sábado, 12 de junho de 2010

CAPÍTULO XXII

REENCONTRO
Inicia-se a semana de aulas e Suzana além de pegar mais duro nos estudos ajudada pelas primas, treina a coreografia para a gincana do colégio. Sandra, Sônia e Rodrigo insistem e Suzana também se inscreve para cantar.
- Sandra, eu tô tão nervosa!
- Não sei por quê.
- Ah, Sandra, se põe no meu lugar, vou cantar prum povão!
- Mas Suzana, você consegue, basta treinar e na hora esquecer que tem uma multidão assistindo.
- Ai...será que eu consigo?
- Lembra das vezes que você cantou pra outras pessoas, inclusive lá no retiro que a gente foi?
- Mas foi diferente, tinha muito menos gente. Foi na brincadeira.
- Mas você não conhecia muitos deles, lá no colégio vai muita gente que você conhece e vai torcer por você.
- Muita gente invejosa também.
- Esquece os invejosos.
- Ai, eu to tão cansada, tô tensa, vou tomar um banho.
- Vai, vai relaxar.
Enquanto Suzana sobe, toca o telefone para Soraya.
- Alô?
- Dona Soraya?
- Rodrigo! Que honra para uma “pobre marquesa,” querido!
- Quê?! – Rodrigo ri
- Uma brincadeira de família! Você parece querer me consultar, senão teria ligado direto pra Suzana, tô certa?
- Certíssima.
- Então, em que posso lhe ser útil?
- Bem...a minha mãe voltou.
- Enfim, poderei conhecê-la.
- Pois é...
- Mas, você parece meio sem jeito.
- É que...
- É que...o quê? Não precisa ficar sem jeito, nós somos amigos, ou não somos?
- Claro!
- Então, fala querido.
- No dia 15 é meu aniversário e eu não vou fazer festa, pensei em dar um jantar e gostaria de convidar a senhora e o Dr. Genaro, mas a Suzana fica tão retraída na presença do pai.
- Querido, eu entendo e agradeço a sua confiança em mim. Você tem receio de magoar a mim e também ao Genaro, mas eu confirmo o que você colocou. Ela não é espontânea quando está perto do pai.
- Eu preferi falar primeiro com a senhora, porque minha mãe ia achar indelicado não convidar vocês. Ela disse que eu pensasse no que queria fazer, depois falasse com ela. Eu confesso que também fiquei preocupado porque quero muito que ela venha e eu pensei em pedir à minha mãe que não sirva bebida alcoólica. Entende?
- Sei...Rodrigo, eu aprecio muito a sua dedicação, sua preocupação. Aliás, não me chame mais de senhora, vamos deixar as formalidades de lado, tá?
- Tá.
- Vamos fazer assim: você chama a Suzana primeiro, pro seu aniversário. Eu e Genaro vamos noutra ocasião.
- Tá. Eu vou convidar os meus primos e pensei em chamar as meninas.
- Boa déia. Ela vai se sentir mais à vontade com as primas. Você é bastante sensível, meus parabéns.
- Obrigado.
- Liga pra ela. Ela tá no quarto.
Rodrigo liga imediatamente para Suzana que atende apressada depois de colocar o roupão.
- Alô?
- Suzana?
- Oi.
- Você tava ocupada? Tá ofegante.
- Eu tava saindo do banho. Tava colocando o roupão quando o telefone tocou.
- E aí? Tá animada pra festa do colégio, pra gincana?
- Ai...nem fala...tô num nervoso!
- Eu tenho um convite pra fazer que é mais do que um convite, é uma intimação.
- Hein?! Intimação?! – Suzana espanta-se embora ache graça
- Você e suas primas estão convidadas pra jantar aqui no dia 15, meu aniversário. O Rick e o Rê também vem.
- Ah.. ‘brigada...a gente vai sim!
- Você vai conhecer minha mãe. Ela chegou. O meu pai também.
