terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CAPÍTULO XIV

DANIEL NA COVA DOS LEÕES & SUZANA NA FORNALHA
Terminando suas férias, Daniel guia o jipe de um amigo na Praia Seca, nas proximidades de Araruama.
- UUUUUUUUUHHHHHHH! – Daniel grita agitado – Isto é que é vida!!!!!!!!!!
Saltando do jipe e apreciando a paisagem, os dois num canto mais reservado, distante de outras pessoas procuram algo.
- Cara, tô na maior fissura. Cadê a “neve quente?” – pergunta Robson, o amigo de Daniel, referindo-se à cocaína.
- Vou ver na minha mochila. – responde Daniel, que ao procurar encontra uma quantidade pequena.
- Ih...tem pouco. – lamenta Daniel. – Como é que a gente faz pra depois?
- Deixa comigo cara. Vamos prum lugar em que o celular pegue. Vou ligar prum amigo meu. Ele pode dar pra gente.
- Dar?!
- Deixa comigo.
Robson consegue falar com o amigo e informa a Daniel:
- A gente vai à uma festa na casa dele. Lá tá liberado.
- É? Será que a gente agüenta até à noite?
- Agüenta. Até lá, a fissura pode estar maior, mas a gente desconta.
- “When the lights out is less dangerous. Here we are now, entertain us”. – Daniel cita a frase da música de Kurt Cobain: “Smells like teen spirit”, deduzindo o que vai acontecer na festa.
Num clima completamente diverso, Vitor e sua família, voltavam de um abençoado retiro, recomeçando a rotina de trabalho.
- Bom dia amor. – Vitor cumprimenta Helena - Acordou cedo, hein?
- Você também.
- Que benção o retiro, né amor?
- Com certeza. Pena que não conseguimos levar as meninas.
- Tudo ao seu tempo. Lembremos de Eclesiastes.
- É mesmo.
Patty desce correndo:
- Bom dia, pai, bom dia, mãe.
- Calma, menina! – Vitor chama a atenção da filha, vendo sua pressa ao tomar seu café.
- Mas tá em cima da hora! – justifica a menina.
- Já que tá com tanta pressa, vou apenas perguntar uma coisa: deixou sua cama arrumada? – inquere Helena.
- Bem... “Sácumé”, né, mãe? Primeiro dia de aula...a gente sempre acorda em cima da hora...
- Hoje eu arrumo, mas amanhã, a senhorita arruma. Quando chegar em casa, faça o favor de deixar o uniforme para lavar. Não quero nada jogado. Tudo no lugar, em ordem.
- Sim senhora! – Patty responde batendo continência para a mãe.
- Engraçadinha... – Helena dá um meio sorriso, tentando disfarçar.
Allan e Miguel também descem apressados e o último, como sempre, queixa-se do irmão:
- Gente, positivamente assim não dá!
- Não dá o que? – pergunta Vitor.
- Este cara! – Miguel aponta para Allan.
- “Este cara,” não, seu irmão! – corrige o pai.
- Pois é. O “meu irmão”, continua como sempre esta “benção” de desarrumação! Deixa tudo largado, coloca roupas, calças, até em cima da minha escrivaninha! Isto é um desrespeito!
- Guel, meu filho, deixa pra discutir depois. – Helena interfere.
- Mas ele tem que tomar jeito!
- Tá, ele vai tomar jeito, mas agora vocês vão pro trabalho. – Vitor encerra o assunto.
No Solar Castelli, Daniel só aparece no sábado, três dias após a quarta-feira de cinzas, Heloísa o inquere:
- Você esqueceu que o expediente na firma começou quarta-feira ao meio dia?
- Ah, mãe...estiquei o feriado.
- Então você deve estar muito bem financeiramente, economizando muito. Para quem esticou o feriado, não deve estar se preocupando com o que será descontado.
- Descontado?
- É claro. Ou você acha que vai ser pago pelos dias que não trabalhou? Não conhece as leis trabalhistas? Se você não fosse o filho de um dos sócios – o que particularmente não quer dizer nada, porque ninguém é melhor do que ninguém – poderiam apontar as suas faltas como abandono de emprego.
