DANIEL NA COVA DOS LEÕES & SUZANA NA FORNALHA
Terminando suas férias, Daniel guia o jipe de um amigo na Praia Seca, nas proximidades de Araruama.
- UUUUUUUUUHHHHHHH! – Daniel grita agitado – Isto é que é vida!!!!!!!!!!
Saltando do jipe e apreciando a paisagem, os dois num canto mais reservado, distante de outras pessoas procuram algo.
- Cara, tô na maior fissura. Cadê a “neve quente?” – pergunta Robson, o amigo de Daniel, referindo-se à cocaína.
- Vou ver na minha mochila. – responde Daniel, que ao procurar encontra uma quantidade pequena.
- Ih...tem pouco. – lamenta Daniel. – Como é que a gente faz pra depois?
- Deixa comigo cara. Vamos prum lugar em que o celular pegue. Vou ligar prum amigo meu. Ele pode dar pra gente.
- Dar?!
- Deixa comigo.
Robson consegue falar com o amigo e informa a Daniel:
- A gente vai à uma festa na casa dele. Lá tá liberado.
- É? Será que a gente agüenta até à noite?
- Agüenta. Até lá, a fissura pode estar maior, mas a gente desconta.
- “When the lights out is less dangerous. Here we are now, entertain us”. – Daniel cita a frase da música de Kurt Cobain: “Smells like teen spirit”, deduzindo o que vai acontecer na festa.
Num clima completamente diverso, Vitor e sua família, voltavam de um abençoado retiro, recomeçando a rotina de trabalho.
- Bom dia amor. – Vitor cumprimenta Helena - Acordou cedo, hein?
- Você também.
- Que benção o retiro, né amor?
- Com certeza. Pena que não conseguimos levar as meninas.
- Tudo ao seu tempo. Lembremos de Eclesiastes.
- É mesmo.
Patty desce correndo:
- Bom dia, pai, bom dia, mãe.
- Calma, menina! – Vitor chama a atenção da filha, vendo sua pressa ao tomar seu café.
- Mas tá em cima da hora! – justifica a menina.
- Já que tá com tanta pressa, vou apenas perguntar uma coisa: deixou sua cama arrumada? – inquere Helena.
- Bem... “Sácumé”, né, mãe? Primeiro dia de aula...a gente sempre acorda em cima da hora...
- Hoje eu arrumo, mas amanhã, a senhorita arruma. Quando chegar em casa, faça o favor de deixar o uniforme para lavar. Não quero nada jogado. Tudo no lugar, em ordem.
- Sim senhora! – Patty responde batendo continência para a mãe.
- Engraçadinha... – Helena dá um meio sorriso, tentando disfarçar.
Allan e Miguel também descem apressados e o último, como sempre, queixa-se do irmão:
- Gente, positivamente assim não dá!
- Não dá o que? – pergunta Vitor.
- Este cara! – Miguel aponta para Allan.
- “Este cara,” não, seu irmão! – corrige o pai.
- Pois é. O “meu irmão”, continua como sempre esta “benção” de desarrumação! Deixa tudo largado, coloca roupas, calças, até em cima da minha escrivaninha! Isto é um desrespeito!
- Guel, meu filho, deixa pra discutir depois. – Helena interfere.
- Mas ele tem que tomar jeito!
- Tá, ele vai tomar jeito, mas agora vocês vão pro trabalho. – Vitor encerra o assunto.
No Solar Castelli, Daniel só aparece no sábado, três dias após a quarta-feira de cinzas, Heloísa o inquere:
- Você esqueceu que o expediente na firma começou quarta-feira ao meio dia?
- Ah, mãe...estiquei o feriado.
- Então você deve estar muito bem financeiramente, economizando muito. Para quem esticou o feriado, não deve estar se preocupando com o que será descontado.
- Descontado?
- É claro. Ou você acha que vai ser pago pelos dias que não trabalhou? Não conhece as leis trabalhistas? Se você não fosse o filho de um dos sócios – o que particularmente não quer dizer nada, porque ninguém é melhor do que ninguém – poderiam apontar as suas faltas como abandono de emprego.
