segunda-feira, 24 de maio de 2010

CAPÍTULO XX

CRESCE A LUTA ESPIRITUAL
Dois dias depois do debut de Sônia, no domingo, o Trio em S vai ao Barra Shopping.
Enquanto isto, no hospital público para onde foi Daniel, um médico indaga a outro:
- Cadê aquele cara que chegou mal aqui na madrugada de 6ª pra sábado?
- Ah, já foi liberado.
- Ele tava bem?
- Parece que sim.
- Como assim, parece?
- Ah, colega, então você não sabe que estes drogados não têm jeito?
- Que visão mais pessimista!
- Pessimista não, cara! É tudo igual. Você cuida, eles melhoram, daí a pouco, na primeira esquina eles encontram um traficante e se entopem outra vez!
Daniel que saíra sem rumo, encontra um “amigo”, companheiro de noitadas.
- Dani, cara. Você por aqui?
- Oi...
- ‘Cê tá esquisitão, cara! Que houve?
- Tô precisado de um abastecimento.
- Cara, lá no Shopping tem um fornecedor que marcou comigo.
- Como é que eu vou pagar? Tô durão.
- Deixa comigo.
Ao chegar ao shopping, o que Daniel não esperava é que o fornecedor fosse alguém conhecido.
- Dani Castelli!
- Você?
- É, cara! E aí, tá me devendo, aquele celular não foi o bastante pra saldar a dívida.
- Cara, eu tô na maior fissura!
- Te vira!
- Peraí! – Dani avisa quando avista Sônia que no momento está sem as outras por perto.
- Sônia, - Daniel agarra a prima num ímpeto, - as meninas estão aqui?
- Estão numa loja aqui perto. – Sônia responde apavorada
- Não diz que me viu. Me dá substância, agora!
- Cê tá louco?
- Tô, tô sim e se você não me der eu te estrangulo aqui agora! Me dá este celular também!
Daniel tira todo o dinheiro que tem na bolsa de Sônia que fica paralisada. Daniel vai até o traficante.
- Tá aqui, cara. Não cobre tudo, mas ajuda.
- Vamos lá pra fora conversar.
- Cara, ‘cê tem que me arrumar um.
Lá fora, Daniel tenta negociar com o traficante que acaba cedendo:
- Eu enrolo o chefe. Te arranjo mais em troca de clientes.
- Falou.
Suzana e Sandra que estavam numa loja voltam. Sônia está estática, sem conseguir dizer uma palavra.
- Sônia, ‘cê tá estranha, o que houve? – pergunta Suzana assustada.
- É Sônia, o que foi? – Sandra também se preocupa.
- Gente...o...Dan... – Sônia não consegue dizer mais nada e desmaia.
- Sônia! – exclamam as duas juntas.
Suzana ajoelha-se e tenta reanimar Sônia enquanto Sandra pensa no que ouviu a prima tentar dizer.
- Suzana, ela viu o Dani. Ela tentou dizer o nome dele. Eu sei que o que ela viu não foi coisa boa.
- Sandra, não dá pra pensar nisto agora. Precisamos de ajuda.
Um segurança as ajuda a socorrer Sônia e juntos vão até o carro.
- O que foi? – Alfredo espanta-se ao ver Sônia desmaiada.
- Estamos tentando descobrir. – Suzana responde.
- Vamos pra casa, Alfredo. – Sandra pede. - No caminho eu conto.
No carro, Sônia volta a si e lembra-se do ocorrido. Conta às primas e chora muito. Sandra fica frustrada por não ter visto o irmão e conta o fato à mãe. Sônia também conta à Lúcia que lamenta por saber a que ponto Daniel chegou.
Suzana, a menos atingida com o fato, vai até às “dependências” de seu “filhinho”, levar sua comida:
- Lalau, filhinho, aqui tá o seu papá. – o cãozinho está de olhos fechados não se mexe.
- Lalau, acorda, filhinho... – o cãozinho continua imóvel e Suzana estranha, tocando-lhe, sentindo-o frio.
