domingo, 20 de dezembro de 2009

CAPÍTULO IV

A CASA ESTÁ EM FESTA
Os 50 anos de Vitor serão comemorados em grande estilo. Ele e Helena, proprietários de uma inicial creche que cresceu e agora é também uma escola que já tem algumas turmas do ensino fundamental, formam uma sociedade clânica, já que seus filhos - com exceção da caçula – trabalham com os pais.
Vitor também leva à frente sua editora: FONTE, onde edita livros seus e de outros escritores também evangélicos.
Na casa de Vitor e Helena, situada em Sepetiba, Helena alegre com os preparativos para os 50 anos do marido está na cozinha, ouvindo um som bem alto, vestida bem simplesmente de bermuda e camiseta cantarolando e trabalhando, quando sua filha caçula, Patrícia – ou Patty, uma bela menina com cabelos longos de ligeiras ondulações e alguns cachos, olhos castanho-esverdeados - entra correndo e a chama:
- Mãe!
Muito entretida com a música e os afazeres domésticos, Helena nem percebe a entrada da filha, que novamente a chama:
- Mãe!
Helena continua a não ouvir e Patty finalmente chega perto da mãe e berra:
- MÃE!!!
Neste momento, Helena ouve e vê a filha, dá um pulo, abaixa o som e reclama:
- Ih, menina, tá dando ataque, é?!
- Você com esse som alto não escuta nada!
- Que é? – pergunta esperando uma reclamação.
- Mãe, o que significa aquele monte de coisas em cima da minha cama? - Patty fala num tom prepotente.
- “Abaixa esta crista”, hein, garota! Está falando com sua mãe! – Helena fala com autoridade.
- Mãe... – Patty fala mais mansa – por que você fez isso?
- Pra você arrumar! –Helena responde com autoridade.
- Mas logo em cima da minha cama! –Patty exclama num tom mais alto de voz.
- É! Porque em cima da sua cama, você tem que tirar pra deitar!
- Então eu não durmo na cama! – Patty responde agressivamente.
- É? – ironiza Helena, cruzando os braços.
- É! –Patty responde malcriada.
- Então, também não vai mais sair de bicicleta até arrumar! –Helena ameaça.
- Ah, mãe! – Patty reclama
- Sem argumentos. Enquanto não arrumar não sai de bicicleta e tenho o dito! –Helena encerra
Reconhecendo-se vencida, Patty abaixa a cabeça, respondendo resignada:
- Tá... – e sobe a escada correndo.
Pouco depois, desce Miguel, um belo cafuzo, forte, jogador de basket, vôlei, futebol, muito ágil nos seus 1,90 m, que também chega gritando:
- Mãe!
- Ai, menino, o que é? –Helena pergunta, já esperando alguma queixa.
- Mãe, quantas vezes eu preciso lembrar que estas pastas que estavam em cima da escrivaninha ficam dentro da escrivaninha? – reclama Miguel – você abriu, viu os documentos e não colocou de volta no lugar!
- Subiu a bagunceira e desceu o arrumadinho! - Helena ironiza - Queira desculpar, chefe, não se repetirá - e bate-lhe continência.
- Muito agradecido! – Miguel aceita a brincadeira e sobe novamente.
Logo após a subida de Miguel chega Allan, belo rapaz de cabelos castanho claros, que usa uns óculos emoldurando seus belos olhos avelã, indo diretamente até à mãe, abaixando-se do alto de seus 1,87 m, cumprimentando-a com um beijo.
- Oi, mãe.
- Oi, querido. Seu pai foi à editora?
- Ele foi primeiro à creche.
- E você, estava lá programando o computador?
- É. Lancei todo o novo gerenciamento para 2002.
- Meu gênio da informática! – Helena, orgulhosa, abraça o filho. – Precoce em tudo: no nascimento e na inteligência!
Toca a campainha e Allan deduz:
- Deve ser a Bertinha.
Bertinha chega com as filhas, Isabel e Rute, que vão correndo até a avó.
- Gatinhas da vovó – Helena abre os braços às netas
Allan de farra, segura a irmã, levantando-a no alto.
- Me põe no chão, menino! – grita Roberta, rindo.
- Maninha querida! – fala Allan, continuando a segurá-la.
As filhas começam a correr dentro de casa e Bertinha adverte:
- Meninas! Se quiserem brincar é só lá fora!
Imediatamente as duas correm para fora e Allan as acompanha.
- Vamos, venham com o titio!
Bertinha vai até a mãe e dá-lhe um beijo, abraçando-lhe ao mesmo tempo.
- Oi, mãe!
- Oi, querida!
- E aí, como estão os preparativos pro jubileu de ouro do daddy?
- Ele almoçou fora com sua avó, a Tonha e a prima Angelina.
