos querem dizer, eu sinto que são para que eu reflita. Acho muito duro ser perseguido, ainda mais sentir prazer nisto. Se este Deus que tio Vitor tanto fala realmente existe, com tanta coisa acontecendo, com tantos desastres, assaltos, meu irmão tem sido protegido e se é assim, eu agradeço a Ele por isso. É redundante dizer que quando sou fraco sour forte. Terá uma explicação? Eu lembro que tio Vitor disse uma vez que as coisas de Deus parecem loucuras para os homens. Se é assim, então não vou me esforçar tanto pra entender. Só sei que meu irmão está sofrendo e queria ajudá-lo. Não sinto compreensão da parte do meu pai nem da minha mãe pra isso. Fico perdida por ver o Dani tão fechado, mas o que fazer? Que este Deus seja mesmo misericordioso.
Até a próxima,
Sandra.
No dia seguinte, deduzindo que Daniel ainda não estaria bem da “gripe”, Heloísa não o chama. O estado do jovem realmente não era bom, mas algo muito mais grave do que uma gripe. Tentando manter as aparências, ele vai até o escritório usando este como um esconderijo, onde pudesse valer-se da omissão do pai e driblar a esperteza da mãe. Liga para alguém de seu celular, escondido no banheiro.
- Alô? Sou eu, cara, o Dani. Cara...eu tô na maior fissura! preciso agora! Depois te pago, eu prometo! Por favor...eu preciso. Espera lá na esquina daquele botequim, do outro lado da rua.
Desesperado, Daniel sai da sala e prepara-se para sair ao encontro do traficante.
- Daniel, tá tudo bem? – pergunta Telma assustada, ao ver o rapaz saindo abruptamente da sala do pai.
- Tá .. tudo bem...por que não estaria?! – Daniel responde agressivo e sai apressado.
- Tá aqui, cara. – o traficante faz menção de entregar a droga, mas recua quando Daniel vai pegar, perguntando:
- E a substância? – referindo-se a dinheiro.
- Cara...eu te arranjo assim que puder.
- Eu tenho que prestar contas e você já tá devendo.
- A gente pensa num jeito depois.
- Tá, mas não esquece, a conta tá aumentando.
Daniel entra no banheiro do botequim próximo e cheira uma carreira inteira, deixando alguma quantidade para mais tarde. Pouco depois, encontra colegas na rua e bebem juntos. Sob o efeito da droga misturada com a bebida, o rapaz fica tonto e dentro do carro de um dos colegas, sai quando chega ao Arpoador.
- Preciso saltar, cara...preciso de ar!
Daniel Salta do carro, completamente desatinado. Vai até as pedras do Arpoador e olha o mar. De repente, o jovem começa a ter alucinações as ondas parecem formar monstros marinhos.
- Nãaaaaaaaaaaao! Socorro!! Daniel grita e corre
- Dani...que foi? – pergunta um dos amigos.
- Olha lá! Não deixa me pegarem! Nãaaao!
- Dani, sossega, vamos pro carro.
Daniel olha para o carro e o vê como um dragão cuspindo fogo
- Nãaaaaaaaaaao! Eu não entro aí! Ele quer me engolir! Nãaaaaaaaaaao!
- Tá paranóico, cara? Usou muita quantidade! Tá alucinado! V’ambora!
- Nãaaaaaaao! – Daniel sai correndo e os outros desistem, indo embora.
Tomado pela droga, Daniel fica perdido pelas ruas. As imagens se transformam, os carros parecem aumentar e diminuir. O rapaz quase é atropelado pois sua mente confusa tira-lhe totalmente o discernimento entre o real e o imaginário.
- Tá cego?! – grita irritado um motorista que freia bruscamente.
Daniel não consegue articular uma frase completa, fala palavras soltas, começa a falar em inglês e português ao mesmo tempo. Pessoas passam espantadas o vendo rir e de repente chorar.
No Solar Castelli, Heloísa tenta se controlar por causa de Sandra. Passa–se a 6ª feira e no sábado não há sinal de Daniel. Heloísa tranqüiliza a filha fazendo-a pensar que o irmão teria ido trabalhar e que saíra no fim de semana.
- Mãe. – Sandra chama Heloísa.
- Eu queria pedir licença pra ir à uma festa com as meninas.
- Onde é?
- Na casa de uma amiga do Bruno.
- Ah...o outro pretendente da Suzana. Eu deixo vocês lá.
- O Alfredo pode levar.