- Lalau...Lalau...Lalau! LALAU! Nãaaaaaaao! – Suzana chora desesperadamente não querendo acreditar que aquele animalzinho a quem dispensava tanto amor havia morrido.
- Suzana! – Alfredo ouve os gritos intercalados por soluços de Suzana. – Que foi filhinha?
Alfredo observa e entende o que ocorreu e abraça carinhosamente Suzana. Soraya também ouve e vem apressada
- Suzana! Que foi filha?
- O Lalau dona Soraya – responde Alfredo
- Vem, filhinha, vem com a mamãe. - Soraya entende e também abraça a filha, levando-a para dentro.
Suzana fica no quarto, deitada na cama, imóvel, sem dizer uma palavra, preocupando a mãe e às primas.
- Filha, não fica assim. – Soraya acaricia a filha, tocando-lhe na testa e percebe-a quente.
Soraya chama o médico que a tranqüiliza assegurando-lhe que trata-se de fundo emocional.
No dia seguinte, Suzana não vai à aula e no recreio, Rodrigo encontra Sandra:
- Oi, Sandra, a Suzana não veio?
- Ai, nem te conto.
- Que foi?
- Rodrigo, o Lalau, o “filhinho” dela, morreu ontem.
- Pôxa...
- Ela tá arrasada. Teve até febre, não dormiu direito, teve pesadelos, acordou aos prantos.
- Sempre que ela tá começando a reagir alguma coisa acontece pra derrubar. Parece até “encosto!”
- Ai, você também?
- Eu também o que?
- Meu tio Vitor, no aniversário da Sônia tava falando em diabo, você agora fala em “encosto!”
- Olha, Sandra, eu falei por falar, mas você não acha que existe o mal neste mundo?
- Ah, isto eu acho.
- Eu não posso afirmar que exista diabo com chifres, com tridente, orelhas pontudas vermelhas, mas o mal existe.
- Eu vejo tanta coisa ruim que continuo me perguntando se Deus existe mesmo.
- Eu vejo Deus em pessoas do bem, que superam os problemas com perseverança.
- Eu vejo os bons sentimentos nas pessoas, sim. No tio Vitor, na tia Helena, na tia Soraya, na minha avó Marisa na avó Dete. Também vejo isto em você, nos seus primos.
- Então, sua visão do bem tá melhorando!
- É, mas, sabe, Rodrigo, eu amo a Suzana, mas acho você muito paciente. Ela tá um saco.
- Dá um tempo pra ela, Sandra, ela vai sair desta.
- Você fala com tanta certeza que até me impressiona.
- Vai, sim. Sandra, pode ser que a morte do “filhinho”, tenha acontecido pra dar uma reviravolta na vida dela.
- É?!
- Ela jogava muito da carência dela pra aquele bichinho.
- Pior que sim. Ela tratava o Lalau que nem gente.
- Ela tem complexo de rejeição, tem medo de se entregar às pessoas. Ela sabe que pode contar com você e a Sônia, seu tio Vitor e outras pessoas. O problema dela é o pai.
- “Altas psicologias!” Olha Rodrigo, o papo tá bom, mas eu tenho que subir, o sinal tocou.
- Tchau! – Sandra despede-se.
- Tchau, Sandra.
Voltando da escola, Sandra vai primeiro para sua casa e depois vai até a casa de Genaro saber de Suzana Suzana sobe até o quarto da prima e chega perto dela que está deitada de lado na cama, imóvel.
- Sú...minha pantera linda...eu sei que ‘cê tá sofrendo, mas reage, sai desta cama, você tava criando uma coreografia linda pra gincana. Sai dessa, Sú.
Suzana olha para a prima, mas logo desvia o olhar como quem diz: “Você não me entende.”
- Pensa na sua mãe que perdeu a mãe dela tão cedo. – Sandra fala com mais firmeza - Compara sua situação com a dela. Minha mãe perdeu mãe e pai num espaço de menos de dois anos! Para de se sentir a pessoa mais infeliz do mundo, porque você não é! – Sandra olha a prima bem no fundo dos olhos. Esta fixa o olhar nela com uma certa revolta, mas não diz nada, pois no íntimo sabe que a prima tem razão.