- Ah, mas sabem que eu não abandonei o emprego!
- Mas quem não trabalha não ganha.
- É engraçado; tem uns caras lá que aparecem quando querem, não têm horário fixo.
- Naturalmente por serem chefes, sócios. Faça por onde para chegar ao mesmo patamar que eles.
- Até parece que todos chegaram lá por honestidade! O meu pai que é advogado trabalhista e sócio da firma, duvido que tenha subido por mérito.
- Não desvie o assunto. Você tem que cuidar das suas responsabilidades e não se justificar pelos erros de outros.
- Ah, mãe, eu já estou de saco cheio!
- Olha como fala garoto! Enquanto estiver debaixo do meu teto, siga as regras! Trabalho é responsabilidade, folgado comigo não tem vez! Para de me olhar com esta cara!
- Quer saber do que mais? Vou pra firma mesmo pra ter sossego!
- É bom mesmo!
No primeiro dia de aula, durante o recreio, Rodrigo tentou se chegar à Suzana, mas esta era sempre rodeada pelas outras colegas e por outros admiradores e ele também tinha suas admiradoras. Na saída do colégio, Suzana, Sandra e Sônia saem conversando e vêem Ricardo e Renato sozinhos. Rodrigo não está com eles
- Cadê o Rodrigo? – indaga Suzana às primas, antes de chegarem perto dos outros dois.
- Deve estar vindo. – conclui Sônia.
- Olha ele lá! – Suzana exclama raivosa, vendo Adriana conversar com Rodrigo.
- Suzana, calma, garota! – Sandra recomenda.
- Não tô nervosa! – retruca a menina, com mais raiva.
- Imagina se não estivesse. – Sandra ironiza.
- Não tô mesmo! – Suzana insiste, não querendo admitir - Quer saber do que mais? Vou entrar no carro!
De longe, Rodrigo percebe a indignação de Suzana ao vê-lo conversar com Adriana, de quem não consegue livrar-se. As meninas falam rapidamente com Ricardo e Renato e apressam-se em falar com Suzana.
- Sú, deixa de ser criança, vai lá falar com o Rodrigo. – Sandra aconselha.
- Ele que venha aqui! Já sei que tá muito ocupado e não vai vir mesmo!
As meninas vão para casa e Suzana não troca uma palavra com as primas durante o trajeto. Sandra não dá a menor confiança, até fazendo um gesto como quem diz: “Deixa pra lá!” quando percebe a preocupação de Sônia.
Chegando ao Solar, cada uma vai para sua mansão.
Entusiasmada com o primeiro dia de aulas, Sandra sobe ao seu quarto e escreve em seu diário as novidades, não antes sem ler os costumeiros versículos bíblicos. Na parte de cima: “Levanta os olhos ao redor e olha: todos estes que se ajuntam vêm a ti. Tão certo como Eu vivo, diz o SENHOR, de todos estes te vestirás como de um ornamento e deles te cingirás como noiva. (Isaías, 49: 18). Lê a parte de baixo e sente como que uma confirmação: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” (Mateus, 22: 14).
Rio, 18 de fevereiro de 2002
Meu querido diário
É interessante como as passagens bíblicas descritas falam tanto comigo e têm sempre a ver com a situação que eu estou vivendo. É como a minha avó diz: “Deus sabe de todas as coisas.” Apesar de não ser da igreja dela, eu concordo. Hoje foi um dia muito especial. Além de ser o primeiro dia de aula, fizeram uma eleição para representante de turma. Eu fui a mais votada, portanto, sou a nova representante. Isto me deixa feliz, porque tive a liberdade de escolher a Suzana, que foi a segunda mais votada como suplente e a Sônia como secretária.. Muitos garotos votaram na gente. Comigo foi mais meio a meio, mas a Suzana tem muitos admiradores.