- Ah, mas sabem que eu não abandonei o emprego!
- Mas quem não trabalha não ganha.
- É engraçado; tem uns caras lá que aparecem quando querem, não têm horário fixo.
- Naturalmente por serem chefes, sócios. Faça por onde para chegar ao mesmo patamar que eles.
- Até parece que todos chegaram lá por honestidade! O meu pai que é advogado trabalhista e sócio da firma, duvido que tenha subido por mérito.
- Não desvie o assunto. Você tem que cuidar das suas responsabilidades e não se justificar pelos erros de outros.
- Ah, mãe, eu já estou de saco cheio!
- Olha como fala garoto! Enquanto estiver debaixo do meu teto, siga as regras! Trabalho é responsabilidade, folgado comigo não tem vez! Para de me olhar com esta cara!
- Quer saber do que mais? Vou pra firma mesmo pra ter sossego!
- É bom mesmo!
No primeiro dia de aula, durante o recreio, Rodrigo tentou se chegar à Suzana, mas esta era sempre rodeada pelas outras colegas e por outros admiradores e ele também tinha suas admiradoras. Na saída do colégio, Suzana, Sandra e Sônia saem conversando e vêem Ricardo e Renato sozinhos. Rodrigo não está com eles
- Cadê o Rodrigo? – indaga Suzana às primas, antes de chegarem perto dos outros dois.
- Deve estar vindo. – conclui Sônia.
- Olha ele lá! – Suzana exclama raivosa, vendo Adriana conversar com Rodrigo.
- Suzana, calma, garota! – Sandra recomenda.
- Não tô nervosa! – retruca a menina, com mais raiva.
- Imagina se não estivesse. – Sandra ironiza.
- Não tô mesmo! – Suzana insiste, não querendo admitir - Quer saber do que mais? Vou entrar no carro!
De longe, Rodrigo percebe a indignação de Suzana ao vê-lo conversar com Adriana, de quem não consegue livrar-se. As meninas falam rapidamente com Ricardo e Renato e apressam-se em falar com Suzana.
- Sú, deixa de ser criança, vai lá falar com o Rodrigo. – Sandra aconselha.
- Ele que venha aqui! Já sei que tá muito ocupado e não vai vir mesmo!
As meninas vão para casa e Suzana não troca uma palavra com as primas durante o trajeto. Sandra não dá a menor confiança, até fazendo um gesto como quem diz: “Deixa pra lá!” quando percebe a preocupação de Sônia.
Chegando ao Solar, cada uma vai para sua mansão.
Entusiasmada com o primeiro dia de aulas, Sandra sobe ao seu quarto e escreve em seu diário as novidades, não antes sem ler os costumeiros versículos bíblicos. Na parte de cima: “Levanta os olhos ao redor e olha: todos estes que se ajuntam vêm a ti. Tão certo como Eu vivo, diz o SENHOR, de todos estes te vestirás como de um ornamento e deles te cingirás como noiva. (Isaías, 49: 18). Lê a parte de baixo e sente como que uma confirmação: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” (Mateus, 22: 14).

Rio, 18 de fevereiro de 2002
Meu querido diário
É interessante como as passagens bíblicas descritas falam tanto comigo e têm sempre a ver com a situação que eu estou vivendo. É como a minha avó diz: “Deus sabe de todas as coisas.” Apesar de não ser da igreja dela, eu concordo. Hoje foi um dia muito especial. Além de ser o primeiro dia de aula, fizeram uma eleição para representante de turma. Eu fui a mais votada, portanto, sou a nova representante. Isto me deixa feliz, porque tive a liberdade de escolher a Suzana, que foi a segunda mais votada como suplente e a Sônia como secretária.. Muitos garotos votaram na gente. Comigo foi mais meio a meio, mas a Suzana tem muitos admiradores.
