sexta-feira, 6 de agosto de 2010

CAPÍTULO XXVII

A MARCA DA NOVA GERAÇÃO
Flávia permanece no mesmo local, com seus pensamentos, angustiada. Quando vê Vitor passar, o chama:
- Tio Vitor!
- Oi, lindinha, que foi?
- Posso falar com o senhor? – Flávia desaba de chorar e Vitor a abraça.
- Chora o quanto quiser, se acalma e fala. Vamos lá pra cantina da igreja, não tem quase ninguém lá.
Muito experiente, Vitor percebe o que se passa e prepara-se para ouvir Flávia:
- Fala, querida.
- Tio Vitor, eu respeito muito o senhor, sua religião, ou sua crença, não sei como vocês chamam. O senhor é muito bom, tem sido o pai que eu nunca tive e nunca pensaria que um dia poderia ter, mas eu não combino com esta igreja.
- Flávia, você já refletiu se aprendeu as coisas de um jeito que preferiu seguir por achar mais conveniente?
- Como assim?
- Você já teve a curiosidade de ler a Bíblia inteira?
- Não, nunca tive saco.
- Sei...então você absorveu o que passaram pra você, sem nunca questionar nada?
- Tio Vitor, por quê vocês complicam tanto, hein? A gente pode ser feliz acreditando no que bem quiser! Por quê só vocês sabem o que é a verdade, o que é certo ou errado?
Vitor fica em silêncio ouvindo Flávia, olhando fixamente para ela que percebe ter sido indelicada.
- Desculpa tio Vitor, eu não queria falar com o senhor assim.
- Eu entendo, você está muito sensível e é natural que se impaciente.
- Sabe...eu por um lado me sinto protegida como nunca me senti e por outro, insegura.
- Insegura, como?
- Em relação ao Dani.
Flávia relata a conversa que teve com Daniel e Vitor a ouve atentamente.
- Eu me senti rejeitada.
- É natural, pois você se sentiu assim também em relação à sua mãe.
- Mas é diferente, ela me rejeitou desde o ventre.
- Mas foi dentro dele que Deus te escolheu.
- Quê?!
- Por quê o espanto? Ele escolheu você, sim, ou você acha que foi mero acaso ter ido pra minha casa?
- Eu...eu não acho que tenha sido por acaso. Eu tava me sentindo muito só e o senhor me deu a mão na hora que eu mais precisava. Aliás, foi mais que a mão, o senhor me deu muito mais do que eu poderia imaginar, muito mais do que eu mereceria ter.
- Aí é que tá, Flávia. Eu sou um ser humano, cheio de defeitos, mas que pede sempre a Deus pra ser alguém que receba o próximo, pois isto é recebê-LO. Do jeito que as coisas estão, com esta falta de amor no mundo, eu ainda creio que podemos ajudar as pessoas a ser melhores e antes disto, elas têm que se sentir melhores. No íntimo, você gostaria de ter tido apoio de sua mãe, mas, sabendo que ela não daria, você buscou e encontrou, não foi?
- É, encontrei.
- Já que você conseguiu experimentar este amor que tem recebido, pode experimentar o amor mais amplo, de Deus, que é perfeito e é neste amor que nós nos aperfeiçoamos a cada dia.
- Mas o senhor acha que tá faltando amor em mim? Eu já amo tanto esta criança que tô esperando, amo o Dani e ele admite ter uma vida sem mim se eu não quiser ser da mesma igreja que ele.
- Flávia, as coisas de Deus parecem loucuras pros homens. Seguir a Deus é fazer a vontade d’Ele, não a nossa.
- Mas a vontade d’Ele é que eu crie meu filho sozinha?
- Não. É que você O conheça, como realmente Ele é.
- Tio Vitor... o senhor fala as coisas com uma certeza. Como é que o senhor começou a ir pra igreja?
- Eu comecei a ir à igreja convidado por minha prima Angelina e minha mulher ia a princípio comigo por obrigação, mas quis conhecer o Deus que havia me modificado e também teve uma experiência com Ele. Eu bebia muito e a Lelê chegou até a se separar de mim. Eu fui antes ao A. A, mas sentia falta de alguma coisa, pois no íntimo eu sabia que naquela instituição eu podia ser anônimo, mas pra Deus, com certeza eu nunca fui, pois Ele me escolheu no ventre de minha mãe, antes que eu nascesse já me conhecia. Jó, depois de ter sofrido muito, ter perdido filhos, passado por uma doença de chagas e ter sido acusado e injustiçado pelos amigos, disse quando Deus se apresentou a ele: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó, 42:5). Eu senti o mesmo quando tive meu encontro pessoal com Deus.