Enquanto tantos colegas acham o primeiro dia de aula um saco, eu gosto. Gosto de rever os colegas, inclusive tive o prazer de encontrar o Ricardo e a Sônia o de rever o Renato. Recebemos uma notícia que pra nós foi muito agradável: aquela garota Carolina que implicou com, a Sônia e por causa disto apanhou da Suzana o que valeu às duas uma suspensão, saiu do colégio. A mãe dela disse que não queria que a filha se misturasse mais. Ô gente metida!
A Suzana hoje têve a crise de ciúmes que não quer admitir, pois aquela Adriana tá na cola do Rodrigo. Ficou no maior emburramento, mas eles que se entendam.
O Bruno também parece ser muito esperto,sempre tem vindo com os pais aqui, quando tio Genaro os convida. Isso tem afastado um pouco o Rodrigo. Mas o que mais me preocupa é o Dani. Embora não me falem nada, sei que ele matou o trabalho neste período depois do carnaval e só apareceu hoje. Eu ouvi minha mãe discutindo com meu pai – pra variar – queixando-se da negligência dele como pai, da irresponsabilidade do Dani. Eu acho minha mãe muito dura com meu irmão. Sei que ele não está certo, mas ela exagera. Por que é assim? Ele está cada vez mais inconstante. Ora tá eufórico, ora depressivo. Eu amo tanto meu irmão e não sei o que fazer por ele. Como é difícil! Bem, vamos ver o que vem por aí.
Tchau, diário
Sandra.
O comportamento agressivo de Daniel se evidencia no trabalho no decorrer da semana. Telma, preocupada, telefona para Heloísa:
- Helô, sou eu a Telma
- Sim, houve alguma coisa?
- Helô, eu estou muito preocupada. O Daniel tá agressivo demais. Ele chegou hoje outra vez atrasado. O Aurélio, o supervisor, chamou a atenção dele e vendo só a cara que ele fez, não precisou dizer nada, só no olhar a gente percebia o ódio dele. Entrou batendo a porta depois saiu mais cedo do que de costume.
- Quer dizer que ninguém está conseguindo controlá-lo?
- Pior que não, Helô. Ele deve estar com algum problema sério. Eu não sei como posso ajudar.
- Você já está ajudando me pondo a par de tudo. Obrigada Telma.
Heloísa procura observar o filho de longe e obtendo informações de Telma. Começa a desconfiar de um problema mais sério, mas procura certificar-se.
No decorrer da 1ª semana de aula, Suzana e Rodrigo encontram-se nos intervalos casualmente. Porém, o ciúme os afasta mais ainda. Rodrigo um dia na saída, percebe que Bruno aparece no colégio para encontrar-se com Suzana, mas finge não ver, saindo sem ser notado por esta e por suas primas, o que chama a atenção de Ricardo que questiona o primo:
- Você, hein, cara!
- Eu hein o que?
- Cara...será que eu preciso falar? Você tá louco de ciúmes da Suzana.
- Ah, deixa isto pra lá! Ela é mesmo muito complicada!
- Ela tá insegura porque viu você falando com a Adriana outro dia.Você parecia um cara disposto a enfrentar desafios.
- É? Então cansei. Não tô mais a fim de dificuldade.
- Então você quer garota fácil? Que nem aquele chiclete da Adriana?
- Por que “chiclete?”
- Por que no início tem um gosto doce. Depois, quando se masca demais, fica amargo, só serve pra passar o tempo, pra distrair. A Suzana não é assim, a gente nota uma grande diferença entre as duas.
- Pode ser...mas eu não tô querendo me aproveitar da Adriana, somos só amigos.
- É...vamos ver até onde vai essa “amizade”, porque dá pra ver que pelo menos da parte do Bruno, a que ele tem pela Suzana tá aumentando. Você tem uma grande vantagem sobre ele: tá no mesmo colégio que ela.
- Mas ela não vai querer falar comigo, Rick, eu acho melhor não forçar a barra.
- Só te lembro uma coisa: “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”, pensa nisto.
Rodrigo resolve ficar “na sua”, não procurando Suzana, nem Adriana.
Na 6ª feira à noite, depois de ir ao Barra Shopping com as primas, Suzana conversa com elas em sua casa:
- Foi bom o passeio no shopping, né Sú? – Sandra comenta com Suzana.
