sexta-feira, 2 de julho de 2010

CAPÍTULO XXIII

UM PLANO QUASE PERFEITO
O policial continua observando todo o movimento do Solar fingindo fazer a ronda revezando com um cúmplice e manda comparsas atrás de Genaro, para pesquisar o momento apropriado para executar o plano. Ao ouvir uma conversa casualmente, fica atento:
- E aí Alfredo, vai ouvir a Suzana cantar? – pergunta Viriato
- Cara, hoje é o grande dia!
- Parece até que é sua filha.
- É como se fosse.
- Dr. Genaro vai?
- Vai. Os pais do Rodrigo vão estar lá.
Viriato faz uma expressão de quem entende a causa da ida de Genaro.
O policial pega o rádio e avisa:
- Vai ser hoje. Uma grande oportunidade.
Suzana e as primas ansiosas contam as horas para o evento. Todos dirigem-se ao início da tarde para o colégio Rigel. Genaro, por insistência de Soraya e por sua própria conveniência comparece para conhecer o pai de Rodrigo, mais um bom contato para negócios. Paulo e Sérgio também vão para prestigiar os respectivos filhos. Embora a gincana se dê na véspera da final da Copa do Mundo, conta ponto para todas as matérias.
Lá fora, a quadrilha combina o esquema:
- Então vai ser daquela distância, ninguém vai ouvir nada.
- Você testou estas armas? É laser mesmo?
- Cê acha que tá lidando com um amador?
- Se não der certo vamos ter que esperar por outra oportunidade, porque dentro do Solar não dá.
- É...mas hoje deve dar certo.
- Qualquer alteração, o Waldir tá encarregado de avisar. O esquema tá perfeito. A gente pensou em tudo.
No colégio, Luciana em conchavo com outra menina, planeja que Suzana se saia mal na apresentação:
- Tá aqui, botei neste copo. –Luciana avisa
- Será que ela bebe? – pergunta a outra
- Ela vai tomar de um gole só! – Luciana afirma
Suzana apresenta-se com sucesso na coreografia com Sandra, Sônia e outras duas meninas. A platéia delira nos aplausos. Pouco antes da apresentação de canto, a menina que estava em combinação com Luciana, a chama:
- Suzana, não tá com sede? Bebe um gole antes de cantar.
- Ah, ‘brigada.
Suzana sente o cheiro do conteúdo e fica paralisada. A menina está certa de que ela não resistirá. Suzana começa a ter as mesmas sensações de ansiedade, sentindo calafrios à altura da nuca. Quando vai beber, lembra das palavras de Vitor: “Evite o primeiro gole”. Tira o copo de perto da boca e olha fixa e seguramente para a garota, dizendo:
- Eu tô muito feliz, por isto, vou devolver este copo sem dizer nada. Senão com certeza, eu atirava o que tá dentro na tua cara! Toma, perua! – Suzana joga na mão da menina que fica perplexa e dá-lhe as costas saindo vitoriosa.
Suzana impacta a todos nos bastidores devido a sua reação, dirige-se para o palco, canta e é ovacionada.
- Parabéns Genaro! – César cumprimenta
- Obrigado.
- Vitor, como a Suzana tá segura! – Helena comenta com satisfação
- Isto é só o começo. – Vitor afirma
Suzana recebe flores, agradece ao colégio e aos participantes de sua equipe, professores e a todos os presentes de sua família e amigos. Nos bastidores, Luciana morre de inveja.
A equipe de Suzana é premiada e ela em particular pela coreografia e pela interpretação. Todos tiram fotos juntos. Após algumas horas, quando muitas pessoas já haviam ido embora, os Castelli e os familiares de Rodrigo conversam despreocupadamente lá fora. De repente, Genaro indo em direção ao carro, observa espantado:
- Que é isso?! Os quatro pneus arriados?! Como é que pode?! Este colégio não tem seguranças?
- Claro que tem, Genaro. – Soraya lembra
- Então como é que não viram nada? Vou apurar isto.
