quarta-feira, 21 de abril de 2010

CAPÍTULO XVII

NÃO HÁ NADA OCULTO QUE NÃO VENHA A SER REVELADO
Reiniciando a semana de aulas, Suzana, ainda demonstra apatia, afastando-se das primas. No intervalo, está no vestiário se trocando para a hora da Educação física atrás da porta onde fica o vaso sanitário e ouve os comentários de suas colegas que não percebem sua presença:
- Você foi ao aniversário da Sandra?
- Fui. Você não foi né?
- Não deu. Fui à festa da minha prima.
- A Suzana sumiu, depois eu vi de longe o motorista dela ajudando. Ela tava no maior porre.
- Essa garota tá cada vez mais esquisita.
- Ela é uma otária! Tem vários caras atrás dela, mas ela nem se toca. O Rodrigo, acho que se cansou e tá dando ponto pra uma garota que já veio aqui várias vezes. Fica um “tempão ”conversando com ele na porta do colégio.
- Pois é. A Suzana tem também um cara atrás dela – um gatão por sinal – que também tem vindo aqui.
- Ela tem tantos atrás dela, que se fizesse assim, pra eles, - vinham correndo. - a menina faz um gesto com o dedo indicador como quem chama um animal de estimação
- É uma otária mesmo, não quer experimentar o que é bom.
- Deixa...sobra mais pra nós! – as duas riem juntas e enquanto isso toca o sinal.
- Ih, vamos lá!
As duas saem apressadas enquanto Suzana continua no mesmo local, paralisada. Tenta recompor-se para não se atrasar, mas fica tão magoada que senta no primeiro banco que encontra e chora de cabeça baixa, o que chama atenção de Hermínia, a coordenadora:
- Suzana, o sinal tocou. Não vai subir? - Hermínia pergunta
- Eu já vou, desculpe.
- Que foi querida?
- Nada, não...
- Como nada? Você tá chorando, parecendo tão sentida e ainda me diz que não é nada?
- Suzana não consegue falar, a voz lhe falta embargada pelas lágrimas e só consegue emitir soluços altos. Hermínia senta-se ao seu lado e a abraça.
- Suzana, se você não consegue falar agora, não tem importância. Eu só quero que você saiba que eu estou aqui pra ajudar, quero o seu bem como de todos os alunos daqui.
Hermínia dá um copo com água para Suzana, leva-a para lavar o rosto e entrega-lhe à professora de Educação física, pedindo desculpas pelo atraso.
No decorrer da semana, a coordenadora chama Soraya para uma conversa:
- Algum problema com a Suzana? Eu não falei pra ela que vim, assim como você pediu.
- Eu agradeço. Não é problema de disciplina, mas sinto que ela não está bem e não se abre comigo. Achei melhor falar com você, pois sei que é uma mãe muito presente.
- Ela caiu nos estudos, né?
- É, Soraya. Noutro dia ela tava chorando muito e eu fiquei muito preocupada, porque ela não quis contar o porquê. Eu disciplino, mas quando as coisas não vão bem com os alunos, eu me abro bastante pra que confiem em mim.
- Ela não tem me falado o que ocorre na escola, está cada vez mais fechada. Os professores tem feito queixas?
- A Suzana e as primas são muito diferentas das outras meninas. Por isso, os professores se preocupam quando saem do normal delas. O Chico Carlos de matemática, é um deles. Outro dia, ele quase deu uma advertência na Suzana, porque a pegou dormindo na aula dele. Ele também reparou uma tristeza muito grande na Sandra, mas nada que prejudique os estudos.
- As coisas estão difíceis pra ela também.
- Bem, mas, voltando à Suzana, eu reparei que ela já não está bem há algum tempo. Naquela vez que ela desmaiou na corrida de Educação física, você a levou ao médico?
- Levei. Não foi nada demais, só má alimentação. Sabe como é, né? Adolescente deixa de comer o que alimenta.
- Ela não estava com anemia?
- Um pouquinho só.
- Mas eu acho que há mais algum problema. Você poderia confiar mais em mim. Pode ficar tranqüila que o que for falado vai morrer aqui.
Soraya respira fundo e tenta falar de uma só vez, mesmo com dificuldade:
- Hermínia...a minha filha deu pra beber.
- O adolescente faz coisas até menos graves pra chamar a atenção. É uma forma de pedir socorro.
- Pois é. Isto começou no Reveillon e ficou pior mais recentemente.
- Na festa da Sandra ela sumiu de repente.
- Ela tinha bebido e o meu motorista, o Alfredo, um amor de pessoa, ajudou. Ele a levou pra dentro, cuidou dela.
- Ele é muito bom com as meninas. Eu já observei. Elas falam também muito num tio...
- Vitor?
- É.
- Ele é o irmão mais velho de todos os do meu marido.
- Pois é Soraya. Quando eu dava português pra turma, ela descreveu numa redação: “Quem é seu Super-herói,” esse tio Vitor.
- Ele a trata com uma filha.
- O problema maior dela é em relação ao pai, né?
- Só é.
- Eu já tentei aproximação com o Dr. Genaro, mas ele não deu abertura pra falar mais profundamente sobre ela.
- Se ele já dificulta a mim neste aspecto, imagine a você.
- Eu tenho reparado também uma dificuldade dela em relação aos meninos.
- Ela tava se dando muito bem com o Rodrigo. Depois, conheceu um outro garoto que não é daqui, mas tem casa lá em Angra também e começou a dar atenção a ele.
- O Rodrigo e os primos dele também são considerados entre os garotos daqui, uma “espécie em extinção”.
- É. O Rodrigo demonstrou interesse em namorá-la, mas uma garota começou a dar em cima dele. Aí, claro que a Suzana ficou mais indecisa. Nesta idade os hormônios gritam, aparece alguém do sexo oposto. Eles ficam confusos.
- Daqui há tres semanas vai ter as Olimpíadas entre o nosso colégio e o CENEM. Vai ser bom pros meninos e meninas se enturmarem. Os alunos poderão escolher a modalidade que irão participar; natação, vôlei, futebol, basket, corrida. Vai contar pontos pra Educação física.Este ano vai ser mais cedo para motivar o pessoal pela chegada da Copa do mundo. Eu estou animando a Suzana, porque ela sempre foi muito boa em esportes.
- Ela vai se dar muito bem, eu tenho certeza disto.
O evento esportivo traz grande expectativa para todos os alunos da 5ª série do ensino fundamental até a 3ª do ensino médio. Os comentários não cessam nos corredores, principalmente da parte das meninas:
- Joana, você já soube? – pergunta uma colega.
- O quê?
- O colégio que vai competir com o nosso nas Olimpíadas? O CENEM!
- É...?! – Joana estremece ao ouvir o nome do colégio.
- Ô Joana, que cara! Parece que levou um susto!
- Não...não é nada não...é que...dá licença que eu tenho que...eu lembrei de uma coisa.
Joana sai apressada, demonstrando incômodo e Sandra que estava perto, a vê correr e indaga às outras que conversavam espantadas com a atitude da colega:
- Que foi, houve alguma coisa com a Joana?