Enquanto tantos colegas acham o primeiro dia de aula um saco, eu gosto. Gosto de rever os colegas, inclusive tive o prazer de encontrar o Ricardo e a Sônia o de rever o Renato. Recebemos uma notícia que pra nós foi muito agradável: aquela garota Carolina que implicou com, a Sônia e por causa disto apanhou da Suzana o que valeu às duas uma suspensão, saiu do colégio. A mãe dela disse que não queria que a filha se misturasse mais. Ô gente metida!
A Suzana hoje têve a crise de ciúmes que não quer admitir, pois aquela Adriana tá na cola do Rodrigo. Ficou no maior emburramento, mas eles que se entendam.
O Bruno também parece ser muito esperto,sempre tem vindo com os pais aqui, quando tio Genaro os convida. Isso tem afastado um pouco o Rodrigo. Mas o que mais me preocupa é o Dani. Embora não me falem nada, sei que ele matou o trabalho neste período depois do carnaval e só apareceu hoje. Eu ouvi minha mãe discutindo com meu pai – pra variar – queixando-se da negligência dele como pai, da irresponsabilidade do Dani. Eu acho minha mãe muito dura com meu irmão. Sei que ele não está certo, mas ela exagera. Por que é assim? Ele está cada vez mais inconstante. Ora tá eufórico, ora depressivo. Eu amo tanto meu irmão e não sei o que fazer por ele. Como é difícil! Bem, vamos ver o que vem por aí.
Tchau, diário
Sandra.
O comportamento agressivo de Daniel se evidencia no trabalho no decorrer da semana. Telma, preocupada, telefona para Heloísa:
- Helô, sou eu a Telma
- Sim, houve alguma coisa?
- Helô, eu estou muito preocupada. O Daniel tá agressivo demais. Ele chegou hoje outra vez atrasado. O Aurélio, o supervisor, chamou a atenção dele e vendo só a cara que ele fez, não precisou dizer nada, só no olhar a gente percebia o ódio dele. Entrou batendo a porta depois saiu mais cedo do que de costume.
- Quer dizer que ninguém está conseguindo controlá-lo?
- Pior que não, Helô. Ele deve estar com algum problema sério. Eu não sei como posso ajudar.
- Você já está ajudando me pondo a par de tudo. Obrigada Telma.
Heloísa procura observar o filho de longe e obtendo informações de Telma. Começa a desconfiar de um problema mais sério, mas procura certificar-se.
No decorrer da 1ª semana de aula, Suzana e Rodrigo encontram-se nos intervalos casualmente. Porém, o ciúme os afasta mais ainda. Rodrigo um dia na saída, percebe que Bruno aparece no colégio para encontrar-se com Suzana, mas finge não ver, saindo sem ser notado por esta e por suas primas, o que chama a atenção de Ricardo que questiona o primo:
- Você, hein, cara!
- Eu hein o que?
- Cara...será que eu preciso falar? Você tá louco de ciúmes da Suzana.
- Ah, deixa isto pra lá! Ela é mesmo muito complicada!
- Ela tá insegura porque viu você falando com a Adriana outro dia.Você parecia um cara disposto a enfrentar desafios.
- É? Então cansei. Não tô mais a fim de dificuldade.
- Então você quer garota fácil? Que nem aquele chiclete da Adriana?
- Por que “chiclete?”
- Por que no início tem um gosto doce. Depois, quando se masca demais, fica amargo, só serve pra passar o tempo, pra distrair. A Suzana não é assim, a gente nota uma grande diferença entre as duas.
- Pode ser...mas eu não tô querendo me aproveitar da Adriana, somos só amigos.
- É...vamos ver até onde vai essa “amizade”, porque dá pra ver que pelo menos da parte do Bruno, a que ele tem pela Suzana tá aumentando. Você tem uma grande vantagem sobre ele: tá no mesmo colégio que ela.
- Mas ela não vai querer falar comigo, Rick, eu acho melhor não forçar a barra.
- Só te lembro uma coisa: “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”, pensa nisto.
Rodrigo resolve ficar “na sua”, não procurando Suzana, nem Adriana.
Na 6ª feira à noite, depois de ir ao Barra Shopping com as primas, Suzana conversa com elas em sua casa:
- Foi bom o passeio no shopping, né Sú? – Sandra comenta com Suzana.