Mais tarde, Soraya sobe ao quarto de Suzana e exige uma reação da filha:
- Suzana, filha, você já está bem, não está mais com febre. Amanhã vai pro colégio.
Suzana, que estava encolhida deitada na cama agarrando um travesseiro na horizontal e com outro que apoiava a cabeça, senta-se na cama e olha a mãe com espanto.
- Não fica com esta expressão indignada. Já deixei você viver seu luto. Agora, é andar pra frente.
Continuando a sentir-se indignada, Suzana deita-se bruscamente na cama, como em sinal de protesto, como quem não é entendida. Soraya não se abala, mantem-se firme e prossegue:
- Sei que tá se sentindo incompreendida, mas, ouça bem: não se joga a carência toda da gente num cãozinho de estimação.
- Não fala assim do meu filho! – Suzana protesta. Embora sentisse vontade de rir, Soraya segura-se sem se deixar levar pela reação da filha.
- Quer você aceite ou não ele era um cãozinho. Você vai à escola amanhã e vai continuar ensaiando a coreografia e voltar às suas atividades normais. A vida continua.
Mesmo indignada com a exigência da mãe, Suzana não perde o senso de justiça e cumpre suas ordens. Nos dias que se seguem, o seu estado de apatia no colégio preocupa professores e colegas mais chegados.
Sandra também demonstra a preocupação com o irmão e Ricardo a procura no período do intervalo na escola:
- Sandra, você não quer conversar um pouco? Desabafa, eu tô sentindo que você não tá bem.
- Ai, Rick! – Sandra abraça Ricardo encostando sua cabeça no ombro dele e chora.
- Chora que faz bem, não guarda, não, fala.
- Rick, eu tô cansada de ficar bancando a forte. Suzana tá fazendo o maior drama por causa de um cãozinho de estimação que morreu e eu sem saber do meu irmão, imaginando se neste momento ele possa estar vivo.
- Mas você contou que o viram no Shopping.
- Eu não vi, ele tomou dinheiro da bolsa da Sônia, tomou o celular e sumiu. Parece que tava fugindo de alguém.
- Uma pista você já tem. Se ele há poucos dias tava na Barra, não deve ter ido pra muito mais longe.
- Eu sei lá...no mesmo dia falei com meu pai, ele saiu de carro procurando o Dani, mas não teve o menor sinal dele. Já perguntou na faculdade, mas ou ninguém sabe, ou tá mentindo muito bem.
- Fico triste por você. Eu quero ajudar no que eu puder. Posso ajudar a procurar também.
- Você já ajuda muito me ouvindo. – agradece Sandra com um sorriso correspondido por Ricardo.
Ao chegar ao Solar, Suzana ia para o quarto, mas recua ao ouvir uma discussão próxima ao escritório de Genaro:
- A nova frescura dessa menina agora é aquele cachorro! – critica Genaro.
- Genaro, para com isso! Ela já foi ao colégio, tá reagindo. – Soraya argumenta.
- Já era hora de voltar pra escola! Vê se pode! Ficar com febre por causa de um bicho!
- Você, hein? Pensei que estivesse um pouco mais sensível. Como você é implicante!
- Eu não tenho saco pra estas coisas! Eu já tive e tenho cachorros e sempre tratei como cachorros!
- Não adianta argumentar com você, hein, Genaro? Por quê você insiste em ver tudo de uma maneira tão fria?
- Eu sou prático. Meu pai criou os filhos para enfrentar a vida! Eu não aceito na minha família um drama desses por causa de um animal! Era só o que faltava!
- Genaro, eu não vou ficar discutindo com você. Espero que ainda tenha a capacidade de refletir.
Soraya dirige-se à porta. Suzana deduz que ela sairá do escritório e apressa-se em subir.