- Genaro, não arruma confusão. – Soraya argumenta
- Ele tem razão. – César opina – Os seguranças devem prestar atenção nestas coisas.
- Mas gente, não vai adiantar, já fizeram a maldade. – Eneida tenta apaziguar
- Mas é realmente muito estranho. – Paulo observa
- Vamos fazer o seguinte: - Vitor tem uma idéia - já está tarde e não é conveniente que fiquemos aqui. Estou com meu carro, o Paulo com o dele, o Sérgio também. Nós dividimos o pessoal nos carros e depois se pensa no resto.
- Eu vou ficar aqui. – Genaro decide
- Eu ajudo o senhor Dr. Genaro – Alfredo oferece
- Eu vou procurar apurar o que houve e você procura ajuda. Aqui perto tem um posto.
Como todos tem muito espaço nos seus carros, não é preciso fazer muitas divisões de carona. Paulo leva Ricardo e Sérgio leva Renato. César e Eneida insistem em levar Soraya e Suzana, para que a última vá com Rodrigo.
Genaro procura saber sobre o ocorrido, mas os seguranças afirmam não ter reparado nada. Viram os quatro pneus furados, mas não ouviram nenhum ruído e embora estranhado, tiveram a impressão de ter sido naturalmente. Furioso, Genaro aguarda Alfredo que se dirige para o posto. Antes que este volte com ajuda, recebe uma coronhada e cai desacordado, tendo seu celular roubado para dificultar a comunicação. Devido a demora de Alfredo, Genaro o procura, afastando-se um pouco das proximidades do colégio. Os bandidos encapuzados agarram Genaro que nem tem tempo de gritar, encapuzando-o e jogando-lhe dentro do carro, advertindo:
- Cala a boca, senão leva chumbo!
Em casa, Soraya a princípio não se preocupa, pois sabe que por ser sábado e pelo horário avançado haveria dificuldade para resolver o problema. Porém, ao passar de meia-noite, liga para o celular de Genaro e ouve a gravação de caixa postal. Liga para o de Alfredo e o resultado é o mesmo. Fica mais apreensiva e liga para Heloísa. Lúcia de sua casa vê Heloísa indo para a de Soraya e pergunta o que houve. Assustada, a acompanha.
- Que bom que vocês estão me fazendo companhia. Tô ficando muito preocupada. Será que...
Ao toque do telefone já mais de uma hora da manhã, Soraya nem termina a frase e corre para atender:
- Alô?
- Dona Soraya?
- Sim.
- A senhora é esposa do Dr. Genaro Castelli?
- Sim, sou eu mesma. Aconteceu alguma coisa?
- O seu marido está conosco.
- Como? Quem está falando?
- Dona Soraya, não avise à polícia. Aguarde outro telefonema para saber local onde deixar o resgate.
- O quê?!
- Se a senhora colaborar não acontecerá nada com seu marido.
- Alô?! Alô?! Desligaram!
- O que foi, Soraya? – Lúcia pergunta apavorada
- Seqüestraram o Genaro!
Suzana aparece na sala.
- Mãe...
- Minha filha...
- Eu ouvi tudo.
- Filha...
- Mãe... – Suzana se desespera – A culpa foi minha!
- Que é isso, minha filha! Você não tem culpa de nada!
- Mãe, ele foi assistir a apresentação no colégio. Ele bem que não queria ir! Eu...ai! Eu tô passando mal... – Suzana leva a mão ao coração e sente muita falta de ar. Heloísa a socorre pondo em prática seus conhecimentos de enfermagem, apressando-se em recomendar:
- Lúcia, chama uma ambulância! Rápido!
O estado de Suzana impressiona, seus olhos reviram, sumindo as pupilas e ela fala com uma voz gutural:
- Ela vai ser minha... – Suzana desmaia.
Na casa de Vitor, o telefone toca e Helena que estava orando com este, apressa-se em atender:
- Alô?
- Tia Helena...
- Sandra? – Helena assusta-se ao ouvir a voz chorosa da sobrinha – Que foi?
- Tio Genaro foi seqüestrado!
- Como?!