- É...
- Que é mais chôcho! –Sandra observa.
- Ah...você quer que eu diga o quê? Foi maravilhoso! Oh! – Suzana ironiza abrindo os braços.
- Não é isso, Sú. – Sônia intervém – É que você parece que não sente mais prazer nas coisas, tá sempre calada.
- Ir ao shopping pra mim é uma coisa tão comum, já fomos tantas vezes.
- Eu gosto de estar com você, com a Sônia, e curto esses passeios “comuns”, pela companhia de vocês. Mas você dá a sensação de que falta alguma coisa. – Sandra coloca
- Ih...lá vem a psicóloga! Que mais “Doutora Sandra?”
- Suzana, não entra na defensiva. Eu só tô querendo ajudar. No shopping, tinha tanto garoto olhando pra você. Você nem se dá a chance de conhecer outros garotos. Fica com ciúme do Rodrigo e por outro lado tem medo de se aproximar mais do Bruno. Pode ser que nenhum dos dois seja pra você. No colégio, tantos tentam se aproximar e você não se abre. Por quê?
- Ah...sei lá. Não tô a fim de falar nisso não. Vamos ver um pouco de TV?
- Tá... – Sandra aceita, embora desanimada, pois vê que sua tentativa de fazer a prima se abrir foi em vão. Sônia a olha com cumplicidade, como quem diz que não adianta. As três ficam vendo TV até de madrugada e dormem. Suzana nas almofadas do chão, Sandra na poltrona e Sônia no sofá.
Soraya e Genaro que haviam saído chegam e vêem as três dormindo. Soraya desliga a TV e assusta-se ao ver Suzana remexendo-se para um lado e para o outro, num sono muito mais agitado do que o de costume. A menina parece delirar:
- Não...sai...não me deixa! Não!
- Suzana...- Soraya chega perto da filha e Sandra vai despertando aos poucos, virando-se, até que percebe que a tia chama pela prima.
- Filhinha, acorda, é a mamãe..
- Essa menina tá é louca! –Genaro critica.
- Que é isto, Genaro! – Soraya repreende em tom de voz baixo.
- Não...nãaaaaaao! – Suzana acorda sobressaltada ao ver a mãe. Respira ofegante e sente ao mesmo tempo alívio por acordar e angústia ainda pela impressão do pesadelo que não consegue lembrar.
- Ai...mãe, - Suzana abraça forte a mãe.
- Filha, você tava tendo um pesadelo, fica calma.
- Eu nem me lembro, mas ficou uma sensação tão ruim.
- Mas já passou, filha, tá tudo bem, mamãe tá aqui. Gente, vamos acordar a Sônia e vão todas pra cama. É sábado, aproveitem pra dormir até mais tarde.
Sônia só acorda com um paninho com água no rosto. As meninas dormem juntas e novamente Suzana fica com o sono agitado. Ninguém acorda pois, Sandra, muito cansada e preferindo dormir no pequeno sofá próximo à janela, ferra no sono.
Naquele sábado, as três ficam em casa. Suzana não tem muito ânimo para sair e prefere ficar na piscina, passeando com Lalau e entretendo-se com outros passatempos caseiros como TV e internet, na sala de bate-papo e lê dizeres que sente que são dirigidos à ela: “Apareça”, “Morena poderosa”, entre outros um tanto mais provocadores.
- Você tá com cotação alta hein, Sú? – observa Sandra.
- É...mas tem muito recado grosso aqui. – Suzana comenta com uma expressão de asco.
- Mas tem uns bem criativos. Olha só este: “Julieta, quero ser teu Romeu”. – cita Sandra.
- Ai, tá até brega! - Suzana critica.
- Eu gostei... – Sônia sorri e suspira.
- Você é mais romântica –Suzana analisa.
- Ih! Olha este: “Pantera da turma 1002!” – Suzana acha graça e ri - Este quase se entregou.
- Gente, vocês vão ficar muito tempo ainda aí? – indaga Sandra.
- Acho que vou, mas vou falar com a Luciana. – Suzana, refere-se a uma colega do colégio.