Suzana sente um ódio profundo do pai. No quarto, pega o diário como uma válvula de escape, para despejar nele toda sua indignação. Lê as passagens: “Porque o que sucede aos filhos dos homens, sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego de vida e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade” (Eclesiastes, 3: 19); “O homem revestido de honrarias, mas sem entendimento, é antes como os animais que perecem” (Salmos, 49: 20), e começa seu relato escrevendo com raiva:
Rio, 24 de maio de 2002:
Eu tô cheia! Cheia das críticas do meu pai, cheia de tudo! Eu não posso nem sentir a morte do meu filhinho, fico engolindo os deboches, o desrespeito do meu pai! Te nho vontade de matá-lo! Eu odeio ele! Que saco! Eu tô aqui, chorando, mas ele não vai ter o prazer de me ver infeliz! Eu vou...
Naquele exato momento toca o telefone e Suzana atende com o tom de voz agressivo:
- Alô!
- Suzana? – Joana está do outro lado da linha.
- É.
- Tudo bem?
- Tudo...quer dizer....ah, desculpa Joana, não é nada demais, não. Alguma novidade? Você não me liga faz tempo.
- Eu gostaria de convidar você e as suas primas pra uma reunião aqui na casa da Glória, a minha prima em Ipa. Não tem hora pra acabar. Os pais dela deixaram, vão sair pra deixar o pessoal mais à vontade, desde que haja ordem.
- Ah...tá. eu falo com a minha mãe depois com as meninas.
Enquanto isto, Sandra em seu quarto abre seu diário lendo antes os trechos bíblicos: “Porque um menino nos nasceu, um filho sê nos deu; o governo está sobre os seus ombros e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías, 9: 6); “Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo e ele nada tem em mim” (João, 14: 30). Sandra inicia seu relato refletindo sobre o que leu:
Rio, 24 de maio de 2002:
Meu querido diário:
A Suzana tá vivendo ainda a perda do Lalau e eu apesar de entender, mesmo achando um exagero, tô noutra. Claro que eu já vivi perdas e sentiria a falta de um cãozinho de estimação, mas não desse jeito. Tudo é passageiro, mesmo o que é bom. Eu gosto de ser prática.
Outro dia, tio Vitor falou de Deus e eu confesso que tenho ficado muito descrente pelos últimos acontecimentos. Poucos dias depois, o Rodrigo que me parece ser neutro, me disse acreditar no mal. Isto me fez refletir, porque eu não rejeito o que os outros dizem, ainda mais se conheço a pessoa e sinto que tem uma boa visão da vida, das coisas. Agora eu leio estas passagens e me questiono: se existe este Deus, por quê Ele permite que este “príncipe do mundo” continue fazendo tantas maldades? Eu quero justiça, porque vejo tanta coisa errada! Onde estará o Dani? Me pergunto se neste momento ele tá vivo. Meu pai já tentou achá-lo e não conseguiu. Se Este Deus que tio Vitor, tia Helena e a minha avó crêem realmente existe, eu preciso de uma prova pra crer n’Ele, no Seu poder.
Te mais,
Sandra.
Com as autorizações de suas respectivas mães, as meninas vão à reunião. Soraya acha que a filha precisa se divertir. Soraya está lendo o jornal enquanto Genaro deita-se mais cedo por causa de uma reunião de negócios na manhã seguinte. O telefone toca e ela atende:
- Alô?
- Cunhada!
- Oi, Vitor, tudo bem?
- Tudo ótimo. Como é que está a Suzana?
- Ah, bem melhor. Aceitou até um convite de uma amiga pra ir a uma reunião com as meninas.
- Sei...eu estou ligando pra fazer outro convite.
- Diga.
- Neste próximo feriado que cai agora na 5ª feira, dia 30, as escolas vão enforcar, pelo menos a da Patty vai.
- A das meninas também.
- Pois é. Eu queria convidá-las para um acampamento que vai ter agora neste período. A ida vai ser na 4ª feira à noite e a volta domingo à tarde.
- Eu depois pergunto à elas se querem ir.
- Aguardo resposta até a véspera.