- Não sei, eu tava comentando sobre o colégio que vai competir com o nosso e ela parece que se assustou. Não entendi.
- O colégio não é o CENEM?
- É. Aqui na Barra também.
Ao chegar em casa, Sandra como quem não quer nada, conversa com Suzana:
- E aí, prima? Tá animada?
- Tô. Você tá?
- Tô, né...
- Sandra, eu quero pedir desculpas.
- De quê?
- Pelo teu aniversário.
- Não tô pensando mais nisto. Fiquei chateada só na hora.
- Você tem razões pra estar mais chateada do que qualquer pessoa...quer dizer, assim como sua mãe, seu pai...
- O clima tá pesado, mas eu tô na minha. Também, eles quase não se vêem. Minha mãe tá trabalhando até mais, meu pai também não para. Pra variar, né?
- Acho que vai ser bom pra gente. Tá meio cansativo, mas até que tá bom.
- Você de nós três sempre foi a mais esportiva.
- É. Tava me fazendo falta mesmo.
- Como eu fiquei assustada no dia que você desmaiou na corrida da aula de Educação física.
- Não foi nada.
- Suzana, agora que passou, pode dizer, você havia bebido, né?
- Sandra...não vamos falar nisso agora.
- Tá, desculpa. O colégio que vai competir com o nosso este ano fica na Barra também, né?
- É o CENEM, ‘cê não lembra?
- Eu já ouvi falar, mais não tô me lembrando agora.
- É o colégio do Bruno. E daquela perua daquela Adriana!
As coisas pareciam quase se encaixar para Sandra, que determina-se a descobrir a aversão de Joana ao primo.
Os dias que se seguem são de intensa atividade esportiva no Solar Castelli. Soraya passa a exigir mais da filha fazendo-a treinar corrida e chamando as primas para jogar vôlei. Sandra também era incentivada por Heloísa, pois estava muito abatida depois do ocorrido com Daniel. Por sua vez, Ivan, via-se forçado a treinar mesmo detestando esportes, mas Lúcia exigia do filho o treino e este não tinha mais como ludibriar a mãe.
Com o incentivo da mãe, Sandra treina mais um pouco e ao terminar e tomar banho, antes de dormir pega o diário, lendo antes, como de costume os trechos bíblicos: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível” (1 Coríntios, 9: 25); “Em lugar da vossa vergonha, tereis dupla honra; em lugar da afronta, exultareis na vossa herança; por isso, na vossa terra possuireis o dobro e tereis perpétua alegria” (Isaías 61: 7).
Rio de Janeiro, 23 de abril de 2002
Meu querido diário
Eu queria entender o que acontece quando eu abro você, parece que você é mágico! Estou vivendo uma dor que eu nunca pensei que fosse passar, mas ao mesmo tempo sinto um incentivo pra treinar, pra competir e vencer. Sinto uma inexplicável esperança de que todo este sofrimento vai passar e eu ainda vou ver o meu irmão entrar pelo portão principal do solar e dizer: “Estou aqui, maninha!” Ele vai me suspender nos seus braços, me deixar tonta de tanto girar e vai haver uma grande transformação na vida dele. Nem sei por que estou dizendo isso, mas sei que ainda vou ler o que escrevi pra mim mesma e ver de perto a confirmação de tudo que está escrito aqui.
Até a vitória!
Sandra.
Suzana também treina bastante por exigência de Soraya e fica mais tempo que as primas, já que seu preparo físico é bem superior. Após treinar, também sobe, toma seu banho e abre o diário, que no dia tem os seguintes trechos bíblicos: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correis de tal maneira que o alcanceis” (1 Coríntios, 9: 24); “Fortalecei as mãos frouxas e firmai os joelhos vacilantes” (Isaías, 35: 3).
Meu querido diário
Eu chego a ficar até intimidada quando leio certas passagens, antes de começar a escrever. O primeiro trecho fala de corrida o segundo, pra não vacilar. Parece até que nestas páginas está escrita a minha história. É impressionante. Uma das coisas que eu sempre me dei bem foi corrida, salto. Estou animada a fazer pelo menos três atividades na competição; natação, vôlei e corrida. Não sei explicar de onde tá vindo esta força, este gás. Só sei que me sinto capaz como nunca me senti. Eu vou arrasar!
Me aguarde!
Suzana.
Com menos capacidade física, Sônia depois de treinar vôlei, segue o mesmo ritual das primas, antes lendo os trechos: “Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios” (1 Tessalonicenses 5: 8); “Igualmente, o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas” (2 Timóteo, 2: 5).
Meu querido diário
Pôxa, isto só foi pra mim. O primeiro trecho, principalmente, porque eu sou muito dorminhoca. Minha mãe até diz que meus sentidos dormem comigo, que se pegar fogo na casa, eu não acordo nem com o cheiro. Começamos a treinar aqui e no colégio. Treinar é emocionante, competir mais ainda. Eu não sou tão boa em esportes. Comparada às minhas primas, eu fico em 3º lugar. Eu vou treinar mais natação e vôlei. Sei que vou me dar bem. O mais emocionante, é que apesar de não ser ano de olimpíadas, vamos ver daqui há pouco tempo a Copa do Mundo. Será que a gente conquista o penta? Tomara!
Até breve, diário!
Sônia.
Naquela mesma semana de treinos, Sandra recebe em casa à noite, um rápido telefonema no seu celular:
- Alô?
- Sandra, sou eu.
- Dani!
- Não grita meu nome!
- Não tem ninguém perto. ‘Cê tá bem?
- Tô, eu queria falar rápido com você. Eu te amo maninha.
- Dani. Não me deixa sem notícia. Volta pra casa, por favor!
- Não dá...tenho que me despedir. Ligo assim que puder. Tchau.
- Dani! Dani!
Sandra fica feliz ao ouvir a voz do irmão, mas angustiada por não saber seu paradeiro. Fala para a mãe que ele ligou, mas de pouco adianta.
Enquanto isso, Daniel na casa de Eliana, sente-se inquieto.
- Que há Dani?
- Tô na maior fissura.
- Dani, você prometeu que ia parar.
- Não se para assim, com tanta facilidade.
- Mas é preciso, Dani. Você vai continuar se destruindo?
- Eu preciso de alguma coisa. Vou dar uma saída e já volto.
Daniel dirige-se à porta e Eliana, sabendo que não vai conseguir impedir, toca-lhe no ombro levemente e pede:
- Dani...não demora. Não me deixa aflita, tá?
- Não vou demorar. Só preciso sair senão eu vou explodir.
Daniel volta cerca de vinte minutos depois.
- Tudo bem, Dani?
- Tá, tudo bem. Dá licença que eu preciso ir ao banheiro.
Daniel tranca-se no banheiro e demora um pouco.
- Tá tudo bem Dani? – Eliana pergunta falando perto da porta.
- Tá...me deixa quieto, Li!
Um cheiro forte exala do banheiro.
- Dani, o que você tá fazendo?
- Ô Li, eu tô relaxando um pouco, quer me deixar sozinho?
Saindo do banheiro, Daniel está estranho.
