quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

CAPÍTULO VI

O TRIO EM R
Na manhã seguinte ao aniversário de Vitor, o doce “Trio em S” encontra-se no quarto de Suzana, no qual esta e Sônia dormem profundamente na imensa cama. Apesar do espaço de sobra para as três, Sandra prefere dormir no confortável sofá, próximo à janela, devido ao sono agitado da prima. Com o sol forte por volta das nove horas, Sandra é a primeira a acordar e como é uma admiradora das manhãs, principalmente as do verão, observa o dia lindo e pensa: “É um absurdo ficar dormindo até tarde e perder um sol maravilhoso destes”. Entusiasmada, Sandra, a real líder do grupo, prepara o toque de levantar, de uma maneira suave, aproximando-se de Suzana:
- Sú,...Sú..., Acorda! – insiste cutucando-a de leve – Acorda pantera! Tá um sol maravilhoso! Vai dar uma de bela adormecida esperando o príncipe te acordar com um beijo? Acorda! – fala mais alto, sacudindo um pouco mais forte a prima, que se vira dando-lhe as costas, enquanto Sônia, dorme profundamente.
- Vamos lá, Sú!
- Hum...Hum... – Suzana geme, colocando o travesseiro em cima do rosto.
- Pôxa Sú! Vai ficar aí feito uma velha dormindo? Desperta pra vida!
Suzana impaciente tira o travesseiro do rosto e reclama com a voz rouca de sono:
- Pô! “Que saco”, Sandra! Além de ser férias, hoje é domingo!
- Você sabe que horas são?
- Não! Nem quero saber! Boa noite! – vira-se novamente dando as costas para Sandra.
- São mais de nove horas!
- Então? É madrugada. – fecha os olhos e acomoda-se agarrando o travesseiro.
Sandra não desiste de seu objetivo. Olhando para os pés da prima, tem uma idéia: “Ela não vai resistir às cócegas”. Inicia descobrindo-os e Suzana ao sentir os primeiros toques os recolhe.
- Ai, para! – Suzana reclama rindo e esperneando.
- Se você pensa que vai ficar aí deitada, tá muito enganada! – afirma Sandra, que faz mais cócegas na prima debaixo dos braços, na barriga, colocando-se em cima dela tentando prendê-la. Suzana se debate e, dando-se por vencida grita:
- Para!
- Peça arrego! – Sandra ordena.
- Arrego! – Suzana grita, tentando tomar fôlego – Você quando quer uma coisa, hein?
- Eu sei que consigo. – afirma Sandra erguendo a cabeça, cheia de si.
- Pôxa Sandra...A gente foi dormir tarde!
- Mas Sú, tá um sol lindo! Hoje vai ter visitas aqui e a piscina não vai ser só nossa.Vamos curtir.
- Tá, mas agora que você já me tirou da cama, temos outro “trabalho”: acordar a Sônia.
- Eu...Vou jogar um pouquinho de água nela – Sandra fala com um olhar malandro, querendo rir.
- Ah, malvada! –Suzana repreende.
- “Peraí”, pensando melhor, vou pegar uma toalhinha de mão no banheiro e passar úmida no rosto dela.
Sandra dirige-se ao banheiro da suíte e pega uma toalhinha, umedece-a e volta para passar no rosto de Sônia. Ao iniciar delicadamente, não tem êxito, pois Sônia funga e vira-se para o lado direito sem acordar.
- Nada...- Sandra desanima-se.
- Dá isto aqui que eu esfrego no rosto dela –Suzana decide.
- Devagar, hein? – previne Sandra
Suzana esfrega com mais força a toalhinha e fala ao ouvido de Sônia:
- Vamos lá, Sônia, acorda!
Sônia aperta os olhos vira a cabeça para os lados, agitando os braços, muito assustada e exclamando:
- Como...? Quando...? Onde...? O que...?
As outras riem com a reação da prima que senta-se na cama cruzando os braços:
- Muito bem, que história é esta de me acordarem assim a força e ainda rirem como duas palhaças?! Cretinas! Sem graça! - Sônia joga os travesseiros nas duas
- Ô Sônia, nós queremos a sua companhia pra ir à piscina – argumenta Suzana – A idéia foi dela. – Suzana aponta para Sandra.
- É...Mas você concordou. – Sandra contra-argumenta.
- Você foi privilegiada, Sônia. Ela me fez cócegas pra eu levantar.
- Gente...Por que tão cedo? - Sônia pergunta voltando ao seu habitual jeitinho meigo
- Não é tão cedo, Sônia.– responde Sandra.- São quase nove e meia e precisamos aproveitar enquanto o sol não estiver muito forte. Depois vão chegar visitas e a piscina não será só nossa.