- A Suzana têve um colapso! Tá em coma no hospital! Foi horrível! Até choque deram nela!
- Mas ela reagiu, né, Sandra?
- Ela parecia que ia voar, mas agora tá lá em coma, toda entubada.
- Sandra, vamos ter fé, não se desespera. Eu creio no poder de Deus e nós vamos clamar a Ele. Genaro vai ser encontrado e Suzana vai sair do coma, em nome de Jesus!
Helena comunica o fato a Vitor, que, embora baqueado, ora por Genaro e Suzana. Na sala da casa, olha com ternura para o mural de fotos dos familiares e das sobrinhas também destacados, entre estes um com as três juntas com as mãos unidas para cima, com uma tira de papel embaixo, escrita a dedicatória: “Para o tio Vitor, das suas três mosqueteiras”; uma foto maior de Suzana franzindo os lábios, com os dizeres: “Um beijo especial para o meu mais especial padrinho”.
Embora os Castelli procurassem abafar o fato, alguns repórteres de plantão conseguem apurar a ocorrência, que durante o dia chega às emissoras de rádio e TV. Vitor, ainda cedo, liga para seu tio Ciro para pedir que fique com sua mãe já que a notícia poderia chegar à ela. Ciro informa que esta ainda não sabia.
Na empresa Mega Mídia, Edú chega para trabalhar e Márcia indaga:
- Já soube da última?
- Sobre?
- Você não ouviu o rádio?
- Não.
- Nem ligou a TV?
- Não. Fala logo!
- Genaro Castelli foi seqüestrado.
- Quê?! Como?!
- Os detalhes ninguém sabe. Eu liguei pro Vitor e ele nem sabe como isso vazou. Foi logo depois de uma festa no colégio da filha dele. Os pneus do carro tavam furados, os outros foram pra casa e ele ficou com o motorista pra dar um jeito no carro. O motorista levou uma coronhada quando tava procurando ajuda e levaram o Dr. Genaro. O motorista conseguiu ligar mais tarde da rua e o outro irmão do Dr. Genaro, o Dr. Sérgio foi buscá-lo.
- Pôxa...E a filha dele? Ela tá sofrendo muito, né?
- A reação dela foi pior do que se pudesse imaginar. Ela tá em coma no CTI.
- Quê?!
- É Edú. O dinheiro não compra a vida de ninguém. Só Jesus nesta causa. Em nome de Jesus eu afirmo: o Dr. Genaro vai ser encontrado e a filha dele vai sobreviver.
Rodrigo que ainda dormia extasiado com o evento da noite anterior, nem imaginava o que estaria acontecendo. Ao despertar ouve o rádio que naquele exato momento dá a notícia. Rodrigo pula da cama aterrorizado ao ouvir que sua amada está em coma. Desce e encontra a mãe que levantou-se pouco antes dele e está na sala, sem saber do ocorrido.
- Mãe...
- Que foi filho?! Que cara é esta?! Você tá trêmulo!
- Mãe...o Dr. Genaro...a Suzana...
Rodrigo fica com a voz embargada pelas lágrimas sem conseguir falar. A mãe o abraça, dá-lhe um pouco de água e ele conta tudo.
- Meu Deus! Meu filho...aquela menina....não acredito....
Um flashback passa na mente de Rodrigo. A figura de Suzana não sai de sua cabeça. O jeito alegre e comunicativo da menina no dia em que se conheceram, sua graça no desfile, a bebedeira no Reveillon, a valsa que dançou com ela no seu “debut”, a visita surprêsa em Angra e o beijo que roubou dela e que foi o primeiro dos dois, os outros que trocaram no dia do aniversário dele, a dança alternada entre agitada e romântica na sua danceteria particular, o medo da barata de borracha, o pranto sentido no desabafo no recente retiro, a serenata de declaração de amor, o tombo cômico de Suzana ao ensaiar a coreografia assistida por ele e a sua noite de brilho na gincana.
No hospital, Soraya chorosa assiste à filha no CTI, falando com ela carinhosamente:
- Minha filha, eu te amo tanto. Desde o momento em que soube que você estava dentro de mim.