- Dani, ‘cê tava cheirando benzina, eu conheço o cheiro.
- Ah, gata...vamos fazer nossa festinha particular.
Eliana é totalmente manipulada e Daniel sente-se dono da situação.
Na escola RIGEL, todos estão empolgados com o grande dia das olimpíadas. Suzana participaria com Sandra e Sônia do vôlei, basket, natação e sozinha na corrida; Rodrigo também participaria com os primos do futebol. Bruno jogaria também pelo time do CENEM e Adriana, participaria da corrida, do vôlei e do basket.
Na introdução do evento, Sandra observa os olhares irônicos de Bruno para Joana. As outras colegas trocam comentários acerca de Bruno:
- Aquele de cabelo encaracolado é um gato! – comenta uma referindo-se a Bruno
- Eu sou mais os daqui. Principalmente aquele ruivão da 3002. – outra fala de Rodrigo.
- Eu acho aquele moreno claro de olhos azuis lindo. – uma terceira refere-se a Ricardo e provoca o ciúme de Sandra que lança um olhar agressivo para ela.
A competição começa animada com a corrida. Adriana participa da corrida feminina tentando ganhar de Suzana que tira o 3º lugar, enquanto ela fica atrás de muitas outras.
Da natação, participam também Sônia e Sandra. Suzana chega em 2º lugar.
Bruno, sai-se bem na corrida e participa da natação para estar perto de Suzana.
No intervalo, no vestiário, os comentários de Luciana chamam a atenção de Sandra, que ouve sem ser vista
- Ele é demais! – Luciana comenta com entusiasmo
- Você foi esperta, hein?
- Também, aquela otária parece que tem medo que um garoto se aproxime dela!
- E aquela garota do CENEM? Parece que o Rodrigo, aquele ruivo lindo da 3002, dá um ponto pra ela.
- É? Sei não...aquele cara parece muito devagar.
- Lú, sabe a Joana? Aquela lourinha da 2002?
- Sei...que tem ela?
- Parece que ela teve alguma coisa com o primo, minha prima também é do CENEM e me contou.
- E aí?
- Ela já foi do CENEM, era da turma da minha prima. Ouvi falar que ela fez um aborto e que o filho era do Bruno.
- Comigo ele não vai se criar. Já experimentei outros bem melhores do que ele. - Apesar da afirmação, Luciana demonstra despeito.
Sandra sai de perto para não ser vista. Pega o diário que trouxe para relatar as emoções da olimpíada e se impressiona com a confirmação dos trechos bíblicos que lê: “Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido”; (Lucas, 12: 2); “Porque tudo o que dissestes às escuras será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa será proclamado aos eirados”(Lucas, 12: 3).
Rio, 03 de maio de 2002
Meu querido diário
O que eu acabei de ler é uma confirmação do que eu ouvi ainda agora. Eu sempre desconfiei do Bruno. Agora tudo se encaixa. E olha que eu soube tudo de uma vez; que aquela falsa e invejosa da Luciana tá com o Bruno e que ele aprontou com a Joana. Ela foi sem juízo, mas ele é um canalha. Assim que eu tiver uma oportunidade vou ter uma conversa bem franca com a Joana.
Esse cara tá se achando muito esperto, mas com a minha prima ele não vai aprontar!
Me aguarde
Sandra.
Rodrigo também ouve comentários perto do vestiário dos meninos:
- Cara, aquela Suzana é gostosa demais... – um colega de Bruno comenta
- Mas não pro teu bico, ela tá na minha mira. – Bruno responde decidido.
- Você já conseguiu algum investimento com a gata?
- Ainda não, mas eu sou persistente.
- A Joana é passado, né?
- Fala baixo, cara, as paredes tem ouvidos.
Rodrigo fica indignado, mas retira-se sem ser visto, pois sem ter provas não pode fazer nenhuma acusação. Só pensa num modo de defender Suzana. Adriana o vê e pergunta:
- Rodrigo, ‘cê tá onde?
- Hã...como?
- ‘Cê tá estranho, desligado, tem que ficar atento. O jogo começa daqui há pouco. Pena que não vou poder torcer por você. Eu vou ficar com as garotas do CENEM que animam a torcida.
Adriana finge que está se afastando, mas volta e surpreende Rodrigo, dando-lhe um “selinho”
- Pra te dar sorte, gatão!
Mesmo com o ego de adolescente massageado, Rodrigo acha a garota impulsiva demais.
Após o intervalo de duas horas e meia, todos preparam-se para a competição final do futebol, da qual Bruno participaria, assim como Rodrigo e Ricardo.
Rodrigo ao início do jogo, fica com dificuldade de se concentrar e sente o sangue subir quando no intervalo do primeiro tempo vê Bruno falando com Suzana com um jeito sedutor, encostando a boca em, seu ouvido:
- ‘Cê tá linda com este uniforme de torcida, gata...
- ‘Brigada...
Ao iniciar o 2º tempo, Rodrigo fica em confronto com Bruno que na hora da disputa pela bola recebe uma rasteira que o faz cair de mau jeito e se machucar muito. Suzana, que assiste, sente pena do garoto, deixando aflorar seus verdadeiros sentimentos. Rodrigo tem que ser retirado de maca e Suzana sai da torcida para saber como ele está.
- Ele se machucou muito?
- Levaram pro médico. – responde Sandra – Ele não tirava os olhos de você, ainda mais quando o Bruno ficou na sua cola no intervalo.
- Pôxa...ele se machucou por minha culpa... – Suzana começa a chorar e Sandra a acalma. - Eu vou lá saber dele. – num impulso, Suzana corre até a enfermaria e vê Adriana acariciando Rodrigo, beijando-o no rosto, mas bem perto da boca. Irada, sai correndo sem que a vejam.
- E aí? – Sandra pergunta.
- Ele não precisa de nada, tá muito bem acompanhado!
- Suzana, não fica assim, vocês tem que se entender. Para de negar pra si mesma que gosta dele.
- Mas ele tá a fim daquela perua! Ela tava paparicando ele depois que caiu e agora mesmo tava dando um beijo nele!
- Na boca?
- Quase.
- Se você não tá a fim dele, não se deixa abater por isto, mas se tá, luta, deixa de ser boba!
O médico constatou não ter sido nada grave e enfaixou a canela de Rodrigo. Ficaria só alguns dias imobilizado.
Ao final da competição, o RIGEL, tinha o maior número de pontos.
- Não foi desta vez, mas o CENEM ainda bota este RIGEL no chão. – Adriana desdenha passando pelo “Trio em S” ao lado de uma colega sua.
- Metida... – Sandra olha atravessado
- Ridícula... – Sônia expressa horror
- Perua! – Suzana olha com ódio, falando entre os dentes
- Arrrrg! - As três fazem ao mesmo tempo uma expressão de asco
- Parabéns Suzana. – cumprimenta o professor Francisco Carlos.
- ‘Brigada professor.
- Espero poder dar os parabéns em matemática também.Você tem capacidade, só tem lhe faltado determinação.
- Tá professor.
