domingo, 30 de maio de 2010

CAPÍTULO XXI

LANÇANDO AS SEMENTES
As meninas arrumam suas coisas para ir para o retiro e Suzana resmunga desde que acorda até o momento da partida. Sandra e Sônia vão numa boa, pensando em curtir um lugar diferente.
Ivan vai também a pedido de Lúcia, e é revistado por Vitor, que descobre uma maquininha de jogos escondida que guarda até que acabe o retiro.
Durante o passeio de ida na van cor de vinho de Vitor, na qual viajam ao todo 12 pessoas, Suzana fica emburrada e chega a dormir. Sônia, apesar de curtir o passeio, também dorme, pois o balanço do veículo a embala. Na chegada, no fim da tarde uma surprêsa:
- Rick! – exclama Sandra
- Rê! – Sônia vibra ao vê-lo
- Essa não! – Suzana reclama ao ver Rodrigo.
- Suzana! Quer parar de ser antipática! – Sandra chama a atenção da prima
- Ah! É isto mesmo! Tinha que aparecer esse X 9!
- Ele quer o seu bem! Devia pensar nisto invés de dar ponto pra esses moleques que querem te usar! Você gosta de ser maltratada! – Sandra repreende
- Não enche! – Suzana sai batendo o pé, procurando o quarto onde vai ficar. Quando acha, olha em redor pensando que ninguém a está observando e tira da mochila um frasco de perfume que começa a beber. De repente, entra Sandra e ela rapidamente enfia o frasco de volta na mochila.
- O que você tava fazendo?
- N-nada...
- Deixa eu ver o que você botou aí, você tava bebendo!
- N-não...
- Suzana, deixa eu ver!
Sandra insiste e Suzana trava uma luta com a prima, que reage, mas as duas são contidas por Bertinha e Celinha que passavam perto e entram no quarto.
- Meninas, o que é isso? – Celinha repreende as duas e Bertinha a ajuda a separar as primas.
- Ela tava bebendo! – Sandra entrega.
- Como? Não tem bebida aqui! – observa Bertinha abrindo a mochila de Suzana.
- O que você tava fazendo, Suzana? – pergunta Celinha mansamente, embora firme.
- Eu...eu...me ajuda! – Suzana abraça-se com Celinha aos prantos
- Suzana, – Celinha a consola – nós queremos ajudar.
- Suzana, o que eu estou vendo aqui é um frasco de perfume. – Bertinha repara abrindo a mochila de Suzana – Você tava bebendo perfume?
- Eu...eu... – Suzana quase não consegue falar, com a voz embargada
- Suzana, o nosso pai foi alcoólatra – diz Celinha – Eu já o vi beber perfume uma vez. Você tem uma doença, mas tem cura. Jesus pode te curar. Dá uma oportunidade a Ele.
- Eu não quero saber de Jesus! Me deixem em paz!
- Suzana, não fica assim, se acalma. Você tá muito revoltada. – Celinha argumenta.
Suzana chora compulsivamente, nervosamente.
- Você aceita que a gente a ore por você? – Bertinha pergunta
- Tá...
Bertinha ora impondo as mãos sobre a cabeça de Suzana que fica sentada na cama, enquanto Celinha, sentada ao seu lado ora colocando a mão em seu ombro.
- Senhor, tu que és misericórdia, amor e justiça. Sê com a Suzana, Pai. Que todo este espírito de bebedeira seja quebrado, derrotado que sejam destruídos agora todos os principados e potestades e ela seja liberta. Espírito de bebedeira, de depressão de angústia, em nome de Jesus, sai!
- Aaaai! – Suzana grita pouco antes de Bertinha retirar a mão de sua cabeça.
- Que foi? – pergunta Bertinha.
- A minha cabeça foi esquentando enquanto você orava e pouco antes de você tirar, parecia que tava queimando.
- Isto é poder de Deus. – Celinha observa.