- Tá. Eu ligo. Boa noite, cunhadão. Tchau.
- Tchau.
Vitor desliga e Helena pergunta:
- E então, amor, como foi?
- Ela não deu certeza de nada, mas eu sei que elas vão, em nome de Jesus.
Daniel não estaria muito longe. Andando pela Barra, um colega da faculdade, Alexandre, o vê e o chama:
- Dani! Dani! Vem, cá, cara!– o rapaz impressiona-se ao ver Daniel com a aparência de quem não toma banho há alguns dias.
Daniel fica com medo, não sabe se recua ou se vai até o colega e fica quase paralisado quando ele chega.
- O que você quer comigo?! Eu não fiz nada!
- Que é isto, cara? Eu quero te ajudar.
- Você vai me entregar pra polícia!
- Não cara. Você precisa de um banho. Eu tô alugando um apartamento pequeno aqui perto, vamos lá.
Apesar de desconfiado, com os olhos arregalados de pânico, Daniel acaba cedendo ao colega que fala mansamente:
- Vem, cara. Não fica com medo, eu quero te ajudar.
Daniel permanece imóvel mas o colega com jeito o convence e o leva de carro ao seu apartamento.
Enquanto isto, Suzana e as primas estão em Ipanema, na reunião que Joana convidou. Suzana chama a atenção de um garoto, Tiago, amigo da anfitriã. Tiago não tira os olhos de Suzana e pergunta a um amigo:
- Conhece aquela “gataça?”
- Não.
- Olha, se ela não tiver namorado, vai passar a ter. Se tem, vai ter outro agora.
Tiago se aproxima de Suzana e os dois conversam. Joana comenta com a prima:
- Glória...a Suzana e o Tiago ‘tão num papo animado e eu chamei o garoto que tá a fim dela, o Rodrigo.
- Deixa, ué...a coisa vai ficar mais quente!
- Glória! O garoto é legal. Ele vai ficar magoado.
- Mas Joana, ele tá namorando a garota?
- Não, ela gosta dele mas é insegura. Por isso eu convidei o Rodrigo, pra ver se os dois se entendem.
- Mas eles já se conhecem há algum tempo e não rolou nada?
- Eles são diferentes, né, Glória?
- Eu acho que ele é um otário e ela tá investindo. Dei muito mais ponto pra garoto que não ficou esperando muito.
- Existem exceções. Se eu conhecesse um garoto como o Rodrigo, que gostasse de mim, eu daria muito mais chance a ele. Falo pela experiência que tenho hoje. Você fala assim porque nunca gostou realmente de alguém.
- O negócio mesmo é “ficar”. Tudo bem que essa garota não queira, mas ela não é mais criança.
- É? Ela só tem 15 anos.
- Menina...eu pensei que ela tivesse no mínimo 17!
- Ela já aparenta mais idade e tá usando salto alto e a roupa, maquiagem.
A conversa continua mais animada e a música convidativa à dança. Suzana e Tiago dançam músicas agitadas e...lentas, o que propicia um clima entre os dois que dançam abraçados e neste intervalo vão para perto da janela para conversar mais livremente. Tiago fica fascinado por Suzana e ela gosta de ser cortejada.
- Tá vendo lá? Tem um barzinho, vamos lá?
- Mas eu tô com as minhas primas.
- Ah, deixa elas pra lá, gata! Vamos curtir.
- Mas...como é que a gente vai sair assim?
- Ninguém vai notar. Tá escuro. A gente sai pelos fundos.
Sem ser notados, os dois silenciosamente saem pelos fundos. Joana dá pela falta dos dois e pergunta à prima:
- Cadê a Suzana? Não tô vendo nem ela nem o Tiago.
- Acho que os dois saíram.
- Mas...aonde será que eles foram?
- Ah! Devem ter ido perto.