- Ai, eu não sei...
- Não vou falar mais nada. Amanhã é o batismo nas águas do Daniel e das meninas. Você vai e terá uma experiência com Deus.
O batismo ocorre num riacho de um sítio e apesar de sua relação com Daniel estar estremecida, Flávia comparece. Assistindo a tudo, Flávia é tomada de uma forte emoção e até derrama lágrimas, pois sente a seriedade de Daniel ao participar da cerimônia. As tres primas também são batizadas e igualmente os namorados. Todos os familiares estão presentes, não tendo a mesma visão, porém respeitando. Sônia fica muito feliz pela presença de Ivan e da irmã que conheceu há tão pouco tempo, mas que já ama profundamente. Sérgio comparece com Marisa, com quem passa a morar um tempo, até que reestruture sua vida.
Como uma estratégia de evangelismo, Márcia, que também faz parte da igreja, convida Edú, apenas informando que seria um passeio a um sítio e que haveria um almoço no qual ele poderia fazer novos contatos para a empresa.
- Márcia.
- Oi?
- Isto ainda vai demorar muito?
- Ô Edu, até parece criança! Curte o lugar, tá um dia bonito, daqui a pouco é o almoço. Além do mais, você vai fazer novos contatos, conhecer pessoas diferentes.
- Tá...tudo é válido! – o rapaz fala com certo tom de ironia, mais interessado no que Márcia fala por último e ela meneia a cabeça rindo do jeito impaciente do rapaz.
Durante a cerimônia, uma pomba sobrevoa o local, bem próxima às pessoas que são batizadas. Flávia contempla, cada vez mais emocionada. Logo depois de terminado o batismo, as pessoas trocam de roupa para ir à piscina. Flávia procura Vitor.
- Tio Vitor!
- Oi, fofinha!
- Tio Vitor... – Flávia o abraça – É tão bonito o batismo de vocês! Tô emocionada.
- Viu a pomba que voou pertinho das pessoas?
- Lindo, né?
- No batismo de Jesus, isto aconteceu.
- Jesus foi batizado?
- Sim, quando homem, cumprindo uma ordenança do Pai. Ele pediu a João Batista que o fizesse. Ele viveu na terra cumprindo todos os mandamentos, pra servir de exemplo pra todos que O seguiram.
- Pôxa...
- A pomba que sobrevoou os céus, no dia do batismo de Jesus, era O Espírito Santo de Deus, que declarou: Este é o meu filho amado em quem me comprazo.” (Mateus, 3:17-b). É a passagem bíblica em que vemos O Pai, o Filho e O Espírito Santo, a triunidade de Deus.
- Tio Vitor... – Flávia tenta conter a emoção, pois as lágrimas a dificultam falar – Eu...eu não sei o que dizer...
- Não precisa, o Espírito Santo de Deus já está falando pelas suas lágrimas, que não são apenas de simples emoção, são a manifestação d’Ele.
- Tio Vitor... – Flávia abraça Vitor, que não perde a chance de perguntar:
- Você quer aproveitar este momento pra declarar que Jesus é o seu único e suficiente salvador?
- Quero!
- Então, repita comigo: Senhor Deus...
Flávia repete a oração de aceitação com Vitor, que ao final a abraça e declara:
- A partir de agora começa sua nova vida.
- É...nasci agora mesmo, tô até chorando!
- Sim, mas de regozijo!
- Quem nasce chora por que tem que botar o ar pra fora, mas quem renasce, bota o Espírito Santo de Deus pra fora!
Flávia ri e chora ao mesmo tempo, manifestando aquela emoção indescritível que é um encontro verdadeiro com Deus.
O almoço é oferecido por Elisa e a equipe de seu buffet.
- Elisa! – Vitor cumprimenta a amiga – Meus parabéns, querida, pelo presente que deu ao pessoal num dia como este e pela sua “bella ragazza!” – Vitor usa o termo em italiano referindo-se à beleza de Ester, filha de Elisa.
- Tá linda, né, Vitor? – Elisa abraça a filha.
- ‘Brigado, Vitor. – Josué, o marido de Elisa agradece.