- Ai...mais um motivo pra nervosismo.
- O meu pai é um pouco mais formal, mas sabe receber bem. Minha mãe vai gostar muito de você, eu tenho certeza e você também dela. Ela vai te deixar bem à vontade.
- Se as minhas primas também estão convidadas, eu acho que vou descontrair mais.
- Com certeza. Eu sabia disto. Tá vendo como eu te conheço?
- É...esperto!
E onde estaria Daniel? Sem rumo, ora pelas ruas, ora em casa de companheiros de vício. Encontra um destes, Gustavo, num dos momentos de alguma sobriedade, enquanto a ansiedade pela droga ainda não o domina:
- Cara, eu estive com ela.
- Com ela, quem?
- Com a minha gata.
- Qual delas?
- A minha gata, ora!
- Ah, Dani! ‘Cê tá querendo me dizer que tá com uma gata só, depois do que eu vi nas festas que a gente foi?
- Ah, você não entende!
- Dani, cara, ‘cê continua o mesmo “pegador”, nós nos divertimos bem da última vez, ou ‘cê não tá lembrado?
- Eu sei...na hora eu curti, mas depois...senti um vazio. Não se compara com o que eu sinto quando tô com ela.
- Então ela deve ser ótima naquelas horas!
- Não é só “naquelas horas”. Ela é especial.
- Então você quer dizer que com as outras é só sexo e ela você ama? – Gustavo fala com tom debochado.
- Cê pode zoar, cara, mas eu nunca senti por ninguém o que sinto por ela.
- Cê tá com falta de combustível. Vamo pegar um estoque? - Gustavo quer dizer uma quantidade de droga
- Onde?! – Daniel praticamente transforma-se com o oferecimento, já que a droga ainda vencia o amor
- No ponto habitual.
- Tá com “substância?” – Daniel refere-se a dinheiro
- Pode deixar, cara, tô bancando. O seu trabalho vai ser só pegar
- Vamo nessa!
Chega o dia tão esperado por Rodrigo. Suzana e as primas se arrumam, todas escolhem blusas de cetim de mangas compridas, mesmos modelos, de cores diferentes. Suzana opta por uma azul-rei, Sandra, uma verde-escura e Sônia, grená. Para combinar, todas usam calças compridas pretas e os sapatos, também pretos de acordo com a altura de cada uma. Suzana fixa-se no espelho colocando rimel nos olhos.
- Sú... cê tá tremendo – Sandra observa
- Tô tão tensa.
- Quer que eu ajude? – Sandra oferece
- Precisa não...eu fico nervosa com alguém fazendo, prefiro fazer eu mesma.
- Vamos ficar de olho na hora, gente. – Sônia adverte
- É mesmo. – concorda Sandra.
- Ai, gente...será que eu tô bem? – pergunta Suzana apreensiva
- Cê tá ótima! – conforta Sandra – Gente, vamos usar casacos, vai ficar frio mais tarde.
Na hora de sair, Suzana despede-se dos pais
- Mãe, pai, nós já vamos.
- Tá filha, divirtam-se – Soraya deseja
- Eu tô bem? – pergunta Suzana um pouco insegura
- Tá um pouco “lambuzada”. – Genaro critica
- Genaro! – Soraya o repreende – Você tá ótima, filha. Você já é linda de natureza.
- ‘Brigada, mãe...Vamos então, gente?
- Vamos lá! – respondem quase ao mesmo tempo Sandra e Sônia
Enquanto isto, Rodrigo esperava ansioso, quase como um noivo no altar.
- Mãe, obrigado, você pensa em tudo. Elas estão demorando.
- Calma, cara. Devem estar chegando – Ricardo tranqüiliza o primo.
- Parece que você não sabe como é mulher pra se arrumar! – Renato observa
Neste exato momento as três chegam. Eneida, a mãe de Rodrigo, aos 52 anos é uma bela senhora, e muito simples. É um pouco gordinha, tem os cabelos ruivos como os do filho caçula e usa um vestido rosa shocking.