Suzana e as outras primas ficam espantadas, sem entender. Suzana se acalma e arruma suas coisas no quarto em que fica com as primas e só sai para o jantar e depois para o culto. Logo que inicia o louvor, Suzana sente um incômodo, uma irritação incontrolável. Levanta-se e diz para Sandra que está ao seu lado:
- Não agüento mais ficar aqui dentro, quero sair!
Sandra assusta-se e vai atrás da prima, sendo seguida por Sônia. Lá fora, Sandra procura ajudar a prima.
- Que foi, Sú?
- Não sei...tô sentindo uma coisa estranha...aquela música me irritou... – Suzana responde ofegante
- Sú... ‘cê não tá bem. – Sônia preocupa-se.
- Eu preciso de um pouco de ar...Vocês não precisam ficar comigo se não quiserem.
- Nós vamos ficar aqui sim! – decide Sandra. – Não vou deixar você sozinha pra fazer besteira como há pouco!
- Eu tô me sentindo vigiada! – Suzana impacienta-se
- Lamento, mas você não dá outra alternativa. – Sandra permanece firme.
No jantar, Suzana não fala uma palavra. Vitor repara que as outras sobrinhas estão tensas e Rodrigo angustiado.
Durante a noite Suzana dorme tranquilamente e Sônia não tem o sono tão profundo como de costume, acordando sozinha, sem precisar que ninguém a chame.
Ao sair do quarto, Sandra encontra Rodrigo e conversa com ele:
- Oi, Rodrigo.
- Oi, Sandra.
- Você tá gostando?
- Tô né...
- Ih...este tô não foi muito convincente.
- É...
- Rodrigo, você é persistente, cara. Outro no seu lugar já teria desistido.
- Ai...eu não sei por que, mas a Suzana pra mim é especial.
- Eu mesma não sei dizer o que aconteceu com ela. Minha mãe diz que isto é normal em adolescentes, mas eu acho que ela tá muito inconstante, não é mais a mesma que eu conhecia. Há menos de um ano a gente fazia desfiles de brincadeira no quarto dela, vestia camisolas, roupas de verão, de inverno. A gente era muito mais unida.
- Você acha que ela se afastou muito de vocês?
- Agora nem tanto, mas ainda não é como antes.
Todos são chamados para o culto matinal rápido que se dá antes do café da manhã. Novamente Suzana não consegue ficar. As primas vão atrás dela. Suzana senta num banco no jardim.
- Será que vocês não vão me deixar em paz? Eu não tô precisando de babás, não, gente! – Suzana reclama
- Suzana, não quer ficar no culto, tudo bem. Mas, você não se enturma, se isola. Tem gente legal aqui. Por quê não se acerta com o Rodrigo? – Sandra argumenta
- Até parece que eu tenho alguma coisa pra acertar com aquele cara!
- Sú, para de fazer queixo duro! Cê quer falar com ele, para de se defender tanto!
- Não tô me defendendo de nada nem de ninguém! Não me enche o saco!
- Você sai do culto como se fugisse de um monstro. Seja sociável. – Sandra aconselha
- Eu...eu não sei, me incomoda ouvir essas músicas. Acho chato.
- Sú, o pessoal é simpático. Eu e a Sônia tamos aqui, tio Vitor, tia Helena e nossos primos também ‘tão.
- É isso mesmo, Sú, não são todos estranhos curte o que tem de bom. – Sônia reitera
Suzana continua emburrada e lança um olhar de raiva para Sônia por ter dado força à Sandra
- Sú, - prossegue Sônia – a Sandra é tão sua amiga que tá passando por cima dos problemas dela.
- Eu... – Suzana fica sem graça – eu sei Sandra, desculpe.
- Por que você não se entende logo com o Rodrigo? – Sônia sugere
Mal Sônia acaba de falar, Suzana avista Rodrigo saindo do culto conversando animado com uma garota alta de cabelo meio cacheado castanho claro e irrita-se
- Ele tá muito bem acompanhado! - Suzana quase explode de ciúmes.
- Tá morrendo de ciúmes, hein? – Patty, que vem chegando mexe com Suzana
- Ciúmes, eu?! Tá me gozando, pirralha?! Ridículo!