- Tá, mas eu vou pra acompanhar.
Heloísa deixa as meninas no local, volta e aguarda alguma notícia, pois Paulo havia ido a um jantar de negócios num restaurante. Pouco depois que chega, Heloísa recebe um telefonema de Aurélio, que se mostra muito solícito:
- Heloísa, eu não quero me meter, mas sei que está preocupada com o Daniel, pois já vi a Telma conversando com você. Ela é muito discreta, não fala nada, mas quero ajudar da mesma forma que ela.
- Fale Aurélio.
- O Daniel procura se valer de ser filho de um dos sócios para justificar seu procedimento até um certo ponto desafiador.
- Eu sei. Ele chega atrasado. Deve até estar faltando, saindo antes do horário.
- Aliás, ele saiu anteontem, não sei se foi pra almoçar e sumiu.
- Eu sei, Aurélio. Sei que não apareceu ontem, a Telma me mantem informada.
- Mas outras coisas também estão me preocupando.
- O que?
- Heloísa, o Daniel está com alguma alergia?
- Por quê?
- Ele está sempre fungando, com os olhos vermelhos.
- Sei... – Heloísa desconfia do que Aurélio procura dizer, mas tenta não expor demais o filho.
- Ele às vezes parece cansado demais também. Pode estar doente.
- Eu agradeço a sua preocupação, Aurélio. Vou pensar em quais providências devo tomar..
- Se precisar, estou aqui para ajudar.
- Muito obrigada. Se perceber mais alguma coisa de estranho, fale, por favor.
- Claro. Tchau.
- Tchau.
A experiência de Heloísa como ex-enfermeira e assistente social em exercício confirmava-lhe que o filho estava envolvido com drogas. Contando com um novo desaparecimento do jovem, traça um plano de ação.
Naquela mesma noite, chegando em casa, Rodrigo recebe um telefonema.
- Alô.
- Rodrigo.
- Quem é?
- Não reconheceu minha voz? Sou eu, a Adriana.
- Ah, oi, tudo bem?
- Que bom que você tá em casa. Quero te convidar pra uma festa.
- Ah...eu tô meio cansado.
- Ah, Rodrigo...se anima, vai! Vamos lá, é na casa de uma amiga minha. Eu vou aí com meu motorista te buscar.
- Tá...
Rodrigo aceita o convite para não ser indelicado. Em pouco mais de meia hora, chega Adriana com o motorista e os dois vão à festa. Como em toda festa de jovens, tudo está escuro, com música alta, luzes de várias cores. Rodrigo observa várias garotas cujos rostos não consegue enxergar bem pelos movimentos acelerados da dança e devido à escuridão. Percebe uma dançando com muita desenvoltura, repara que está trajada com um conjunto de blusa e calça, pretos, seus cabelos são longos e negros. Só não vê seu rosto. Toca uma música mais lenta e os pares que dançavam separados se unem abraçados. Fugindo da regra, Adriana convida Rodrigo:
- Me dá o prazer desta dança?
- Claro.
Os dois dançam e Adriana enlaça o pescoço de Rodrigo com seus braços e encosta a cabeça em seu ombro, fazendo questão de ficar bem perto da garota morena que também dançava a canção lenta com um garoto moreno de cabelos encaracolados. Para a surpresa não de Adriana, mas de Rodrigo, o referido par é formado por Suzana e Bruno e num dado momento, os dois se reconhecem e se olham surpresos. Sentimentos confusos vêm à tona nos olhares de ambos: ciúme, mágoa. Os dois tornam a olhar para os seus pares, fingindo não estarem se importando. Sandra e Sônia que haviam parado um pouco, observam:
- Sônia...você viu quem tá aqui?
- Não só quem, mas com quem está. Esta garota tá querendo atrapalhar os dois desde Angra.
- Não é só ela, Sônia. Os dois também estão complicando muito as coisas. Se eles querem namorar, tem mais é que assumir isto, deixar de ser inseguros. No colégio já se viram e quase não se falam, não param pra ter um papo aberto, franco. Não sei por que tanto medo!
- Ah, assim como ele tá aqui, os primos dele podiam estar também. – Sônia lamenta
- Pois é...mas se ele veio aqui com essa garota, é por que não interessava que eles viessem.
- Que que ela tinha que estar aqui?
- Sônia, ele deve ter vindo com ela.
- Mas ele não devia saber que a Suzana estaria aqui.