- Meu Deus! Você é linda! - Eneida fica impressionada com a beleza de Suzana.
- A senhora, como o seu filho, tá me deixando com vergonha.– Suzana ri de nervoso e fica rubra
- Ser linda não é vergonha pra ninguém, minha querida. Você devia estar nas passarelas! Ah! Desculpe, eu quase que não falava com vocês – Eneida se dá conta que não se dirigiu às outras – Vocês também são lindas! – cumprimenta-as e elas se apresentam:
- Eu sou a Sandra.
- Eu sou a Sônia
- Eu já conheço vocês de nome. O Rick e o Rê já deram a ficha toda.
- É? – Olha lá o que vocês falaram da gente, hein? – brinca Sandra
Suzana conquista de imediato Eneida. A conversa entre as duas transcorre como se já se conhecessem antes.
- Por que a senhora demorou tanto tempo de viagem? Eu queria tanto conhecê-la. O Rodrigo fala tanto da senhora.
- Eu tive que ficar mais tempo do que o previsto com a minha filha, lá em São Francisco. Ela têve uma gestação complicada, pressão alta. Meu marido também foi por um período, por isso que o meu caçulinha ficou aqui com os pais do Rick. Iam começar as aulas e ele tinha que ficar. Morri de saudades dele, dos meus outros filhos. Felizmente correu tudo bem.
- Que bom.
- Nós só estamos esperando meu marido, o César. Você também ainda não o conhece, né?
- Não. Vou ter o prazer.
O pai de Rodrigo chega e o jantar transcorre muito descontraído, pois Eneida, uma mãe que coruja muito o seu caçula, tudo faz para que seja uma noite inesquecível para ele.
- Suzana, o Rodrigo me disse que você canta.
- É...um pouco.
- Que um pouco, menina! Ele disse que você canta mesmo e que vai cantar na festa do colégio! Eu vou lá, viu?
- Você me paga! – Suzana brinca olhando atravessado para Rodrigo
- Você não quer dar uma canja? – Eneida pergunta
- Quê?! – Suzana estranha o termo
- Eu tô querendo dizer se você não quer cantar pra gente.
- Eu não me atrevo.
- Ah, canta! – Eneida insiste
- Ela tá escondendo o jogo, mãe. É que se ela cantar aqui pode quebrar os vidros!
- Ela canta lá fora! – Eneida dá a idéia
- Vamos Suzana, “não se avexe não, baião de dois!” – Rodrigo brinca
- Gente, vocês me pegam de jeito, hein? – Suzana novamente enrubesce
Lá fora, Suzana canta um trecho de “Bachianas nº 5” e Eneida se surpreende com sua voz.
Depois de conversarem um pouco mais, Eneida deixa os adolescentes a sós para que se sintam mais à vontade.
- Sua mãe é muito legal – Suzana comenta com Rodrigo
- Ela me paparica um bocado, né?
- Você tem sorte de ser o caçula.
- E você que é filha única?
- Eu sou paparicada pela minha mãe, mas quando ela tem que dar bronca, dá. Até dá castigo.
- E o seu pai, tá melhor com você?
- Mais ou menos.
- Como assim?
- Ah, hoje, pouco antes de eu vir pra cá, ele disse que eu tava um pouco “lambuzada”.
- Quê?! – Rodrigo espanta-se.
- Ele quis dizer: com maquiagem demais.
- Que nada! Um batonzinho básico, clarinho, dando um brilho nessa boquinha carnuda, linda que você tem, - Rodrigo toca suavemente com o dedo indicador no lábio inferior de Suzana - um pouquinho só de blush, - toca-lhe delicadamente a face com a ponta dos dedos - um pouquinho de rimel. Isto não é lambuzada.
- Pra ele é. Ele implica muito comigo! – Suzana dá um suspiro de desânimo
- Eu acho que ele tá chateado de não ter sido convidado.