- Se esqueceu que eu durmo no mesmo quarto que você?
- E daí?
- E daí, olha o que eu gravei na minha filmadora, Sônia.
- Deixa eu ver...ih...- Sandra também vê
- O que vocês estão vendo aí?! – Suzana fica irada, imaginando do que se trata. - Deixa eu ver!
- Não deixo! – Patty sai correndo e Suzana corre para alcançá-la levando vantagem, pois suas pernas são mais longas. Alcança Patty, mas esta joga a maquininha para as outras, para Ricardo e Renato. Suzana passa uma rasteira em Renato e agarra a maquininha quase caindo no chão. As primas, que já sabem, aguardam a reação de Suzana, rindo. Suzana se vê filmada dormindo, falando durante o sono: “Rodrigo...Rodrigo...”
- Sua pirralha! – grita para Patty, que corre para dentro, encontrando o pai numa sala
- Pai, me ajuda! – pede agarrando-o
- Andou aprontando, é?
- Tio! Eu mato esta pirralha! – Suzana ameaça
- O que você fez? - Vitor pergunta para Patty em tom de repreensão.
- Eu...eu... – Patty fica sem saber o que falar, pois sabe que será punida
- Esta pirralha...tio, eu não vou falar em público pra todos ficarem rindo de mim!
Depois de ser acalmada pelas outras primas, Suzana vai até a cozinha beber água, pois está com sede depois da correria. Vitor, depois de descobrir a brincadeira de Patty, diz a esta:
- Agora é hora de ir à piscina. A senhorita vai ajudar na cozinha.
- Mas pai...
- Se não obedecer, vai ser pior depois!
Patty vai para a cozinha ajudar quase chorando e nem se atreve a discutir com o pai. Enquanto isto, Ivan entra na cozinha, no mesmo momento em que Rodrigo entra para beber um copo d’ água. Suzana, para se vingar, pois está louca de ciúmes de Rodrigo, solta um agudo possante e quebra o copo. Rodrigo espanta-se:
- Que foi isto?!
- Que pena... – Suzana diz ironicamente
- Deixa eu pegar uma vassoura para varrer estes cacos – diz a senhora que cuida da cozinha.
De repente Suzana grita:
- Aaaai! Uma baraaaaaaaaaaaaaata! Mata! Mata! – implora para Rodrigo
- Calma! – Rodrigo recomenda
A barata fica mais próxima e Suzana atira-se nos braços de Rodrigo com medo
- Bendita barata! – Rodrigo, ri do desespero de Suzana, abaraçando-a
- Tá se aproveitando do meu medo, é? – Suzana irrita-se afastando-se dele
- É de borracha sua otária! – Ivan mostra a barata que era arrastada por um linha fina na sua mão
- Moleque! Te mato!! – Suzana vai atrás do primo.
- Vamos parar com esta correria! Que houve agora? – Vitor chama a atenção de todos
- Tio, este garoto é uma peste! Me assustou com uma barata de borracha! Paguei o maior mico por causa dele!
- Já passou Suzana. – Rodrigo argumenta. – Vamos trocar o “dedinho de bem”?
- Palhaço! Você achou graça!
- Tá, desculpa.
- Não desculpo!
- Ivan, nós vamos ter uma conversinha. – Vitor avisa – Você, Suzana, precisa se controlar. A brincadeira foi de mau gosto, mas você já tem 15 anos.
- Mas tio, ‘tão curtindo com a minha cara!
- Não tiro a sua razão, mas não exagera. Você chegou aqui na maior apatia. Não consegue nem assistir um culto, fica de mau humor. Todos estão preocupados com você.
- É? Se estão mesmo preocupados, por que aprontam comigo? Você acha que tá certo o que a Patty fez? O que este pestinha aí fez?
- Ele é seu primo, tem nome e será punido como a Patty também foi. Mas isto não é motivo pra tanto descontrole de sua parte. Você tá com uma raiva que as veias saltam do seu pescoço.
- Ah, tio! Não tenho sangue de barata! Tô aqui por que minha mãe me obrigou a vir! Quero ir embora! Tô cheia!