Joana corre até a janela. Como está no 2º andar, vê Suzana e Tiago dirigindo-se ao barzinho. Procura Sandra e conta aonde Suzana e Tiago foram. Poucos minutos depois, chega o “trio em R”. As meninas cumprimentam seus pares rapidamente e pedem ajuda a Rodrigo:
- É aqui perto? Eu vou lá – Rodrigo mostra-se decidido
- Vê lá hein, Rodrigo, não vai arranjar briga com o cara. – Sandra alerta
- É bom ele ir mesmo! - uma garota na festa apóia - Ele já namorou a minha prima. Aprontou muito com ela.
- Já tô indo. – Rodrigo dirige-se para a porta, como se não visse mais ninguém nem nada em sua frente.
- Acho melhor a gente também ir lá. – Ricardo decide.
- Vamo nessa! – Renato concorda imediatamente.
Na porta do bar, Rodrigo recomenda aos primos:
- Me esperem aqui embaixo. É mais garantido. Se ela tentar escapar de mim, vocês ajudam.
Rodrigo sobe e não vê Suzana. Fica procurando e resolve esperar um pouco. Numa mesa no canto, Tiago conversa com um amigo que encontrou:
- Tiago, você tá namorando aquela gata que foi ao toalete?
- Quase. Tô investindo.
- Cara, cê sabe quem é ela?
- Por quê? Tô ignorando alguém importante?
- Você já ouviu falar na CASTELLI EMPRENDIMENTOS, do empresário Genaro Castelli? Ela é filha do cara.
- Você a conhece há muito tempo?
- Eu fui no início do ano à festa de 15 anos dela.
- Cê tá me dizendo que aquela “escultura”, aquela “obra prima”, aquele “manjar dos deuses”, tem só 15 aninhos?
- Disfarça que ela tá voltando.
Rodrigo esconde-se num canto, observando e repara que Suzana está meio tonta.
- Oi. – Suzana cumprimenta o amigo de Tiago.
- Este é o Wagner, esta é a Suzana – Tiago apresenta os dois, fingindo não saber que se conheciam. Suzana a princípio não se lembra de Wagner, mas tem idéia de já tê-lo visto antes.
- Você...eu já o vi em algum lugar.
- Claro, eu fui ao seu aniversário. Nossos pais se conhecem. Meu pai é o Davi Zenatti, empresário.
- Sei...
- Você tá bem? Seus olhos estão tão vermelhos – Wagner pergunta
- Se você não tá bem, podemos ir embora. – sugere Tiago um pouco preocupado.
- Agora que eu cheguei?! Eu vou é curtir muito! – Suzana fala alto, chamando a atenção de todos. Rodrigo não se contem e vai até ela.
- Suzana, v’ambora. – Rodrigo intima
- De onde é que você veio? – Suzana espanta-se ao vê-lo
- Eu fui convidado pela Joana.
- Esta agora! Cai fora, cara!
- Cara, você ouviu, te manda! – Tiago ameaça.
- Ah, é? Eu vou chamar tua mãe aqui! – Rodrigo adverte Suzana
- Cara, deixa a garota em paz! – Wagner também toma partido.
- Ih, qual é? A garota é menor, vocês deixam que ela tome um porre e ainda querem briga, é?
Também escondidos, Ricardo e Renato resolvem intervir em defesa do primo.
- Se é pra brigar, a gente entra na briga também! – Ricardo se manifesta.
- Não seja por isto! – Tiago levanta-se
- Cara, ‘cê não conhece o pai da garota. - Wagner, argumenta, sussurando ao ouvido de Tiago
- Esta agora tá boa! – Suzana ironiza – Vou ser disputada!
- Vamos parar de encrenca ou eu chamo a polícia! – avisa o dono do bar. – Se mandem daqui agora!
Todos são obrigados a sair e na rua, a discussão recomeça:
- Agora estamos na rua, cara! – Tiago desafia novamente.
- Cê tá mesmo a fim, hein? – Rodrigo não se intimida.