- Também acho. Ouvi minha mãe conversando com ele que hoje era pra adolescentes. Se meu pai estivesse aqui, ia ser um saco! Ele ia me chamar a atenção o tempo todo.
- Bem, ele é seu pai e não tenho nada contra ele, mas, vamos esquecer dele. Vamos falar de nós dois.
- Ah...como assim?
- Suzana, para de fugir. – Rodrigo fala docemente
- Eu...tá ficando frio aqui, né?
- Eu vou te levar prum lugar mais quente.
- É? Onde?
- Vem comigo.
- Onde vocês estão indo? – pergunta Sandra, acompanhada por Ricardo, Sônia e Renato.
- Eu tava indo mostrar um lugar pra Suzana.
- Ah, então podem ir.
- Vocês podem ir também, mas cada um fica com seu par.
Rodrigo leva todos ao local já conhecido pelos seus primos que logo deduziram do que se tratava.
- Aqui é minha danceteria particular.
- Que máximo! – Suzana fica maravilhada ao ver o local todo equipado para dançar, com luzes coloridas. Logo todos se dispõem a usufruir, já que estão na idade das agitações.
- Te prepara, que ela vai te tirar o fôlego. – Sandra avisa a Rodrigo sobre a disposição da prima para dançar.
- Eu tenho reservas de oxigênio – responde Rodrigo motivando-se a seguir o “pique” da garota
Os pares se espalham, pois o espaço é grande. As meninas logo tiram os agasalhos, pois o clima vai esquentar. Suzana e Rodrigo demonstram mais energia, dançam sem parar as músicas iniciais que são mais agitadas. Depois as músicas que se intercalam são mais lentas e há a pausa, em que os casais dançam abraçados. Os braços de Rodrigo se abrem para Suzana e ela a princípio sente-se um pouco de retraída com o olhar verde dele mais penetrante. Em poucos minutos, enlevada pelo clima da música, Suzana relaxa nos braços de Rodrigo que suavemente beija seus cabelos negros. Os dois se entreolham e Suzana se permite olhar sem resistência e acontece um beijo, embora um pouco tímido da parte de Suzana, mas retribuindo o carinho de Rodrigo.
- Fato consumado. - sintetiza Sandra que para um pouco de dançar sentando-se ao lado de Ricardo.
- Com certeza – concorda ele.
O clima entre Suzana e Rodrigo está tão intenso que os outros apreciam encantados, pois o casal que já pode ser chamado de namorados se acerta depois de tantos desencontros. Os outros dois pares quase não falam e vão para outro canto, para deixá-los mais à vontade. Depois de algumas danças lentas e carícias, os dois dão pela falta dos outros.
- Cadê o pessoal? – Suzana pergunta
- Eles sentiram que cada par deve procurar seu canto particular.
- Por falar em canto particular, vamos lá pra fora?
- Acho que nós nos aquecemos bastante aqui, né?
Os dois vão para o jardim. Noutro canto, Sandra e Sônia observavam com seus respectivos pares e próximo à porta de casa, Eneida com o marido apreciava com satisfação aquele momento de ternura entre o filho e Suzana.
- Sú... – Rodrigo surpreende Suzana ao chamá-la por apelido
- Aprendeu com a Sandra?
- Seu nome é muito bonito, mas acho que de vez em quando vou gostar de chamar você por apelido.
- Pode chamar. O tio Vitor chama a tia Helena de Lelê.
- É o único que a chama assim né?
- O pai dela que era o avô da Sandra e do Daniel também chamava.
- Eu acho a família do seu tio muito bonita.
- A sua também é.
- É? ‘Brigado. Ainda vai haver oportunidade de você conhecer meus irmãos.
- Quando der, vou gostar muito.
- Minha mãe gostou mesmo de você. Eu não disse?
- Que bom. Eu senti que foi sincero da parte dela. Eu é que sou muito encabulada mesmo.