- Depois nós conversamos, Suzana. – Vitor fala com autoridade.
Suzana vai para o quarto e Vitor recomenda à prima Angelina que a observe sem que ela veja. Suzana fica emburrada, deitada na parte debaixo da cama triliche virada de lado, abraçando o travesseiro apoiado na cabeça, na horizontal. Sandra entra no quarto para chamá-la:
- Sú, vem almoçar.
- Não.
- Deixa de bobeira, garota!
- Não tô com fome, me deixa em paz!
- Tá. Fica aí emburrada. Tchau.
Patty fica chateada com o que fez e pede ajuda a Celinha:
- Celinha, papai ainda tá muito zangado comigo?
- Um pouco.
- Será eu eu posso falar com ele?
- Eu peço a ele.
Celinha chama o pai e Patty se explica:
- Pai, eu sei que você ficou zangado comigo, desculpa.
- Não foi exatamente zangado com você pelo que fez, mas da maneira como fez.
- É...eu não pensei que ia dar tanta confusão.
- Patty, a sua prima tá numa fase muito difícil. Eu a trouxe aqui para que ela se recupere. Ela é alcoólatra. Só que pra Deus não há impossível e ela vai sair desta. O que você fez a irritou porque ela se sentiu invadida, exposta. Ela gosta do garoto, mas não quer admitir.
- Ela tá toda emburrada no quarto.
- E vai continuar, por que é muito teimosa. Você é um pouco também, mas nós damos limite e amor também. O pai não é amoroso com ela. Quando ela ficou com a gente há pouco, você foi mais amiga dela.
- Mas eu sou, pai. Sabe que é, eu fiquei irritada como que ela pode fazer pouco do Rodrigo, que é tão legal, tão meigo, respeitador e não assumir que gosta dele...acho que eu quis dar uma lição nela.
- Mas não pensou nas conseqüências, né?
- É...
- Você esqueceu o geniozinho que sua prima tem? Bem comparável ao seu. Se vocês fossem irmãs, mesmo com as diferenças que tem, não seriam tão parecidas.
- Ah, pai, mas um ataque igual ao que ela deu, eu não daria.
- Não mesmo?
- Ah, pai!
- Bóia! – a cozinheira chama.
Todos vão almoçar menos Suzana. Depois do almoço, preparam-se para dar uma caminhada. Sandra vai ver como está Suzana e volta logo.
- E aí, não quer ir, né? – Vitor deduz.
- Nem cheguei a falar com ela. Tá lá na cama dormindo como um bebê.
- Então vamos deixar o bebê lá. – Vitor decide
- Ela vai ficar chateada tio Vitor. – Rodrigo argumenta
- Rodrigo, não paparica a Suzana. Ela precisa parar de se sentir tão importante. Já se demonstrou interesse por ela, já foi chamada pra almoçar e não quis. Vamos deixá-la refletir.
- Mas ela vai ficar sozinha? – Rodrigo pergunta com pena
- Minha prima Angelina vai ficar, ela toma conta dela.
O grupo grande vai caminhar e demora um pouco. Antes que cheguem, Suzana acorda e estranha o silêncio. Ao sair para fora vê Angelina e pergunta:
- Prima, cadê o pessoal?
- Saíram pra caminhar.
- Ninguém me chamou?
- Você tava dormindo.
- Pôxa! – Suzana vai para dentro batendo o pé.
- Eta geniozinho! – Angelina exclama baixo.
Pouco depois, Vitor volta com o grupo que havia saído para o passeio. Angelina fala para o primo:
- Primo, um “furacão” passou por aqui batendo os pés de raiva.
- Ah, o “furacão Suzana”?
- Exatamente.
Mal Vitor acaba de falar e Suzana aparece:
- Tio, vocês, hein? Vão passear e me deixam aqui! Tá um saco! Tô detestando!
Vitor não fala nada, mas olha sério, fixamente para Suzana e somente pergunta:
- Acabou?
- Acabou o quê?
- O “show”?