- É...
- Que é mais chôcho! –Sandra observa.
- Ah...você quer que eu diga o quê? Foi maravilhoso! Oh! – Suzana ironiza abrindo os braços.
- Não é isso, Sú. – Sônia intervém – É que você parece que não sente mais prazer nas coisas, tá sempre calada.
- Ir ao shopping pra mim é uma coisa tão comum, já fomos tantas vezes.
- Eu gosto de estar com você, com a Sônia, e curto esses passeios “comuns”, pela companhia de vocês. Mas você dá a sensação de que falta alguma coisa. – Sandra coloca
- Ih...lá vem a psicóloga! Que mais “Doutora Sandra?”
- Suzana, não entra na defensiva. Eu só tô querendo ajudar. No shopping, tinha tanto garoto olhando pra você. Você nem se dá a chance de conhecer outros garotos. Fica com ciúme do Rodrigo e por outro lado tem medo de se aproximar mais do Bruno. Pode ser que nenhum dos dois seja pra você. No colégio, tantos tentam se aproximar e você não se abre. Por quê?
- Ah...sei lá. Não tô a fim de falar nisso não. Vamos ver um pouco de TV?
- Tá... – Sandra aceita, embora desanimada, pois vê que sua tentativa de fazer a prima se abrir foi em vão. Sônia a olha com cumplicidade, como quem diz que não adianta. As três ficam vendo TV até de madrugada e dormem. Suzana nas almofadas do chão, Sandra na poltrona e Sônia no sofá.
Soraya e Genaro que haviam saído chegam e vêem as três dormindo. Soraya desliga a TV e assusta-se ao ver Suzana remexendo-se para um lado e para o outro, num sono muito mais agitado do que o de costume. A menina parece delirar:
- Não...sai...não me deixa! Não!
- Suzana...- Soraya chega perto da filha e Sandra vai despertando aos poucos, virando-se, até que percebe que a tia chama pela prima.
- Filhinha, acorda, é a mamãe..
- Essa menina tá é louca! –Genaro critica.
- Que é isto, Genaro! – Soraya repreende em tom de voz baixo.
- Não...nãaaaaaao! – Suzana acorda sobressaltada ao ver a mãe. Respira ofegante e sente ao mesmo tempo alívio por acordar e angústia ainda pela impressão do pesadelo que não consegue lembrar.
- Ai...mãe, - Suzana abraça forte a mãe.
- Filha, você tava tendo um pesadelo, fica calma.
- Eu nem me lembro, mas ficou uma sensação tão ruim.
- Mas já passou, filha, tá tudo bem, mamãe tá aqui. Gente, vamos acordar a Sônia e vão todas pra cama. É sábado, aproveitem pra dormir até mais tarde.
Sônia só acorda com um paninho com água no rosto. As meninas dormem juntas e novamente Suzana fica com o sono agitado. Ninguém acorda pois, Sandra, muito cansada e preferindo dormir no pequeno sofá próximo à janela, ferra no sono.
Naquele sábado, as três ficam em casa. Suzana não tem muito ânimo para sair e prefere ficar na piscina, passeando com Lalau e entretendo-se com outros passatempos caseiros como TV e internet, na sala de bate-papo e lê dizeres que sente que são dirigidos à ela: “Apareça”, “Morena poderosa”, entre outros um tanto mais provocadores.
- Você tá com cotação alta hein, Sú? – observa Sandra.
- É...mas tem muito recado grosso aqui. – Suzana comenta com uma expressão de asco.
- Mas tem uns bem criativos. Olha só este: “Julieta, quero ser teu Romeu”. – cita Sandra.
- Ai, tá até brega! - Suzana critica.
- Eu gostei... – Sônia sorri e suspira.
- Você é mais romântica –Suzana analisa.
- Ih! Olha este: “Pantera da turma 1002!” – Suzana acha graça e ri - Este quase se entregou.
- Gente, vocês vão ficar muito tempo ainda aí? – indaga Sandra.