- É, mas se ele entendesse melhor os próprios sentimentos, não teria vindo. Agora ele veio com ela, viu a Suzana dançando com o Bruno, tá cheio de ciúmes e ela também, porque eu reparei os olhares.
- Nossa priminha também é complicada, né? – analisa Sônia.
- É, mas o Rodrigo não tá ficando muito atrás, não. Deve ser a primeira vez que ele realmente tá gostando de uma garota, por isso tá inseguro. Se essa Adriana olhar pra outro, ele nem vai se tocar. Ele tá só usando a garota pra fazer ciúmes na Suzana e ela tá se divertindo com ele. Ela vai com o primeiro que estiver a fim.
- Eu acho esta garota uma metida. – Sônia comenta
- É uma ridícula, uma “empata”. – Sandra acrescenta
- Ainda bem que a tia Soraya disse que ela só iria se a gente também viesse. –Sônia lembra.
- Ela que experimente pagar algum mico aqui. Não vou livrar a cara dela desta vez! - Sandra afirma decidida.
Os complicados adolescentes, permanecem com seus pares, numa provocação mútua.
- Vamos parar um pouco. – Rodrigo pede a Adriana sentindo um incômodo, indo para outro canto da casa com ela.
- Que foi? – Adriana pergunta cinicamente, pois no íntimo sabe porquê Rodrigo queria afastar-se do local.
- Tá um pouco quente, vamos lá pra fora?
- Como quiser. – Adriana aceita com um ar de vitoriosa.
Embora tenha reparado o afastamento de Rodrigo, Suzana continua dançando com Bruno, fingindo não estar se importando, mas no íntimo perguntava-se: “O que eles estarão fazendo lá fora?”
- Esses dois não tomam jeito mesmo! – Sandra comenta com Sônia – Estão loucos pra ficar um com o outro, mas deixam a insegurança tomar conta deles e preferem ficar neste “joguinho”.
Suzana decide parar um pouco e sem ser notada, procura um lugar de onde pudesse enxergar Adriana e Rodrigo. De uma janela vê os dois juntos perto de uma árvore do jardim da casa e percebe o quanto Adriana está perto de Rodrigo, que está encostado na árvore enquanto ela acaricia seus cabelos. Os dois parecem mais íntimos. Suzana volta para o salão onde estão dançando e encontra Sandra.
- Você, hein? – Sandra expressa no olhar uma reprovação para a prima.
- Eu hein o que?
- Me dá este copo!
- Dá um tempo, Sandra, é só coca!
- Ah, pior que é! - Sandra observa - Você e o Rodrigo são dois otários! Podiam estar juntos numa boa e ficam com ciúmes um do outro, feito dois panacas!
- Sandra, eu não tô com ciúmes de ninguém! Tô a fim de me divertir! Me deixa em paz!
Suzana tranca-se no banheiro com o copo de coca-cola e tira do bolso da calça uma garrafinha de plástico com geen. Mistura no copo e vira. Como estava de estômago vazio, a bebida faz logo efeito. Suzana volta ao salão e dança com um jeito mais frenético e chama a atenção das primas.
- Você não tá achando ela estranha? – Sônia indaga.
- Eu agora acho a Suzana sempre estranha, cada vez mais.
- Ela não tá nada bem, olha como ela dança: dando piruetas se jogando em cima do Bruno. Será que ela bebeu?
- Eu não vi, mas se eu tiver uma prova de que sim, ela vai ver só!
- Suzana! Para agora! Você não tá me enganando, eu sei que você bebeu! – Sandra agarra-lhe tentando contê-la.
- Me solta! – Suzana desvencilha-se da prima agressivamente – Que saco! Eu preciso de ar, quero respirar! Você parece uma fiscal! Vou pra fora, quero sossego!
Suzana sai correndo e chama a atenção dos outros que estão perto pelo seu modo grosseiro de falar.
- Tá tudo bem gente. Coisa que passa. – Sandra tranqüiliza a todos.
Suzana passa pelo jardim e vê Adriana cada vez mais próxima de Rodrigo, que embora atraído, não para de pensar em Suzana que os vê e fora de si, provoca os dois.
- Aproveita bem a perua ô garanhão!
- Tá com inveja é? – Adriana também provoca.
- Eu?! Sai fora! Tô muito bem acompanhada!
- Suzana. – Bruno a chama, vindo atrás dela – Suas primas estão te procurando.
- É? Pois agora é que não vão achar!
- Suzana! – Bruno chama, enquanto a menina corre.