- Té mais, querida. Parabéns a todas! – o professor fala para Sandra e Sônia que também agradecem
- Parabéns Suzana, ‘cê foi “o show”. - Bruno cumprimenta Suzana.
- Ah...que nada!
- O Rodrigo tá bem?
Sandra quase não consegue disfarçar sua indignação pelo cinismo do garoto, mas se contem e responde com classe:
- Ele tá bem, só enfaixou a perna.
- Ah, sei...por que vocês não vão lá em casa amanhã? Tô pensando em fazer um churrasco.
- Vamos ver, - Sandra adianta-se – nós estamos cansadas da competição.
- Tá, qualquer coisa me liguem. Parabéns pra vocês também. – dirige-se à Sandra e Sônia. – Tchau.
Bruno sai com um ar de frustração. Depois que está longe, Suzana interpela Sandra:
- Ô Sandra, qual é a tua? Você agora responde por mim?
- Suzana, eu ainda vou provar pra você que esse garoto não vale nada!
- Eu hein?!
- Eu ainda não tenho provas, mas vou ter! E tem mais: não dá muito assunto pra Luciana que ela é falsa.
- Ah, Sandra! Só por que os dois tavam conversando na sua festa? ‘Cê tá paranóica, acha que todos são suspeitos?
- Esse Bruno é cínico. Cê ainda não reparou que a Joana que é prima dele, não suporta ficar perto dele?
- Ih...este papo tá enchendo, Sandra! Se preocupa mais com seu irmão drogado, tá?
- Não mete meu irmão nisso! Você nem pode falar dele! Sempre que pode enche a cara!
- Gente, vamos parar com isso! – Sônia interfere – Pôxa! Sandra sofre por causa do Daniel, você tá sendo má!
Heloísa que estava presente assim como Soraya e Lúcia, percebe que está havendo uma discussão e indaga:
- Que foi gente?
- Nada, tia, só uma discussão. – Sônia explica
- Brigas de adolescentes, pra mim são como as de crianças. - Soraya opina - Vocês se odeiam, daqui a bem pouquinho, se amam.
- Tô a fim de ir pra casa. – Suzana desvia o assunto
Cada menina sai separadamente com a mãe.
Já em casa, Sandra pede uma orientação à mãe, contando-lhe tudo o que ouviu sobre Bruno.
- Mãe, esse cara tem que ser desmascarado.
- Mas você precisa se certificar do que desconfia.
- Como?
- Através da Joana.
- Mas mãe, ela fica em pânico quando eu me aproximo dela!
- Você tem que forçar a barra. Ela deve estar com medo do primo.
Decidida a desvendar tudo, Sandra vai no dia seguinte, domingo, até a casa de Joana.
Joana estremece ao saber que Sandra está em sua casa. Porém não tem outra alternativa a não ser recebê-la.
- Oi, Sandra.
- Oi, Joana. Eu tava aqui por perto e pensei em você.
- Ah...legal...Vamos lá pro meu quarto, Sandra.
Depois que entram e Joana fecha a porta, Sandra a fita fixamente nos olhos, o que a impressiona.
- Joana, eu sei do seu aborto. – Sandra diz imediatamente
- Quê?! ‘Cê tá louca?! O que é isso?!
- Joana, confia em mim, eu quero ajudar a você e à minha prima. Sei que o Bruno se aproveita das garotas. Joana, me conta sem medo tudo o que aconteceu. Eu ouvi comentários sobre ele.
- Foi no dia da competição, né?
- Foi, Joana.
- Meu nome deve estar rolando de boca em boca.
- Joana, você não foi a primeira nem a última. Não tô aqui pra julgar, só pra ajudar.
- Ai Sandra.... – Joana joga-se nos braços de Sandra chorando muito
- Chora, Joana...desabafa.
Depois de chorar muito, Joana toma coragem e conta:
- Eu não convivia tanto com o Bruno. Quando crianças a gente se via pouco. Os pais dele viajavam muito. Quando a gente cresceu, começou a se reparar mais. Eu era muito inexperiente e queria ser igual às outras garotas da turma, que contavam o que faziam com os garotos. Uma amiga minha chamou pra passar um fim de semana com ela em Angra. O Bruno já tinha a casa lá. À tarde eu saía com ela e enquanto ela ficava com o namorado eu ficava com o Bruno. No horário combinado, a gente se comunicava pelo celular e a mãe dela nem desconfiava, porque saía e a gente fazia tudo rápido, de dia. De noite, só quando havia alguma festa. O meu azar foi que eu usei pílulas que eram falsificadas. Lembra das pílulas de farinha?
- Lembro, saiu uma reportagem sobre isso.
- Pois é. Fiquei grávida e fui procurar o Bruno.
Joana lembra a ocasião em que procurou Bruno:
- Foi horrível. Eu entrei na casa dele. Tava havendo uma festa, se é que eu posso chamar aquilo de festa. Aquela Adriana tava lá, beijava um, beijava outro. Sem falar noutras coisas que eu vi e ouvi.
- Em resumo: uma baixaria total. – Sandra deduz.
- Exatamente. Eu olhei fixo pra ele e disse: “Bruno, preciso falar com você” – Joana rememora o diálogo.
- Que é? – ele perguntou agressivo. - Ele e várias pessoas haviam “concentrado” na festa. – o termo significa fumar maconha .
- Eu falei de uma só vez: “Bruno eu tô grávida”.
- E daí? – ele respondeu
- O filho é seu.
- Quem garante?
- Eu tenho certeza, só transei com você.
- Isso é o que você diz.
- É seu! – olhei bem nos olhos dele, cheia de ódio
- É?! Tomasse pílula!
- Eu expliquei, mas ele nem me deu confiança. Fiquei furiosa, peguei uma garrafa de bebida e atirei longe, saí chorando e xingando a ele e a todos. Ele tem só 17 anos, mas é um cafajeste! Fiquei com medo porque ele me chantageou, dizendo que ia mostrar umas fotos comprometedoras minhas, que ele tirou e coisas de nós que gravou.
- Até hoje sua mãe não sabe de nada, né? Será que ela não ia apoiar você?
- Eu tive medo de jogar minha mãe contra o próprio irmão.
- Foi um trauma pra você o aborto, né?
- Se foi... – Joana chora ao lembrar - eu fui com essa minha amiga que eu falei pra Angra, passamos um fim de semana lá e fomos à uma clínica clandestina e fiz o aborto. Foi horrível. Quando voltamos, eu tava tão abatida que ela inventou pra mãe que eu tava com cólica menstrual. Fiquei de cama o fim de semana inteiro e chegando em casa, um pouco melhor, consegui enrolar a minha mãe pedindo pra não ir à aula, com a mesma justificativa.
- Como conseguiu o dinheiro?
- Eu tinha dinheiro junto, fui pedindo aos meus pais, inventando que era pra outras coisas. Até sobrou.
- O que você passou serve de exemplo pra qualquer garota pensar duas vezes antes de fazer qualquer besteira.
- Eu queria falar pra Suzana, mas o Bruno me ameaçava.
- O meu tio Vitor diz muito uma frase que eu vi escrita no meu diário outro dia: “Não há nada oculto que não venha a ser revelado”. Parece uma confirmação.