- Soraya, vem cá. - Heloísa aproxima-se sem entrar, chamando Soraya num tom bem baixo de voz
As duas vão para o corredor.
- O que o médico disse Soraya?
- Ele disse que o quadro dela é estável, mas requer cuidados. Ainda está tentando entender o que houve.
- Foi muito estranho. Nem com a experiência que tenho em enfermagem, nunca vi coisa igual. Nem parecia ela. Eu pensei que fosse um acesso de loucura, sei lá.
- Se o médico não sabe precisar o que há com ela, imagine você. Eu então entendo menos ainda.
- Pareceu alguma coisa pior que um colapso.
- Só espero que ela reaja.
- Ela vai reagir. Suzana é forte, Soraya. Eu sinto que ela tem uma força que ela mesma não identificou ainda.
- Haja o que houver, eu vou estar sempre ao lado dela. Eu vou cuidar dela. Ainda vou vê-la abrir os olhos.
- Vai sim. – Heloísa abraça Soraya confortando-a.
Enquanto o país vive a expectativa da final da Copa do Mundo de 2002 na partida do Brasil X Alemanha, a família Castelli só pensa encontrar Genaro e que Suzana saia do coma. Vitor está alerta e num momento que vai para fora de casa, vê um carro chegando e reconhece o motorista que faz serviços para Marisa, seu Ademar, trazendo Angelina, que sai apressada do carro, indo de encontro ao primo abraçando-o.
- Vitor, primo. Eu estou sabendo de tudo.
- Eu imaginei.
- Tentei ligar pra você, meu telefone deu defeito. Nem pelo celular consegui. Passei pela casa do Ciro e da Mary e me disseram que eles estavam com a tia Marisa. Então, eu fiquei mais descansada por ela, mas não dava pra esperar por notícias em casa. Passei pela casa do seu Ademar e felizmente ele estava. Se prontificou logo a me trazer.
- Dane-se a Copa! – grita seu Ademar saindo do carro – Vitor, que coisa, hein?
- Primo, eu não consigo acreditar! Genaro seqüestrado, Suzana em coma?
- Angelina, - Vitor coloca as mãos nos ombros da prima e fala olhando bem dentro dos seus olhos – temos que ser fortes e crer muito mais no nosso Deus. Estou sofrendo tanto quanto se fosse com algum dos meus filhos.
- Eu avalio. Aquelas meninas são muito importantes pra você.
A notícia continua se espalhando e chega ao conhecimento de Carolina, a menina que saiu do Colégio por causa da briga com Suzana.
- Mãe, cê ouviu a notícia?
- Não, que foi?
- A Suzana, aquela menina com quem eu briguei, até rolei no chão na escola, tá no CTI.
- É? Mas como?
- O pai dela foi seqüestrado.
- Bem, que nós podemos fazer?
- Ah, mãe, mas eu fui má com ela, com a prima dela. Nunca desejei uma coisa dessas. O pai foi muito duro com ela. Por causa da briga e da suspensão ela ficou um mês de castigo.
- Ah, mas também ela foi covarde. Ela é muito maior que você. Te deu na cara, te jogou no chão.
- Mãe, não é hora de lembrar disto. Ela não merece ficar em coma no CTI, não merece que o pai tenha sido seqüestrado. Eu quero saber dela.
- Nós procuramos saber o hospital em que ela está. – a mãe aceita por ver o interesse da filha, mas segundo sua maneira de pensar, não deveriam voltar a se envolver com os Castelli.
O Brasil é pentacampeão. O povo sai às ruas festejando. O país esquece as injustiças sociais, a crise econômica, os crimes bárbaros, até os delinqüentes comemoram. Esta alegria contrasta com a profunda tristeza e ansiedade que invade o clã dos Castelli. No hospital, Soraya comenta com Heloísa:
- Que ironia, o Brasil é pentacampeão e eu me sinto uma dupla perdedora.
- Não fala assim, Soraya.
- Helô, como eu posso me sentir? Meu marido seqüestrado, minha filha entre a vida e a morte.