- Cadê a Suzana? – Sandra chega com Sônia aflita procurando a prima.
- Eu cheguei aqui e quando falei que vocês a estavam procurando ela correu.
- Ela vai se ver com a mãe dela! Vou ligar pra ela agora! – Sandra decide
- Sandra, não faz isto, vai ficar mal pra mim. – Bruno argumenta.
- Não vai ficar mal pra você, a culpa foi dela. Ela bebeu escondido e vai sofrer as conseqüências.
Suzana desafia a todos subindo em um poste de luz, preso a um pedestal e fica rodopiando neste gritando:
- UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
- Suzana! Desce daí! – Sandra ordena.
Suzana faz caretas põe a língua para fora e continua a rodopiar quando de repente, sente-se mal.
- Ai, vou descer...ninguém me segue. – Suzana sai correndo
- Ela deve estar passando mal. Já começou a sentir vergonha. – Sandra deduz.
Suzana demora a voltar. Bruno vai com as meninas procurá-la e a encontra desmaiada depois de ter vomitado.
- Ai, que horror! – Sônia fica impressionada ao ver a situação da prima.
- Suzana... – Bruno a chama baixo e ela não responde. Pega-a no colo e a leva para dentro.
Felizmente na festa estava um médico, tio da aniversariante que medica Suzana e adverte:
- Ainda bem que ela vomitou, assim ficou livre da intoxicação. Mais um pouco entraria em coma alcoólica.
Sandra fica indignada com a prima e pensa em contar à Soraya, mas antes fala com Alfredo que esperava:
- Alfredo, por favor, fala com a minha mãe que a festa vai durar até amanhecer.
Sabendo mais detalhes do ocorrido, Alfredo comunica-se com Soraya, que vai até o local. Quando chega, Soraya controla-se ao ver a filha dormindo e a chama em tom de voz baixo cutucando-a de leve:
- Suzana...Suzana...
- Hum...- Suzana geme, virando-se sem se dar conta de quem a está chamando e quando consegue abrir os olhos, espanta-se ao ver a mãe.
- Mãe...? O que...você tá fazendo aqui?
- A pergunta deveria ser minha, né? O que você está fazendo aqui, nestas condições? Eu estou sabendo de tudo. Primeiramente, informo que você foi “salva pelo gongo” pois seu pai viajou a negócios pra São Paulo e minha intuição falou mais alto, já que mais uma vez me neguei a ir com ele. Em segundo lugar, tão cedo você não sai, nem vai a nenhuma outra festa.
- Mãe...por favor, não briga comigo...tô com tanta dor de cabeça...
- Seria estranho se não estivesse! Vai curar a ressaca e pensar bem no mico que pagou! Você traiu minha confiança.
Sem argumentos, Suzana vai para casa com a mãe no carro desta, enquanto Sandra e Sônia vão com Alfredo.
Enquanto isso no Solar Castelli, Paulo recebe um telefonema:
- Alô? Sim, sou eu. O quê? – Paulo tenta disfarçar, pois Heloísa está por perto.
- Sim..eu vou pra aí agora.
- Pra onde você vai? – Heloísa inquere.
- Coisa particular.
- Deve ser muito particular pelo jeito, pra você sair com tanta pressa e não querer me dizer. – Heloísa ironiza.
- Ah, Helô, não começa! - Paulo apressa-se e dirige-se à porta.
Daniel fôra autuado por porte de drogas. Paulo dá à polícia uma quantia muito maior do que a de uma fiança. Daniel foi encontrado completamente desvairado, sujo e visivelmente alterado pelo efeito de drogas.
Heloísa vê Paulo perto do portão de entrada do Solar sair com o carro e o filho dirigir-se à entrada de casa. Antes que Daniel a veja, telefona:
- Ele está aqui, venham depressa.
Ao vê-lo entrar no quarto, Heloísa rapidamente o tranca.
- Mãe! Você tá louca?! Abre esta porta! – Daniel soca a porta várias vezes e como a mãe não atende, implora:
- Mãe, não faz isto comigo! Por favor, abre a porta!! Abre! – Daniel volta a socar a porta raivoso e ameaça:
- Não vai abrir? Então vou pular pela janela!
Daniel se dirige à janela que está com grades.
- O que é isso?! Você quer me manter prisioneiro?! Eu vou quebrar tudo aqui!
Daniel não tem tempo de realizar a ameaça, pois neste exato momento entra uma equipe de enfermeiros muito experiente nestes casos e o detem amarrando-o sob protestos:
- Me solta! Socorro! Nãaaaaaaao!!