- Que “show”, tio?
- Que você está dando.
- Ah, que graça! Vocês me deixam aqui e eu tenho que engolir calada?
- Desde que você chegou só abriu a boca para reclamar. Se isolou, não quis ir almoçar. Se quiser se envolver em alguma atividade, manifeste o desejo.
- Eu não tenho nada pra fazer aqui, por isso que fiquei com sono.
- Então, já que descansou bastante, vai ajudar na cozinha.
- Quê?!
- Isto mesmo o que ouviu. A Patty também ajudou e o Ivan até ajudou a lavar uma das piscinas.
- Mas... eu não sei fazer nada de cozinha!
- Sabe sim. Quantas vezes você e suas primas já fizeram bolos?
- Mas, tio...
- Não tem “mas”. Você não reclamou que não tinha nada pra fazer?
Sentindo-se vencida, Suzana vai até a cozinha ajudar. A cozinheira ouve a menina fungando e pergunta:
- Tá chorando, gatinha?
- Não...é a cebola.
Passado algum tempo, Helena vai à cozinha e avisa:
- Suzana, já ajudou bastante. Agora vai lavar as mãos que daqui a pouco a gente chama pro jantar.
- Tá...
Ainda chateada, mas começando a reconhecer que está sendo antipática, Suzana, que há algum tempo não abria o seu diário, resolve fazê-lo, lendo neste as seguintes passagens: “Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais sem freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” (Salmos 32: 9); “Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente” (1 Pedro, 3: 10).
Rio, 31 de maio de 2002
Oi, seu diário chato.
Você me fala coisas que eu não gosto de escutar, mas gosto de você, porque depois só escuta as minhas queixas. Eu achei dura esta mensagem de cima, a gente ser comparada a um cavalo, mas a que vem depois complementa. Eu sei que estou sendo uma chata. Acho que não quero falar com Rodrigo porque tenho medo. Mas também, ele já se enturmou, eu não sei se ele gosta mesmo de mim. Eu senti uma atração forte por ele logo que o vi, confesso, pois fisicamente ele é muito atraente. Depois, gostei da pessoa, mas também acho ele meio confuso, apesar de parecer mais seguro que eu. Será que eu sou mais complicada do que penso? Voltando sempre à estaca zero, né? Só uso suas páginas pra me encher mais de dúvidas. Eu vou tentar refrear mais minha língua,mas não sei se vou conseguir.
Até lá, novas complicações.
Tchau,
Suzana
- Suzana, tá na mesa. Você vem? – chama Sandra
- Vou, pode ir que eu já vou.
Suzana guarda apressadamente o diário, muito bem guardado pois teme que alguém possa lê-lo. Depois, vai até o refeitório e senta-se à mesa junto com as primas. Patty aproxima-se:
- Sú, me perdoa, priminha. Eu magoei você.
- Tá Patty, deixa pra lá.
- Eu não faço mais isso, prometo. Posso sentar com você?
- Claro.
Suzana consegue relaxar mais durante o jantar e depois assiste ao culto com alguma resistência. Ao fim deste, chama Vitor.
- Tio.
- Oi?
- Me desculpa tá? Eu fui boba, chata.
- Vamos ter uma reunião com outros adolescentes e jovens agora. Quer ir?
- Tá.
Mesmo relutante, Suzana vai. Vitor senta-se à mesa no meio dos outros sentados em círculo e inicia:
- Em 1º lugar, agradeço a presença de minhas sobrinhas e dos queridos três primos que aqui estão e em rápidas palavras quero explicar que esta reunião é realizada com a direção do Espírito Santo de Deus. Nós lemos a Bíblia na linguagem de hoje que a Júlia vai distribuir para mim.
Júlia é a garota que Suzana viu com Rodrigo. Sente-se um pouco incomodada com sua presença, mas determina-se a ficar. Sorri amarelo para ela quando esta lhe entrega a Bíblia com um largo sorriso.