- Acho que vou, mas vou falar com a Luciana. – Suzana, refere-se a uma colega do colégio.
- Tá...eu vou dar uma descida e daqui há um pouco volto. – Sandra avisa.
Sabendo que Daniel estava em casa depois de ter chegado de manhã e dormido até à tarde, Sandra procura o irmão.
Daniel está em seu quarto deprimido. O telefone celular toca e vendo o número que aparece, apressa-se em atender. Sandra, ouvindo, espera antes de bater na porta.
- Oi, gatinha! – Daniel recobra um pouco o ânimo ao saber quem estava do outro lado da linha.
- Dani, o que houve? Você sumiu. – pergunta a garota docemente.
- Desculpa fofinha...é que... eu...não tô muito bem. – emociona-se ao sentir o interesse da garota e chora.
- Dani, não fica assim, eu quero tanto te ajudar.
- Eu sei...você e a minha irmã parece que são as únicas que me entendem.- Daniel chora mais ainda.
- Dani, vem aqui, amor. Não fica curtindo tristeza em casa. Eu quero tanto te ver.
- Eu...eu vou...mas antes eu preciso ir a outro lugar.
- Tá Dani. Mas não demora muito que senão eu vou ficar preocupada.
- Tá paixão. Eu te amo. Té mais. – Daniel desliga e apressa-se para sair. Quando abre a porta encontra Sandra, antes que esta possa bater.
- Mano...que foi?
- Nada não maninha... – responde fungando nervosamente - Eu preciso sair...
- Dani, você não tá fazendo nada de errado, tá?
- Sandra... não me faz perguntas! – Daniel irrita-se
- Desculpa, tô vendo que você não tá bem, só quero ajudar.
- Que saco! Por que não me deixam em paz?! Já não chega minha mãe?
- Dani, não fica chateado eu não quis irritar você. – Sandra fala mansa, vendo que o irmão passa por alguma crise.
- Tá, me desculpa também, eu preciso sair, respirar, tô me sentindo preso. Tchau!
Daniel desce e pega apressadamente a moto saindo em alta velocidade assim que abrem o portão. Heloísa o vê de longe. Entra em casa e pergunta à Sandra:
- Seu irmão saiu. Ele falou com você?
- Eu achei ele muito tenso, deprimido. Será que ele vai fazer alguma besteira, mãe? – Sandra quase chora.
- Não minha filha. Ele muitas vezes tem instabilidade de humor. Isso é coisa de momento, não se preocupe.
Heloísa sente a aflição da filha, pela sua forte relação de amizade com o irmão. Procura manter a calma e pensa: “Ele não vai ficar longe por muito tempo, ele sempre volta.”
Daniel vai ao encontro marcado depois de ter passado por outro local. Sua expressão agora é de euforia e embora a garota estranhe, o convida para entrar em sua casa, pois estava ansiosa à sua espera.
No Solar Castelli, Suzana após ter usufruído de seus passatempos caseiros, deita-se não muito tarde e as primas vão dormir com ela. De madrugada o sono de Suzana é mais agitado do que de costume. Ela delira, fala sem parar e sua voz parece presa:
- Não... sai!
Sandra acorda assustada ao ouvi-la dar uma gargalhada, com uma emissão de voz estranha, diferente.
- Você vai ser minha! – Suzana parece alternar o jeito de falar, ora falando com a voz gutural e ora delirando.
- Não...não... – Suzana continua falando como se fosse duas pessoas ao mesmo tempo e Sandra deduzindo que só pode ser um pesadelo chama a prima.
- Suzana...Suzana...Suzana, acorda!
- Hein...? Quê...? – Suzana acorda sem entender nada e irrita-se. - Pô, Sandra! Qual é? Você me acordou!
- Você tava falando sem parar, delirando. Ria, gritava. Só podia ser um pesadelo.
- Eu?!
- É, você.
- Tá, mas você me acordou, pôxa!! Que saco! – Suzana, num gesto muito próprio seu, agarra um dos dois travesseiros com o qual dorme e cobre o rosto, irritada, enquanto apóia a cabeça no outro.