- Você tem seus momentos de extroversão. Só se encabula mais quando a gente repara na sua beleza, quando faz um elogio. Mas eu gosto do seu jeitinho.
- Eu...também gosto do seu. Não sei por quê eu não me dei a chance de conhecer você melhor antes.
Rodrigo se aproxima mais de Suzana e acaricia o seu rosto dando-lhe um beijo suave. Lá de longe, Eneida vibra comentando com o marido:
- Olha lá César! Os dois estão se beijando!
- Essa garotada não perde tempo.
- Mas pelo que o Rodrigo me contou, demorou pra engrenar.
- Agora eles estão dando a partida.
- E vão chegar com sucesso à linha de chegada!
Vivendo a liberação dos sentimentos, os adolescentes se olham com carinho.
- Pôxa...eu nem sei explicar o que eu tô sentindo. – Suzana o olha com ternura
- Não foi a primeira vez que eu te beijei. – Rodrigo lembra.
- É...mas...eu senti uma coisa diferente agora. Da outra vez eu fiquei abobalhada, fui pega de surpresa.
- Eu tô tão feliz de estar com você aqui, agora. Eu quero que você seja a única na minha vida.
- Você tá especialmente romântico hoje.
- Deve ser inspiração dos meus 17 anos. Eu sinto como se estivesse nascendo hoje.
- É ...Parece um recomeço.
- É o recomeço do começo que começou.
- Ai, Rodrigo! Que complicação!
- É...mas você entendeu, né?
- Entendi. – Suzana ri por um instante mas logo depois fica séria. Os dois se entreolham novamente com mais ternura e após breves afagos de um no rosto do outro, trocam mais beijos.
- Acho melhor nós entrarmos. – César aconselha Eneida - Quem é muito observado acaba percebendo. Vamos deixar os dois pombinhos à vontade.
- Ah...eu...vou entrar, mas é que eu tô achando tão lindo! Lembrei de nós dois quando namorávamos. Hoje em dia a garotada só quer ficar.
- É...parece um resgate aos bons tempos.
- César, desejo que dê certo mesmo, que eles sejam tão felizes como a gente é.
- Faço minhas as suas palavras.
Naquela madrugada ao chegar em casa, Suzana custa a dormir, tamanha é sua excitação com os últimos acontecimentos. Para chamar o sono e extravasar a ebulição que ocorre dentro de si, pega o diário no qual lê os dizeres bíblicos: “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões” (Provérbios, 10: 12); “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (1 Coríntios, 13: 1).
Rio, 16 de junho de 2002
Oi, Diário!
Foi aniversário do Rodrigo e eu fui à casa dele pela primeira vez. Meu pai achou que não tinha nada a ver,que os pais dele teriam que vir aqui primeiro, mas isto já tá fora de moda, como disse a minha mãe. Ela mesma achou melhor eu ir, assim, de uma maneira menos formal. Eu me senti tão mais livre sem o meu pai lá. Eu e o Rodrigo nos entendemos. Agora eu tenho a certeza dos meus sentimentos e dos dele. Os beijos que a gente trocou foram a confirmação. Rodrigo é um cara especial. Eu perdi tanto tempo, mas felizmente tudo passou. Foi aniversário do Rodrigo, mas eu ganhei o presente também. Quero ser um presente na vida dele. Parece que no momento certo a gente se reencontrou. TÔ TÃO FELIZ!!!
Té mais diário querido!
Suzana.
Suzana prepara-se para a gincana do colégio e intensifica os ensaios de coreografia e canto. Suas notas melhoram e tudo parece correr bem.
Sandra,apesar de ter o consolo de Ricardo que a ouve muito, continua triste por não saber nada sobre o irmão. Porém, a máfia do tráfico prossegue sua busca e após muita persistência, encontra uma pista.
- Chefe, eu to na pista do Dani Castelli!
- Então aquele celular serviu pra alguma coisa.