- É...você sabe o que fazer em relação ao Bruno? – Joana indaga.
- Não tenha medo, deixa tudo comigo.
Enquanto Sandra está na casa de Joana, Suzana está na rua, passeando com Lalau, próximo ao Solar, quando aparece inesperadamente Bruno de moto.
- Oi, Suzana, tudo bem?
- Tudo...é sua?
- Gostou? É importada, chegou hoje. Quer dar um giro comigo nela?
Suzana entra depois de terminado o passeio e pede à mãe para sair com Bruno e esta autoriza. Veste um conjunto de jaqueta e calça pretas, coloca um par de botinhas também pretas e óculos escuros que protegem os olhos da poeira.
Pouco depois, chega Sandra. Pergunta por Suzana à Soraya que conta que ela saiu com Bruno.
- Tia...desculpe, mas seria melhor não ter deixado! – Sandra fica apavorada
- Sandra...agora você vai me falar por que eu tô ficando nervosa!
Sandra relata toda a história de Joana à tia que fica apavorada.
- Meu Deus!! Ele saiu com a minha filha! Vou procurar os dois. Genaro convidou um pessoal dos negócios dele pra vir aqui, mas danem-se eles! Cadê o Alfredo?
O celular de Soraya toca e ela atende.
- Alô?
- Dona Soraya?
- Alfredo? Onde você tá, rapaz?
- Desculpe não ter avisado a senhora antes. Eu tava voltando de carro quando vi a Suzana na garupa da moto daquele menino, o Bruno. Eles pararam num lugar deserto, eu os segui sem que me vissem. Ele ofereceu uma latinha de bebida à Suzana. Dona Soraya, vem aqui, o mais rápido que puder. Eu tô de olho. Aí dele se se aproveitar da menina!
- Você fez muito bem em me avisar. Vou pegar esse menino em flagrante. Não imagina o que eu acabei de saber dele. Ele não pisa mais na minha casa!
Alfredo descreve o trajeto e Soraya vai com Jair, motorista de Heloísa e com a própria. Enquanto não chegam, Suzana está completamente zonza, sem o sentido exato das coisas, pois havia uma estranha mistura na bebida.
- Bruno, olha que maneiro! A lua tá dançando!
Suzana tem alucinações, rodopia, dá piruetas e Bruno não fica tão alterado pois tomou uma quantidade menor.
- Suzana...Suzana... – Bruno aproxima-se cada vez mais de Suzana que não consegue oferecer resistência devido ao seu estado. Numa fração de segundos, seus lábios tocam os de Suzana. Bruno começa a envolvê-la com mais carícias e beijos no pescoço, quando de repente ouve:
- Para por aí, moleque! – Heloísa grita irada.
- Larga minha filha! – Soraya ordena.
- Ô mãe....ele não tava fazendo nada demais... – Suzana fala tonta.
- Você vai vir comigo agora! E você, garoto, não pisa mais na minha casa! – Soraya grita.
Alfredo leva Heloísa e Soraya com Suzana e Jair encarrega-se de esperar algum responsável para levar Bruno.
No carro, Suzana apesar de protestos não oferece muita resistência, pois Soraya e Heloísa a seguram. Chegando ao Solar sai correndo do carro e ao ver Genaro joga-se em cima do pai diante de suas visitas no jardim:
- Papaizinho querido!! Eu te amo, paizinho! Ele é o melhor pai do mundo!
Tentando manter as aparências, Genaro desculpa-se, saindo para dentro com Suzana.
- Minha filha é muito brincalhona...com licença, nós precisamos ir pra dentro um instante...eu já volto.
Entrando com a filha em casa, Genaro a segura com violência:
- Como você se atreve a me humilhar desta maneira diante de convidados meus?! – Genaro grita e sacode Suzana.
- Que saco.... – Suzana reclama, sem se importar com a reação do pai, liberada pela ingestão da estranha mistura.
- Que foi que você disse menina? – Genaro a fita com ódio, apertando os olhos.
- Eu falei: Que saco! - Suzana retira a mão do pai de seu braço, desafiando-o, encarando-o com ódio.
- Repete... – Genaro trinca os dentes com mais ódio.
- QUE SACO!!!
Genaro arremessa uma bofetada em Suzana, que repete a expressão, sendo atingida por uma série de bofetadas a cada repetição, até que explode gritando e chorando de raiva:
- Bate! Me arrebenta! Me mata de uma vez! Você nunca quis que eu nascesse mesmo!!
- Sua cadela! – Genaro a empurra e como estão perto da escada, Suzana cai batendo com a cabeça no degrau, e chora descontroladamente.
- Chega!!! – grita Soraya que entra naquele exato momento - Não se aproxima mais dela, ou é fim da linha pra nós dois agora! Você procura um advogado, eu também e a gente dá entrada na separação e depois no divórcio!
Ao ouvir a afirmação da esposa, Genaro recua temeroso de que ela cumpra o que disse.
- Eu vou subir com ela. Depois nós dois nos entendemos. Vai falar com seus convidados!
Soraya faz com que Suzana vomite o que bebeu. Quando a menina parece estar mais sóbria, conversa com ela.
- Eu não agüento mais aquele cara!
- Que cara?
- Meu pai.
- Como você mesma disse, ele não é “cara”, é seu pai. Por mais difícil que ele seja, eu não vou admitir que se refira assim a ele, como também vou dizer a ele que não quero mais que se refira a você, que é tanto minha filha quanto dele como se referiu lá embaixo. Vocês têm que se respeitar. O que houve hoje foi a gota d’água. Você quase não se abre mais comigo e eu nem sei como posso ajudar.
- Mãe...eu nem sei o que tá acontecendo! Eu...eu... – Suzana começa a chorar mais e Soraya a abraça.
- Chora o quanto precisar. Depois se acalma e fala.Você tá se sentindo perdida.
- Eu tenho vontade de sumir!
- Filha, acho que vai mesmo ser melhor pra você ficar um pouco longe do seu pai.
- Você quer se ver livre de mim?
- Suzana, deixa de ser dramática, filha! Você sabe muito bem que não.
- E pra onde você vai me mandar?
- Calma. Eu estou pensando.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

CAPÍTULO XVI

O DEBUT DE SANDRA
Sandra sofria muito, embora aceitasse festejar seus 15 anos por insistência do irmão. Suzana procurava obedecer a mãe que a proibiu por tempo indeterminado de ir a alguma festa, mas não ia muito bem na escola e se afastou muito de Sandra e Sônia. Ivan causava sérios aborrecimentos aos pais, principalmente à mãe, que, pelas viagens cada vez mais constantes do marido, ficaria com um peso maior para controlar o “vício” de joguinhos do filho.
- Ivan, o que significa isto?! Como explica estas notas? - Lúcia fica irada quando vê o boletim de Ivan
Ivan não consegue ter nenhum argumento e nem consegue encarar a mãe.
- As coisas vão mudar aqui, rapazinho! Quero na minha mão todos os CDS de joguinhos e computador vai ser só pra internet, pra pesquisas escolares! Não só por estas notas vergonhosas, mas também pelo absurdo de conta luz que desta última vez deu o triplo do mês passado! Não ouse me desobedecer, se você não passar este ano, vai pra outro colégio!