- Ela vai reagir, o Genaro vai ser localizado. Tenha fé!
- Fé? Tá difícil.
Em casa, Rodrigo inquieto, é acalmado pela mãe.
- Mãe, eu preciso ir ao hospital onde a Suzana está.
- Filho, vem cá, querido, você tá muito tenso. Vamos ligar pra casa dela, pedimos informações sobre o seu estado, perguntamos o telefone do hospital pra ter maiores informações. No mesmo dia acontece o seqüestro e a menina entra em coma. Eles estão desesperados, com certeza. Pra dar apoio nós temos que estar calmos. Essa menina me encantou tanto que eu nem posso acreditar que esteja nessa situação.
Ricardo e Renato, preocupados com suas namoradas, vão ao Solar Castelli prestar seu apoio.
- Sandra, queria poder fazer alguma coisa. – Ricardo tenta consolá-la
- Não tem nada que se possa fazer. Agora é só esperar – Sandra está quase sem esperanças
- Vocês têm notícias dela? – Renato interessa-se
- O médico disse que o estado é estável – Sandra informa – mas ela continua em coma, com aparelhos controlando a respiração.
Sônia começa a chorar e vai para outro lado do jardim. Renato a acompanha.
- Não dá pra acreditar nisto, Sandra! – Ricardo revolta-se – Tava tudo bem; a Suzana se acertou com o Rodrigo, tava mais confiante, brilhou na coreografia da gincana, cantou e arrasou. Depois, acontece isso! Pôxa, eu não aceito! Eu sofro pelo Rodrigo que tá arrasado, você já tava mal por causa do seu irmão. Isso tem que acabar! É demais!
- É...eu já nem sei o que pensar. Tá demais, mesmo. – Sandra concorda
- Você não sabe nada do seu irmão, né?
- Novamente ele deu um sinal de “raspão” e sumiu.
- Espero que ele esteja bem.
Daniel participa de mais uma farra com alguns amigos, na casa de um filhinho de papai, onde campo está livre, sem a interferência dos donos. Daniel curte seu delírio, sua fantasia, mas no seu resto de sanidade, duas pessoas não lhe saem da mente: a irmã e a namorada. Ao vê-lo calado num momento de reflexão, o anfitrião o chama:
- Ei cara, ‘cê tá a fim de curtir uma?
- Já tô numa “nice”.
- Aquela gata moreninha não tira os olhos de você. Você também olhou pra ela.Convida ela pra subir.
- É, pode ser bom. Pra passar o tempo, tudo é válido.
- Você não existe! – estranha o rapaz – Ela é a garota mais desejada da festa e você a chama de “passatempo”?! A vida é curta! O Brasil é pentacampeão! Vai fazer seu “penta” com ela! Não pensa em nada, só curte!
Daniel, influenciado pelo rapaz vai até a garota que o recebe bem, conversa um pouco e depois sobem.
Após algumas horas, a garota desce, parecendo decepcionada. O anfitrião procura saber o que houve.
- Que foi, gata?
- Nunca mais quero ver aquele cara!
- Por quê?
- Pensei que tava curtindo comigo e me chamou de Flávia! Meu nome é Bárbara, não vou servir de reserva!
- Que cara mais idiota! – critica o anfitrião, que em seguida sobe, encontrando Daniel encolhido na cama.
- Que foi, cara?
- Não quero falar com ninguém.
- Cumé que cê dispensa uma gataça daquelas?! O nome já diz: Bárbara! Cê é muito otário! Ela já é minha!
O anfitrião pega a garota e os dois vão para o quarto dele. Na festa, ninguém pertence a ninguém e Daniel atormentado pela droga, pelo efeito depressivo que vem depois da euforia, sente-se só, acuado, tem alucinações, sente que as paredes estão querendo engoli-lo, vê monstros e sai correndo e gritando.
No dia seguinte às comemorações do penta, Sandra e Sônia vão à escola. Os colegas já sabem do fato e são solidários. Luciana arrepende-se por ter sido tão falsa com Suzana. Vários colegas combinam de ir ao hospital para ter notícias. Rodrigo também vai à aula, mas só pensa em Suzana. À tarde, liga para Vitor:
- Tio Vitor.