- Tá...eu vou dar uma descida e daqui há um pouco volto. – Sandra avisa.
Sabendo que Daniel estava em casa depois de ter chegado de manhã e dormido até à tarde, Sandra procura o irmão.
Daniel está em seu quarto deprimido. O telefone celular toca e vendo o número que aparece, apressa-se em atender. Sandra, ouvindo, espera antes de bater na porta.
- Oi, gatinha! – Daniel recobra um pouco o ânimo ao saber quem estava do outro lado da linha.
- Dani, o que houve? Você sumiu. – pergunta a garota docemente.
- Desculpa fofinha...é que... eu...não tô muito bem. – emociona-se ao sentir o interesse da garota e chora.
- Dani, não fica assim, eu quero tanto te ajudar.
- Eu sei...você e a minha irmã parece que são as únicas que me entendem.- Daniel chora mais ainda.
- Dani, vem aqui, amor. Não fica curtindo tristeza em casa. Eu quero tanto te ver.
- Eu...eu vou...mas antes eu preciso ir a outro lugar.
- Tá Dani. Mas não demora muito que senão eu vou ficar preocupada.
- Tá paixão. Eu te amo. Té mais. – Daniel desliga e apressa-se para sair. Quando abre a porta encontra Sandra, antes que esta possa bater.
- Mano...que foi?
- Nada não maninha... – responde fungando nervosamente - Eu preciso sair...
- Dani, você não tá fazendo nada de errado, tá?
- Sandra... não me faz perguntas! – Daniel irrita-se
- Desculpa, tô vendo que você não tá bem, só quero ajudar.
- Que saco! Por que não me deixam em paz?! Já não chega minha mãe?
- Dani, não fica chateado eu não quis irritar você. – Sandra fala mansa, vendo que o irmão passa por alguma crise.
- Tá, me desculpa também, eu preciso sair, respirar, tô me sentindo preso. Tchau!
Daniel desce e pega apressadamente a moto saindo em alta velocidade assim que abrem o portão. Heloísa o vê de longe. Entra em casa e pergunta à Sandra:
- Seu irmão saiu. Ele falou com você?
- Eu achei ele muito tenso, deprimido. Será que ele vai fazer alguma besteira, mãe? – Sandra quase chora.
- Não minha filha. Ele muitas vezes tem instabilidade de humor. Isso é coisa de momento, não se preocupe.
Heloísa sente a aflição da filha, pela sua forte relação de amizade com o irmão. Procura manter a calma e pensa: “Ele não vai ficar longe por muito tempo, ele sempre volta.”
Daniel vai ao encontro marcado depois de ter passado por outro local. Sua expressão agora é de euforia e embora a garota estranhe, o convida para entrar em sua casa, pois estava ansiosa à sua espera.
No Solar Castelli, Suzana após ter usufruído de seus passatempos caseiros, deita-se não muito tarde e as primas vão dormir com ela. De madrugada o sono de Suzana é mais agitado do que de costume. Ela delira, fala sem parar e sua voz parece presa:
- Não... sai!
Sandra acorda assustada ao ouvi-la dar uma gargalhada, com uma emissão de voz estranha, diferente.
- Você vai ser minha! – Suzana parece alternar o jeito de falar, ora falando com a voz gutural e ora delirando.
- Não...não... – Suzana continua falando como se fosse duas pessoas ao mesmo tempo e Sandra deduzindo que só pode ser um pesadelo chama a prima.
- Suzana...Suzana...Suzana, acorda!
- Hein...? Quê...? – Suzana acorda sem entender nada e irrita-se. - Pô, Sandra! Qual é? Você me acordou!
- Você tava falando sem parar, delirando. Ria, gritava. Só podia ser um pesadelo.
- Eu?!
- É, você.
- Tá, mas você me acordou, pôxa!! Que saco! – Suzana, num gesto muito próprio seu, agarra um dos dois travesseiros com o qual dorme e cobre o rosto, irritada, enquanto apóia a cabeça no outro.
- Ah, também da próxima vez não chamo mais! – Sandra irrita-se
- É bom mesmo!