O buffet de Elisa é mais uma vez requisitado e Sandra observa o movimento à porta da cozinha.
- Minha linda! – Elisa a vê e a abraça-a calorosamente – Eu estava tão entretida aqui que nem a vi chegar! Meus parabéns, querida!
- Obrigada, Elisa. – Sandra agradece, não conseguindo conter as lágrimas.
- Meu bem, você tá chorando?
- Eu...eu não consigo agüentar...
- Eu sei, meu amor, sei o que você deve estar sentindo.
- Eu só tô aceitando por causa do Dani. Ele escreveu pra mim pedindo muito que eu festejasse. Festejar o que?
- A vida, sua saúde. Sua avó e todas as pessoas que te amam vão estar aqui também. Jesus te ama muito.
Consolada pelas palavras de Elisa, Sandra sobe ao seu quarto e pega o diário lendo antes os trechos que são o “maná” do dia: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago, 1: 17); “Ele livra e salva e faz sinais e maravilhas no céu e na terra; foi Ele quem livrou a Daniel do poder dos leões” (Daniel, 6: 27). Impactada pelo que leu, começa a escrever:
Rio, 12 de abril de 2002
Meu querido diário
Eu considero estes dizeres como meu primeiro presente de aniversário. De um ano pro outro as coisas mudaram e infelizmente pra pior. Tudo era tão diferente quando eu fiz 14 anos. Foi uma festa mais informal. Alguns colegas estiveram aqui, a gente usou um dos salões, durante o dia usamos a piscina... hoje estou comemorando por que o Dani insistiu. Não sei exatamente como ele está, mas quer que eu comemore. Estou sentindo tanta falta dele que nem sei como vou suportar não tê-lo ao meu lado pra valsar comigo. Eu queria que ele pudesse me escutar agora de onde estivesse. Preciso tanto falar com ele! Eu não sei como vai ser, quanto tempo vai levar pra ele se recuperar, mas sei que o que eu mais desejo é que, como o Daniel da Bíblia, ele saia desta “cova de leões na qual entrou”e se Este “Pai das luzes” existe mesmo, que faça isto.
Não dá mais pra escrever nada, senão eu choro.
Até breve,
Sandra.
A festa inicia e como não poderia faltar nenhum ente querido, estariam presentes Marisa, Angelina, Vitor com Helena e seus filhos, genros e netas.
Como na festa de Suzana, também utilizam uma tela com as passagens mais marcantes da vida de Sandra que aparece inicialmente com um vestido azul claro, um diadema sobre os belos cabelos cacheados e louros presos para cima com cachos caindo até a acima da nuca.
Enquanto isto, na clínica, Daniel põe em prática seu plano de ação, logo depois que Eliana sai. Há uma falta geral de energia elétrica na rua da clínica, que fora provocada por uma pessoa paga pela enfermeira. Tudo parece um aparente “apagão”, os médicos ficam intrigados.
Rapidamente, Daniel sai já usando um jaleco que Eliana arranjou com um crachá falso, usando uma peruca morena e óculos fundo de garrafa. Daniel consegue passar pelos corredores sem ser notado, pois com a escuridão, seria difícil algum interno fugir. Lá fora, usando uma lanterna, avista Eliana que o esperava no local combinado.
- Sucesso, amor! – Daniel vibra
- Dani, você é louco!
- Foi trabalho de profissional! Nós vamos fazer muito mais “maluquices” ainda hoje!
- Ai, Dani...
- Você tá esquecida que eu quero ver minha irmãzinha?
- Mas Dani...
- Hoje ela faz 15 aninhos e isto é uma só vez na vida. Eu vou dançar a valsa com ela nem que seja na rua! Pela minha irmãzinha eu consigo tudo!
No Solar Castelli, prossegue a festa e Sandra aparece com um lindo vestido branco de mangas bufantes, saia rodada, com o mesmo diadema e chega o momento de dançar a valsa. Primeiro dança com o pai, depois com Vitor, com os primos Allan e Miguel. Ivan dança rapidamente, muito envergonhado. Por fim, dança com Ricardo.
Entre os convidados, vários funcionários da Mega Mídia que grava em vídeo o evento. Márcia está com Eduardo, como sempre deslumbrado.
- Que festão! – exclama Eduardo.
- Ai, Edú...pra você aparência é tudo, hein? – Márcia critica.
- E não é? O negócio é “vender a imagem!” Imagem é tudo.
Ao reparar a tristeza de Sandra, Márcia vai até ela tentando animá-la:
- Gatinha, meus parabéns, você tá linda.
- Obrigada...
- Algum problema?
- Não, nada não...só tô um pouco tensa...sabe como é...muitos convidados, a gente tem que dar atenção a todos.
- Entendo... – Márcia procura ser discreta, mesmo tendo a certeza de que a menina está com algum problema.
Rodrigo veio com os primos e embora ele e Suzana não se falassem, ela, mesmo inconscientemente, testava sua reação ao vê-la dançar com Bruno. Suzana quase não disfarça no olhar o ciúme ao ver que várias garotas se aproximavam de Rodrigo. Num momento em que Bruno estava em outro lado do jardim, Luciana, que também foi convidada, o procura:
- E aí?
- Oi.
- Você não tem ligado, sumiu.
- É, estou em falta com você. – Bruno procura disfarçar.
- Muito em falta.
- A gente ainda se vê. Vamos fazer muitos outros “programinhas”.
- Com certeza.
- Desculpa, eu tenho que falar com um amigo. – Bruno inventa uma desculpa para que ninguém note que há uma intimidade maior entre os dois.
Suzana, escondida entre a multidão, já estava bêbada. Alfredo, com jeito, a segura firmemente pelo braço.
- Vem comigo.
- Me solta Alfredo!
- Não senhora! Você vai entrar! Está quase caindo! Não vou deixar beber mais nada!
- Que saco! – grita tentando desvencilhar-se.
- Vem comigo ou vou ter que chamar sua mãe?
- Ai...tá bem...
Alfredo leva Suzana para dentro e a senta no sofá. Sandra que viu de longe, vai atrás falar com a prima.
- Suzana...
- Me deixa em paz! Não vem com seu sermão!
- Você não quer tomar jeito, hein menina?
- Eu tô cheia! Minha mãe não me deixa mais sair, eu tô achando esta festa um saco!
- Suzana, quer saber do que mais? Bebe! Entorna todas! – Sandra pega uma garrafa e entrega à prima – Faça bom proveito!
Suzana começa a chorar e Sandra sai da sala.
- Por quê você faz isto, minha querida? – pergunta Alfredo
- Alfredo...eu...eu...não devia beber...mas eu...eu já nem sei mais o que eu quero!
- Suzana, você gosta daquele garoto, o Rodrigo?
- Já nem sei mais!
- Precisa saber. É natural que você até se sinta confusa, mas eu acho que ele não tá com aquela Adriana.