- Tá,- concorda Sônia - mas primeiro vamos tomar o nosso “desjejum” como diz o tio Vitor.
- Lavar o rosto, escovar os dentes... – completa Sandra
- E arrumar a cama e guardar a roupa de cama que a Sandra usou no sofá – Sônia adverte.
Depois de executar as devidas tarefas, com seus respectivos trajes de banho e enroladas em suas cangas, as três descem para tomar o café da manhã e encontram Soraya.
- Bom dia, gatas!
- Bom dia, tia - respondem Sandra e Sônia.
- Bom dia, mãe – Suzana, dá um beijo na mãe.
- De pé tão cedo? Pelos trajes, vão direto pra piscina.
- Idéia deste sargento aqui. – Suzana aponta para Sandra.
- Ah... A líder do “trio em S?” – Soraya brinca
- Líder...- ironiza Suzana.
- É uma liderança positiva, filha – argumenta Soraya – Gente, cuidado com o sol. Estamos em horário de verão, mas depois das onze horas fiquem nas barracas e não vão mergulhar já, depois do café. Esperem um pouco pra fazer a digestão.
- Nos já trouxemos os filtros solares –Sandra mostra.
- Ótimo, querida! Assim eu não me preocupo.- diz Soraya
- Bem, vamos ao “breakfast” – Suzana brinca.
Antes que Soraya se retire, Suzana a chama e pergunta:
- Mãe, a vó Dete volta quando?
- Depois do Natal. Acho que lá pro dia 27.
- Ah, que bom! Então ela vai ao desfile, né?
- Claro! Ela vai deixar de paparicar as netinhas adotivas dela?
- Não esqueçam as minhas recomendações e comportem-se - como boas anfitriãs – que sei que são – quando chegarem as visitas. - reforça Soraya.
Vinte minutos após o café, as três se encaminham para a piscina. Sandra e Sônia extremamente brancas ficam à mesa com barraca para se prevenirem de excesso de sol. Suzana, cuja pele curte mais rápido devido à herança cabocla da mãe, recosta-se na espreguiçadeira para dourar-se. Avistando as três, Genaro sobe até o local e as cumprimenta:
- Bom dia.
- Bom dia, pai – responde Suzana.
- Bom dia, tio Genaro – respondem Sandra e Sônia.
Muito sério começa a dar recomendações:
- Eu gostaria de lembrar que hoje virão para a piscina o filho e dois sobrinhos de um amigo meu, também empresário, com quem tenho excelentes negócios a resolver e solicito bom comportamento, coisa que em vocês duas não me preocupa, – fala dirigindo-se à Sandra e Sônia - mas em você, “moça!” - olha para Suzana com reprovação.
- Pai...Eu sempre tratei bem todos que vem aqui.
- É...Mas é sempre bom reforçar, já que na escola, você não demonstrou isto e me fez perder amigos e negócios, com seu jeitinho impulsivo! – Suzana ouve calada e de cabeça baixa e Genaro ainda recomenda com agressividade:
- E vê se não deixa aquele remelento solto por aí!
- Que remelento?! – pergunta Suzana espantada
- Aquela coisa preta que você chama de Lalau! – Genaro fala com um tom debochado.
- Pai... Não fala assim do meu filho!
- Filho?!! – Genaro fica estarrecido – Ô menina...Olha pra mim e vê se eu tenho cara de avô de cachorro?! Só mesmo uma “cabeça oca” como você pra chamar aquele pulguento de filho!
- Ele é muito limpo! – Suzana protesta
- Ah! – Genaro desdenha fazendo um gesto irritado com a mão como quem diz: não enche e prossegue:
- Bem, já está avisada; bom comportamento ouviu? – Genaro dá um puxão na orelha esquerda de Suzana.
- Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Tá...Tá, pai!
- Assim é melhor! – Genaro fala rispidamente, retirando-se. Suzana esfrega com a mão a orelha para se aliviar, dá um suspiro e depois, quando o pai já está descendo, faz uma saudação com deboche:
- Heil, Hitler!
- Suzana! – Sandra repreende dando-lhe uma tapinha no ombro esquerdo.
- Ué...Tava só saudando o meu líder! – Suzana responde cinicamente.
- Ele não é o seu líder, ele é seu pai! – Sandra reprova novamente.
- Ah! – exclama Suzana chateada, fazendo um muxoxo e encostando a mão esquerda fechada no rosto.
- Também não precisa ficar com esta cara! Você já sabe como ele é! – Sandra, tenta animá-la.