- Ah, também da próxima vez não chamo mais! – Sandra irrita-se
- É bom mesmo!
Suzana volta a dormir como se nada houvesse acontecido. Sandra fica preocupada e custa a conseguir dormir novamente. Sônia, como sempre, dormia profundamente.
Amanhece e Suzana aproveita para curtir a piscina com as primas. Sandra conversa com ela.
- Sú...
- Oi?
- Você tá pensando em fazer alguma coisa diferente hoje?
- Não, eu fiquei cansada na 6ª feira, a gente rodou muito no shopping. Quero ficar mais descansada pra amanhã.
Subitamente, aparece Bruno.
- Oi, garotas.
- Oi, você chegou há muito tempo? – indaga Suzana.
- Não. Sua mãe disse que vocês estavam aqui e eu vim fazer companhia.
- Seja bem vindo! – Suzana saúda.
- Fique à vontade – Sandra procura ser educada.
- Não quer cair na piscina? – Suzana convida
- Eu vim saber se você não queria sair.
- Olha...hoje não tô muito a fim, obrigada. Mas fica aí. Se não tiver uma sunga, aqui é o que não falta.
- Eu vou chamar a Sônia e volto logo – Sandra avisa.
Quando vai descer, Sandra encontra Soraya, que a chama
- Sandra.
- Oi.
- Este menino não perde tempo, hein?
- É...
- Eu queria tanto que ela se acertasse com o Rodrigo.
- É tia, mas isso vai passar. Eles estão inseguros.
- Pra que simplificar se complicado é melhor? – Soraya questiona com humor - Mas eu vou continuar na minha, quero ver até onde vai isso e quando é que os dois vão assumir os sentimentos deles.
Depois de algumas horas conversando com Suzana, Bruno vai para casa sentindo-se fracassado, apesar de já ter conseguido alguns progressos. O telefone toca assim que entra no quarto
- Alô.
- Oi Bruno, sou eu a Adriana.
- Oi.
- Que há, gato, tá chateado?
- É...tá meio difícil minha investida.
- Cara, eu te falei que a guria é difícil.
- Acho que você tem razão. E você com o Rodrigo?
- Tá devagar, mas sei esperar. Quer que eu vá aí? Você precisa de consolo.
- E como!
- Podemos fazer uma “festinha particular”.
- É isso aí, gata. Nestas horas você é um grande consolo.
Adriana e Bruno, mantinham uma relação sem compromisso, dispostos a destruir as relações que provinham de uma semente boa, brincando com os sentimentos alheios, como pessoas que se classificam: “Traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus” (2 Timóteo 3: 4).
No Solar Castelli, Sandra conversa com Sônia:
- Sônia, você tem falado com a Joana?
- Não, eu quase não a vejo.
- Pois é, eu tenho reparado desde aquele fim de férias em Angra que ela tá muito distante, estranha.
- Como assim?
- Sônia, você não tem malícia. Minha intuição me diz que desde que o Bruno apareceu, ela resolveu sumir.
- Por que você diz isto? – Sônia fica intrigada
- Você não percebeu que a Joana ficou perturbadíssima quando viu a Suzana e o primo dançando no Luau?
- Ela pareceu ter ciúmes?
- Não, ela ficou em pânico, como quem não soubesse o que fazer.
- Estranho...
- Outro dia no recreio da escola, quando eu a chamei, ela não me tratou mal, mas encurtou a conversa.
Sandra rememora o fato:
- Joana!
- Oi... – Joana responde um pouco nervosa.
- Tá tudo bem?
- Tá...
- Joana, você sumiu no fim das férias. Eu e a Sônia te procuramos, mas você já tinha ido, nem se despediu da gente.
- É que...eu resolvi ir de repente, de última hora.
- Como vai seu primo?
- Hã? Qual primo?
- O Bruno.
- Ah, não tenho visto.
- Ele tem ido muito lá em casa.
- Ah, é? Ô Sandra, vai me desculpar mas eu tenho que falar com uma amiga, outro dia a gente se fala, tá?
- Tá... – Sandra olha desconfiada.