- Muitos telefonemas?
- Nem tantos. Mais o pessoal da igreja, os pais dos alunos.
- E os irmãos?
- Nem lembraram.
- Como é que pode! Esquecerem do aniversário do próprio irmão! – Bertinha fica indignada.
- Ah! Deixa pra lá!Quem perde são eles! Eu não sofro mais por causa destas coisas!
- E as cunhadas? Nenhuma ligou?
- Elas querem cumprimentar o cunhadão pessoalmente! – Helena fala com satisfação.
- Elas sim, são do nosso time!
- É, filha. As cunhadas é que parecem irmãs. O Sérgio. Está viajando a negócios. E o Rey, cadê?
- Deu um pulo à creche. Ia atualizar as planilhas do setor de pessoal.
- Será que vai demorar muito? Acho que foi depois do Allan, pois ele não comentou tê-lo visto lá.
- Daqui a um pouco deve chegar. E as meninas?
- Devem estar a caminho. Ficaram de vir na frente pra me ajudar.
- Mãe... 50 anos, hein? Quanta história pra contar...
- É filha... De lutas e vitórias!
- Toda luta tem vitória, mãe, principalmente em nome de Jesus.
- É como está escrito:“Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...” (1 Coríntios, 13: 7).
- No entanto, tem pessoas que viram a mudança que ocorreu na vida de vocês e nem assim reconhecem. – Bertinha lamenta
- Isto não me incomoda. No fundo, as pessoas até sabem, só não dão o braço a torcer! Principalmente os irmãos. Eles têm inveja! O Sérgio até que não, mas o Paulo e o Genaro, sempre que podem, se desfazem dele.
- Mas mãe, o deus deles é o dinheiro, o status. Eles não alcançam o que é Jesus, o poder de transformação d’Ele na vida de uma pessoa. Pra eles, o que a pessoa fez de errado pesa pra sempre. Você vê: o papai deixou de beber há tantos anos, tem uma vida completamente diferente e até hoje os irmãos lembram das bebedeiras nos fins de ano, não perdem uma oportunidade de criticá-lo, de chamá-lo de : “Bíblia”, “lunático”. As pessoas assim julgam quem erra como se não tivesse jeito da pessoa mudar. No íntimo, se olham no espelho. É como se dissessem: “Eu não mudo, por que ele vai mudar?”
- Filha sabe o que mais me compensa nisto tudo? É que mesmo os irmãos se desfazendo tanto dele, jamais conseguiram jogar as meninas contra o seu pai. Elas o amam demais, como um segundo pai.
- Eu também amo muito aquelas meninas, mãe. Ele preenche um vazio no coração delas. Devem se sentir muito carentes com pais que nem lhes dão atenção.
- É verdade filha. Seu pai dá tudo o que falta a elas. Aliás, dá em dobro, todo o amor que elas não têm.O dinheiro não pode comprar todo o amor do mundo.
- O dinheiro cega as pessoas, pode levá-las até o ódio. – analisa Bertinha.
- É... Desde que os meus cunhados começaram a enriquecer, ficaram cada vez mais frios.
- Eu percebo isso principalmente no tio Genaro. Quanto mais rico...Pior! Deus que me perdoe! – desabafa Bertinha.
- Pior que você tem razão. Como ele era diferente – comenta Helena com ar de nostalgia. – O Vitor deu a maior força pra ele namorar a Soraya e ela lhe é grata até hoje. Ele, parece que não lembra, ou finge que esqueceu todas as dicas que o irmão lhe deu.
- Eu lembro que o papai ensinou aquela música, CABOCLA pra ele cantar pra ela.
- É...Ele flechou o coração da Cabocla!
- Eu era bem menina, mas me lembro como o tio Genaro era doce, romântico...
- E se dava muito melhor com seu pai...
- Não me conformo com a grossura dele com a Suzana! A grande sorte da Suzana é ter uma mãe como a Soraya. Ela é uma mãezona! Ama aquela filha com toda a alma! - Bertinha fala com os olhos rasos d'água.
- E eu, não sou mãezona não?
- Claro que é, mãe! - Bertinha corrige-se a tempo abraçando a mãe.
- Eu é que dei muito trabalho pra você... – fala fazendo um carinho no rosto da mãe.
- Ainda bem que se reconhece, hein? – Helena olha para filha rindo.
- Eu sei que fui uma adolescente muito rebelde.
- Até um pouco mais velha, quando estava para casar ainda era bem difícil, não concorda? – relembra Helena.
- Mas a gente aprende com o tempo e logo que me casei...Senti uma falta tão grande de você! – fala abraçando mais forte a mãe
- É filha... – Helena corresponde o abraço – Eu chorei a primeira vez que fui visitar você e o Rey, logo depois da lua – de – mel. O seu pai chorou desde o primeiro dia e eu me segurei. Ele até disse: o meu bebê grande, não é mais meu! Senhor, ajuda-me a suportar a falta que ela vai fazer!