- ‘Brigada... – balbucia quase entre os dentes
- Nós vamos ler um trecho da Palavra de Deus, – Vitor prossegue – depois alguém poderá pedir a palavra e eu darei prioridade aos que estejam aqui pela primeira vez. Vamos todos abrir em Provérbios 23: 29 – 35. Vitor ora e depois inicia a leitura, lendo o primeiro versículo:
- Quem é que grita de dor? Para quem são as tristezas? Quem é que vive brigando e se queixando? Quem é que tem os olhos vermelhos e ferimentos que poderiam ter sido evitados?
- É aquele que bebe demais e anda procurando bebidas misturadas. – Júlia prossegue
- Não fique olhando para o vinho que brilha no copo, com a sua cor vermelha e desce suavemente. – Renato continua
- Pois no fim ele morde como uma cobra venenosa – Sônia lê o versículo seguinte.
- Você verá coisas esquisitas e fará tolices – lê Ricardo
- Você se sentirá como se estivesse no meio do mar, enjoado, balançando no alto do mastro de um navio. – lê Sandra
- E-então...você dirá: - Suzana dá uma pausa, com a voz embargada pelas lágrimas, mas consegue mesmo com dificuldade terminar – “Alguém deve ter batido em mim; acho que levei uma surra...mas...não...me lembro. Por que não consigo levantar? – lê alto, como se as palavras viessem diretamente de seus lábios – Preciso de...mais...um...gole... – Suzana desaba a chorar e Sônia também chora, consolada por Renato.
- Alguém gostaria de colocar alguma coisa sobre o que foi lido? – Vitor pergunta
- Eu! – Suzana se manifesta, pois sente necessidade urgente de extravasar.
- A palavra é toda sua querida. – Vitor a anima - Nós costumamos dar 10 minutos, mas quem está aqui pela primeira vez tem direito a mais tempo.
- Eu..eu...
- Não tenha vergonha de chorar, meu bem. – Vitor a apóia
- Tio, eu tô sentindo que isto foi pra mim.
- Não houve intenção de invasão. Nós trabalhamos com a recuperação seja na área que for. Eu adquiri uma experiência com o A. A. e adaptei a dinâmica feita lá com o respaldo da Palavra de Deus.
- Eu preciso falar...tô me sentindo sufocada! Eu tenho dado trabalho pra minha mãe! Ela deve estar me achando uma péssima filha! Que vergonha! Desde o Réveillon, eu comecei a querer descontar toda a minha frustração na bebida. Eu ouvi meu pai se queixar de mim. Fiquei tão revoltada que comecei a beber tudo que via na frente. Eu queria chamar a atenção dele, mas ele nem soube. Ele é tão frio comigo! Eu perdi o meu “filhinho”...e ele debochou de mim! – Suzana chora alto aos soluços.
- O “filhinho” dela era o Lalau, o cãozinho de estimação – Vitor explica para as pessoas surpresas.
- O meu pai sempre me odiou. Ele me virou a mão na cara há pouco tempo, quando eu tava de porre. Eu quis que ele visse, eu provoquei. Eu acho que dói mais a indiferença do que um tapa! Prefiro que ele me bata do que me ignore! – Suzana chora muito e não consegue mais falar. Sônia também chora e Renato a abraça. Vitor carinhosamente vai até Suzana que permanece sentada, a abraça e fala:
- Meu amor, se precisar sair pra lavar seu rosto, pode ir. Eu gostaria que voltasse depois, seria muito bom.
Suzana vai acompanhada por Sônia. Elas se abraçam e lavam seus rostos. Ao voltarem ouvem um testemunho:
- Meu nome é Júlia. Eu também gostava de beber e o vício foi mais intenso entre meus 16 e 17 anos. Eu vou fazer 19. Também não me dava nada bem com o meu pai. Ele me criticava e eu também descontava na bebida. Eu era muito agressiva com minha mãe. Um dia eu fui à igreja com uma amiga e aceitei Jesus. Desde então eu não bebi mais. Meu pai não mudou tanto, mas já tenho um relacionamento melhor com ele e com minha mãe, porque me relaciono bem com Deus, desde que aceitei O Filho d’Ele como meu único e suficiente salvador.