- Se serviu! Ele tá indo pra um ponto aqui perto.
- Vai lá, mas tenha tato. Se o cara estiver drogado vai ser melhor.
- Deixa comigo, chefe!
Experiente, o traficante que havia sido informado do local por outro usuário espera Daniel. Ao ver outro freqüentador, o interpela:
- Cara, espera um pouco.
- Qual é?
- Eu já vi você comprando aqui. Aquele lá, você conhece, né?
- O Dani Castelli?
- É. Tá a fim de fazer um negócio comigo?
- Que é?
- Eu tenho uma “neve quente” aqui da boa. Te dou em troca de um serviço.
- Assim não vai dar. Como é que eu vou saber se você tá falando sério?
- Tá, vamos fazer o seguinte: te dou uma quantidade menor agora, depois, a gente se encontra aqui.
- Fechado. Cadê?
- Toma aqui. Cuidado.
O traficante dá algumas instruções sobre o que pretende em relação a Daniel prometendo parceria ao rapaz e mais uma recompensa em quantidade de drogas. Aceitando o negócio, o rapaz logo depois vai até Daniel.
- Oi Dani.
- Oi...
- Cara, tá esquecido de mim?
- Ah, você é o...o...
- Cássio.
- Ah, cara! Desculpa eu não guardo nomes com facilidade, ainda mais aqui que aparece tanta gente.
- Cara, eu tenho uns lances pra você. Você já conseguiu droga?
- Tô pegando prum amigo com quem vou repartir.
- Pega a dele e a sua parte que depois eu vou ter mais pra você.
Obcecado em ter mais drogas, Daniel apressa-se para obter para o amigo e depois de despachá-lo, vai até Cássio.
- E aí, cara?
- Calma, cê tá abastecido. Espera um pouco pra outra dose.
- Tô muito a fim.
- Vamos prum lugar mais discreto.
Daniel o segue e num lugar de menor movimento os dois cheiram mais. Mais experiente, Cássio espera que Daniel esteja mais dominado para dar continuidade ao seu plano.
- Cara, cumé que tá a tua irmã?
- Não falo com ela há um tempo. Não tô querendo muito aparecer senão minha mãe pode descobrir a minha pista e me interna de novo.
- Cê ‘têve internado?
- Minha mãe mandou uns caras que me amarraram e me prenderam como se eu fosse um cão danado!
- Se quiser, pode usar meu celular.
- Ela pode avisar minha mãe, sei não...
- Já sei! No colégio dela!
- Mas alguém pode me ver.
- Eu procuro por ela e dou um bilhete seu.
Cássio consegue tocar no ponto fraco de Daniel. Ao encontrar o traficante, passa-lhe as últimas informações:
- E aí, cara, cumé que foi com o Dani Castelli?
- Tá no papo!
- Vai em frente. Cê tem que conquistar a confiança dele pra colocarmos o plano em ação.
- A confiança dele eu já conquistei, cara. Isto é mole! Nunca pensei que o Dani fosse tão otário!
- Pra enrolar a gente e o chefe até que ele não foi.
- É, mas eu já tive umas boas informações.
No Solar Castelli, as meninas estão entretidas com os ensaios para a gincana intercalados pelas emoções das vitórias do Brasil na Copa do mundo. As três primas estão mais unidas do que antes.
- Sandra, eu tô cada vez mais nervosa, mais ansiosa. – Suzana desabafa
- Você não tem motivo pra isto.
- Como não tenho?! A minha voz tem falhado quando eu ensaio, às vezes eu esqueço os passos da coreografia.
- Sú...pensa no Rodrigo e esquece os outros quando estiver se apresentando – sugere Sônia
- Ah, até parece que é fácil assim!
- Você vai arrasar, Sú! – Sandra a anima
- Sei não...
- E você Sandra, tá animada pra gincana? – Sônia pergunta
- Tô né...
- Não precisa nem dizer o porquê deste “tô” tão chôcho.