- Rodrigo, como está querido?
- Como eu poderia estar? – Rodrigo começa a chorar
- Rodrigo, é muito difícil, mas não fique assim, tudo vai ficar bem.
- Mas ela não reage!
- Rodrigo, creia em Deus, tenha a certeza de que em nome de Jesus, a Suzana vai sair desta e nós vamos ter notícias do Genaro.
- Ninguém ligou mais pra dar notícias dele, pra pedir resgate?
- Ainda não. Com esta euforia do penta, tudo para.
- Eu preciso ver a Suzana. Tanta gente tem ido que eu acabo não conseguindo ir
- Tem um horário certo e restrito. Amanhã eu acompanho você lá.
- ‘Brigado tio Vitor. Eu ligo pro senhor quando chegar da escola.
- Podemos nos encontrar lá direto. Às 2:00 da tarde.
- Meia hora antes eu já vou estar lá.
Enquanto Vitor despede-se de Rodrigo ao telefone, Patty entra chateada em casa.
- Que foi filha? – Vitor pergunta
- Ah, esse pessoal da rua fica me olhando, perguntam coisas do tio Genaro. Não têm mais o que fazer?
- Depois do penta, esse seqüestro tem sido o assunto.
- Não sei nem cumé que descobriram.
- Ah, minha filha, esses repórteres quando querem descobrem tudo.
- Eu tô tão triste. A Suzana lá em coma. Ela vai ficar boa, né?
- Em nome de Jesus! Tudo isso é espiritual. Deus vai responder às nossas orações.
No hospital, no dia seguinte, Paulo aparece. Heloísa é ríspida com ele:
- Que tá fazendo aqui ô Judas Iscariotes? Veio bancar o bom tio? Você nunca gostou dela!
- Helô, por favor. – Soraya pede
- Estou aqui pra dar notícias do nosso filho.
- Você o viu? Ele voltou pra casa? - Heloísa levanta-se ansiosa
- Ele foi visto por um colega que o está seguindo sem ser visto. Tô aguardando notícias.
Um pouco depois, ainda sem informações sobre Genaro, Rodrigo encontra Vitor no hospital para ver Suzana. Vitor ora, determinando a cura da sobrinha e Rodrigo entra no CTI. A princípio, fica impressionado ao vê-la cheia de aparelhos e até recua, mas consegue dominar o terror que sente e aproxima-se, falando baixinho perto do ouvido da amada, com esperanças que ela o esteja ouvindo:
- Suzana....Minha linda...eu te amo. – Rodrigo não consegue dominar as lágrimas – Suzana...Você vai ficar boa.... se Este Deus que seu tio Vitor fala tanto tem tanto poder, Ele tem que te tirar daqui agora, em nome de Jesus!
Rodrigo chega mais perto de Suzana e uma lágrima sua cai sobre a pálpebra direita de Suzana. Naquele momento, como que recebendo uma fonte de vida seus olhos se abrem. Suzana, com a máscara de oxigênio, começa a gemer e Rodrigo ao ver que ela está saindo do coma, sai pelo corredor eufórico, gritando:
- Ela abriu os olhos! Tá tentando falar!
- Fala baixo menino! Isto aqui é um hospital! – a enfermeira repreende.
- Desculpe. – Rodrigo abaixa a voz e Soraya e Heloísa vão até o CTI e constatam, acompanhadas pelo médico que Suzana saiu do coma.
O médico faz as perguntas de praxe para verificar o estado de Suzana e sua memória ao sair do coma. Ela parece bem, como se nada houvesse acontecido e é liberada para um quarto. A menina embora sem apresentar nenhuma seqüela, expressa uma grande tristeza, ao recordar:
- Meu pai...ele...
- Minha filha, a gente vai encontrá-lo. – Soraya a conforta - Ninguém ligou mais. Nós estamos aguardando. A Odete está lá em casa à espera. Deve ser a euforia da Copa. O Brasil é penta campeão.