Após a reunião, Suzana acha: “É claro que o Rodrigo tá paradão naquela garota.” Referindo-se à Júlia.
- Suzana! – Júlia a chama.
- Oi. – Suzana vira-se e a olha sentindo-se derrotada, sem condições de competir com a suposta rival.
- Cê tá melhor?
- Tô... foi bobeira minha.
- Expressar os sentimentos não é bobeira. Você é muito sensível. É isto que o Rodrigo aprecia em você.
- Hein?! – Suzana fica perplexa – Ele falou isto pra você?
- Nem precisaria dizer. Ele não fala em outra pessoa a não ser você, desde que chegou.
- É?!
- Tá vendo como você se desvaloriza? Ele parece ser muito legal. Disse que você andava chateada com ele. Eu particularmente acho que você tem medo de ter uma amizade mais profunda com ele. Eu não costumo me enganar. Ele é um menino diferente, não se aproveita das garotas.
- Ele...andou vacilando comigo.
- Se ele vacilou deve ter se arrependido. Se não, não falaria de você com tanta ternura.
- Ternura?
- É. Ele disse que você é estourada, mas que por dentro desta pantera, tá uma gatinha dengosa.
- Pôxa...
- Ficou vermelha, hein?
- Ah, para! – Suzana ri sem jeito
- Suzana, alguém gostaria de falar com você – Vitor avisa. Logo depois aparece Rodrigo
- Suzana...meus parabéns.
- Ué...parabéns de que?
- Por ter tido coragem de botar pra fora seus sentimentos. Sensibilidade é uma qualidade.
- Eu tô meio sem graça. Eu tive vergonha de chorar.
- Você foi autêntica. Poucas pessoas tem coragem de expressar que precisam de ajuda, que sofrem. Eu quero também me desculpar se chateei você. Mesmo que eu tenha parecido intrometido é por que gosto muito, muito de você.
- Eu...também queria me desculpar. Eu fui grossa com você muitas vezes.
- Vamos esquecer, vamos recomeçar.
- É...a gente deixou que outras pessoas atrapalhassem.
- Bobeira da gente né?
- É... sabe que mesmo que tenha doído, aquela reunião me fez bem.
- Você precisava se abrir.
- É. Rodrigo, me desculpa, mas acho que foi tanta emoção que eu fiquei cansada. Vou tomar um banho e deitar. Amanhã será um novo dia. Boa noite.
- Boa noite.
Quando Suzana vai se virando de costas para ir para o quarto, Rodrigo a chama:
- Ah, Suzana!
- Oi? – responde ela virando-se para ele
- Bom banho! Sonhe comigo e não caia da cama!
- Ah! Você deve ter conversado muito com o tio Vitor! – Suzana ri, percebendo que o menino aprendeu as brincadeiras do tio.
- Com certeza.
- Tá Rodrigo. Amanhã a gente conversa mais, tá?
- Tá. – Rodrigo olha para lá com um olhar terno.
- Tchau... – Suzana despede-se.
- Tchau...- Rodrigo mantem o olhar fixo em Suzana e ela vai até chegar à porta do quarto andando de costas, também olhando fixo para ele. Rodrigo suspira e Suzana também, logo depois que entra no quarto encostada na porta.
- Alguém viu um passarinho verde. – Sônia observa
- É mesmo. - Sandra concorda
- Ah! – Suzana dá conta que as duas estão no quarto – Vocês tavam aí?
- Nós entendemos por que não nos viu. Tava sonhando acordada com seu príncipe encantado. – Sandra graceja
- Ah, para de “botar pilha!”
- Sú, eu vou mostrar uma coisa que o Rick gravou e que eu passei pra minha filmadora. – Sandra avisa
- O que?
- Vem aqui, num canto discretamente e controle-se, tá?
Suzana olha na filmadora e ri com Sandra. Ricardo gravou o primo Rodrigo dormindo, falando durante o sono:
- Suzana...Suzana...gatinha...
- Você tá vermelha? Ele é que vai ficar se alguém mostrar pra ele.