- Pois é...faz tempo que eu não tenho notícias dele.
- O seu pai não tem mais procurado? – Suzana indaga
- Tem, mas não tem dado resultado.
- Um dia ele volta Sandra – deduz Sônia – O tio Vitor conta muito uma história que tem na Bíblia, a “parábola do filho pródigo”, de um filho que abandonou a família, mas depois chegou à conclusão que tava errado e voltou pra casa.
- Sônia, estas histórias são muito bonitas, mas não dá pra comparar com os dias de hoje. Eu não acho que tudo que tá na Bíblia seja verdade. – avalia Sandra completamente discrente
- Mas tem mensagens de esperança. – Sônia procura animar a prima
- Gente...sei lá...acho que o Dani não quer voltar. Acho que ele tá com medo que descubram onde ele tá.
- Ele não vai conseguir ficar muito tempo sem dar notícias, Sandra – deduz Suzana
- Com certeza, priminha – concorda Sônia
Cássio continua em conchavo com os traficantes que arquitetam um plano minucioso para obter dinheiro além do que Daniel lhes deve. Várias reuniões se sucedem e este passa para o grupo as informações que obtém:
- E aí, ele conseguiu contactar com a irmã?
- Ainda não, mas já estou traçando o esquema.
Cássio vai com Daniel à escola de Sandra. Daniel esconde-se e Cássio aproxima-se com cuidado quando Sandra conversa com uma amiga:
- Você é Sandra, irmã do Daniel?
- Sou. Cumé que você sabe?
- Eu tenho um bilhete pra você. – Cássio entrega-lhe e sai.
Sandra abre o bilhete, pedindo licença para a amiga e lê silenciosamente:
Maninha
Desculpe por tanto tempo sem dar notícias. Estou bem. Não vou dizer onde estou, já que estou aqui e lá. não paro em lugar nenhum. Mas quero que saiba que estou bem.Quando puder, telefono.
Beijos, Dani.
Cássio conversa com Daniel:
- Cara, onde é que você morava?
- No Solar Castelli, no Recreio.
- Não sente vontade de voltar?
- Eu não! Minha mãe me internou e se eu voltar, me interna noutro lugar pior! Além disso, cansei daquela hipocrisia! O casamento dos meus pais é uma farsa. Tudo é falso lá, todos só pensam em dinheiro.
- Quem mais mora naquele Solar?
- Bem...tem três mansões: a do meu tio Genaro, do meu pai e do meu tio Sérgio.
- Peraí...seu tio, este primeiro que você falou...É o empresário Genaro Castelli?
- É.
- Ele deve ter mais dinheiro do que todos, né?
- Com certeza.
- Cara, ‘cê já pensou que podia se disfarçar e assaltar o cara?
- Ah, sei não. Ele tem seguranças.
- Muitos?
- Ah, uns dois, três, conforme a necessidade.
- Vão com ele pra todo canto?
- Mais quando ele viaja.
Depois de sondar Daniel, Cássio esquematiza um plano mais eficiente e assim orienta os traficantes:
- Se ele tem seguranças e circuito interno de TV em casa e no prédio da firma, os dois lugares estão eliminados.
- Cumé que a gente vai conseguir alguma coisa?
- Gente, eu tenho amigos na “polícia”
- Ah, já entendi. “Polícia!” – o comparsa entende ao que Cássio refere-se.
Um policial corrupto à paisana, faz a ronda nas proximidades do Solar Castelli informando aos traficantes os passos de Genaro para por o plano em ação.
Sandra, apreensiva conversa com Suzana:
- Daniel tem se comunicado com você?
- Não. Só deixou o bilhete dizendo que estava bem.
- Quem deu o bilhete?
- Um conhecido dele, eu nunca vi.
- Ele não vai agüentar muito tempo sem se comunicar.
- Mas ele some um tempão! Meu consolo até então é saber que ele tá vivo.