- Que importa isso agora? – Suzana começa a chorar
- Filhinha, se acalma. Não deixa a emoção tomar tanto conta de você, se poupa.
- Eu não posso ficar sem você. – Rodrigo beija sua mão carinhosamente encostando-a no rosto.
Enquanto Heloísa aguarda no hospital, Paulo, perto do prédio da empresa com Sérgio assoberbado de trabalho pela ausência de Genaro, recebe um telefonema de Alexandre:
- Dr. Paulo, eu acho que o Daniel percebeu que eu o estava seguindo. Perdi o cara de vista outra vez.
- Meu Deus! Já tinha dado esperanças pra mãe dele!
- Eu vou entrar em contato com outros colegas nossos que moram por perto. Nós vamos conseguir Dr. Paulo.
Logo depois aparece Sérgio.
- E aí, alguma notícia? – Paulo indaga
- Agora que saiu nos jornais, na TV, não vão ligar tão cedo. Devem achar que a gente comunicou à polícia.
- Cancelei várias reuniões que o Genaro tinha marcadas pra logo depois da Copa. – Paulo comunica
- Você fez bem. Como é que nós vamos ter cabeça pra isso agora?
- Pois é, mas não podemos parar de trabalhar, né?
- Isso é, mas temos que achar um meio de ajudar nosso irmão. Por que não ligam? Que angústia!
- E eu, que também não acho meu filho?
- Pelo menos a Suzana saiu do coma.
O celular de Sérgio toca e ele vendo no visor de quem se trata, não atende.
- Não vai atender? – Paulo estranha
- Não. Não é nada de importante. Quer dizer, não mais do que nossa expectativa agora.
Os seqüestradores ficam em estado de alerta.
- Como é que foi vazar?
- Eu acho que foi um desses repórteres de plantão. Gente importante sempre dá assunto.
- Cara, temos que tomar cuidado.
No tráfico existem sempre as trocas de intreresse e as rivalidades. Sendo assim, um rival mais forte do que aquele que tramou o seqüestro de Genaro, convoca policiais e arquiteta um plano para que a polícia apareça como cumpridora de seu dever:
- Você liga do DISK DENÚNCIA. O bando é preso e a nossa turma fica sendo a dona do pedaço. Tenho uma remessa da branquinha mais pura pra vocês dividirem comigo. A gente entrega todos e cai fora, assim como foi com o Wilson Mattos! Vamos trazer mercadoria da boa lá do Paraguai. Nosso comando vai crescer e os clientes deles vão ser nossos!
Daniel encontra um “amigo” que da-lhe uma carona e despista Alexandre. Leva-o para uma praia distante, quando já está anoitecendo.
- Liberdade! – Daniel grita sob a euforia da droga, misturada com álcool.
- Cara, aquele garçom, onde a gente bebeu deve ter ficado com muita raiva da gente.
- Ele tava com uma cara!
- O rosto grandão, o corpo pequeno – o rapaz descreve no seu delírio
- Que máximo! Eu o vi lilás! – Daniel descreve.
- Cara, eu tenho mais neve quente aqui, da mais pura e branquinha, toma.
O lugar está deserto. Depois de se entupirem de droga, ficam mais um pouco na praia, descansam e no início da madrugada voltam ao carro. O amigo de Daniel guia sem cuidado. Há pouco trânsito devido ao horário. Num momento de lucidez vendo o perigo de perto, Daniel grita ao ver um caminhão que passa pela travessia quando o amigo está a toda velocidade:
- Cuidado cara, vai bater!!!! Aaaaaaaaaaaaaah!!!!!!!!
Não há tempo. O carro bate em cheio no caminhão e capota.

2 comentários:

  1. Ih agora não tem mais como o Daniel fugir.Concerteza vão entrar em contato com a família dele e vão encontrá-lo de vez.
    A Suzana em mais uma fase problemática.Embora seja mesmo uma situação de choque,a reação dela foi um pouco extrema.Acho que ela precisa mesmo é de libertação.O emocional dela está muito abalado.

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  2. Nossa quanta tragédia em um só capitulo.

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