- Ela não tá aqui, por que o pai dela não conhece o meu! Se conhecesse, era mais uma “perua” que eu teria que aturar, como outras ridículas, a maioria dando em cima dele!
- Você ainda diz que não sabe se gosta dele?
- Alfredo...- Suzana chora encostando a cabeça no ombro do motorista.
- Não fica assim, eu gosto de você como uma filha. Você precisa de um café.
- Ai, não, detesto café!
- É o melhor remédio pra isto.
Alfredo pega a menina pela mão e a leva para a cozinha com medo que ela fuja e dá-lhe café amargo.
- Ai...vou vomitar...
Alfredo a acompanha até o banheiro onde ela vomita e depois, voltando para a sala, a deixa no sofá.
- Vamos subir?
- Não...quero ficar aqui.
- Suzana, você não pode ficar aqui.
- Deixa que eu falo com ela. – fala Vitor que ia entrando. Alfredo sai.
- Tio...
- Suzana, vamos subir. Você tá mal, não adianta ficar aqui.
- Tá...
Vitor a ampara e a leva para cima.
- Agora eu vou orar por você e vai me prometer tomar um banho e deitar.
- Tá...
Vitor ora e Suzana se acalma.
No lado de fora do Solar, Daniel esperava poder falar com a irmã.
- Dani, desiste...como é que você vai conseguir? – Eliana aconselha.
Élcio, um conhecido, está saindo da festa. Daniel vai até ele quando está se afastando do portão e toca no seu ombro.
- Dani...
- Oi, Élcio.
- Cara...você não tava na festa?
- Élcio...preciso de um favor seu.
- O que?
- Cara, não diz que me viu. Tô com uns problemas, brigado com meus pais, só tô aqui por causa da minha irmã. Chama a Sandra aqui, por favor...não deixa ninguém perceber. Fala pra ela vir com você, não diz que eu estou aqui.
- Tá, cara...
Élcio vai até Sandra.
- Oi, Sandrinha.
- Ué...voltou? pensei que já tinha ido.
- Eu esqueci uma coisa. Sandrinha...eu precisava falar uma coisa com você lá fora. Aqui as paredes tem ouvidos.
- Que mistério...
Ricardo vê os dois conversando e fica enciumado.
- Que será que aquele cara quer com a Sandra?
- Não deve ser nada demais. – pondera Renato.
- Sei não...
Sandra e Élcio vão para fora e mesmo intrigada, Sandra sente que é alguma surprêsa, pois não tinha nenhuma razão para desconfiar do rapaz. Quando já estão distantes do portão ele diz:
- Eu tenho uma surpresa.
- É?
- Vou tapar os seus olhos. Um dois três e...já!
- Dani! – Sandra corre para os braços do irmão que a levanta no colo.
Élcio despede-se e deixa os dois a sós
- Não chora...
- É de alegria....é o meu melhor presente. Mas...você foi liberado? Como é que tá aqui?
- Maninha...não dá tempo pra muitas explicações, eu vim dançar a valsa com você. – Daniel gira com a irmã, que embora assustada, sente-se realizando o desejo de valsar com o irmão.
- Dani...eu adorei a valsa improvisada, mas fala pra mim, o que aconteceu? Você fugiu?
- Sim, mas não fala pros nossos pais que me viu. Se não, vou ter que desaparecer sem dar notícias.
- Mas mano...
- Não chora, não estraga a maquiagem, minha linda. Eu vou estar bem, só quero um tempo pra mim. Eu te amo.
- Não deixa de me dar notícias...eu sofri muito e ainda tô sofrendo.
- Tá maninha...mas colabora comigo. Eu vou viver a minha vida. Tô cheio deste: “Solar Castelli.” Isto aqui é um reino de hipocrisia. O casamento dos nossos pais é uma farsa. Eu era menino e ouvia as brigas. Nosso pai viajando, nossa mãe saindo. Só não vê quem não quer. Nossa mãe tem nojo do nosso pai. São dois falsos.
- Dani, não fala assim.
- Falo sim. Não quero saber de nenhum dos dois!
- Que é isto, Dani?!
- Nossa mãe me fez passar pela maior humilhação! Fui tratado como um cavalo posto a força numa estrebaria!
- Dani, ela sofreu, chorou muito.
- Ela nunca quis conversar comigo.
- Isto não é verdade, você não dava oportunidade.
- Numa coisa ela tem razão: nosso pai é um “bananão!”
- Dani...não fica com este rancor. Eles são nossos pais. Tudo vai se acertar.
- Eu já me dou por feliz em ter uma irmã como você. Eu tenho que ir. Até um dia, maninha.
Os dois se abraçam e Daniel vai embora. Sandra procura se recompor. Respira fundo e entra no Solar. Ao vê-la, a mãe pergunta:
- Sandra, onde é que você estava?
- Eu tava acompanhando o Élcio ao portão conversei um pouco com ele lá fora.
- Você demorou filha.
- Nem senti o tempo passar.
- Você chorou, né?
- Deixa pra lá...
- Filha, eu fiz tudo pra que fosse uma boa festa.
- Não se preocupa, mãe. Tá tudo bem.
- Tem alguém aqui que quer se despedir. Esperou você até agora.
- E aí? – Ricardo esperava Sandra e expressa no seu olhar o ciúme.
- Oi Rick. Que que há?
- Nada...
- Nada, não. Que cara é essa?
- Você sumiu.
- Eu tava me despedindo dos outros convidados.
- Inclusive de um convidado em especial.
- Rick...ele é muito mais velho que eu. É um pouco mais velho que o meu irmão.
- Tá...deixa pra lá...
- Ganhei mais um presente.
- É? – Ricardo demonstra ciúme, pensando se tratar de algum presente que Élcio ou algum outro tivesse dado.
- Você.
- Ah... – Ricardo fica vermelho.
Sandra dá-lhe um beijo no rosto e ele enrubesce ainda mais. Tira do bolso um presente para Sandra.
- Parabéns pra você, Sandra. – Ricardo toma o pulso de Sandra e coloca uma pulseira de ouro.
- Rick...é linda!
- Eu escolhi. Preferi dar no fim da festa, fiquei sem jeito de dar na frente de outras pessoas.
- Parabéns pra você também. – Sandra agradece abraçando-o – Garotos sensíveis como você estão em “extinção”.
- Meus pais querem falar com você.
- Ah, claro.
Os dois vão juntos, Ricardo, num gesto elegante dá o braço à Sandra.
Antes de ir embora, Vitor procura inicialmente Soraya.
- Cunhada.
- Oi Vitor.
- Você estava procurando pela Suzana, né?
- É...o Alfredo disse que ela deitou mais cedo.
- Ela bebeu.
- Ai...meu Deus...Vitor, ela aproveita sempre um momento em que ninguém está vendo. Eu proibi de ir à festas, cortei esta coisa de estudar com colegas, mas não posso impedir que tenha bebidas nas festas daqui.
- Eu entendo. Mas ela já está bem.
- Vitor, isto tem que acabar. O que eu faço?
- Minha cunhada, confie em mim. Nesta próxima semana, eu vou chamá-la pra ir lá em casa.