Suzana volta a dormir como se nada houvesse acontecido. Sandra fica preocupada e custa a conseguir dormir novamente. Sônia, como sempre, dormia profundamente.
Amanhece e Suzana aproveita para curtir a piscina com as primas. Sandra conversa com ela.
- Sú...
- Oi?
- Você tá pensando em fazer alguma coisa diferente hoje?
- Não, eu fiquei cansada na 6ª feira, a gente rodou muito no shopping. Quero ficar mais descansada pra amanhã.
Subitamente, aparece Bruno.
- Oi, garotas.
- Oi, você chegou há muito tempo? – indaga Suzana.
- Não. Sua mãe disse que vocês estavam aqui e eu vim fazer companhia.
- Seja bem vindo! – Suzana saúda.
- Fique à vontade – Sandra procura ser educada.
- Não quer cair na piscina? – Suzana convida
- Eu vim saber se você não queria sair.
- Olha...hoje não tô muito a fim, obrigada. Mas fica aí. Se não tiver uma sunga, aqui é o que não falta.
- Eu vou chamar a Sônia e volto logo – Sandra avisa.
Quando vai descer, Sandra encontra Soraya, que a chama
- Sandra.
- Oi.
- Este menino não perde tempo, hein?
- É...
- Eu queria tanto que ela se acertasse com o Rodrigo.
- É tia, mas isso vai passar. Eles estão inseguros.
- Pra que simplificar se complicado é melhor? – Soraya questiona com humor - Mas eu vou continuar na minha, quero ver até onde vai isso e quando é que os dois vão assumir os sentimentos deles.
Depois de algumas horas conversando com Suzana, Bruno vai para casa sentindo-se fracassado, apesar de já ter conseguido alguns progressos. O telefone toca assim que entra no quarto
- Alô.
- Oi Bruno, sou eu a Adriana.
- Oi.
- Que há, gato, tá chateado?
- É...tá meio difícil minha investida.
- Cara, eu te falei que a guria é difícil.
- Acho que você tem razão. E você com o Rodrigo?
- Tá devagar, mas sei esperar. Quer que eu vá aí? Você precisa de consolo.
- E como!
- Podemos fazer uma “festinha particular”.
- É isso aí, gata. Nestas horas você é um grande consolo.
Adriana e Bruno, mantinham uma relação sem compromisso, dispostos a destruir as relações que provinham de uma semente boa, brincando com os sentimentos alheios, como pessoas que se classificam: “Traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus” (2 Timóteo 3: 4).
No Solar Castelli, Sandra conversa com Sônia:
- Sônia, você tem falado com a Joana?
- Não, eu quase não a vejo.
- Pois é, eu tenho reparado desde aquele fim de férias em Angra que ela tá muito distante, estranha.
- Como assim?
- Sônia, você não tem malícia. Minha intuição me diz que desde que o Bruno apareceu, ela resolveu sumir.
- Por que você diz isto? – Sônia fica intrigada
- Você não percebeu que a Joana ficou perturbadíssima quando viu a Suzana e o primo dançando no Luau?
- Ela pareceu ter ciúmes?
- Não, ela ficou em pânico, como quem não soubesse o que fazer.
- Estranho...
- Outro dia no recreio da escola, quando eu a chamei, ela não me tratou mal, mas encurtou a conversa.
Sandra rememora o fato:
- Joana!
- Oi... – Joana responde um pouco nervosa.
- Tá tudo bem?
- Tá...
- Joana, você sumiu no fim das férias. Eu e a Sônia te procuramos, mas você já tinha ido, nem se despediu da gente.
- É que...eu resolvi ir de repente, de última hora.
- Como vai seu primo?
- Hã? Qual primo?
- O Bruno.
- Ah, não tenho visto.
- Ele tem ido muito lá em casa.
- Ah, é? Ô Sandra, vai me desculpar mas eu tenho que falar com uma amiga, outro dia a gente se fala, tá?
- Tá... – Sandra olha desconfiada.
- Aí tem coisa. – Sandra afirma para Sônia após contar o diálogo com Joana.