- Aí tem coisa. – Sandra afirma para Sônia após contar o diálogo com Joana.
No dia seguinte, as primas estão na aula de educação física e Suzana demonstra apatia.
- Sú. – Sandra a chama.
- Oi...?
- Você tá estranha.
- Eu? Impressão sua.
- Vamos lá Sú, vai começar a aula. Vamos nos esquentar na corrida.
As turmas começam a correr. Suzana vai ficando para trás e Sandra, ao vê-la parar, também para e Sônia faz o mesmo.
- Sú, o que foi? – Sandra pergunta espantada. Suzana parece não ouvir as primas. Fica tonta e cai desmaiada.
- Suzana! – as duas gritam assustadas.
- Para, gente! Por favor, socorre aqui! – Sônia pede.
- Suzana!- exclama Rodrigo que a pega no colo e a leva para o atendimento médico da escola.
Sandra liga para Soraya. O médico a examina e ela em pouco tempo recobra os sentidos
- Qual é seu nome?
- Su...zana...
- Quantos anos você tem?
- 15...
- Que dia é hoje?
- 2ª feira... por que tanta pergunta?! – Suzana irrita-se
- Calma, filhinha. – o médico a tranquiliza entedendo sua reação. – É que você desmaiou de repente e eu preciso saber como você está. Você não deve estar se alimentando direito, né?
- Ai...por que eu tenho que responder tanta coisa? Por favor, eu quero sair daqui!
- Calma, sua mãe está chegando ai pra buscá-la.
Soraya chega ansiosa para ver a filha que a abraça chorando logo que a vê.
- Filha, que susto! Você tá bem?
- Tô! Me leva, por favor!
- Ela deve estar tensa pelo ocorrido, não é nada demais – o médico a acalma. Eu vou dar uma dispensa por alguns dias da educação física. É bom que ela faça um exame de sangue, deve estar com uma anemia, mesmo que branda.
- Sim, obrigada doutor. – Soraya agradece e sai com Suzana. Encontram Rodrigo que ficou esperando.
- Oi, você tá melhor? – Rodrigo pergunta com interesse.
- Tô...‘brigada...vamos embora, mãe, por favor!
- Não repara não Rodrigo, ela ficou envergonhada, isso passa. - Soraya fala baixo para o menino
Enquanto isso, Heloísa liga de seu trabalho para Telma para saber de Daniel que havia sumido mais uma vez.
- E aí, Telma, ele chegou?
- Chegou atrasado, como sempre vem acontecendo nos últimos dias. Tá muito agressivo. Qualquer coisa eu aviso.
No fim de semana Daniel novamente desaparece o que deixa Heloísa mais preocupada.
Suzana demonstrava estar melhor. Com a proximidade das provas, faz um pedido à mãe:
- Mãe, eu posso ficar na casa da Luciana neste fim de semana pra estudar com ela?
- Ela já falou com a mãe?
- Já.
- Poderia ter chamado a colega pra estudar aqui. Tem mais espaço.
- Ela fica sem jeito. Quem sabe numa outra vez eu a convenço.
- Bem, vá lá! Mas não vai se tornar um hábito. Lembre-se das minhas recomendações.
- Já sei: Não comer muito, fazer a cama, não pedir pra usar o telefone a não ser que seja rápido e em casos de urgência.
Soraya pergunta à Sandra sobre Luciana e esta lembra dela, o que a deixa um pouco mais tranqüila. Liga para a mãe de Luciana que confirma já saber do combinado entre as colegas. Porém, a mãe de Luciana não fica em casa.
- Lú, você conseguiu a birita?
- Aqui no botequim vendem pra qualquer um.
- Vamos nessa!

4 comentários:

  1. Ih aí vem mais problemas...essa ida pra casa dessa Luciana não vai dar em coisa boa!
    E quanto ao Daniel,eu já havia percebido que ele estava mesmo metido com drogas.

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  2. Daniel com as drogas e a Suzana com a bebida.
    Essa ida na casa da colega, Luciana, vai acabar mal.
    Vamos aguardar...

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