Wagner, tenta separar os dois que começam a brigar assistidos por uma platéia inerte na rua. Alguns, por medo, outros divertindo-se com o fato. Preocupada, Joana aparece com Sandra e Sônia:
- Gente, por favor, para com isto! – Joana pede
- Para gente! – Sandra reforça o pedido também aos gritos – É tudo culpa sua! – Sandra repreende Suzana, que tonta pela mistura que bebeu quando estava no banheiro do bar, já não consegue dizer nada e cai ao chão.
- Suzana! – Sônia grita
- Para! A Suzana desmaiou! – Joana grita com os rapazes, que encerram a briga. Rodrigo a pega no colo e leva para o apartamento de Glória.
- É mole?! Essa garota não podia escolher outra festa pra estragar, não? - Glória reclama
Sandra dá uns tapas em Suzana para reanimá-la, começando a bater de leve, depois com mais força.
- Ai! Que saco! - Suzana acorda, reclamando dos tapas
- Gente, me ajuda aqui – Sandra chama as outras para levantarem Suzana que está mais pesada devido ao seu estado e a levam para o banheiro. Sandra ajudada pelas outras, joga água no rosto da prima que grita:
- Para! Saco! – Suzana fica cada vez mais furiosa.
- Ô garota, dá um tempo! – Glória adverte. – Com esta altura toda, agindo como uma criança! Você hein, Joana?! Convida cada uma!
Saindo do banheiro, Suzana, raivosa, desconta em Rodrigo:
- Você tinha que aparecer, né?! Te odeio! – tenta avançar no garoto sendo segura pelas primas e por Joana.
- Eu fiz o que achei certo. – Rodrigo responde firme, seguro, com o olhar fixo em Suzana.
- Te mete com tua vida, cara! Eu te odeio! TE ODEIO!! – Suzana chora de raiva, mas Rodrigo não se abala.
- Você pode até estar com ódio de mim, mas ainda vai me agradecer. – Rodrigo continua seguro
- Vai esperando! Deitado, pra não cansar! – Suzana fica ainda mais raivosa.
Alexandre consegue contactar com Paulo pelo telefone, informando que Daniel está em seu apartamento.
- E aí, cadê ele? - Paulo pergunta ao chegar
Alexandre faz um sinal de silêncio com o dedo, alertando que Daniel pode ouvir e depois sussurra:
- Ele tá lá no quarto dos fundos. Espera que eu vou chamar.
Ao entrar, Alexandre tem a impressão de que Daniel está deitado, pois vê um volume debaixo das cobertas.
- Dani...Dani... – chega perto, cutucando-o de leve, mas para sua surpresa, Daniel não está lá.
- Que foi? – Paulo pergunta quando Alexandre volta à sala
- Dr. Paulo, me desculpe, mas eu acho que o Daniel deve ter ouvido o meu telefonema escondido ou percebeu alguma coisa. Ele fugiu. Mas ele não deve ter ido muito longe. Podemos procurá-lo.
- Tá, quem souber primeiro avisa o outro.
As três primas no início da manhã são levadas para casa por Alfredo. Suzana dorme durante o percurso. Quando chegam, Soraya que havia acordado mais cedo percebe pelos olhos vermelhos da filha que está de ressaca.
- Oi mãe... - Suzana fica sem graça ao vê-la.
- Oi, mãe?! É só isto que tem a dizer? Francamente! Vendo você assim, eu me segurei; primeiro, tive vontade de te trazer arrastada pelos cabelos; depois, quis te dar umas palmadas; por fim, quase te dei uns puxões de orelha! Eu acho vergonhoso querer tratar você como criança, tanto pra você quanto pra mim!
- Me perdoa, mãe. – Suzana tenta chegar perto, mas Soraya é dura e recua.
- Não tem refresco não, senhorita! Suba, tome um banho e vá pra cama curar esta ressaca! Vê se não faz barulho pra seu pai não acordar! Mais tarde nós conversamos e vou impor a você os devidos limites que está precisando!
Suzana dorme até a tarde. Acorda deprimida com dor de cabeça e espera a sanção da mãe, que comunica:
- Suzana, até segunda ordem, está proibida terminantemente de ir à qualquer festa! Ai de você se desobedecer!