Daniel debate-se gritando, e ao ver a mãe do lado de fora da mansão, grita:
- Mãe!! Não faz isto comigo!! Por favor mãe!
Heloísa tenta se conter enquanto assiste à cena que era até então a pior de sua vida. Após ver o filho entrar na ambulância, dá vazão às suas lágrimas. Todos os ressentimentos do passado em relação a Paulo vêm à sua mente. Caminhando pelos jardins, vê Soraya e percebe a tristeza da cunhada. As duas mães sofrem pelos filhos e se unem mais ainda naquele momento.
- Helô...eu vi tudo. Lamento muito.
Heloísa joga-se nos braços da cunhada aos e as duas permanecem alguns minutos abraçadas aos prantos.
- Eu me consolo com você, Helô, a Suzana deu um vexame na festa. Tomou o maior porre.
- Ai, Soraya...
- Eu percebia o jeito do Daniel, mas não pensava que ele pudesse chegar a tanto. Ele tá usando drogas, né?
- Tá...o pai tava tentando me enganar, só que eu já tava na mira daquele menino há muito tempo e aos poucos, pela minha experiência fui percebendo os sintomas. A gente nunca quer acreditar que possa acontecer com um filho, mas a realidade é muito mais dura do que se possa imaginar. No início há uma falsa sensação de bem estar, mas depois, tudo muda: instabilidade de humor, depressão e o físico, a magreza, apresentam as conseqüências do vício. Ele usava óculos escuros constantemente pra disfarçar os olhos vermelhos. Acho que tava usando drogas só por inalação, porque o nariz dele escorria constantemente. Eu nunca percebi os braços com marcas de picadas.
De repente, aparece Sandra chorando e olha para a mãe com um ar de revolta.
- Por quê, mãe?
- Sandra, minha filha, não tenha raiva da sua mãe, eu estou sofrendo muito, mas não houve outro jeito.
- A pessoa quando tá dominada pela droga, perde a noção de tudo, fica violenta e os familiares são muito atingidos. Ele tava entrando num estágio que ficaria cada vez mais perigoso se alguém não tomasse alguma atitude. – Soraya explica
- Meu irmão... – Sandra começa a chorar compulsivamente e Heloísa chega-se à filha.
- Sandra, minha filha, vem cá com a mamãe, procura entender.
- Mãe, é demais pra mim! A Suzana faz aquele fiasco na festa, eu chego aqui ainda preocupada com ela e vejo aquela cena!
- Teria sido muito pior se eu não fizesse o que fiz. Você também não desconfiava que ele estava usando drogas?
- Até tava, mas eu acho que não queria aceitar que pudesse acontecer com ele.
- Eu também me senti assim, filha. A gente não nunca quer aceitar quando é alguém tão próximo da gente.
- Mãe, por quê você era tão dura com ele?
- Eu posso ter errado, não sou perfeita, filha, mas eu tinha que exigir um posicionamento dele.
- Sandra, querida, não é o momento de cobrar tanto da sua mãe. – Soraya argumenta – Todos nós erramos. Eu acho que não fui tão atenta à Suzana. Ela também tá com um vício.
- Mas o Dani tá usando drogas, é muito pior!
- Nem tanto, querida. A diferença é que o álcool é lícito, além dela ser muito menina. – Heloísa analisa.
Como se nada houvesse ocorrido, Paulo aparece mais tarde em casa e encontra Heloísa.
- Oi. – Paulo a cumprimenta e joga-se na poltrona.
- Oi?! É isto que você tem pra me dizer?
- Ih, Helô! Que é que há desta vez? – Paulo levanta-se bruscamente, tentando se livrar da espôsa.
- O que é que há é que quando você ainda tá “catando o milho, eu já fiz dez bolos de fubá!”
- Eu hein?
- Seu calhorda! Seu filho tá internado numa clínica para dependentes químicos! Seu...seu... “Judas Iscariotes!”
- Que é isso?!
- Eu tô cheia! Cartas na mesa! Eu sei o que você fez e faz até hoje de negócios excusos!
- Você tá blefando!
- Pensa que eu não tenho meus meios, que não sei por quê tanta questão de ser procurador do meu pai?
- Me deixa em paz, mulher!
- Não agüenta ser desmascarado, né? A partir de hoje, pode dormir em qualquer lugar desta casa, menos na minha cama! Não durmo com um “Judas Iscariotes” que abre contas nos nomes de outros, em pessoa jurídica, até na Suíça, pra não descobrirem os cambalachos que faz! Eu sempre soube de tudo!