- Gente...Como serão os garotos que vem aqui hoje? –Sônia pergunta
- Talvez iguais a todos os que já vieram antes - Suzana imagina conformada
- Talvez sim, talvez não... – Sandra supõe - “Araruta tem seu dia de mingau”
- Eu fico meio sem jeito quando tem gente nova por aqui. – Sônia desabafa.
- Por quê? – Suzana pergunta intrigada
- É que...Eu não me acho atraente, sou tímida os garotos devem me achar boba.
- Ah, que é isto, Sônia.Você é tão lindinha! – Suzana elogia
- Ah, mas você é suspeita pra falar – Sônia retruca sorrindo.
- Não se deprecie –Sandra intervem
- Sônia...Você é um tipo raro, chama atenção. Seu cabelo ruivo é lindo, você tem olhos azuis. – avalia Suzana
- Quem chama atenção é você – Sônia responde – Você é bonita, tem um “corpão” que muita garota mais velha não tem.
- Olha gente, eu acho que cada uma de nós tem atrativos diferentes –Sandra conclui - Tem por aí garotos que gostam de meninas delicadinhas assim como a Sônia, “mulherão” como a Suzana e meio termo, assim como eu.
- Ah, mas eu não acho você meio termo, Sandra. – protesta Sônia.
- Nem eu. – reforça Suzana – Você é linda, Sandra!
- Sua boca carnuda, seus olhos verdes – admira Sônia.
- Você não diz sempre que sua mãe e tia Helena são lindas? Você é a “cara” delas!
De repente, as três avistam os três convidados que já vem com trajes de banho: o mais alto, um ruivo de olhos verdes, 1,82m; ao seu lado esquerdo um moreno de olhos azuis, 1,75m e um louro de olhos castanhos, 1,72m. Entusiasmadas, comentam:
- Que tigrão ruivo! – diz Suzana com olhar hipnotizado.
- Um gato moreno! – exclama Sandra com um sorriso.
- Ah... Um coelhinho louro! – derrete-se Sônia com seu jeitinho meigo.
- Ai... - As três suspiram
Os três também comentam:
- Que morenaça! –o ruivo entusiasma-se.
- Que loura! –o moreno exclama
- Que ruivinha! –o louro comenta ternamente
- Pôxa... –os três exclamam juntos
- Saradão! –Suzana enfatiza.
- Lindo! –Sandra elogia
- Gracinha... – Sônia derrete-se
Os três também primos, elogiam:
- Maravilhosa! – o ruivo derrete-se
- Linda! –o moreno vibra
- Fofinha... – o louro diz ternamente
Como boa líder, Sandra recomenda:
- Meninas, sejamos “ladies”, eles parecem ser “gentlemen”. Minha intuição feminina diz que esses são diferentes!
Os três se aproximam e saúdam suas musas
- Bom dia!
- Bom dia! – respondem as três
- Ótimo dia... –Suzana fala com olhar extasiado para o ruivo – Ai! – tenta disfarçar, ao receber um leve beliscão de Sandra, que lhe adverte, sussurrando entre os dentes:
- “Segura tua onda” – e logo esboça um sorriso também disfarçando – Estejam à vontade, a piscina tá aí, sejam bem vindos!
- Eu sou Suzana – apresenta-se estendendo a mão ao ruivo, que também com o olhar extasiado corresponde segurando-lhe delicadamente a mão.
- Eu sou Sandra.
- E eu sou a Sônia.
Os três também se apresentam:
- Eu sou o Rodrigo – apresenta-se o ruivo.
- Eu sou o Ricardo - igualmente o moreno.
- E eu sou o Renato – finaliza o louro.
- Que graça! - diverte-se Suzana – Vocês são o “Trio em R”
- Hein? – Rodrigo estranha a expressão, depois entendendo diz : Ah, é!
- “Aproxeguem-se” – convida Suzana com seu olhar magnético
Todos se acomodam, unindo as mesas com guarda-sóis. Suzana “puxa a conversa”:
- É a primeira vez que você vem aqui, né?
- É – responde Rodrigo - Nós três somos primos e os meus pais estão viajando. Eu estou um tempo na casa dele – aponta para Ricardo.
- O meu pai tem uns negócios com o Doutor Genaro. – diz Ricardo.
- Ele é meu pai – informa Suzana. – Nós três somos primas também. Seus pais estão onde?
- Eles foram passar um período com minha irmã que mora nos Estados Unidos. Ela está pra ganhar neném.
- E por que você não foi? – pergunta Suzana.
- Tá muito frio lá, Fica muito chato. Eu gosto daqui, do verão. Eu me comunico com eles pela Internet.