- Não faz isto. Fica entre a gente.
Suzana vai dormir feliz e novamente seu sono é tranqüilo. Sente que tirou um peso de si por ter desabafado na reunião. Sandra acorda durante a madrugada e vê a prima dormindo tranqüilamente.
- Mãe...te amo...tô com saudade... - Suzana murmura durante o sono
Na manhã seguinte Suzana e as primas vão assistir o culto. Embora não goste, Suzana consegue ficar até o fim. Pouco depois, todos vão para a piscina.
Na volta, no domingo ao cair da tarde, os respectivos “trios em R e S” conversam. Vitor deixa primeiro o trio masculino na Barra. Quando se despede das sobrinhas, deixa uma palavra de alerta para Suzana:
- Evite o primeiro gole.
- Vou lembrar disto, tio. ‘Brigada. Eu te amo.
- Também te amo muito.
Ao entrar e ver Soraya no jardim, Suzana joga-se nos braços da mãe:
- Mãe...que saudade, te amo.
- Vou mandar você pra fora mais vezes. – Soraya brinca com a filha observando seu carinho
- Ai...tanta coisa aconteceu. – diz Suzana
- Foi bom os meninos terem ido. – Sandra comenta.
- Claro que foi. – Heloísa concorda olhando com cumplicidade para a filha.
- Foi bom pra nós, sim, mas melhor ainda pra Suzana – conta Sônia – Ela e o Rodrigo se reconciliaram.
- Ah, Sônia! – Suzana fica ruborizada.
- É mesmo? – Soraya anima-se com a novidade.
- Temos uma “novela” pra contar. – enfatiza Sandra
- Com certeza com final feliz. – Soraya deduz
Suzana prepara-se para deitar quando ouve uns acordes de violão e vai até a janela. Para sua surprêsa, vê Rodrigo e os primos cantando. Embevecida ouve com atenção e tem a certeza dos sentimentos do garoto por ela.
- Ai......Você não existe cara! – Suzana –– grita para Rodrigo - Você foi inventado!
- Inventado pra você! – ele responde.
Os adolescentes apaixonados esquecem que é hora de deitar. Para isto, há sempre um jeitinho materno:
- Filha...filha! – Soraya chama Suzana
- Oi! Nem percebi você chegar.
- É natural. Você só tá vendo o Rodrigo na sua frente. Já é hora de deitar, você tem aula amanhã.
- Ah...deixa só mais um pouquinho.
- Só um pouquinho, mas deixa eu avisar aos cantores.
Soraya chega à janela:
- Meus parabéns! Que bom que ainda existe isto.
- Boa noite dona Soraya.
- Boa noite Rodrigo. Boa noite meninos.
- Boa noite – respondem os outros dois.
- Queridos, a idéia foi maravilhosa, mas amanhã todos vocês terão aula. Suzana tem que estar em forma pra treinar a coreografia que você tanto gostou, Rodrigo.
- Mãe... – Suzana fica sem graça.
- Com certeza. Posso cantar mais um número? – Rodrigo pede
- Só mais um, tá? - Soraya cede
- Tá. – Rodrigo aceita
- Tchau. – Soraya despede-se
- Tchau. – respondem os três.

4 comentários:

  1. Esse capítulo tá mto legal,com cenas tensas e outras engraçadas.Achei engraçado a Suzana na hora em que escreveu: "Oi diário chato".Nem o diário conseguiu escapar dela!rsrs
    Esse retiro foi bom pra todos eles,embora não tenham se convertido ainda,a semente já foi plantada nos corações.

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  2. Finalmente cheguei ao capítulo XXI...gostei muito desta história...espero pelo próximo capítulo...com expectativa de boas novas para essa família tão sofrida. Fiquem com Deus.

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  3. Olha só. Finalmente o Rodrigo e a Suzana se acertaram. Um dos capitulos que mais gostei =].

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  4. ain, que fofu esse cap!
    amei, simplesmente!
    *_*
    Parece q as coisas finalmente estão entrando nos eixos!

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