- Ela precisa estudar mais. As notas dela não foram muito boas.
- Ela vai recuperar. É desgastante, mas não desanime. É a idade do “não sou mais, mas também, ainda não sou”.
- É verdade. Ela é muito desenvolvida, parece uma mulher, mas é tão infantil, insegura e sofre porque quase todos os garotos olham pra ela com muita malícia.
- Esta fase vai passar.
Por um lado satisfeita por causa de Ricardo, mas por outro muito preocupada por causa do irmão, Sandra recolhe-se em seu quarto e pega o diário. Abre a página do dia e lê os trechos bíblicos: “Porque o SENHOR dá a sabedoria e da sua boca vem a inteligência e o entendimento.” (Provérbios, 2: 6) e abaixo: “Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto sim, contamina o homem” (Mateus, 15: 11).
Rio, 13 de abril de 2002:
Meu querido diário
Bateu fundo o que eu li agora, porque mais uma vez parece que não era só pra mim, também pro meu irmão Dani. Hoje, já iniciou outro dia e estou ainda com o vestido da minha festa escrevendo aqui. Estou feliz e triste ao mesmo tempo. O Dani fugiu da clínica. Minha mãe vai acabar sabendo. Eu gostei de vê-lo, mas sei que vou custar a saber dele. Esta sabedoria que vejo descrita acima, é tudo que eu preciso neste momento. Meu irmão está magoado, com ódio dos nossos pais.
Hoje eu experimentei a emoção do primeiro beijo. O Ricardo me deu um “selinho”. Ele me deu uma pulseira, ficou com vergonha de dar na frente dos outros, durante a festa. Fico feliz por ter conhecido alguém sensível como o Rick. Pena que a Suzana nõo se acerta logo com o Rodrigo. Ele é legal, mas tá inseguro. A Suzana bebeu outra vez e o Alfredo, que é maravilhoso ajudou, cuidou dela. Eu fiquei muito chateada, mas acho que ela ainda tem que “quebrar a cara”. Eu reparei alguma intimidade entre o Bruno e a Luciana, mas não falei nada pra não piorar as coisas. A Joana veio, mas fez tudo pra ficar longe do Bruno. Há alguma coisa muito estranha entre os dois.
Minha avó também veio, veio a prima Angelina, a vó Tonha, a Elisa. Todas as pessoas que eu quero bem.
Não sei o que falar pra minha mãe, por isto vim aqui pro quarto. Me sinto no meu refúgio, como se estivesse conversando com um amigo. Tô tensa, mas vou procurar me acalmar e dormir.
Tchau diário,
Sandra
Naquela manhã, toca o telefone e Heloísa atende:
- Alô? Sim. O quê? Mas como? Vocês não tem um circuito interno de vídeo? Apagão? Meu Deus! Onde estará aquele menino! Vou processar esta clínica!
Depois que Heloísa desliga, Sandra desce chorosa.
- Eu ouvi mãe. Eu...eu preciso confessar uma coisa pra você, mesmo que você fique com raiva de mim.
- O quê? Fala logo, filha!
- Mãe, ele veio escondido me ver.
- Por que você não me disse?
- Ele disse que ia sumir. Pediu que eu não falasse, eu fiquei com medo dele fazer alguma besteira.
- Besteira maior ele deve estar fazendo agora. Deixa pra lá, você deve ter ficado confusa. É muito difícil lidar com um viciado. Mas ele pode voltar.
- Não sei, ele tá com tanto ódio de você, do meu pai.
- Ele deve voltar a procurar você.
- Acho que sim, mas não sei se vai deixar pistas.
Enquanto isto, Suzana no seu quarto já acordada sabe que não vai ser fácil conseguir uma bebida pela vigilância no circuito interno de TV. Vai até o banheiro, olha para a prateleira cheia de vidros de perfume e decide:
- Já que não tem “tu, vai tu mesmo!”
Vira um vidro de perfume que estava pela metade quase até o fim e para quando começa a engasgar. Repete a dose com outro vidro que tinha menos conteúdo.Depois, chora, atira o vidro longe, quebrando-o e joga-se na cama.
As horas passam e Soraya preocupa-se, pois Suzana ainda não aparece. Encontra Odete e pergunta:
- Você viu a Suzana hoje?
- Ainda não.
- Eu acordei um pouco mais tarde. O Genaro teve que ir rápido pra São Paulo pra fechar um negócio. Estou vendo daqui as meninas no jardim, daqui a pouco sai o almoço e ela não desceu.
- É melhor chamar Soraya. A dona Marisa e a Angelina precisaram ir cedo. Pediram pra se desculpar com você.
- Que pena. Eu vou lá em cima chamar a Suzana.
Soraya sobe e bate à porta:
- Suzana, Suzana filha, tá quase na hora do almoço.
Ao mexer na maçaneta, Soraya nota que a porta está trancada e insiste novamente:
- Suzana, levanta filha. – continua sem obter resposta e fica nervosa, batendo com mais persistência na porta:
- Suzana, abre a porta! Suzana! Meu Deus, o que será que aconteceu?
Apavorada, Soraya chama Alfredo que sobe e força a porta até arrombá-la. Quando conseguem abrir, vêem Suzana deitada atravessada nas extremidades da cama.
- Suzana! Suzana! – Soraya sacode a filha que inicialmente não responde. Depois de muita persistência, Suzana desperta, ainda bem grogue, reclamando.
- Ai, mãe, que saco...
- Suzana, você quer me matar de susto?! O que você fez? Você bebeu?
- Como é que eu poderia beber? Aqui não tem bebida...
- Você tomou alguma coisa? Responda! – Soraya segura firme no braço da menina ainda deitada.
- Mãe, me deixa...
- O que eu faço com você?!
- Mãe... eu não fiz nada.... você se estressa à toa.
- Suzana, eu vou dar um jeito em você, não sei como, mas vou! Trate de se recompor e daqui há bem pouco descer, porque você tem que ver a comida e o passeio do Lalau! Está muito negligente com as suas obrigações!
Soraya desce furiosa e Alfredo repreende Suzana:
- Você não tem o direito de fazer isto com sua mãe.
Alfredo sai e Suzana chora. Lá embaixo, Soraya desconsolada, liga para a casa de Vitor. Helena atende.
- Helena...
- Oi, Soraya.
- Helena, eu...
- Soraya, você tá chorando?
- Eu tô arrasada Helena. Minha filha...tava toda grogue deitada até agora. Eu acho que bebeu. Ela disse que não, mas eu acho que tá mentindo. O que eu faço?
- Soraya, nós vamos ajudar. Procura manter a calma. Não a deixe perceber sua fragilidade diante do problema. O Vitor saiu, mas eu sei que está a par da situação e diria o mesmo a você.
- Obrigada Helena.
Daniel fica na casa de Eliana, mas esta o alerta:
- Dani, acho que o pessoal do hospital pode desconfiar.
- Que nada! Foi um plano perfeito! Como é que vão descobrir que você “encomendou” o apagão?
- Ah, sei lá, Dani. Eu tenho medo.
- Deixa disso, gata loira. Vem cá que eu tenho um calmante pra te dar.