- Eles ainda vão demorar? – pergunta interessada Suzana
- Devem ficar mais um mês e meio. Meu pai deve até voltar antes. Minha mãe vai querer ficar um pouco mais para ajudar.
- A minha tia também mora nos Estados Unidos. – comenta Sandra - Onde é que sua irmã vive?
- Em São Francisco.
- A minha tia mora em Los Angeles. Lá o clima está melhor. É parecido com Petrópolis, Teresópolis nesta época do ano. Falando em Petrópolis, quem mora lá é nossa avó paterna.Você só tem esta irmã? – indaga Suzana.
- Que nada! –Rodrigo ri – Sou o caçula de quatro irmãos!
- Pôxa! –Suzana exclama – Eu sou filha única; quer dizer, minha mãe perdeu dois depois de mim.
- Sei... –Rodrigo lamenta.
- Gente... Não se “avexem” –Sandra brinca - A piscina está aí, é só mergulhar!
- Obrigado, eu vou depois – responde Rodrigo.
- Eu vou me refrescar – Sandra dirige-se à piscina – Sigam-me os bons.
- Também vou - Sônia aproveita o ensejo
- Ah, eu “vou nessa” também – Ricardo as acompanha
- E eu também – Renato anima-se
- Eu vou ficar mais um pouco – diz Suzana
- E eu também –Rodrigo motiva-se, olhando ternamente para ela.
Todos mergulham e Suzana conversa com Rodrigo.
- E aí, está gostando?
- De que, da casa ou da companhia? – devolve a pergunta com olhar maroto
- Das duas, meu caro... – ela, no mesmo tom.
- Totalmente! Com todo o respeito, você é uma gata!
- Obrigada. Você também, com todo o respeito, é um “gatão!” Estes teus olhos verdes, rasgados de “tigrão”, dizem muita coisa.
- Você parece muito sensível.
- Sou mesmo; “Olha bem nos meus olhos, quando eu falo contigo e vê quanta coisa eles dizem que eu não digo”. – Suzana cantarola
- Que voz “maneira!” – elogia Rodrigo.
- Obrigada. Soprano ligeiro – Suzana desmancha-se no seu orgulho de adolescente.
- Você parece prendada. Deve ter muita história pra contar...
- Como assim? – Suzana sorri intrigada.
- É que dentre as três, a gente percebe logo que você é a mais velha.
- Sei...Quantos anos você acha que eu tenho? – diverte-se, imaginando o que vai responder.
- Ah... 17?
- Não! – arregala os olhos, quase rindo.
- 18, 19?
Suzana bate as mãos nas pernas e depois as leva ao rosto unidas quase chorando de rir, mas depois controla-se.
- Desculpe, não se ofenda, eu não estou rindo de você. Quantos anos você acha que tem a minha prima, a ruivinha?
- Quatorze anos
- Sei...E a loura?
- Também, quatorze anos.
Suzana divertindo-se chama as duas:
- Meninas! Venham cá um instante!
As duas vêm acompanhadas de seus respectivos pares.
- Sônia, diz a sua idade pra ele.
- Quatorze. - responde Sônia
- Diz a tua, Sandra.
- Quatorze.
- Agora digam para ele a minha idade.
- Quatorze! – respondem as duas.
- Cês 'tão de caô! - Rodrigo levanta-se embasbacado - Esse mulherão, quatorze anos?!
- Gente...Olha como é que eu estou! – Suzana ajeita com a mão o cabelo, brincando.
- Encheu a bola da Senhorita sebo! – brinca Sandra.
- É pra quem pode! – Suzana diverte-se - E por falar nisto, quantos anos você tem? – Suzana a Rodrigo.
- Dezesseis.
- Eu achei que você tivesse dezoito.
- Garoto é mais fácil de dizer. Só que você, com este tamanho, toda “malhada”, aparenta realmente mais idade.
- E você, quantos anos tem? – Sandra pergunta para Ricardo
- Também tenho dezesseis.
- E eu também – Renato fala antes que alguém pergunte.
- Eu farei quinze anos dia 29 de janeiro. Naturalmente estarão todos convidados. – anuncia Suzana.
- Eu faço no dia 11 de abril – informa Sandra, olhando para Ricardo.
- E eu no dia 17 de maio – Sônia, olha para Renato.
Todas falam de seus pais, de Vitor. Sônia, saudosa do seu pai lamenta sua ausência.
- Ele passa uns dias fora. Vai à Região dos Lagos, São Pedro da Aldeia. Ele trata de construções obras de casas nestes lugares. Sinto muito a falta dele porque é difícil que fique uma semana inteira em casa, ou trabalhando mais perto.