No colégio na semana que se inicia, alguns colegas são cruéis com a menina, pois estiveram na festa na qual se deu sua última bebedeira. Uma colega conta à Luciana, na hora do intervalo:
- A Suzana na festa da Glória, prima da Joana. Saiu escondido com um garoto que tava lá, foi a um barzinho e tomou o maior porre!
- Ela é uma beberrona, mesmo! – Luciana zomba sem saber que Suzana está perto ouvindo e surpreende-se quando é agarrada por esta pela blusa.
- Vou te fazer engolir o que falou, sua cretina! Você é a última que pode falar!
- Ih! Me solta!
- Sua falsa! Te arrebento a cara!
Sandra, Sônia seguram Suzana enquanto outras separam Luciana dela. Hermínia percebe o tumulto e ordena:
- Suzana e Luciana! Vão pra minha sala agora! Sônia e Sandra e vocês que assistiram a briga, venham também!
Depois de tudo explicado, Hermínia determina:
- Vão ficar depois da hora e suas mães serão chamadas. Desta vez darei uma chance, mas na próxima serão suspensas.
Soraya volta com Suzana que ficou depois da hora e passa-lhe uma repreensão:
- Só faltava esta agora! Mas você vai se imendar! Ah, se vai!
- Eu tô cheia!! – Suzana sobe de carreira as escadas sem ouvir Soraya
- Suzana! Volta aqui, menina!
No quarto, Suzana tem uma crise, jogando as coisas no chão, gritando. Soraya, enérgica, bate na porta:
- Abre ou eu arrombo esta porta! Eu chamo o Alfredo!
- Me deixa em paz!
- Abre a porta! Não sabe mais se controlar? Será que vou ter que chamar um médico pra te dopar?
Suzana abre, mas olha para a mãe com revolta.
- Eu tô cheia do meu pai! Só me critica, só vê defeitos em mim! Eu quero morrer!
- Para com isso, Suzana!
- Eu não agüento mais! – Suzana berra e chora, completamente fora de si e jogando as coisas no chão novamente, fazendo uma cena e Soraya toma uma atitude. Como é contra bater, joga-a na cama, segurando seus braços com as mãos e seu tronco entre as pernas.
- Me solta, mãe!
- Não! Só quando você se acalmar!
Suzana tenta reagir, mas não tem coragem de desrespeitar a mãe. Chora mais ainda sem o menor controle.
- Mãe, eu vou ficar quieta, prometo. – Suzana sente-se vencida.
Vendo que ela não vai reagir, Soraya a solta e pede que Odete fique com ela enquanto liga para Vitor. Após a breve conversa com o cunhado, Soraya fala com Suzana:
- Suzana, você vai a um retiro com seu tio Vitor no próximo feriado.
- Quê?!
- Isto mesmo. Você vai ter tempo pra poder refletir num local tranqüilo.
- Mas mãe...
- Suzana, não tem mas, você vai. Suas primas podem ir com você se quiserem, seu tio convidou todas.
- Eu não quero ir!
- Tem outra opção: fica na casa da sua avó, mas pra lá irá sozinha.
- Saco... – sussurra de raiva entre os dentes.
- Quê?
- Não...nada.
- Então, está resolvido. Você vai com suas primas e seu tio.

4 comentários:

  1. Nossa mas a Suzana tá demais hein!Eu sei que ela é problemática,mas haja paciência pra aguentar esse comportamento compulsivo!Ainda bem que ainda tem gente que tem paciência o suficiente pra conviver com ela.

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  2. Que tensão!
    Concordo com a Erica, haja paciência par aguentar alguém assim, só com muito amor.

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  3. Pensei que Suzana tinha melhorado depois daquele momento com o Bruno e o tempo que pasou na casa de Vitor.
    Concordo também com Erica.

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  4. Nossa, agora eu fiquei abismada com a Suzana!
    Ela tá completamente desnorteada, meu pai!
    só um raio de luz no meio do caminho, assim como foi com o apóstolo Paulo, pra poder fazer essa garota acordar!

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