- 'Tadinho do meu pai...
- Mas o Senhor proveu as necessidades, né filha?
- É mãe... Mas os primeiros anos não foram fáceis. Quando eu fiquei grávida da Isabel é que as coisas começaram a melhorar.
- Eu orava: Senhor, “fecha a madre da minha filha”, por que realmente vocês não tinham condições de ter filhos.
- O Senhor proveu. Mãe, cadê a Patty?
- Ah! Está lá em cima e com certeza resmungando muito!
- Por quê?
- Tá arrumando o quarto.
- Mãe! Como é que você conseguiu?
- Joguei tudo em cima da cama dela!
- E ela? Ficou irada, com certeza!
- Teve dois trabalhos: o de ficar e deixar de ficar, por que quando ela disse que não ia dormir na cama pra não arrumar, eu disse que não sairia de bicicleta, o que ela mais ama! Então, teve que ceder.
- Boa, mãe! – Bertinha apóia.
- É...olhe que ela tenta me enfrentar, mas eu a faço ver com quem está falando e que aqui há regras enquanto depender de mim e estiver debaixo do meu teto. Sou muito diferente do que era com você e a Celinha.
- Ela também casou e mudou. O Marcos soube como conquistá-la e ela amadureceu muito, antes e depois do casamento. A Elisa, depois que a gente foi pra igreja, observou a mudança dela, até começou a chamá-la de “cajado manso!” – observa Bertinha.
- É...Mas vocês duas custaram um pouco até depois de casadas a aceitar um ritmo de vida diferente. É bem verdade que a Celinha sempre foi muito mais ajuizada que você, mas dei muito poucos limites pra vocês e paguei pelos meus erros! É engraçado...Ela chegou a dizer uma vez que pensava que eu ia dizer não, assim como as mães de várias amigas e eu dizia sempre sim. Reclamou que eu era liberal demais.
- Era mesmo. Mas você não acha que os tempos eram mais difíceis por causa das bebedeiras do papai? Tudo ficava nas suas costas...
- Eu queria dar uma educação mais livre e errei. Com o Allan, o Guel e a Patty, foi diferente. Já tava mais experiente como mãe e com Jesus! A Patty também foi uma benção! O médico garantiu que eu não poderia ter mais filhos. Eu já não tinha mais a trompa! Ela tem um “geniozinho” difícil, mas eu a amo muito! Lembra quando ela tava começando a falar e queria colo? Só servia o meu, nem o do seu pai ela queria...
- É...E o Guel, nem precisa dizer o que tá fazendo: arrumando as coisas dele!
- Oh! Como adivinhou? – Helena brinca.
- Esse desde pequeno era exagerado!
A campainha toca. Bertinha olha pela janela e anuncia:
- É a Celinha!
Helena abre a porta e recebe a filha com um beijo e um abraço e esta vai até a irmã também a cumprimentando e logo perguntando:
- As minhas gatinhas estão?
- Brincando lá fora. O Allan está com elas – Bertinha responde
- Você passou pela creche? –Helena indaga.
- Não. O Marcos disse que mais tarde passaria para dar uma olhada na parte de contas, depósitos.
- Temos uma boa “Sociedade Clânica”, hein? – brinca Bertinha.
- Hoje o meu clã estará completo! – Helena orgulha-se
- Numa festa como esta, tem que estar! Como estou feliz de ver meu paizinho chegar aos 50 anos, bem como está e o mais importante: nos caminhos do Senhor! – Celinha comenta com satisfação.
- Para completar esta alegria só faltam as meninas! – Helena pensa alto
- E não é que estão chegando?! – Celinha observa olhando para a janela.
- Minhas três bençãos chegaram!
- Tia Helena! - as três cumprimentam a tia
Helena vai apressada até a porta, abre e recebe as sobrinhas que chegavam ao portão gritando animada:
- Minhas três bençãos chegaram!
- Tia Helena! - as três cumprimentam a tia
- Obrigada Senhor, por estas meninas maravilhosas!
- Alfredo! Entra! - Helena vê de longe Alfredo perto do carro e o chama. Alfredo sai do carro, fechando-o, sorrindo e agradecendo:
- Dona Helena, Parabéns por quem a senhora é e pelo seu marido – fala apertando a mão de Helena.
Em pouco tempo, chegam Reynaldo, Marcos, Soraya, Heloísa, Lúcia, Elisa, Josué e Ester, os gêmeos amigos de infância de Vitor, Olavo e Otávio com suas respectivas famílias. Só resta chegar o aniversariante.

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