- Você nunca foi com ele? – pergunta Renato.
- Não. – Sônia responde, perguntando-se: “Porque será que ele nunca me levou, nem minha mãe, nem o Ivan?”
- Eu fui uma vez com meu pai a São Paulo. Ele foi com minha mãe, então ela quis me levar também. – lembra-se Suzana.
- Você gostou? –Rodrigo pergunta.
- Eu achei muito frio – critica Suzana – Foi no inverno, férias de julho. Eu não gosto muito de viajar. Prefiro ficar aqui, curtindo o sol, a piscina, a natureza e o verde. Pra mim isto é o máximo!
- Nisto a gente se combina – concorda Rodrigo. - Eu também sou um amante da natureza. Gosto de acampar, de Surf, pesca.
- É bom viajar –Sandra comenta – Uma vez fui aos Alpes suíços com meus pais e meu irmão e gostei muito. Mas também gosto das coisas simples da vida. A verdadeira felicidade está nelas.
- Concordo com você. Vocês parecem dar muito valor à família. – Ricardo observa
- É...Os meus avós maternos, nos últimos anos de vida moraram conosco. Quem cuidou muito deles foi a nossa “avó adotiva”, a Vó Dete. – Sandra comenta
- Que agora é uma governanta dos meus pais – acrescenta Suzana
- Ela foi muito dedicada a eles. Já havia trabalhado com minha mãe, no tempo que ela era enfermeira e depois que ficou viúva já era aposentada, os filhos se casaram. Foram morar longe e ela quis se dedicar a algum serviço, pra ter uma razão pra viver, pra se realizar e ficou com os meus avós até o fim...Meu avô não agüentou muito tempo sem minha avó...Morreu um ano e meio depois dela.
- Pôxa... – Ricardo lamenta.
- Ai, gente! “Chô tristeza!” - interrompe Suzana - Vamos falar de coisas boas, de vida! Ontem nosso tio fez aniversário, vamos comemorar a vida!
- Eu estou com uma curiosidade imensa de conhecer este tio Vitor! - Rodrigo manifesta-se.
- Vai conhecer em breve, ele estará no desfile! –Suzana comenta animada.
- Onde ele mora? - pergunta Rodrigo.
- Em Sepetiba, numa casa muito boa de quatro quartos, terraço, piscina, churrasqueira. - descreve Suzana. -Gostamos muito de lá.
- Sinceramente, eu nunca me senti tão à vontade como aqui. As garotas de um modo geral, principalmente as da escola, não têm um papo tão bom como o de vocês. - compara Ricardo.
- Agradecemos. –Suzana pronuncia-se – Em que colégio vocês estudam?
- No “Rigel”. – responde Rodrigo.
- Que coincidência! – exclama Suzana – Nós também!
- Como é que a gente nunca se encontrou? – indaga Sandra.
- É que nós mudamos agora. Nós estávamos no Rigel do Leblon. – explica Rodrigo.
- Vamos nos ver todos os dias. – Renato olha para Sônia sorridente, sendo correspondido.
- Gente...A conversa está muito boa, mas está na hora do papá do meu filhinho. – Suzana lembra.
- Filhinho?! – Rodrigo estranha enquanto Sandra e Sônia riem.
- É, venha comigo que vou apresentá-lo a você.
Rodrigo continua com um ar de intrigado, mas acompanha Suzana, que enrola a canga na cintura e vai descendo na frente. Chegando à casinha de Lalau, apresenta-o a Rodrigo, que começa a rir.
- Lalau, este é o Rodrigo. Rodrigo, meu “filhinho”, Lalau.
- Ah, este é que é o seu “filhinho?” – Rodrigo ri.
- É. Não é lindo?
- Sim, mas a mãe é muito mais.
- Isto você diz pra todas! – Suzana olha para ele com malícia.
- Olha, eu confesso que já chamei outras garotas de lindas também. Mas em você, estou descobrindo uma beleza interior – Rodrigo chega-se mais à ela e encosta o dedo indicador em seu ombro direito, acariciando a ponta de sua longa cabeleira negra, olhando-a ternamente.
- Assim você me deixa encabulada. – responde, inclinando a cabeça para o lado esquerdo, enrubescendo.
- Não se “avexe”, gata.
- Bem, vamos lá pros fundos, que eu vou pegar a comidinha dele.
Enquanto isso, os outros quatro conversam à beira da piscina:
- Seu primo parece que parou na Suzana, hein? – observa Sandra com Ricardo.