- Vitor, eu reparei na Helô, como tá desconfiada dessa menina, namorada do Daniel.
- Elisa, a Flávia agora não tá nem esquentando com isto. Acabou de aceitar Jesus.
- Glória a Deus! – Elisa exulta de felicidade – Uma festa aqui e outra no céu!
Antes de iniciar a oração para o almoço, o pastor dá uma palavra:
- Está em Êxodo, 12: 14: “Este dia vos será por memorial e o celebrareis como solenidade no SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo.” Nem precisa se falar muito, pois este dia será inesquecível pra todos que estão aqui. Basta ver nos olhares de todos a verdadeira alegria que vem do poder de Deus! Hoje é dia de festa para nós, mas o céu desceu com seus anjos que dançam entre nós!
No Solar Castelli nem todos os moradores vivem a mesma experiência, mesmo que o manifestar do poder de Deus se faça presente. Genaro redobra a vigilância e contrata mais seguranças indicados por amigos de máxima confiança, exigindo que dois deles se responsabilizem pela filha e pelas sobrinhas. Lúcia sente suas responsabilidades aumentarem, principalmente em relação a Ivan, que fica mais viciado em computador como uma fuga dos últimos problemas. Heloísa e Paulo prosseguem seu casamento de fachada e embora continuem se opondo, comparecem ao casamento de Daniel e Flávia.
Suzana entra no grupo de coreografia de louvor da prima Celinha e passa a fazer parte também do coral, sendo uma das vozes mais destacadas e Sandra e Sônia, começam a ensaiar com ela uma peça para o fim do ano. Sônia passa a compor louvores para a igreja e Daniel passa a tocar guitarra incorporando a parte instrumental com os primos, Allan que faz parte da bateria e Miguel que toca violão. Rodrigo também participa do louvor, tocando teclado, alternando com outros integrantes. Soraya aprecia a motivação da filha, mesmo achando exagero.
Numa noite de culto festivo na igreja, as três novas cantoras de louvor são apresentadas pelo pastor:
- E agora, com vocês, um “Trio em S”, S de salvação, de sal da terra, de sinais de Deus, de Suzana, Sandra e Sônia, AS SUPERAPOSTÓLICAS!
As três primas vêm vestidas de branco e oram:
- Obrigadas Senhor por estarmos aqui, abençoa este culto e todos os que aqui estão, os que te tem como salvador, os que ainda não te aceitaram que venham a ser tocados pelo Teu Santo Espírito.
- Em nome do Pai – inicia Sandra
- Em nome do Filho – prossegue Sônia
- Em nome do Espírito Santo – finaliza Suzana
- Em nome de Jesus! – terminam as três juntas e cantam:
“Som de Cristo, o som do amor,
Som de Cristo o som do louvor,
Honra e glória
Majestade
E o louvor
Ao Senhor!”
A igreja aplaude gritando: Aleluia! Glória a Deus!
Vitor sente-se orgulhoso das sobrinhas e vai falar com as três após o culto.
- Parabéns, minhas lindas!
As meninas abraçam-se com Vitor e Suzana fala:
- Tio, se não fôsse você...
- É Jesus, é O Espírito Santo de Deus. Eu simplesmente orei e fui usado pela misericórdia de Deus.
- A sensação que eu tenho é que tá começando uma nova etapa na minha vida! – Sandra entusiasma-se.
- Nas nossas vidas! – Sônia completa.
- Vocês me inspiraram. Vou lançar um novo livro e vocês vão me ajudar a escrever.
- Que honra, tio! – Suzana vibra.
- Qual vai ser o título? – pergunta Sônia
- UMA NOVA GERAÇÃO EM CRISTO.
- Legal! Vou ter muita coisa pra contar! – Suzana pula de alegria.
- A vida da gente é uma história, mas quando Deus escreve, a gente percebe quantas coisas belas a gente vive com Ele. – Sandra constata.
- É só deixar que Ele escreva, ou pelo menos não mudar o texto perfeito que Ele planejou pra gente. – Vitor afirma.
- Eu quero que a minha família também faça parte da história que Deus tem escrita pra mim. – declara Sônia.
- Com certeza, bonequinha – confirma Vitor – Mas, tudo a seu tempo, Deus tem o tempo d’Ele e dentro disto, tudo vai acontecer.
Este tempo de Deus continua em: SUPERAPOSTÓLICAS I - SEMEANDO.