No dia seguinte, as primas estão na aula de educação física e Suzana demonstra apatia.
- Sú. – Sandra a chama.
- Oi...?
- Você tá estranha.
- Eu? Impressão sua.
- Vamos lá Sú, vai começar a aula. Vamos nos esquentar na corrida.
As turmas começam a correr. Suzana vai ficando para trás e Sandra, ao vê-la parar, também para e Sônia faz o mesmo.
- Sú, o que foi? – Sandra pergunta espantada. Suzana parece não ouvir as primas. Fica tonta e cai desmaiada.
- Suzana! – as duas gritam assustadas.
- Para, gente! Por favor, socorre aqui! – Sônia pede.
- Suzana!- exclama Rodrigo que a pega no colo e a leva para o atendimento médico da escola.
Sandra liga para Soraya. O médico a examina e ela em pouco tempo recobra os sentidos
- Qual é seu nome?
- Su...zana...
- Quantos anos você tem?
- 15...
- Que dia é hoje?
- 2ª feira... por que tanta pergunta?! – Suzana irrita-se
- Calma, filhinha. – o médico a tranquiliza entedendo sua reação. – É que você desmaiou de repente e eu preciso saber como você está. Você não deve estar se alimentando direito, né?
- Ai...por que eu tenho que responder tanta coisa? Por favor, eu quero sair daqui!
- Calma, sua mãe está chegando ai pra buscá-la.
Soraya chega ansiosa para ver a filha que a abraça chorando logo que a vê.
- Filha, que susto! Você tá bem?
- Tô! Me leva, por favor!
- Ela deve estar tensa pelo ocorrido, não é nada demais – o médico a acalma. Eu vou dar uma dispensa por alguns dias da educação física. É bom que ela faça um exame de sangue, deve estar com uma anemia, mesmo que branda.
- Sim, obrigada doutor. – Soraya agradece e sai com Suzana. Encontram Rodrigo que ficou esperando.
- Oi, você tá melhor? – Rodrigo pergunta com interesse.
- Tô...‘brigada...vamos embora, mãe, por favor!
- Não repara não Rodrigo, ela ficou envergonhada, isso passa. - Soraya fala baixo para o menino
Enquanto isso, Heloísa liga de seu trabalho para Telma para saber de Daniel que havia sumido mais uma vez.
- E aí, Telma, ele chegou?
- Chegou atrasado, como sempre vem acontecendo nos últimos dias. Tá muito agressivo. Qualquer coisa eu aviso.
No fim de semana Daniel novamente desaparece o que deixa Heloísa mais preocupada.
Suzana demonstrava estar melhor. Com a proximidade das provas, faz um pedido à mãe:
- Mãe, eu posso ficar na casa da Luciana neste fim de semana pra estudar com ela?
- Ela já falou com a mãe?
- Já.
- Poderia ter chamado a colega pra estudar aqui. Tem mais espaço.
- Ela fica sem jeito. Quem sabe numa outra vez eu a convenço.
- Bem, vá lá! Mas não vai se tornar um hábito. Lembre-se das minhas recomendações.
- Já sei: Não comer muito, fazer a cama, não pedir pra usar o telefone a não ser que seja rápido e em casos de urgência.
Soraya pergunta à Sandra sobre Luciana e esta lembra dela, o que a deixa um pouco mais tranqüila. Liga para a mãe de Luciana que confirma já saber do combinado entre as colegas. Porém, a mãe de Luciana não fica em casa.
- Lú, você conseguiu a birita?
- Aqui no botequim vendem pra qualquer um.
- Vamos nessa!
Ih aí vem mais problemas...essa ida pra casa dessa Luciana não vai dar em coisa boa!
ResponderExcluirE quanto ao Daniel,eu já havia percebido que ele estava mesmo metido com drogas.
Daniel com as drogas e a Suzana com a bebida.
ResponderExcluirEssa ida na casa da colega, Luciana, vai acabar mal.
Vamos aguardar...
Problemas sérios a vista!
ResponderExcluirNossa a situação ta piorando.
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