- É...Mas... Fale mais sobre você. Você disse que tem um irmão mais velho?
- É. O Daniel.
- E cadê ele?
- Sabe, eu ainda nem o vi hoje. Como você vê, aqui tem três casas e a maior é a do tio Genaro. Esta noite eu e a Sônia dormimos lá e eu nem fui pra casa ainda. Eu o vi ontem de manhã, ele saiu, depois eu fui pra casa do tio Vitor e nem soube mais dele.
- E você, tem irmãos? – indaga Sandra.
- Tenho.Uma irmã seis anos mais velha.
- Ela é legal?
- É...Só que ela tem uma vida muito independente, já foi morar sozinha. Ela faz medicina, está se especializando em psiquiatria.
- Mais uma coisa que nós temos em comum. Minha mãe foi enfermeira.
- Eu acho a minha irmã um pouco fria. Ela é uma boa pessoa, mas muito distante, “na dela...”
- Talvez por isso tenha escolhido esta carreira. – deduz Sandra.
- Sua mãe é assim?
- Não acho. Minha mãe é uma pessoa muito dinâmica, expansiva, espontânea. Gosta mais de estar com pessoas que tenham haver com o trabalho dela, com a família. Dá-se muito bem com minha tia, gêmea dela.
- E a sua tia que mora nos Estados Unidos?
- A tia Hélida só liga ou manda um cartão em datas de aniversário, natal, fim de ano.
- Ela não aparece de vez em quando?
- A última vez que me lembro dela ter vindo, foi quando o meu avô morreu.
- Vocês três são unidas como nem irmãs são.
- É verdade – concorda Sandra - E o seu pai? Você já sabe que o meu é empresário, o seu também é né?
- É...Ele não para muito em casa tem sempre muitos compromissos sociais, mas é um bom pai. – Sandra tenta disfarçar um pouco do desejo de ter o pai mais presente.
- Todos os irmãos são empresários?
- Com exceção do tio Vitor, que é um microempresário, todos. Tio Vitor é pedagogo, escritor.
- Ele não costuma vir aqui?
- Não muito, porque o estilo de vida dele é mais tranqüilo, ele não é de festas, badalações.
- Vocês falam tanto nele que eu estou curioso para conhecê-lo.
- Bem, se não houver uma oportunidade anterior, ele estará no desfile.
- Será um prazer.
Enquanto isto, no outro canto, Sônia e Renato também conversam.
- Você tem irmãos? – pergunta Renato.
- Tenho um.
- E cadê ele?
- Deve estar com a cara no computador!
- Ele é programador?
- Que nada! – ri Sônia – Meu irmão é um pirralho de doze anos! Ele é viciado em joguinhos de computador!
- Existem alguns até interessantes, mas eu não me fixo, já passei desta fase!
- Ele respira esses joguinhos! – enfatiza Sônia
Suzana e Rodrigo voltam:
- Oi, gente! – cumprimenta Suzana.
- Oi - responde Sônia – A Suzana apresentou o “filhinho”, Rodrigo?
- Apresentou. – ri Rodrigo – Belo filho, mas a mãe é muito mais – Rodrigo elogia
- Ficou vermelha, hein? – brinca Sônia.
- Ai, para gente! – Suzana ri de nervoso.
Soraya chega e cumprimenta a todos:
- Boa tarde, pessoal! Vejo que estão todos muito bem enturmados, isso é muito bom.Vim avisar que o almoço de vocês será servido aqui, para que fiquem mais à vontade nesta ala adolescente! Meu “neto” almoçou? – pergunta para Suzana, em tom de brincadeira.
- Perfeitamente! – responde à mãe, batendo-lhe continência.
- É uma “mãe exemplar”, né? – pergunta brincando para Rodrigo, que responde rindo:
- É!
- Bem, queridos, divirtam-se – antes de sair, Soraya recomenda:
- Suzana, não esqueça do passeio do passeio do Lalau, tá?
- Deixa comigo! – responde fazendo sinal afirmativo com o polegar pra cima.
Passa-se algum tempo e Suzana, que conversava alegremente bate com a mão esquerda na testa, lembrando-se:
- Gente, quase que eu esqueço do passeio do Lalau!
- Posso ir junto? – pergunta Rodrigo
- Claro! – responde Suzana satisfeita.
Enquanto todos conversam na piscina, Suzana está com Lalau e Rodrigo no “pipi-dog”. Rodrigo se afasta um pouco, admirando o espaço e de repente, Suzana sente uma mão puxando sua orelha direita e grita:
- Ai!
- Eu não disse pra não deixar este bicho solto por aí? – Genaro a repreende ainda puxando-lhe fortemente a orelha.