Os dias passam e Heloísa tenta saber do filho indo à clínica. Este, porém, muito revoltado, não quer ver a mãe. Ao chegar em casa, encontra Sandra, que espera notícias do irmão.
- Mãe, e aí?
- Ele tá melhor, não quis me ver, mas escreveu um bilhete pra você. Eu não li. Ele te ama muito, Sandra.
Heloísa entrega-lhe um bilhete e ela lê, impressionada com a letra tremida do irmão:
Maninha
Estou com muita saudade e muito triste pois sei que te magoei. Me perdoe...é mais forte do que eu...estou sofrendo mais ainda pelo mal que te causei...
Eu quero através deste bilhete que estou escrevendo com muita dificuldade – e a minha letra demonstra isto – pedir que você não deixe de festejar seus 15 anos. Por favor, me dá este presente! Mesmo que eu não esteja pra dançar a valsa com você, eu peço, neste meu momento de sanidade, pois você é muito importante pra mim e...eu tenho até vergonha de ter sido tão mau irmão, deixando você preocupada e triste. Apesar de parecer um tremendo egoísta, eu te amo! Vou parar de escrever porque não consigo parar de chorar.
Até breve, do irmão que te ama e te pede perdão,
Dani.
- Mãe, ele quer que eu festeje os meus 15 anos, ele tá pedindo isso na carta.
- Você quer? Eu já tratei de quase tudo, está tão perto. Mas não quero que se sinta forçada.
- Por ele, eu aceito. Quem sabe ele não vai poder vir?
- Não sei...
Naquele mesmo fim de semana ao fim da tarde, Elisa aparece com o marido Josué e a filha Ester na casa de Vitor. Elisa percebe que algo não está bem e Helena conta sobre a internação de Daniel.
- E o Paulo nesta história? – Elisa questiona
- É como Lolô mesma diz, ele é um bananão! Ele tava percebendo, mas não agia.
- Em parte entendo a Lolô, mas ela não tem razão em tudo! Muito antes disso ela já humilhava o Paulo! Ele nunca foi um santinho, mas ela também já vacilou e muito!
- Os dois erraram. Podiam até ter se separado e não o fizeram por causa dos filhos.
- Antes da Sandra nascer as coisas já não tavam bem entre os dois. Ela veio durante uma trégua.
- Também não exagera, Elisa.
- Lelê, quantas idas e voltas eles tiveram? As viagens de negócios do Paulo eram só pretextos.
- Sei que minha irmã não tem gênio fácil, mas ela levou adiante o casamento. Eles estão aí, juntos depois de quase 25 anos.
- É...só que vivendo uma farsa.
- Eu tenho pena da minha irmã. Ela precisa ter uma experiência com Deus.
- A palavra de Deus já diz que: “Não há profeta sem honra, senão na sua pátria, entre os seus parentes, e na sua casa. (Marcos 6 : 4-b). Vamos continuar orando, Lelê.
- Elisa, como se não bastasse, a Suzana tá dando pra beber.
- No aniversário dela eu achei que ela tava dando uns goles a mais no champanhe. Felizmente a Bertinha e a Celinha deram um jeito.
- Ela ainda vai conhecer Jesus - Helena afirma
No Solar Castelli, os preparativos para o Debut de Sandra se intensificam.
Heloísa era informada sobre o estado de Daniel através dos médicos. Ele apresenta melhoras, segue uma medicação e é bem tratado pelas enfermeiras. Uma delas, fica mais íntima do rapaz.
- Oi Daniel – a enfermeira o cumprimenta.
- Oi, Eliana. Sempre linda.
- Você precisa se controlar. Os médicos podem desconfiar, eu tenho que dar atenção a todos os pacientes.
- Eu sou especial. Eliana, só agüento esta prisão por sua causa.
- Aqui não é prisão, Dani. Você tem sido liberado do quarto, tem saído pra ver TV, até já comeu no refeitório.
- Mas eu queria sair. Só posso contar com você. Me ajuda, se não, eu juro que me mato.
Aproveitando-se da inexperiência da recém-formada enfermeira, Daniel conquista sua confiança, conseguindo armar um plano:
- Então vai ser assim: no dia do aniversário da minha irmã.
- Tá Dani. Mas não bota meu nome nisso! Eu só vou te ajudar porque tô louca por você.