- Mas pai... É hora do passeio dele!
- Você é teimosa, hein, menina?! – continua puxando-lhe a orelha e segurando-lhe com força o braço.
- Pai... – Suzana sinaliza com o olhar para a esquerda e aponta em direção para Rodrigo e ao vê-lo, Genaro assustado solta imediatamente a orelha e o braço da filha.
- Ah...Não repara, não...É que eu...tinha avisado que não queria ele solto. – Genaro explica-se para Rodrigo.
- Eu...Ouvi a Dona Soraya recomendar pra Suzana pra não esquecer do passeio dele. – Rodrigo, sem graça, procura defender Suzana.
- Ela briga comigo se eu esquecer, pai. – Suzana justifica.
- Está bem, - Genaro aceita – Mas tão logo acabe, deixe-o na casinha!
- Tá, pai...
- Com licença. – faz um cumprimento com a cabeça para Rodrigo e se retira.
- Seu pai é severo, hein?
- Bastante... – Suzana, abaixa a cabeça, sem jeito.
- Não fica triste, não, eu não reparo nestas coisas – consola-a Rodrigo, tocando levemente seu queixo, erguendo-lhe a cabeça. - Ele já acabou?
- Já... – responde ainda triste.
- Mesmo com esta carinha triste, você não consegue deixar de ser linda...
- Ai...Não fala assim que eu fico com vergonha... – Suzana sorri sem graça, enrubescendo e inclinando a cabeça para o lado oposto ao dele.
Os dois dirigem-se para a casinha de Lalau e logo após encaminham-se para a piscina. Neste ínterim, chegam os avós maternos de Sônia, Sr.Antônio Carlos e Dona Luiza. Muito animado, o pai de Lúcia, um senhor de espírito muito jovem apesar de seus 80 anos.
O três vão até a piscina e quase chegando vêem todos brincando, correndo em volta. O Sr. Antônio Carlos, assiste satisfeito e comenta:
- Que maravilha! Ainda chamam esta turma de “aborrecentes!” Eles são é “adocelentes!”
- Sônia! Seus avós chegaram! – chama Lúcia.
Todos param e olham. Sônia, imediatamente vai correndo até os avós, gritando feliz ao vê-los:
- Vô, vó! – e corre pra abraçá-los.
- Vai molhar seus avós, menina! – repreende Lúcia.
- Deixa filha! – os dois, felizes, correspondem.
- Minha “bonequinha ruiva” - Dona Luiza, acaricia a neta.
Sandra e Suzana aproximam-se para cumprimentar os dois e o Sr. Antonio Carlos, como um bom cavalheiro elogia:
- É como aquele foxtrote do Vinícius de Moraes. É difícil de escolher. Loura ou Morena? Qual a mais linda?
- São seus olhos! – respondem as duas encabuladas.
- Cada um já tem o seu par! – comenta com um jeito brincalhão o Sr. Antonio Carlos. – e o Ivan, Lúcia?
- Ah! Deve estar no computador, eu vou chamá-lo. – responde Lúcia, logo se dirigindo à sua casa.
Lúcia sobe e como de costume, encontra Ivan no computador, chamando-o baixo:
- Ivan... – Não obtendo resposta, chama mais alto:
- Ivan! – Continua sem resposta e berra:
- IVAN!!!:
- Ai, mãe, que susto! - Ivan dá um pulo da cadeira
- Estava onde, menino?!
- Numa batalha!
- Então, considere-se perdedor desta, porque você vai desligar isto agora e descer pra falar com seus avós que estão lá embaixo!
- Mas mãe, eu...
- Não tem “mas, nem meio, mas, nem um quarto de mas!” Vai desligar isto e descer agora!
- Tá... - contrariado, mas sentindo-se vencido, Ivan desliga o computador
Embaixo, todos estão animados com a presença do Sr.Antonio Carlos, que aprecia a alegria dos adolescentes:
- Eu ainda vou curtir esta piscina com todos vocês. Nado muito desde cedo. por isso tenho esta forma!
Todos se divertem com seu jeito jovial. Logo aparece Lúcia com Ivan e o avô abre-lhe os braços:
- Ivan, querido!
- Oi, vô. – chega-se ao avô, dando-lhe um beijo e cumprimenta também a avó, da mesma forma. – Oi, vô.
Naquele exato instante, chega de viagem Sérgio. Ivan, até então quase apático, recebe uma “injeção de ânimo”, ao ver o pai, exclamando contente:
- Pai! – e vai correndo ao seu encontro
Sônia, no mesmo momento vai também correndo de encontro ao pai para abraçá-lo:
- Pai!
Lúcia, caminha com menos pressa até o marido, dando-lhe um beijo “selinho” protocolar e pergunta-lhe:
- Como foi de viagem, querido?
- Tudo bem. – responde ele - Oi Dona Luiza, oi Sr. Antonio Carlos.
- Oi! – respondem os dois, sorrindo.
- Você...Está bem disposto, hein, Sérgio?! Corado também... – repara o Sr.Antonio Carlos meio desconfiado.
- É...Trabalhando direto debaixo do sol... – responde Sérgio, tentando se justificar.
- Deve estar cansado. – deduz Dona Luiza.
- Vamos lá pra casa. Está tudo arrumado pra você – chama Lúcia.
Ao alvorecer, o simpático “trio em R” vai embora. Os três entram no carro e acenam para as meninas, que correspondem.
Sandra, que estivera entretida com as visitas, de repente lembra-se:
- Pai, cadê o Dani?
- Não dormiu em casa.
- Mas não avisou nada, não disse onde estava? – aflige-se Sandra.
- Calma filha, ele é um homem!
- Mas ele avisou?
- Ele telefonou e falou com Alice que não iria dormir em casa.
- Mas você não sabe onde ele dormiu?
- Ai, Sandra! Até parece a sua mãe! Relaxa! Eu vou entrar, filhinha, estou cansado, quero tomar um banho e descansar. Você vem agora?
- Daqui a pouco eu vou.
- Tá filhinha fique tranqüila. – dá-lhe um beijo na testa e encaminha-se para casa.
- Não esquenta Sandra – consola-a Suzana abraçando-a.
- É, prima, ele deve estar bem – reforça Sônia.
De repente, toca o celular de Sandra:
- Alô?
- Oi, maninha...
- Dani! Onde você tá?
- Fica fria, maninha...Tá tudo bem, numa “nice!”
- Dani, a mamãe deve estar uma fera! Você vem pra casa?
- Não tenho hora pra voltar. Avisa pra “coroa”.
- Dani, não me deixa aflita, mano. Vem pra casa!– pede quase chorando.
- “Relax”, maninha! Tô bem! Te amo! Tchau! – desliga em seguida.
- Dani, Dani!
- O que ele disse, Sandra? – Suzana pergunta apreensiva.
- Só que tava bem e que não sabia se ainda voltaria hoje. Disse pra eu avisar à mamãe. Ele está fugindo dela!
- O número de onde ele ligou está no celular. Liga. – Suzana sugere
- É do celular dele. Se eu o conheço bem, deve ter desligado. – Sandra liga para o número que toca repetidas vezes e ouve a mesnagem de caixa postal - Nada. Minha mãe vai ter esta idéia também.
- Fica calma. – Sônia a consola – Não vá se desentender com a sua mãe.
- “Nem pensar!” – descarta Sandra. – Ela tem razões pra estar zangada. Eu vou dar o recado e ficar “na minha”. Vou ter que ir gente. Tchau!
- Tchau! Boa sorte! – respondem as duas.
Sandra segue para sua casa após despedir-se das primas e ao entrar, depara-se com sua mãe sentada no sofá de penhoar furiosa. Chega próximo a ela e a cumprimenta:
- Oi, mãe.
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo péssimo, pior não poderia estar! Este seu irmão está brincando comigo, mas ele vai ouvir, ah, se vai! – Heloísa irritada anda de um lado para o outro.
- Mãe, não fica assim, por favor.
- Como é que eu posso ficar?! Eu não tô mais agüentando! Minha vontade é de sumir!
- Então...Porque é que você não tira umas férias, mãe? Viaja com meu pai...
- Seu pai é o primeiro que eu quero longe!
- Mas mãe, não adianta ficar assim tão nervosa.
- Eu não vou conseguir sossegar enquanto não tiver uma conversa muito séria com o Daniel!
- Ele...Ele me ligou...
- Está vendo?! Pro seu celular, pra não falar comigo! O que ele disse?
- Ele...Ele disse que não sabia que horas voltaria amanhã.
- Me dá este celular, eu vou ligar pra ele! Só falta estar desligado ou fora de área.
Heloísa tenta e também não tem êxito.
- Mas que menino! Ele vai ouvir muito!
- Mãe, ele deve estar namorando, sabe como é.
- Vai se esquecer da vida, da casa por causa disto?! É melhor me deixar sozinha!
- Tá mãe. Boa noite.
- Boa noite.
Sandra sobe para o quarto e chora com pensamento se fixa em Daniel e pergunta-se:
- O que tá acontecendo com meu irmão?

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